UM
ESPADA PARA HOLLYWOOD (1956)
Antes da sua actividade a solo, como
actor, argumentista, por vezes produtor, quase sempre realizador, Jerry Lewis
teve um período durante o qual dividiu o protagonismo com Dean Martin,
constituindo-se assim numa dupla que teve grande sucesso. A dupla surge em
1949, em “A Minha Amiga Irma” (My Friend Irma), de George Marshall, e dura 17
títulos e sete anos, precisamente até 1956, quando rodam “Hollywood or Bust”,
tendo depois cada um dos actores seguido carreiras a solo bem-sucedidas. Dean
Martin era o romântico sedutor que cantava melodias seguramente bem xaroposas e
Jerry Lewis era invariavelmente o desajeitado bem-intencionado que punha tudo
de pantanas com a sua inabilidade. A dupla funcionava com a complementaridade
habitual destes casos (Bucha e Estica, Abbott e Costelo, etc.) e lançou filmes
quase sempre de riso seguro, mas nem sempre de qualidade cinematográfica
inabalável. Por vezes alguns cineastas mais hábeis conseguiam unir o útil ao
agradável e geraram-se então obras muito interessantes. Norman Panama ou Frank
Tashlin estão neste caso, sobretudo este último, que dirige exactamente “Um
Espada Para Hollywood”.
Esta é a história de Malcolm Smith, um
cinéfilo fanático que sonha com Anita Ekberg, uma das vamps mais em voga no
cinema internacional (que o diga a sua participação em “Fellini 8 ½”, quatro
anos depois). Esta é igualmente a história de Steve Wiley, um pequeno burlão a
contas com uma dívida de 3000 dólares contraída junto de um mafioso violento.
Um e outro encontram-se na plateia de um teatro de Nova Iorque onde se sorteia
um daqueles carros americanos a que se chamava “espada”. Malcolm Smith comprou
quase todas as rifas, porque quer ir a Hollywood encontrar-se com a sua actriz
preferida. Steve Wiley falsificou todas as rifas, duplicando-as, por forma a
antecipar-se a todos os concorrentes, ganhar o carro e fugir para a costa
oeste. Surgem assim dois vencedores, uma mesma viagem repartida, um a cantar
canções delicodoces, o outro a protagonizar as maiores trapalhadas sempre com a
melhor das boas vontades e um tique muito especial para acertar na máquina do
jackpot. A viagem de uma costa à outra dos EUA é um desfile de Estados, usos e
costumes, paisagens e pin ups indescritíveis, com acidentes e peripécias
ilimitadas (desde a velhinha assaltante até ao touro que Jerry toma por vaca
leiteira), criando uma sucessão de gags bastante bem explorados pela câmara de
Tashlin. Kitsch? Sim, e de que maneira! Mas em muitos dos casos um kitsch
assumido e crítico, noutros uma poeira dos tempos que também merece ser
apreciada. O genérico é desde logo delicioso e a apresentação de Dean Martin
dos cinéfilos das diferentes latitudes do mundo uma obra-prima, onde Jerry
Lewis se multiplica em personagens magníficas. Só esse início merece o bilhete.
Mas o resto situa-se a muito bom nível e antecipa o grande Jerry que viria a
seguir.
UM
ESPADA PARA HOLLYWOOD
Título
original: Hollywood or Bust
Realização: Frank Tashlin
(EUA, 1956); Argumento: Erna Lazarus, Frank Tashlin; Produção: Paul Nathan, Hal
B. Wallis; Música: Walter Scharf; Fotografia (cor): Daniel L. Fapp; Montagem:
Howard A. Smith; Direcção artística: Henry Bumstead, Hal Pereira; Decoração:
Fay Babcock, Sam Comer; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore;
Assistentes de realização: James A. Rosenberger, William Watson, Charles C.
Coleman, Gary Nelson; Som: Gene Garvin, Hugo Grenzbac; Efeitos visuais: Farciot
Edouart, John P. Fulton; Companhias de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Dean Martin (Steve Wiley),
Jerry Lewis (Malcolm Smith), Pat Crowley (Terry Roberts), Max 'Slapsie Maxie'
Rosenbloom (Bookie Benny), Anita Ekberg (Anita), Valerie Allen, Leon Alton,
Adelle August, Nick Borgani, Paul Bradley, Catherine Brousset, Drew Cahill,
Kathryn Card, Paul Cristo, Jack Deery, Jack Delrio, Beach Dickerson, Alphonso
DuBois, Minta Durfee, Dominic Fidelibus, Rudy Germane, Joe Gray, Sam Harris,
Frank Wilcox, etc. Duração: 95
minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Feel Films; Classificação etária: M/
12 anos.
(1913-1972)
Frank Tashlin, cujo nome de baptismo era
Francis Fredrick von Taschlein, nasceu a 19 de Fevereiro de 1913 em Weehawken,
New Jersey, EUA, e morreu a 5 de Maio de 1972, em Los Angeles, Califórnia, EUA.
Iniciou a sua carreira, nos anos 30 do século XX, como desenhador sob o comando
de Paul Terry, na série de animação “Aesop's Film Fables”, passando depois pelo
produtor Amadee J. Van Beuren, e pelos estúdios da Warner Bros. Em 1934 cria
uma série, “Van Boring”, que ficou a dever muito ao seu anterior mestre Van
Beuren. Continua nos estúdios de Ub Iwerks, depois é contratado por Hal Roach
como argumentista e criador de gags. Em 1938, vamos encontrá-lo já a trabalhar
para Walt Disney, ainda como argumentista, saltando para a Columbia Pictures em
1941, acumulando funções de produção. Mas a animação não o abandona e, em 1943,
volta à Warner, onde desenvolve avultado trabalho. São deste tempo, durante a
II Guerra Mundial, os cartoons do soldado Snafu. Abandona a animação e
dedica-se sobretudo à tarefa de gagman para os Marx Brothers e Lucille Ball ou
de escritor de argumento para filmes de Bob Hope ou Red Skelton. Depois de
dezenas de curtas-metragens, estreia-se na realização de filmes de fundo, em
1951, com “O Vigarista” (The Lemon Drop Kid), com Bob Hope, mas não aparece
creditado no genérico (a realização surge assinada por Sidney Lanfield). A sua
primeira longa-metragem é por isso “The First Time”, do ano seguinte. Autor
dedicado sobretudo ao humor, para onde importa muito da sua experiência como
criador de animação e gagman, Tashlin assina um belo conjunto de comédias como
“The Girl Can't Help It”, “Artists and Models”, “Hollywood or Bust”, “Will
Success Spoil Rock Hunter?”, “Rock-A-Bye Baby”, “The Geisha Boy”,
“Cinderfella”, “It's Only Money”, “Who's Minding the Store?” ou "The
Disorderly Orderly". Muitos destes títulos marcam a carreira de Jerry
Lewis a solo, sendo que Tashlin é um dos seus mestres incontestáveis. Ainda
dirigiu alguns outros filmes interessantes, mas a sua carreira decaiu a partir
de meados da década 60. “The Man from
the Diners' Club”, com Danny Kaye, "The Alphabet Murders” ou "The
Glass Bottom Boat" são títulos ainda a registar.
Principais
filmes:
Como realizador inicia-se, entre 1933 e
1947, com dezenas de curtas-metragens de animação e algumas em imagem real. Em
1951, estreia-se na longa-metragem com “The Lemon Drop Kid”, mas o seu nome
desaparece do genérico. “The First Time” é o seu primeiro filme de fundo, a que
se segue “Son of Paleface” (O Filho do Valentão), ambos de 1952. Outros títulos
importantes: 1954: Susan Slept Here (As Três Noites de Susana); 1955: Artists
and Models (Artistas e Raparigas); 1956: The Lieutenant Wore Skirts (O Tenente
Usava Saias); The Girl Can’t Help It (Uma Rapariga com Sorte); Hollywood or
Bust (Um Espada para Hollywood); 1957: Will Success Spoil Rock Hunter? (A Loira
Explosiva); 1958: Rock-a-Bye Baby (Jerry Ama-Seca); The Geisha Boy (Jerry no
Japão); 1959: Say One for Me (O Céu por Testemunha); 1960: Cinderfella
(Cinderelo dos Pés Grandes); 1961: Snow White and the Three Stooges (Branca de
Neve e os três Estarolas (não creditado); 1963: Who’s Minding the Store? (Um
Namorado com Sorte); The Man from the Diners' Club (O Homem do Diners' Club);
1964: The Disorder Orderly (Jerry, Enfermeiro sem Diploma); 1965: The Alphabet
Murders (O Alfabeto do Crime); 1966: The Glass Bottom Boat (Espia em Calcinhas
de Renda); 1967: Caprice (Um Perigo Chamado Capricho).
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