domingo, 26 de junho de 2016

SESSÃO 29 - 29 DE JUNHO DE 2016



NÃO O LEVARÁS CONTIGO (1938)

Com “Não o Levarás Contigo” surpreendemos um outro fabuloso exemplo da época de ouro de Capra e da comédia social. Parece ter ficado claro que este é um cineasta da minha particular estima e admiração, como se pode ter percebido pelas palavras que lhe enderecei, e sobretudo pelo calor com que, julgo, as ter envolvido. Na verdade, admiro muito Frank Capra, sobretudo o Capra da década de 30, até meados da década de 40, o Capra das comédias de forte componente social, o Capra da utopia.
Falemos, agora, um pouco de “Não o Levarás Contigo”, rodado em 1938, depois de Capra ter assistido entusiasmado a uma representação da peça teatral homónima, da autoria de George S. Kaufman e Moss Hart, que com ela ganhariam o Prémio Pulitzer. Como sempre seria o seu argumentista de serviço, Robert Riskin, a adaptá-la primorosamente a cinema. Mas a peça possuía já todos os elementos essenciais ao cinema de Capra. Na verdade, apesar de se tratar de uma adaptação, esta é, indiscutivelmente, outra das obras mais significativas do pensamento de Capra. Tudo o que é caro ao universo do cineasta aí se encontra.
A acção central nasce do confronto de dois estilos de vida: de um lado, um industrial de armamento, austero e egoísta, que só pensa em monopólios e lucros; do outro, a alargada família da sua secretária, generosa e caótica, onde cada um faz o que quer e o que muito bem lhe passa pela cabeça, e onde alguns não pagam impostos, simplesmente "porque não lhes apetece".  O industrial quer comprar a casa onde habita essa família de lunáticos, para aí construir mais uma fábrica. Mas...
Este esquema permite a Capra acumular um conjunto de referências absolutamente reveladoras do seu cinema e do seu pensamento humanista e utópico. O amor e a solidariedade contra o dinheiro e a febre de acumulação de capital, o ruralismo e a simplicidade de comportamento contra a grande metrópole e o artificialismo, a exaltação de valores primordiais como o patriotismo, a família, a beleza dos puros de coração, o amor e a amizade, a solidariedade social, que se expressa na singeleza de um "ama o teu próximo". E para Capra, se esse "próximo" for do sexo contrário, ainda melhor, porque não há história que não esteja nimbada de um secreto erotismo, desde “Uma Noite Aconteceu” até este “Não o Levarás Contigo”.
Por tudo o que acabámos de referir, ainda que de forma extremamente sucinta, “You Can't Take It With You” não pode estar longe de “Doido Com Juízo” ou “Peço a Palavra” e anda muito próximo de “O Mundo é Um Manicómio” ou de “Do Céu Caiu um Estrela”. Toda a filosofia de uma generosa utopia está contida neste grupo de filmes, aparentemente de uma grande simplicidade, mas realmente exemplares na forma como Capra encenava o seu cinema.
Para os mais interessados nestas questões, muitos dos filmes de Capra eram filmados com mais do que uma câmara, para assim as ligações, os chamados "raccords", serem as mais perfeitas possíveis, e permitindo um jogo de campo /contra campo muito vivo e rigoroso.
Admirador dos actores, de quem era visivelmente um amigo, além de director, Capra deixa-os respirar em planos de uma duração um pouco mais longa do que o normal, para permitir o desenvolvimento das suas capacidades, sempre que isso é benéfico para a intensidade dramática da obra. Por isso o seu ritmo de montagem varia, ora nervoso e ágil, ora mais lento e saboreado. E pode dizer-se que, com actores como James Stewart, Jean Arthur, Lionel Barrymore, Misha Auer, Edward Arnold, Ann Miller e tantos outros, Frank Capra se podia considerar um cineasta feliz.


NÃO O LEVARÁS CONTIGO
Título original: You Can't Take It With You
Realização: Frank Capra (EUA, 1938); Argumento: Robert Riskin, segundo peça de George S. Kaufman e Moss Hart; Produção: Frank Capra; Música: Dimitri Tiomkin; Fotografia (p/b): Joseph Walker; Montagem: Gene Havlick; Direcção artística: Stephen Goosson; Maquilhagem: William Knight; Guarda-roupa: Irene, Bernard Newman; Assistentes de realização: Arthur S. Black Jr.; Departamento de arte: Lionel Banks; Som: Edward Bernds, Garry A. Harris; Companhias de produção: Columbia Pictures Corporation; Intérpretes: Jean Arthur (Alice Sycamore), Lionel Barrymore (Martin Vanderhof), James Stewart (Tony Kirby), Edward Arnold (Anthony P. Kirby), Mischa Auer (Kolenkhov), Ann Miller (Essie Carmichael), Spring Byington (Penny Sycamore), Samuel S. Hinds (Paul Sycamore), Donald Meek (Poppins), H.B. Warner (Ramsey), Halliwell Hobbes (DePinna), Dub Taylor (Ed Carmichael), Mary Forbes, Lillian Yarbo, Eddie 'Rochester' Anderson, Clarence Wilson, Josef Swickard, Ann Doran, Christian Rub, Bodil Rosing, Charles Lane, Harry Davenport, Ward Bond, etc. Duração: 126 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Home Video; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 21 de Dezembro de 1939.


OS FILMES DE FRANK CAPRA

Filmografia / Como realizador: 1921: Fultah Fisher's Boarding House (curta-metragem); 1926: The Strong Man (Atleta à força); 1927: Long Pants (Calças Compidas); 1928: For the Love of Mike (Os Três Pais); That Certain Thing; So This Is Love; The Way Of The Strong; The Matinee Idol; Say It Whith Sables (O Preço do Amor); Submarine (O Mergulhador); The Power of the Press; 1929: The Younger Generation (A Geração Moderna); The Donovan Affaire; Fligth; 1930: Ladies of Leisure (na RTP: Damas do Prazer); Rain or Shine; 1931: Dirigible (O Dirigível); The Miracle Woman; Platinum Blonde; Forbidden (O Seu Grande Amor); 1932: American Madness (Loucura Americana); 1933: The Bitter Tea of General Yen (A Grande Muralha); Lady For a Day (Milionária Por Um Dia); 1934: It Happened One Night (Uma Noite Aconteceu); Broadway Bill (Derradeira Vitória); 1936: Mr. Deeds Goes To Town (Doido com Juízo); 1937: Lost Horizon (Horizonte Perdido); 1938: You Can't Take It Whith You (Não o Levarás Contigo); 1939: Mr. Smith Goes To Washington (Peço a Palavra); 1941: Meet John Doe (Um João Ninguêm); Arsenic And Old Laces (O Mundo é um Manicómio); 1942: Why We Fight?: Prelude To War; 1943: Why We Fight?: The Nazis Strike; Why We Fight?: Divide And Conquer; Da série Why We Fight?, Frank Capra produziu e supervisionou a realização dos outros seguintes episódios: Britain (R: Anthony Veiller); The Battle of Britain (R: Anthony Veiller); The Battle of Russia (R: Anatole Litvak); The Battle of Chine (R: Frank Capra e Anatole Litvak); The Negro Soldier in World War II (R: Stuart Heisler); Tunisian Victory (R: Hugh Stewart); War Comes to America (R: Anatole Litvak); Know Your Enemy: Germany (R: Gottfried Reinhardt e Ernest Lubitsch); Know Your  Enemy: Japan (R: Frank Capra e Joris Ivens);  Your Job in Germany; Two Down and One to Go; 1946: It's A Wonderful Life (Do Céu Caiu Uma Estrela); 1948: State of the Union (Um Filho do Povo); 1950: Riding High (Desejo) segunda versão de «Broadway Bill»; 1951: Here Comes the Groom (A Sorte Bate À Porta); 1956: Our Mr. Sun (doc.); 1957: Hemo The Magnificient (doc.); The Strange Case Of The Cosmic Rays (doc.); 1958: The Unchainned Goddess (doc.); 1959: A Hole In The Head (Tristezas Não Pagam Dívidas); 1961: Pocketful Of Miracles (Milagre Por Um Dia) segunda versão de «Lady For A Day»; 1964: Rendez Vous In Space (curta-metragem).

SESSÃO 28 - 28 DE JUNHO DE 2016



O MUNDO È UM MANICÓMIO (1941,1944)

“O Mundo é Um Manicómio” foi dirigido por Frank Capra em 1941, mas só seria estreado na América em 1944. Já iremos saber porquê. Por isso mesmo, o melhor é começar por um pouco de história. 
Frank Capra é seguramente um dos maiores autores de comédias cinematográficas de sempre. Tenho para mim que “Uma Noite Aconteceu”, “Doido com Juízo”, “Não o Levarás Contigo”, “Peço a Palavra”, “Um João Ninguém”, “O Mundo é Um Manicómio” e “Do Céu Caiu uma Estrela”, para só citar estas, constituem um conjunto de comédias verdadeiramente invulgar, todas elas rodadas numa dúzia de anos, precisamente entre 1934 e 1946. Raros autores conseguiram um tal volume de obra com uma tão grande coerência e consistência de temas, com um tão notável grau de eficácia narrativa, de estilo, de humor e de intransigente defesa de valores humanistas que os tempos impuseram e o talento e o espírito de Capra captaram de forma admirável.
A América, e o mundo, atravessavam um período particularmente conturbado. A crise económica era intensa. O "crach" de 1929 deixara pesadas marcas na economia mundial. Roosevelt tentava impor o seu plano de recuperação nacional através do "New Deal" e Frank Capra foi, ao longo dos anos, o seu melhor instrumento.
Mas há que referir aqui um aspecto que me parece absolutamente decisivo para o bom êxito deste empreendimento: Capra não executava encomendas. Capra rodava filmes em que acreditava, que reflectiam o seu tempo e se deixavam impregnar pelo espírito do "New Deal" de uma forma absolutamente espontânea.
Este aspecto sente-se em todos os títulos atrás mencionados e funciona como uma marca de autoria, de tal forma que hoje em dia, quando se vêem filmes de certa forma utópicos e idealistas, se diz serem "à maneira de Capra". Actualmente, a América tem recuperado muito desse espírito, infelizmente talvez um pouco porque os tempos são igualmente de forte crise económica e se impõe uma recuperação desse idealismo e dessa vontade colectiva de vencer a crise solidariamente.


Pois bem, em 1941 Capra encontrava-se no auge da sua carreira, sendo um dos mais bem sucedidos cineastas de Hollywood. Teve à sua disposição contratos fabulosos propostos por David Selznick e pela Fox, mas acabaria por ingressar nas forças armadas, convidado para dirigir um departamento de cinema do Exército. Antes, porém, de ingressar nas fileiras, teve direito a algum tempo que procurou ocupar dirigindo um filme que ele considerava "alimentar, feito para suprir as necessidades alimentares da família."
Capra tinha visto na Broadway uma peça de grande sucesso nessa altura, "Arsenic and Old Lace", da autoria de Joseph Kesselring, e procurou interessar Jack Warner neste projecto. Ele comprometia-se a rodá-lo em quatro semanas, quase integralmente em estúdio, num cenário único, com meia dúzia de actores, entre eles Cary Grant, o mais popular comediante da América.
E assim se fez: o cenário era o interior e parte do exterior da casa de duas bondosas velhinhas que se entretinham a distribuir veneno por velhinhos que enterravam depois na cave, onde um lunático que se fazia passar por Ted Roossevelt lançava as bases do canal do Panamá, nos intervalos de vitoriosas cargas sobre o inimigo. Capra conseguiu que alguns dos actores do elenco da Broadway utilizassem as semanas de férias para virem filmar consigo em Hollywood, com uma excepção de peso: Boris Karloff que fazia o papel de Jonhnathan no teatro e que os empresários não libertaram, foi substituído por Raymond Massey, que aliás ostenta uma caracterização muito semelhante à da figura de Frankenstein, o que permite deliciosos trocadilhos, como poderão ver.
O filme fez-se nas quatro semanas previstas, foi concluído depois em tempo "record", porque, entretanto, ocorreu o ataque de Pearl Harbour e os EUA intensificaram a sua intervenção no conflito, mas “Arsenic and Old Lace” só seria estreado oficialmente em salas norte-americanas em 1944, porque assim o impunha o contrato com a companhia teatral: só depois da peça ter terminado a sua carreira normal nos palcos da Broadway, é que o filme poderia ser lançado.
Estreou e foi um sucesso fulgurante. Se bem que afastando-se um pouco da temática usual de Capra, “O Mundo é Um Manicómio” é uma fabulosa demonstração do talento deste cineasta, do seu estilo, da sua direcção de actores, do seu humor.…Um humor que, passados 60 anos, mantem toda a frescura, toda a espontaneidade, toda a alegria de viver, mesmo quando o humor é um humor negro como é o caso. E pronto é altura de também nós gritarmos "À carga!" e passarmos rapidamente ao filme.


O MUNDO É UM MANICÓMIO
Título original: Arsenic and Old Lace
Realização: Frank Capra (EUA, 1941, 1944); Argumento: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, segundo peça de teatro de Joseph Kesselring; Produção: Jack L. Warner, Frank Capra; Música: Max Steiner; Fotografia (p/b): Sol Polito; Montagem: Daniel Mandell; Direcção artística: Max Parker; Guarda-roupa: Orry-Kelly; Maquilhagem: Perc Westmore, George Bau, Anita De Beltrand, John Wallace;  Direcção de Produção: Eric Stacey, Steve Trilling;  Assistentes de realização: Claude Archer, Russell Saunders; Departamento de arte: Lucien Hafley, Keefe Maley, Alfred Williams, Levi C. Williams; Som: C.A. Riggs, Everett Alton Brown; Efeitos especiais: Robert Burks, Byron Haskin; Companhia de produção: A Warner Bros.-First National Picture; Intérpretes: Cary Grant (Mortimer Brewster), Priscilla Lane (Elaine Harper), Raymond Massey (Jonathan Brewster), Jack Carson (O'Hara), Edward Everett Horton (Mr. Witherspoon), Peter Lorre (Dr. Einstein), James Gleason (LTenente. Rooney), Josephine Hull (Abby Brewster), Jean Adair (Martha Brewster), John Alexander ('Teddy Roosevelt' Brewster), Grant Mitchell (Reverendo Harper), Edward McNamara (Brophy), Garry Owen, John Ridgely, Vaughan Glaser, Chester Clute, Charles Lane, Edward McWade, Spencer Charters, Jimmy the Crow, Sol Gorss, Herbert Gunn, Roland Jones, Hank Mann, Spec O'Donnell, Lee Phelps, Don Phillips, Raymond Walburn, Leo White, Jean Wong, etc. Duração: 118 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Home Video; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 3 de Fevereiro de 1947.


FRANK CAPRA (1897-1991)
Frank Capra foi considerado um dos mestres da comédia social. “Uma Noite Aconteceu”, “Doido com Juízo”, “Não o Levarás Contigo”, “Peço a Palavra”, “Um João Ninguém”, “O Mundo é Um Manicómio”, “Do Céu Caiu uma Estrela” ou “Horizonte Perdido” são títulos respeitantes às décadas de 30 e 40, a sua época de consagração e plenitude.
Frank Capra é de origem siciliana. Nasceu a 18 de Maio de 1897, na localidade de Bisaquino, na tumultuosa ilha da Sicília. A família emigrou para os EUA quando ele contava apenas seis anos de idade, instalando-se em Los Angeles. Mas a sua educação leva-o para o campo das ciências, formando-se em 1918, em Engenharia Química. Passa pelo exército, e, ao sair, encontra a América à beira do colapso económico. É difícil arranjar emprego, e por isso aproveita para viajar à boleia pelos estados do Arizona, Nevada e Califórnia. Diz a lenda que, durante a "lei seca", recusou o convite de um dirigente da mafia local para montar um fábrica clandestina, cujos alambiques não deitassem cheiro. Em vez disso, respondeu a um anúncio que pedia "realizador" para um novo estúdio. Quem colocara o anúncio no jornal fora um actor shakespeareano de nome Walter Montague, que fundara as "Productions Fireside", onde Frank Capra se estreia com uma curta metragem sobre um poema de Rudyard Kipling. Pouco tempo depois, passa a trabalhar num laboratório de cinema, onde assiste à rodagem de várias obras, algumas delas dirigidas por cineastas como Eric Von Stroheim, o que lhe permite ir aprendendo o ofício. Aparece no elenco técnico de diversos filmes, como acessorista, montador, argumentista, inventor de gags. É nesta condição que é contratado por Hal Roach e, posteriormente, por Mack Sennett para a sua fábrica de comédias, onde começa a sua colaboração com o cómico Harry Langdon. Dois dos mais célebres filmes de Langdon são realizados por Capra, em 1926, “Atleta à Força” e “Calças Compridas”.
Mas o mau feitio do actor leva-o a deixar Marc Sennett, e depois a despedir Capra. Em 1928, de novo sem emprego, é contratado por um pequeno estúdio, a Columbia Pictures, nessa altura dirigida por Harry Cohn. Aí irá permanecer durante uma dúzia de anos, ajudando a fazer da Columbia um dos grandes estúdios de Hollywood. Roda filmes a uma velocidade vertiginosa e quase todos se tornam êxitos de bilheteira. A América atravessa um dos seus piores momentos de sempre e Capra é sensível ao estado de espírito dos seus concidadãos. As suas obras, melodramas, como “A Grande Muralha”, dramas como “Milionária por um Dia”, comédias como “Loucura Americana”, começam a impor um estilo, a que mais tarde se chamará o "Capra Touch" (o toque Capra), que o celebrizará.
Mas Frank Capra vive obcecado pela conquista de um Oscar, prémio atribuído pela recém-criada Academia de Hollywood. Faz parte da história das cerimónias de atribuição dessas invejadas estatuetas um episódio protagonizado por ele. Em 1933, realiza “A Grande Muralha”, que inaugura, com pompa e circunstância, o Radio City Music Hall, de Nova Iorque. O êxito é grande, mas quanto a Oscars o filme ficou em branco. A película seguinte, “Milagre por um Dia”, reservava-lhe finalmente uma nomeação para o "melhor realizador". No dia da atribuição dos prémios, Capra estava tão seguro de si que, quando o apresentador anuncia o Oscar ganho por Frank..., Capra não espera por mais nada e dirige-se para o palco. O Oscar iria para Frank, sim, mas para Frank Lloyd, que dirigira “Cavalgada”. Foi um mau momento que, todavia, duraria pouco. Em 1934, com “It Happened One Night”, Capra vê este seu trabalho arrebatar os 5 Oscars mais importantes: melhor filme, melhor realização, melhor actor principal (Clark Gable), melhor actriz principal (Claudette Colbert) e melhor argumento (atribuído a Robert Riskin, colaborador regular de Capra e seguramente uma das bases do seu triunfo). Na história de Hollywood só dois outros realizadores repetem a graça: em 1975, Milos Forman, com “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, e, posteriormente, em 1991, Jonathan Demme, com “O Silêncio dos Inocentes”.
Com “Uma Noite Aconteceu” Frank Capra ascendeu à gloria que ele tanto perseguia há já alguns anos. Os Oscars que recebeu, as críticas que então se publicaram, os prémios que acumulou, as honrarias que lhe encheram o ego, mas sobretudo a forma calorosa como o filme foi recebido pelo público de todo o mundo, transportaram o cineasta "ao Everest do cinema", como o próprio autor confessa na sua autobiografia que, sintomaticamente, se chama, no original, “The Name Above the Title”. E é precisamente essa biografia, extremamente curiosa e repleta de histórias divertidas e pitorescas sobre Hollywood e o universo do cinema, que iremos continuar a citar.


Capra sabe que o mundo do espectáculo era, e é ainda hoje, implacável para com os perdedores. Sabia que homens que tiveram o mundo na mão, como Griffith e Marc Sennett, viveram na penumbra do esquecimento os últimos anos das suas vidas. Manter o êxito é difícil e qualquer erro pode ser o último. Depois do triunfo de “It Happened One Night”, Frank Capra ficou apavorado com o que fazer a seguir. E não quis mesmo fazer mais nada. Mas, para que ninguém o perturbasse nesse retiro, resolveu inventar uma doença. Diariamente se dizia muito cansado, e conseguia mesmo que o termómetro fosse registando aqueles incómodos 37- 7 , 37- 9 que iam afligindo os médicos e a família, e o afastavam dos estúdios da Columbia Pictures, onde o produtor Harry Cohn afadigadamente lhe ia descobrindo projectos. A coisa foi de tal ordem, que ao fim de algum tempo, os vários médicos que ia visitando, à força de nada lhe encontrarem, lhe prognosticaram uma tuberculose. Mas Capra, qual doente imaginário, sentia-se bem, mesmo com a tuberculose. O que ele não queria mesmo era voltar aos estúdios e ter de responder publicamente pelas responsabilidades assumidas com o seu último filme. Até que um dia...
Um dia, estava ele no quentinho da sua sala, ouvindo pela rádio as ameaçadoras gabarolices de Hitler, quando um admirador pediu para o ver. Não se sabe muito bem como tudo aconteceu, Capra deixa o episódio envolto num certo mistério, daqueles de que se fazem os mitos, mas a verdade, segundo o relato do cineasta, é que lhe apareceu um homenzinho careca de fortes lunetas que o acusa de ser um cobarde. E mais do que isso, uma ofensa a Deus. E prosseguiu na sua invectiva: "Está a ouvir essa voz demoníaca, referia-se a Hitler, que tenta desesperadamente contaminar o mundo com o seu ódio. A quantas pessoas se dirige ele? A quinze, vinte milhões. O senhor, e agora dirigia-se a Capra, pode falar a centenas de milhões de pessoas durante duas horas e na obscuridade. O talento que tem, não lhe pertence, não o adquiriu por meios próprios. Foi Deus quem lho deu. Ele ofertou-lhe esse dom para o colocar ao seu serviço. Quando se recusa a utilizá-lo, está a ofender a Deus e à Humanidade. Adeus." E o homenzinho foi-se embora, ficando Capra no mais profundo silêncio, diz ele que deixando escorregar pelo rosto umas lágrimas de vergonha. E no dia seguinte estava a trabalhar no argumento de "Opera Hat", donde resultaria “Mr. Deeds Goes To Town”.
Não se sabe se a história é verdadeira, mas não deixa de ser reveladora. Reveladora é uma palavra que tem a ver com Revelação. O cinema de Capra não mais deixaria de ser um cinema de Revelação, mas de uma Revelação profundamente enraizada em questões sociais essenciais. Logo a começar por “Doido com Juízo” que é bem o manifesto de um autor, e talvez neste aspecto a sua obra mais perfeita, pelo menos a mais significativa.
Numa época de profunda crise económica e social, num período de angústia e mesmo desespero, como foi o início da década de 30 na América, Frank Capra criou um herói provinciano, ingénuo mas intimamente forte e seguro de si e das suas convicções, que desafia a cidade desumana, as instituições públicas e privadas, dominadas pela corrupção, e que, mais do que tudo isso, consegue trazer consigo a revelação do amor e da solidariedade social. É o herói individual que a América vai consagrar no rosto incorruptível de Gary Cooper. Diz a lenda também que um actor amigo de Capra um dia lhe disse: "Deixa de te preocupar com o que deves dizer às pessoas. Isso fá-.las fugir. Limita-te a contar histórias simples de homens e mulheres e a fazer rir. Este é o teu ponto forte. Inconscientemente farás deslizar nos teus filmes uma mensagem, seja ela qual for. Não podes impedir-te disso." Capra fez as suas histórias, e deixou-as viver com o seu coração. A mensagem era sempre a mesma, porque era a sua forma de ver e sentir o mundo e os seus problemas. A utopia dos bons sentimentos pode ser apenas isso, mas o retrato que fica subjacente permanece intocável. E nada no filme é tão simples que se possa dizer pueril. Mesmo a ingenuidade do herói que sai do “país real" para afrontar a metrópole corrupta, acaba por sucumbir e ser salvo por uma outra revelação, a do amor de uma mulher da cidade, diga-se que excelentemente interpretada por Jean Arthur. Esta é a América dos anos de crise da década de 30. 
O cinema de Capra expressa um populismo voluntarista e utópico, exemplo típico de uma fé total na democracia, sobretudo na democracia norte-americana dos primórdios que Lincoln e Jefferson construíram. Capra e os seus heróis trazem consigo a reposição dos valores esquecidos ou adulterados da democracia. Valores esquecidos ou adulterados na América, valores totalmente subvertidos na Europa, onde, nesse final dos anos 30 e na década seguinte, os totalitarismos cresciam, com o nazismo, o fascismo, o comunismo a instalarem-se um pouco por todo o lado.
Capra acredita no Homem, no seu Humanismo, na sua possibilidade de reformar o sistema, de o transformar através do amor e da dedicação a causas justas. Capra acredita que a integridade e a honestidade de uns tantos irão impedir a perversão do sistema empreendida por alguns em proveito próprio. Capra acredita, portanto, que o Mal não triunfa, se o Bem se mantiver vigilante e for suficientemente corajoso para intervir e lancetar a gangrena. E Capra diz tudo isto com fé e alegria, fazendo filmes simples na sua aparência, lineares na sua estrutura, que irão galvanizar o povo americano. Por isso Capra foi o melhor instrumento da política de Franklin Roosevelt para o ressurgimento da América através do New Deal. E foi-o sobretudo porque não fazia filmes de encomenda. Ninguém lhe dizia o que devia dizer. Ele fazia os filmes que queria, que por uma feliz coincidência de propósitos se integravam plenamente no espírito do New Deal, o projecto político da reconstrução norte-americana, que procurava sobretudo devolver a voz ao cidadão e esperar que fosse ele a tomar nas suas mãos o destino da América.
Mas, se a esperança da reconstrução nacional se dirigia para o esforço do cidadão anónimo, a vontade política ia no sentido de criar um rudimento do Estado providência que ofertasse ao cidadão as ferramentas económicas, através do crédito, e lhe criasse zonas de segurança social, para combater e vencer a grande Depressão. Com base no pensamento de homens como Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt esperava, disse ele, "refazer a vida nacional segundo um modelo que, voltasse ou não a antiga prosperidade, provocasse um maior sentido de justiça social e respondesse aos pedidos de uma nova democracia." Houve quem visse nas ideias de Roosevelt um perigo "vermelho", mas os rudimentos de socialização da sociedade eram apoiados até pela igreja. O próprio Papa Pio XI pedia uma mais forte participação católica na reconstrução da ordem social, e muitas outras religiões, populares nos EUA, associavam-se-lhe nas intenções. A II Guerra Mundial iria terminar com o esforço do New Deal, mas esta época de franca prosperidade e de uma maior justiça social ficaria para sempre marcada na história dos EUA com uma pedra branca, inclusive no campo literário e artístico. Muitos foram os escritores, de John dos Passos a Steinbeck e Hemingway, muitos foram os artistas, na música, na pintura, no teatro, no cinema, a sentirem o chamamento social, o apelo do povo para a reconstrução da sociedade em moldes mais justos e humanos. Capra foi apenas um entre muitos, mas no campo do cinema, e sobretudo na comédia, ele foi exemplar. Como exemplar foi também John Ford no drama social, desde “A Estrada do Tabaco” às “Vinhas da Ira”.
Durante a II Guerra Mundial, Frank Capra, mobilizado pelas forças armadas norte-americanas, supervisionou um conjunto admirável de documentários, subordinados ao título genérico “Why We Fight”, e que pretendiam precisamente mostrar aos americanos porque é que eles deveriam entrar na guerra e combater a ameaça nazi, mostrando quem eram os inimigos, e testemunhando algumas das mais famosas batalhas realmente vividas na carne, de Inglaterra à Tunisia ou à China. Sob as ordens de Capra estiveram cineastas como John Ford, Anatole Litvak ou Joris Ivens, e o conjunto destes filmes é o mais espantoso e brilhante documento que a II Guerra Mundial nos deixou como resposta ao "terrificante" Triunfo da Vontade, da alemã Leni Riefenstahl.
No pós-guerra, Capra ainda nos daria filmes extremamente interessantes, entre as quais mais uma obra-prima indiscutível, “Do Céu Caiu uma Estrela”, que data de 1946. Nas décadas de 50 e 60, “Tristezas não pagam Dívidas” e “Milagre por Um Dia”, "remake" de uma obra anteriormente realizada pelo próprio Capra, são ainda títulos a não menosprezar, bem assim como toda a sua actividade no campo do documentarismo científico e educacional, em encomendas da Bell System, actividade que o ocupou entre 1952 e 1957.
Capra, glória de Hollywood, faleceu a 3 de Setembro de 1991, com 94 anos de idade e uma vida cheia de histórias que ele descreveu parcialmente numa bem humorada e ágil autobiografia a que deu por título "The Name Above the Title".

*Ver filmografia de Frank Capra na folha de “Não o Levarás Contigo”.

domingo, 19 de junho de 2016

SESSÃO 27 - 22 DE JUNHO DE 2016 (2)



ABBOTT E COSTELLO EM ÁFRICA (1949)


Se “Bucha e Estica” foi a dupla de sucesso que passou do mudo para o sonoro mantendo alguma qualidade e relevância, “Abbott e Costello” tentaram prolongar o feito, com alguma competência e imaginação, mas sem idênticos resultados. A verdade é que esta dupla se formou apenas a partir de 1940, numa altura em que “Bucha e Estica” anunciavam o declínio. O cinema mudo já ia longe, os efeitos puramente visuais já tinham feito a sua época, imperava agora o humor com base no diálogo e “Abbott and Costello” nunca tiveram asas para voar ao lado dos “Irmãos Marx”. Como sempre nas duplas, esta também viveu da complementaridade, aqui do anafado, simpático e ingénuo, e do magro, pragmático licenciado em truques baixos. Ao contrário de “Bucha e Estica”, aqui é o gorducho que inspira simpatia e, pelos vistos, é o mais importante no desenho do humor. Costello quase se limita a desencadear as situações ou a dar réplica ao seu partner que faz as despesas pelos dois. O seu primeiro filme é “Uma Noite nos Trópicos” e, durante década e meia, criaram alguns bons momentos em filmes onde parodiavam igualmente alguns géneros e profissões: “Ordinário, Marche!”, “Agarra-me esse Fantasma”, “Abbott e Costello, Aviadores”, “Rio Rita”, “Abbott e CosteIo, Cowboys", “Abbott e Costello, Detectives”, “Abbott e Costello nas Corridas”, “Perdidos num Harém”, “Os Campeões do Riso”, “Abbott e Costello, Automobilistas”, “Abbott e Costello e os Monstros”, “Abbott e Costello no México”, “Abbot e Costello entre Assassinos”, “Abbott e Costello em África”, “Abbott e Costello na Legião Estrangeira”, “Abbott e Costello e o Homem Invisível”, “A Galinha dos Ovos de Ouro”, “Encontro com o Capitão Kidd”, “Abbott e Costello vão para Marte”, “Abbott e Costello e o Médico e o Monstro”, “Abbott e Costello e a Múmia”, entre outros. Note-se a persistência na paródia aos filmes de terror, que eram vulgares nesse período, mas sobretudo porque o esquema permitia explorar o “medo” de Abbott que divertia as plateias. Não sendo uma sátira aos filmes fantásticos, “Abbott e Costello em África” segue a mesma construção, brincando com o filme de aventuras, e permitindo colocar o atarantado Abbott na presença de vários malfeitores, fenómenos naturais e animais selvagens como crocodilos, leões ou chimpanzés. O efeito é garantido.
Buzz Johnson (Bud Abbott) e Stanley Livington (Lou Costello) são empregados numa livraria e um dia são convencidos por uma elegante dama a partirem para África, numa expedição. Eles não sabem muito bem ao que vão, mas ficam nas mãos de um perigoso grupo de traficantes de diamantes. Depois as peripécias sucedem-se, com o desgraçado do Buzz, a quem tudo acontece, a deparar-se com uma tribo de indígenas antropófagos, e a ser perseguido por perigosos animais de dentes afiados. Nada que não fosse previsível suceder, para explorar as potencialidades do humor de Abbott, que consegue, na sua inocência, provocar fartas gargalhadas. Tudo filmado nos Nassour Studios, em Hollywood.
É um tipo de humor simples e directo, que fez uma época e conseguiu alcançar os primeiros lugares do “box office” norte-americano. Depois, o declínio foi normal e outra dupla se preparou para os substituir com imenso sucesso de bilheteira: Jerry Lewis e Dean Martin. Agora a cores e com a genialidade de Jerry Lewis a despontar. 


ABBOTT E COSTELLO EM ÁFRICA
Título original: Africa Screams
Realização: Charles Barton (EUA, 1949); Argumento: Earl Baldwin, Martin Ragaway, Leonard Stern (estes não creditados); Produção: David S. Garber, Huntington Hartford, Edward Nassour, Donald Crisp; Música: Walter Schumann; Fotografia (p/b): Charles Van; Montagem: Frank Gross; Direcção artística: Lewis H. Creber; Decoração: Edward R. Robinson; Direcção de Produção: Joe C. Gilpin; Assistentes de realização: Joseph E. Kenney; Som: Robert Pritchard; Efeitos especiais: Carl Lee; Guarda-roupa: Albert Deano; Companhias de produção: Huntington Hartford Productions; Nassour Studios Inc.; Intérpretes: Bud Abbott (Buzz Johnson), Lou Costello (Stanley Livington), Clyde Beatty (Clyde Beatty), Frank Buck (Frank Buck), Max Baer (McCoy), Buddy Baer (Boots Wilson), Hillary Brooke (Diana Emerson), Shemp Howard (Gunner), Joe Besser (Harry), Burt Wenland (Bobo), Charles Gemora, Arthur Hecht, Bill Walker, Martin Wilkins, etc. Duração: 79 minutos; Distribuição em Portugal: Sonoro Filme (1950); Distribuição em Portugal (DVD): Filmes Unimundos; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 17 de Fevereiro de 1950.
           

ABBOTT E COSTELLO
BUD ABBOTT (1895-1974) LOU COSTELLO (1906-1959)

Bud Abbott (William Abbott) nasceu em Atlantic City (New Jersey), a 2 de Outubro de 1895, e vem a falecer a 24 de Abril de 1974, em Woodland Hills, Los Angeles, Califórnia, EUA. Actor norte-americano, filho de artistas do circo Bamum, Bud Abbott entra no mundo do espectáculo em 1916. Estreia-se na rádio e no teatro em 1930. Em 1940, forma uma parelha com Lou Costello, que atinge grande popularidade até 1950. Retira-se em 1955, depois de uma série autobiográfica para a TV.

Lou Costello (Louis Francis Cristillo) nasceu em Patterson (New Jersey), a 6 de Março de 1906, e faleceu em Hollywood (Califómia), a 9 de Março de 1959. Principia a sua actividade artística na rádio e na TV, estreando-se no teatro como secundário, passando depois ao cinema, ao lado de Bud Abbott. A parelha figurou entre os dez mais rentáveis actores dos EUA, durante os períodos de 1941-1944 e 1948-1951. Em 1959 interpreta o seu último trabalho no cinema, em estilo autobiográfico: “The Thirty Foot Bride of Candy Rock” (Costello e a Mulher Gigante), de Sidney Miller.

ABBOTT E COSTELLO

Filmografia / como actores (em dupla): 1940: One Night in the Tropics (Uma Noite nos Trópicos), de A. E. Sutherland; 1941: Buck Privates (Ordinário, Marche!), de Arthur Lubin; Hold That Ghost (Agarra-me esse Fantasma), de Arthur Lubin; Keep'em Flying (Abbott e Costello, Aviadores), de Arthur Lubin; 1942: Rio Rita (Rio Rita), de S. Sylvan Simon; Pardon My Sarong (Abbott e Costello no Paraíso), de E. C. Kenton; - Ride'em Cowboy (Abbott e CosteIo, "Cowboys"), de Arthur Lubin; Who Don It? (Abbott e Costello, Detectives), de E. C. Kenton; 1943: Hit The Ice (Abbott e Costello Patinadores), de Charles Lamont; It Ain't Hay (Abbott e Costello nas Corridas), de E. C. Kenton; 1944: In Society (Abbott e Costello na Sociedade), de J. Yarbrough; Lost in Harem (Perdidos num Harém), de Charles Reisner; 1945: Here Come The Co-Eds (Abbott e Costello Desportistas),deJ. Yarbrough; The Naughty Nineties (Abbott e Costello na Pândega), de J. Yarbrough; Abbott And Costello In Hollywood (Os Campeões do Riso), de S. S. Simon; 1946: The Time of Their Lives (Abbott e Costello Fantasmas), de Charles T. Barton; Little Giant (O Pequeno Gigante), de William A. Seiter; 1947: Buck Privates Come Home (Abbotte Costello, Automobilistas), de Charles T. Barton; The Wisful Window of Wagon (Abbott e Costello e a Viúva Alegre), de Charles T. Barton; 1948: Abbott and Costelo Meet Frankenstein (Abbott e Costello e os Monstros), de Charles T. Barton; The Noose Hangs High (Abbott e Costello cheios de Azar), de Charles T. Barton; Mexican Hayride (Abbott e Costello no México), de Charles T. Barton; 1949: Abbott and Costello Meet The Killer (Abbot e Costello entre Assassinos), de Charles T. Barton; Africa Screams (Abbott e Costello em África), de Charles T. Barton; In The Navy (Marinheiro de Água Doce), de Arthur Lubin; 1950: Abbott and Costello Foreign Legion (Abbotte Costello na Legião Estrangeira), de Charles Lamont; 1951: Abbott and Costello Meet the Invisible Man (Abbott e Costello e o Homem Invisível), de Charles Lamont;  Comin Round (Abbott e Costello Pesquizadores), de Charles Lamont; 1952: Jack and the Beanstalk (A Galinha dos Ovos de Ouro), de J. Yarbrough; Lost In Alaska (Abbott e Costello no Alaska), de J. Yarbrough; Abbott and Costello Meet Captain Kidd (Encontro com o Capitão Kidd), de Charles Lamont; 1953: Abbott and Costello Go To Mars (Abbott e Costello vão para Marte), de Charles Lamont; Abbott and Costello Meet Jekyll and Mr. Hyde (Abbott e Costello e o Médico e o Monstro), de Charles Lamont; 1955: Abbott and Costello Meet the Mummy (Abbott e Costello e a Múmia), de Charles Lamont; Abbott and Costello Meet the Keystone Cops (Abbott e Costello Polícias), de Charles Lamont; 1956: Dance with Me, Henry, de Charles T. Barton.

SESSÃO 26 - 22 DE JUNHO DE 2016 (1)


DOIS MALUCOS À SOLTA (1942)

Foi Hall Roach, em 1926, quem teve a ideia de reunir em parelha cómica Bucha (Hardy) e Estica (Laurel), transformando-a rapidamente na mais importante da história do cinema. Inicialmente, apareceram em dezenas e dezenas de curtas-metragens (filmes de uma, duas ou três bobines, como então eram designados, e que duravam entre 7, 15 ou 20 minutos). Depois, e sempre em dupla, protagonizaram várias longas-metragens, sobretudo a partir de 1931, já durante o cinema sonoro, o que lhes terá trazido uma maior celebridade por um lado, mas que terá limitado por outro a sua verve visual, muito na base do “slapstick”, o burlesco de situação, com o tradicional “pastelão”, as correrias e as perseguições, as cenas de confusões e travessuras, um humor muito físico, muito fácil de apreender pelas plateias do então cinema mudo. Charles Chaplin terá sido o seu maior cultor a título individual, “Bucha e Estica”, a nível de parelha, impuseram-se e “Os Três Estarolas”, em gang, motivaram ainda algum interesse. Claro que os Irmãos Marx jogavam num outro campeonato, tendo o sonoro como referência indispensável para os seus trocadilhos verbais. Com o advento do sonoro, o “slapstick” transferiu-se fundamentalmente para o desenho animado, do Tom e Jerry aos heróis dos Looney Tunes, com o Bugs Bunny à cabeça.
Entre as longas-metragens de Bucha e Estica mais memoráveis contam-se Laurel e Hardy a Ferros, Quem Vai à Guerra, Fra Diavolo, Os Filhos do Deserto, Era Uma Vez… Dois Valentões, Apurados para o Serviço, Um Par de Ciganos, A Caminho do Oeste, A Mania do Cinema, Os Dois Tiroleses, Campeões de Oxford, Marinheiros à Força, Em Frente, Marche, Dois Malucos à Solta, Salve-se Quem Puder, Bucha e Estica, Músicos de Jazz, Bucha e Estica, Mestres de Dança, Bucha e Estica Detectives ou Bucha e Estica Toureiros.
“Dois Malucos à Solta”, uma realização de 1942, é um pouco o exemplo deste tipo de comédias em que o argumento não era pensado para ser muito importante, mas apenas para permitir à dupla desenvolver um conjunto de gags que pusessem à prova a sua invenção e talento. São comédias de enganos, como muitas outras deste tempo. Os nossos amigos Stan e Ollie aparecem como dois vagabundos numa pequena cidade norte-americana e são avisados pela polícia que têm de deixar a terra. Dispostos a acatar as ordens da autoridade, acabam por aceitar transportar consigo um caixão contendo um corpo que eles julgam de um morto, mas afinal é de um gangster em fuga. Troca de caixões no comboio e o gangster vai parar ao tecto de uma sala de variedades onde o célebre Dante, ilusionista, multiplica as suas facetas mágicas. O resto calcula-se. O mais importante é recordar a complementaridade da dupla, o “bucha”, sentencioso, e o “estica”, ingénuo e desastrado, bem assim como alguns “gags” bem conseguidos. Mas muito do humor joga-se, e bem, no desajustado do comportamento dos dois protagonistas. Por vezes delicioso.

DOIS MALUCOS À SOLTA
Título original: A-Haunting We Will Go
Realização: Alfred L. Werker (EUA, 1942); Argumento: Lou Breslow, Lou Breslow, Stanley Rauh; Produção: Sol M. Wurtzel; Música: David Buttolph, Cyril J. Mockridge; Fotografia (p/b): Glen MacWilliams; Montagem: Alfred Day; Direcção artística: Lewis H. Creber, Richard Day; Decoração: Thomas Little; Guarda-roupa: Herschel McCoy, Sam Benson; Assistentes de realização: Paul Wurtzel; Som: Harry M. Leonard, Arthur von Kirbach; Companhias de produção:Laurel and Hardy Feature Productions, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Stan Laurel (Stan), Oliver Hardy (Ollie), Dante (Dante the Magician), Sheila Ryan (Margo), John Shelton (Tommy White), Don Costello (Doc Lake), Elisha Cook Jr. (Frank Lucas), Edward Gargan, Addison Richards, George Lynn, James Bush, Lou Lubin, Robert Emmett Keane, Richard Lane, Willie Best, Harry Blackstone, Roland Carpenter, Paul Kruger, Wilbur Mack, Terry Moore, etc. Duração: 64 minutos; Distribuição em Portugal: Twentieth Century Fox; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de estreia em Portugal: 25 de Junho de 1943.


BUCHA E ESTICA
OLIVER HARDY (1892-1957)
Oliver Norvelle Hardy nasceu em Harlém, Geórgia, EUA, a 18 de Janeiro de 1892 e faleceu em Burbank (Califórnia), a 7 de Agosto de 1957. Actor norte-americano. De família inglesa, os pais dirigem um hotel em Madison (Geórgia), estuda no Conservatório de Atlanta e chega a ser um excelente cantor, embora nunca se tenha dedicado profissionalmente à canção. Segue cursos de Direito na Georgia University e abre, em 1919, a primeira sala de cinema de Milledgeville (Geórgia), actividade que o incita a fazer-se actor em 1913, contratado pela Lubin Studios (Florida), sem ter experiência alguma como tal e sem ter passado pelo palco ou pelo music-hall. Até 1915, interpreta numerosos segundos papéis em burlescos da Lubin e da Vim Comedies (absorvida pela Lubim em 1915). De 1916 a 1918 é a vedeta da série Plump and Runt (Billy Rupge no papel de Runt), no fim da qual se instala definitivamente em Hollywood: intervém noutras séries cómicas e em vários westerns da Fox, geralmente em composições de vilão. De 1920 a 1925 alterna estes papéis com outros, junto a Larry Sernon, para a Vitagraph (chega mesmo a dirigir alguns deles), até ser contratado em 1926 por Hall Roach, que descobre as suas possibilidades cómicas como par de Stan Laurel. Assim nasce a parelha cómica Bucha (Hardy) e Estica (Laurel), a mais importante da história do cinema, cuja colaboração com Roach se prolongará até 1940, graças ao extraordinário êxito comercial das curtas-metragens e, a partir de 1936, das longas-metragens. Hardy encarna Ollie, o sempre mal-humorado companheiro de aventuras e trabalhos de Stan, pedante e arrogante, dotado de recursos expressivos menos ricos e matizados que os de Stan (o verdadeiro criador de todas as situações cómicas), complemento perfeito de uma fórmula (a da parelha cómica) muitas vezes repetida, mas nunca conseguida com os extraordinários resultados de todo o tipo obtidos neste caso. A partir de 1945, retira-se do cinema e regressa unicamente para ser o protagonista, em 1952, de um filme francês de pouco interesse. Durante este tempo, realizam digressões pela Europa e em 1945 produz-se um certo ressurgimento nos E.U.A., ao passar pela TV a maior parte da sua obra, não podendo levar-se a cabo uma série para o pequeno écran, produzida pelo filho de Hal Roach, por ter Ollie falecido em consequência de uma hemorragia cerebral.

STAN LAUREL (1890-1965)
Arthur Stanley Jefferson nasceu em Ulverston (Lancashire-Inglaterra) a 16 de Junho de 1890 e faleceu em Santa Mónica (Califórnia) a 23 de Fevereiro de 1965. Actor norte-americano. Filho de uma actriz e de um actor de vaudeville, autor e encenador, estuda na King James Grammar School (Bishop Auckland), inicia-se no mundo do espectáculo no Pickard's Muscum (Glasgow, 1906) e ingressa (1907) na troupe de Fred Karno como imitador (de Chaplin) para as digressões de circo e nos music-halls de Inglaterra e E.U.A., onde chega em 1912, tal como Chaplin. Quando este foi contratado por Sennett (1913), Stan monta um número de grande êxito, The Keystone Trio, no qual parodia Chaplin. Em 1917, a Universal oferece-lhe o seu primeiro contrato cinematográfico, adopta o apelido de Laurel e roda uma série de curtas-metragens, criando o personagem de Hickory Hiram. A partir de 1918, passa por diversas companhias e, em 1922, Hal Roach contrata-o para ser o protagonista de vinte curtas-metragens. 1924-1925: a série The Stan Laurel Comedies situa-o entre os primeiros cómicos de época. Em 1926 inicia-se, sempre sob a égide de Roach (Pathé), a frutuosa colaboração com Oliver Hardy. Ao falecer Hardy, recusa continuar no activo e retira-se do cinema. Oscar especial em 1960 pela «sua criação pioneira no campo da comédia cinematográfica». Casamentos: Lois Neilson (divorciado em 1934), Virgina Ruth (1934-1936 e 1938-1939, quando voltou a casar com ela) e Ida Kitaeva (1946).

BUCHA E ESTICA

Filmografia / Como actores: Bucha (Hardy) e Estica (Laurel) apareceram em dezenas e dezenas de curtas-metragens (filmes de uma, duas ou três bobines como então eram designados). Depois, e sempre em parelha, protagonizaram várias longas-metragens: 1931: Pardon Us (Laurel e Hardy a Ferros), de James Parrott; 1932: Pack up your Troubles (Quem Vai à Guerra), de Georges Marshall; 1933: Fra Diavolo ou The Devil’s Brother (Fra Diavolo), de Hal Roach e Charles Rogers; Sons of the Desert (Os Filhos do Deserto), de William A. Seiter; Babes In Toyland (Era Uma Vez… Dois Valentões), de Gus Meins e Charles Rogers; 1935: Bonnie Scotland (Apurados para o Serviço), de Jemes Horne; 1936: Our Relations (Irmãos Gemeos), de Harry Machman; The Bohemian Girl (Um Par de Ciganos), de James Horne e Charles Rogers; 1937: Way Out West (A Caminho do Oeste), de James Horne; Pick a Star (A Mania do Cinema), de Edward Sedgwick; 1938: Swiss Miss (Os Dois Tiroleses), de John G. Blystone; 1939: Block-Heads (O Cabeçudo das Trincheiras), de John G. Blystone; The Flying Deuces (Homens sem Asas), de Edward Sutherland; 1940: A Chump at Oxford (Campeões de Oxford), de Alfred Goulding; Saps at Sea (Marinheiros à Força), de Gordon Douglas; 1941: Great Guns (Em Frente, Marche), de Monty Banks;  1942: A-Haunting We Will Go (Dois Malucos à Solta), de Alfred Werker; 1943: Air Raid Wardens (Salve-se Quem Puder), de Edward Sedgwick; Jitterbugs (Bucha e Estica, Músicos de Jazz), de Malcolm St. Clair; The Dancing Masters (Bucha e Estica, Mestres de Dança), de Malcolm St. Clair; 1944: The Big Noice (Bucha e Estica Detectives), de Malcolm St. Clair; Nothing but Trouble (Cozinheiros do Rei), de Sam Taylor; 1945: The Bullfighters (Bucha e Estica Toureiros), de Malcolm St. Clair; 1952: Atoll K., de John Berry e Leo Joannon. Hardy e Laurel apareceram ainda em várias obras a solo, e o seu trabalho foi reunido em diversas antologias. 

SESSÃO 25 - 21 DE JUNHO DE 2016 (2)


PAMPLINAS, MAQUINISTA (1926)

Primavera de 1861 - Guerra da Secessão nos E.U.A, com as forças do Norte contra as do Sul, que as primeiras haveriam de ganhar, fazendo triunfar novas fórmulas de governo, abolindo a escravatura e introduzindo conceitos de industrialização, contra o conservadorismo da aristocracia rural dos Estados do Sul. Buster Keaton interpreta aqui o papel de Johnnie Gray, maquinista de caminhos-de-ferro, que tem duas paixões na vida: a namorada, Annabelle Lee, e a sua bela locomotiva, a "General”, que pertence ao Expresso do Atlântico e faz a ligação entre Marietta, na Georgia, a Sul, e Chattanooga, a Norte. Quando a guerra chega a Fort Summer, os habitantes de Marietta acham que é a altura de se alistarem. Entre eles, estão o pai e o irmão de Annabelle Lee, que pergunta também a Johnnie Gray se ele não se vai oferecer, o que este faz com um entusiasmo indescritível, passando à frente de todos, apenas para saber que será recusado, pois o general sulista que dirige as operações considera que ele é mais útil como maquinista do que como soldado. Mas Johnnie não se conforma, regressa aos serviços de recrutamento, com um nome suposto, voltando, porém, a ser afastado, quando é descoberta a sua falsificação.
Sem ter coragem de contar tudo à namorada, Johnnie vive angustiado durante um ano, longe dos olhares apaixonados da sua prometida, que não o quer ver senão uniformizado. Entretanto, no acampamento da União, a Norte de Chattanooga, o capitão Anderson, chefe dos serviços de espionagem, apresenta ao general Thatcher um plano para penetrar no território sulista, apoderar-se de uma locomotiva e carregar mantimentos para as suas tropas. O que acabará por executar, caindo-lhe na sorte a locomotiva de Johnnie Gray que é roubada na estação de Big Shanty, quando todos os passageiros e tripulantes almoçam.



O maquinista, porém, não aceita ver-se longe da sua “General” e persegue-a por todos os meios ao seu alcance, até conseguir apanhar outra locomotiva que se coloca deliberadamente no encalço dos nortistas. Mas, rapidamente, Johnnie Gray passa de perseguidor a perseguido e depois mesmo a fugitivo, o que o leva a esconder-se debaixo de uma mesa de reuniões onde ouve os generais nortistas planearem o ataque surpresa contra os sulistas e onde descobre igualmente que a sua nunca esquecida Annabelle se encontra também prisioneira das forças da União.
Depois de se livrar de algumas sentinelas, liberta Annabelle e ambos fogem, levando consigo a locomotiva, procurando chegar ao acampamento dos Sulistas antes dos adversários, para alertar as tropas sobre o plano que o inimigo preparara. O que consegue, impedindo assim a derrota, o que lhe vale finalmente uma farda de tenente, e o amor agradecido de Annabelle, enfim rendida à sua coragem e destemor.
Esta comédia de Buster Keaton, que se desenrola no cenário de um western, parte de um facto histórico: em Abril de 1862, um grupo de espiões nortistas rouba uma locomotiva na estação de Big Shantv, levando-a rumo ao Norte. É este epidio que está na base do argumento criado pelo próprio Buster Keaton e por Clyde
Bruckman
, ambos igualmente co-realizadores do filme.
A base real do filme confere-lhe desde logo uma autenticidade inatacável, e um clima de algum dramatismo, dado o rigor com que Keaton a trabalha. Em lugar de se servir desse episódio para sobre ele efabular simplesmente, o autor procura, pelo contrário, o pormenor preciso, indo ao ponto de reconstruir locomotivas movidas a carvão em tudo idênticas às da História. Depois, todos os cenários são naturais, raras são as cenas rodadas em estúdio, as reconstituições de acampamentos, estações de caminho-de-ferro, meios de locomoção, cenas de batalha, em tudo Buster Keaton procura o dado rigoroso que dê credibilidade à história.
No seu entender, só assim os gags” resultam mais divertidos, porque inscritos numa realidade dramática plausível. Razão que está igualmente na base da aparente rigidez da sua máscara: os espectadores divertem-se mais se o actor cómico se assume na sua seriedade. Será, aliás, na construção do gag” que este filme de Keaton se distingue, sendo mesmo considerado um dos mais perfeitos (senão mesmo o mais) do autor, conhecido sobretudo pelo exaustivo trabalho de preparação das situações, que vários ensaístas e estudiosos da sua filmografia aproximam do de um arquitecto, de um geómetra, de um corgrafo. Veja-se, por exemplo, toda a fabulosa sequência da perseguição à locomotiva roubada. Johnnie Gray primeiramente corre atrás dos assaltantes, depois serve-se de um carro movido por alavanca, depois viaja de bicicleta, finalmente consegue desviar ele também uma locomotiva tendo que afastar do caminho diversos obstáculos que os perseguidores lançam para os carris.
A cada desafio, Johnnie responde com um novo rasgo de génio, indo à frente da composição levantar os troncos, atirando com um deles sobre outro para fazer saltar ambos. Tudo obedece a princípios matemáticos rigorosos, a precisos estudos de causa-efeito que resultam divertidíssimos, nomeadamente pela
forma clara como são enunciados e desenvolvidos, sem elipses ou truques. Diga-se também que Buster Keaton era um admirável acrobata que efectuava todos os exercícios onde intervinha, sem recurso a duplos. É ele mesmo quem percorre a locomotiva de alto a baixo, quem salta de vagão em vagão, quem corre ao longo' dos carris e salta em andamento. Ele torna-se de tal forma um prolongamento da “General” que dir-se-ia ser um elemento indissociável da máquina (como na seqncia inicial, quando sentado num dos veios que ligam as rodas, é transportado pela locomotiva, sem se aperceber do movimento, absorto que está na desdita de ter sido recusado pelo Exército). Será ainda na locomotiva que terá lugar um dos mais famosos gags” da história do burlesco: Johnnie Grav leva consigo um canhão para atingir os perseguidores. Mas, no primeiro disparo, por falta de pólvora, a bala vai cair na locomotiva onde viaja Gray. Na segunda tentativa, com o canhão desesperadamente carregado de explosivos e com o rastilho aceso, a plataforma liberta-se da locomotiva e a trepidação faz com que o canhão desça a sua mira, ficando Buster Keaton como alvo privilegiado. Mas quando parece ir acontecer o pior, o canhão dispara numa curva do caminho e a bala vai atingir realmente o comboio fugitivo, passando ao lado da composição perseguidora. Há aqui uma sucessão de situações cómicas, ligadas entre si, anulando-se umas às outras, fazendo crescer a tensão junto dos espectadores através deste contínuo acumular de lances.
O mesmo acontecerá, já muito perto do fim do filme, durante a derradeira batalha, com Johnnie Grav, junto de um general sulista, evoluindo atabalhoadamente, sempre no máximo da discrição, com a espada a que finalmente teve direito, mas cuja lâmina salta e provoca as mais desencontradas situações. Em qualquer destes casos, alguns de entre muitos de possível citação, se demonstra o perfeito domínio que Buster Keaton tinha sobre o humor, num alarde de talento, mas também de rigor. Ele próprio dizia que “uma boa cena cómica comporta por vezes mais lculos matemáticos do que uma obra de mecânica”, ou ainda que “um filme cómico se assemelha muito, em precisão, às rodas dentadas de um relógio”.
Buster Keaton, em Pamplinas Maquinista”, mas também em muitas outras obras do seu peodo mudo, atinge um estado de exemplar perfeccionismo, de enorme austeridade de processos e de total economia de meios, o que faz deste título um dos melhores filmes do burlesco americano desta época, só comparável a
Ch
aplin. Será interessante sublinhar devidamente este aspecto, pois em quase todos os filmes de Keaton destes anos de fim do mudo, ele desenvolve uma apurada técnica de humor, onde nada é deixado ao acaso, onde tudo se desenvolve segundo uma ordem previamente estabelecida e racionalizada, onde não há a mais pequena concessão à facilidade (o que não impediu “The General" de ser um espantoso sucesso de público), onde é possíve
l descortinar-se uma gravidade de tom que confere a cada peripécia a dignidade de um acto moral.

PAMPLINAS MAQUINISTA
Título original: The General
Realização: Buster Keaton e Clyde Bruckman (EUA, 1926); Argumento: AI Boasberg, Charles Smith, Paul Girard Smith, segundo uma ideia de Buster Keaton e Clyde Bruckman, inspirada em obras de William Pittenger ("Daring and Suffering: a History of the Great Railroad Adventure" e "The Great Locomotive Chase”; Produção: David Shepard, Buster Keaton, Joseph M. Schenck; Música: The Alloy Orchestra (2003), Carl Davis (1987), Robert Israel (1995) Joe Hisaishi; Fotografia (p/b): Bert Haines, Devereaux Jennings; Montagem: Buster Keaton, Sherman Kell; Direcção artística: Fred Gabourie; Decoração: Harry Roselotte; Maquilhagem: Fred Carlton Ryle; Direcção de Produção: Lou Anger, Fred Gabourie; Assistentes de realização: Harry Barnes, Glen Cavender, Edward Hearn; Departamento de arte: Frank Barnes, Jack Coyle, William Ernshaw, Al Gilmour, Bert Jackson, H.L. Jennings, George E. Potter, Billy Wood; Efeitos especiais: Jack Little; Efeitos eléctricos: Denver Harmon; Companhias de produção: Buster Keaton Productions, Joseph M. Schenck Productions,  United Artists Production; Intérpretes: Buster Keaton (Johnnie Gray), Marion Mack (Annabel ou Mary Lee), Frank Barnes (irmão de Mary), Charles Smith (pai de Mary, Glen Cavender (capitão Anderson), Jim Farley (general nortista Thatcher), Frederick  Wroom (general sulista), Frank Agney (sargento recrutador), Joe Keaton, Mike Donlin, Tom Nawn (oficiais nortisas), Henry Baird, Jimmy Bryant, Jack Dempster, Keith Fennell, Budd Fine, Ronald Gilstrap, Frank Hagney, Ray Hanford, Anthony Harvey, Edward Hearn, Boris Karloff, Hilliard Karr, Elgin Lessley, Louis Lewyn, Jackie Lowe, Ross McCutcheon, Tom Moran, Charles Phillips. Red Rial, Al St. John, Harold Terry, Ray Thomas, Red Thompson, James Walsh, John Wilson, Jean Woodward, etc.; Duração: 74 minutos; Classificação: M/ 6 anos; Edição vídeo em Portugal: Video Colecção / Ecovideo; Edição DVD em Portugal: LNK / MK2; Estreia mundial: Nova lorque, 18 de Dezembro de 1926; Estreia em Portugal: 11 de Fevereiro de 1929.


BUSTER KEATON: “O HOMEM QUE NUNCA RI”
De Buster Keaton disse-se o que raras vezes se diz de um artista. Orson Welles afirmou que tinha por Keaton “uma verdadeira veneração”. E especificou: “Acabo de ver "Pamplinas, Maquinista" e é um filme de uma beleza total!”, Luis Buñuel, bem como todos os surrealistas, nutria igualmente por Buster Keaton uma admiração sem fronteiras: “Os superfilmes devem servir para dar lições aos técnicos: os de Keaton para dar lições à própria realidade, com ou sem a técnica da realidade”. Todavia, a carreira deste homem que talvez tenha sido o único a fazer sombra a Charles Chaplin foi acidentada e alguém chegou a dizer que a sua vida parece retirada de “um mau melodrama”. Foi um dos grandes de Hollywood durante o “mudo”, interpretando, mas também escrevendo e realizando, muitos filmes que traziam o seu nome.
Depois do aparecimento do sonoro, porém, a sua estrela dir-se-ia que havia sido por completo ofuscada no firmamento. Durante algum tempo ocupou-se em tarefas menores, interpretando filmes medíocres, dando shows em circos, embriagando-se e indo parar amiudados vezes a clínicas de desintoxicação, mesmo a hospícios.  Destino trágico para um dos homens que mais terá distribuído felicidade e alegria pelas plateias de todo o mundo. A América chamou-lhe “O Homem que Nunca Ri”, o que se reflecte uma das características do seu jogo histriónico, não é, no entanto, das principais. Buster Keaton bem poderia considerar-se um mestre na difícil arte da comédia, do burlesco, mas de um burlesco por assim dizer estilizado, austero, reduzido ao essencial, moderno como nenhum outro. Poderá, então, perguntar-se como colocar este humor ao lado de outros que fizeram furor em Hollywood e no mundo por essas épocas, e pensar-se também na forma como o público, habituado a um cómico barroco, sobrecarregado de situações e de “gags”, aceitaria a simplicidade de processos de Keaton. Não deixa de surpreender que tão bem o tenham aceite, que o tenham considerado um dos grandes autores do cinema mudo, que tenham feito das suas comédias alguns dos maiores êxitos comerciais da década de 20.
Buster Keaton nasceu a 4 de Outubro de 1895, em Pickway, no Kansas, EUA, de pais de origem escocesa e irlandesa. O seu nome de baptismo era Joseph Francis Keaton, filho de Joseph Hallie e de Myra Edith, ambos actores cómicos. Nascido num palco, no mesmo ano em que o cinema dava os seus primeiros passos pela mão dos irmãos Lumière, no Salon Indien do Grand Café de Paris, Buster Keaton cedo começaria a trabalhar no mundo do espectáculo.
Enquanto o pai cantava, dançava e fazia acrobacias, a mãe tocava piano e interpretava solos de saxofone, integrados numa companhia de que faziam ainda parte Harry e Bassie Houdini. Os seus espectáculos eram chamados “medicine shows”, e apresentavam-se de cidade em cidade. Foi no decorrer de uma “tournée”, com paragem em Pickway, que nasceu o Keaton de que hoje aqui falamos. Um vendaval percorreu a região, levando consigo a tenda que cobria o local do espectáculo. Foi num palco improvisado que o recém-nascido foi apresentado, com menos de 24 horas de vida. A primeira aparição em público de Buster Keaton assemelhou-se, pois, a uma natividade que tivesse convocado para o efeito a fúria dos elementos. Elementos que ele irá desafiar ao longo de toda a sua obra de cineasta e actor. Em muitos filmes seus se encontram vendavais, ciclones, fogos, naufrágios, avalanchas, tufões. Mas todos estes confrontos ameaçadores e dramáticos permitiam a Keaton o jogo da elegância dos seus movimentos, misturado com um ar quase inconsciente, mas pelo menos distante, com que ia procurando resolver as situações em que se encontrava metido. Jogo de precisão matemática, rigoroso na construção do “gag”, minucioso no seu desempenho, invulgar nos resultados. Por muito dramática que seja a situação, Keaton encontra sempre uma maneira hábil e ágil para dela sair com alguma dignidade. Quem não se lembra de “Pamplinas, Maquinista”, com o herói preso na parte dianteira de uma locomotiva em andamento, com uma enorme viga de madeira nos braços, num equilíbrio verdadeiramente instável e aterrorizador? Pois Keaton consegue ver-se livre da situação, com uma dignidade e elegância totais. Não só conseguirá abandonar a incómoda posição, como afastar do caminho outros escolhos.
Para esta articulação perfeita de movimentos, para esta total agilidade, muito terá contribuído a época da sua juventude passada no “vaudeville”, juntamente com os pais, num “número” a que chamavam de “The Three Keaton”.  Desde os três anos de idade que olha as habilidades que prodigiosamente se desenrolam à sua volta, desde essa altura que as tenta imitar, e que enfrenta o público em cena aberta.  Só aos 17 anos, quando uma disputa entre o pai e o director da companhia interrompe a actuação dos “Três Keaton”, Buster Keaton parte para Nova lorque, onde trocará o teatro pelo cinema.
Encontra Roscoe “Fatty” Arbuckle, que o convida a integrar a sua companhia e aparecer em pequenos filmes de duas bobines. É o burlesco no seu apogeu que o actor irá descobrir. Mas após uma curta permanência junto de Arbuckle, é mobilizado e parte para a Europa, onde se mantém durante sete meses. De regresso a Nova lorque, volta à companhia de “Fatty”, onde intervém em alguns títulos, até que passa para a Metro Goldwyn Mayer, dirigindo já os filmes em que aparece, ainda que de colaboração com Eddie Cline.
São também pequenos filmes de duas bobines, com excepção de “The Shahead”, uma longa-metragem, de 1920, dirigida por Herbert Blache e Wincheii Smith, onde Buster Keaton interpreta no cinema o papel criado por Douglas Fairbanks no teatro. Só a partir de 1923, de novo na MGM, depois de uma curta incursão pela “First National”, é que aparecerá regularmente como protagonista de longas-metragens. São dessa época alguns dos seus melhores títulos como “Três Idades”, “As Leis da Hospitalidade”, “Sherlock Holmes, Jr.”, “O Navegante”, “O Rei dos Cowboys” ou “Boxeur por Amor Dela”.  Mas será a partir de 1926, na United Artists, que Buster Keaton terá o seu melhor período criativo, com três títulos definitivos, “Pamplinas, Maquinista”, “O Colegial”, e “Marinheiro de Água Doce”.  Em 1928 regressa à MGM para interpretar aquele que será o seu último filme mudo, “O Homem da Manivela”, e os seus primeiros títulos sonoros.
Venderá a sua produtora e aceita integrar-se na MGM. As obras em que intervém, a partir daí, são de uma qualidade inferior, quase todas dirigidos por um medíocre Edward Sedwick que não soube encontrar a forma de aproveitar o fabuloso jogo do actor na nova mecânica do sonoro. Buster Keaton irá atravessar um dos piores períodos da sua vida, com a degradação da sua arte, graves problemas familiares (a mulher, Natalie Talmadge, pede divórcio, acusando-o de adultério, o que arruina o actor), e esta crise atira-o para o álcool, para as clínicas, para o esquecimento.
Aceita então trabalho na Educational Pictures, onde volta a interpretar pequenos filmes de uma, duas ou três bobines, com “gags” medíocres, deficientemente dirigidos por técnicos sem talento nem inspiração, como Charles Lamont. Mas é este trabalho que lhe permite sobreviver até 1939, atravessando inúmeras dificuldades.  Depois de uma passagem por uma clínica psiquiátrica volta à MGM, mas agora como argumentista e “gagman” de outros actores (por exemplo, de Red Skelton). Vai vivendo depois de pequenos papéis em filmes produzidos por vários estúdios, e tenta mesmo a sorte na Europa, em França e em Inglaterra, e no México.
Em 1941 empreende a sua primeira digressão teatral, com “The Gorilla”, a que se segue, em 1946, “Three Men on a Horse”.
Viaja pelos Estados Unidos em “tournée”, como fizera em criança, e apareçe integrado, em 1947, no Circo Medrano que visita França. Actua em “night clubs”, e na Europa, é contrado pela televisão inglesa, onde faz curtas aparições em filmes publicitários. Será em sobressalto que todos nós, que o amámos, o vimos voltar, em “Luzes da Ribalta”, de Charles Chaplin.
Em 1957, supervisiona o filme de Sidney Sheldom, “The Bustet Keaton Story”. Dois anos depois recebe da Academia de Hollywood um Oscar especial, consagrando “o talento único com que encarnou comédias imortais no cinema e pelo seu contributo para a arte cinematográfica”. Alguns anos depois, uma cópia nova e restaurada de “Pamplinas, Maquinista” sai nos circuitos comerciais alemães e é a consagração da crítica. A Cinemateca Francesa faz-lhe uma completa retrospectiva da sua obra, ocupando os meses de Fevereiro e Março de 1962. E Stanley Kramer convida-o a integrar o elenco de “0 Mundo Maluco”. Alain Schneider dá-lhe o principal papel em “Film”, segundo obra de Samuel Beckett, e o Canadá, através do Office National du Film, convida-o para protagonizar “The Railrodder”, enquanto Julian Biggs, paralelamente vai filmando essa rodagem, e ordenando um documentário, de cerca de uma hora, sobre Buster Keaton: “Buster Keaton Rides Again”, título profético para o renascer do actor para uma segunda carreira.
Segunda carreira que seria breve, mas teria o cunho de estabelecer a justiça ainda em vida do notável actor-realizador. A sua última aparição no cinema dá-se em “Em Roma era Assim”, de Richard Lester.  Em 1 de Fevereiro de 1966 morre Buster Keaton, em Hollywood, Califórnia, EUA.
Actor verdadeiramente genial, da estatura de um Chaplin, Buster Keaton foi durante muito tempo o autor completo das obras em que intervinha, o que lhe permitia o domínio total das situações. O maior erro da sua vida terá sido abdicar dessa situação, quando em 1928 vendeu a sua própria companhia, “The Buster Keaton Produtions”, e se deixou integrar na Metro. A partir daí toda a sua carreira deslizou gradualmente para a mediocridade, enquanto a sua vida e a sua saúde, física e psíquica, acusavam crises graves de que não mais se recompôs. Mas um momento inesquecível da história do cinema estava-lhe ainda reservado, quando, em 1951, Charles Chapiin o convida a aparecer em ,”Luzes da Ribalta”, um filme que é uma dolorosa homenagem ao mundo do espectáculo. Aí, reunidos por instantes, lado a lado, os dois maiores cómicos de sempre, estabeleceram um pacto para a eternidade: sob os holofotes de cena, dois rostos envelhecidos corriam para a imortalidade.



FILMOGRAFIA
Como actor: 1º Período: Filmes mudos: 1917: The Batcher Boy, de Roscoe Arbuckle; The Rough House, de R. Arbuckle; A Reckiess Romeo, de R. Arbuckle; His Wedding Night, de R. Arbuckle; A Country Hero, de R. Arbuckle; Fatty At Coney lsiand, de R. Arbuckle; 1918: Out West, de R. Arbuckle; The Bell Boy, de R. Arbuckle; Good-Night, Nurse, de R. Arbuckle; Moonshine, de R. Arbuckle; The Cook, de R. Arbuckle; 1919: A Desert Heroe, de R. Arbuckle; Backstage, de R Arbuckle; The Hayseed, de R. Arbuckle; 1920: The Garage, de R. Arbuckle.
2º Período: Metro Goldwyng Mayer (1920-1921): 1920: The Saphead, de Herbert Blanche e Winchell Smith; 1920: The High Sign, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1920: One Week, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1920: The Scrarecrow, de Buster Keaton e  Eddie Cline; 1920: Convict 13, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1921: The Goat, de Buster Keaton e May St. Clair; 1921: Neighbours, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1921: The Haunted House, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1921: Hard Luck, de Buster Keaton e Eddie Cline.
3º Período: First National (1921: 1923): 1921: The Playhouse, de Buster Keaton e Eddie Cline; The Boat, de Buster Keaton e Eddie Cline; The Paleface, de Buster Keaton e Eddie Cline; 1922: Cops (Pamplinas e os Polícias), de Buster Keaton e Eddie Cline; My Wife's Relations, de Buster Keaton e Eddie Cline;  1922: The Blacksmith, de Buster Neaton e May St. Clair; The Frozen North (Pamplinas no Pólo Norte), de Buster Keaton e Eddie Cline; 1922: Daydreams, de Buster Keaton e Eddie Cline; The Electric House (Pamplinas na Casa Eléctrica), de Buster Keaton e Eddie Cline; 1923: The Ballonatic, de Buster Keaton e Eddie Cline, The Love Nest, de Buster Keaton e Eddie Cline.
4º Período: Metro Goldwing Mayer (1923-1926): 1923: Three Ages (Três Idades), de Buster Keaton e Eddie Cline; Our Hospitality (As Leis da Hospitalidade), de Buster Keaton e Jack Blystone; 1924: Sherlock, Jr. (Sherlock Holmes, Jr.) de Buster Keaton; The Navigator (O Navegante), de Buster Keaton e Donald Crisp; 1925: Go West (O Rei dos Cow-Boys), de Buster Keaton; 1926: Battling Butler (Boxeur por Amor Dela), de Buster Keaton.
5º Período: United Artists (l926-1928): 1926: The General (Pamplinas Maquinista), de Buster Keaton e Clyde Bruckman; 1927: College (O Colegial), de James W. Horne; 1928: Steamboat Bill, Jr. (Marinheiro de Água Doce), de Charles F. Reisner.
6º Período: Metro Goldwyng Mayer (1928-1933): 1928: The Cameraman (O Homem da Manivela), de Edward Sedgwick; 1929: Spite Marriage (O Figurante), de Edward Sedgwick.
Filmes sonoros: 1929: The Hollywood Revue (A Revista de Hollywood), de Charles F. Reisner; 1930: Free and Easy (O Fabricante de Estreias), de Edward Sedgwick; 1930: Doughboys (Em Frente, Marche!), de Edward Sedgwick; 1931: Parlor, Bedroom and Bath (Pamplinas em Pijama), de Edward Sedgwick; 1931: Sidewaiks of New York (Pamplinas Milionário), de Jules White; 1932: The Passionate Plumber (O Amante Improvisado), de Edward Sedgwick; 1930: Speak Easlly (A Tentação de Pamplinas), de Edward Sedgwick; 1933: What!  No Beer? (Amor ... e Cerveja), de Edward Sedgwick.
7º Período: Educational (l934-1939)
1934: The Goald Ghost, de Charles Lamont; 1934: Allez Oop, de Ernest Pagano e Ewen Adamson; 1934: Le Roi des Champs-Elysées (O Rei dos Campos Eliseos), de Max Nosseck (rodado em Franca, extra Educational); 1934: The lnvader, de Adrian Brunel (rodado em Inglaterra, extra Educational); 1935: Palooka from Paducah, de C. Lamont; 1935: One Run Elmer, de C. Lamont; 1935: Hayseed Romance, de C. Lamont; 1935: Tars and Stripes, de C. Lamont; 1935: The E-Flat Man, de C. Lamont; 1935: The Timid Young Man, de C. Lamont; 1935: Three on a Limb, de C. Lamont; 1936: Grand Slam Opera, de C. Lamont; 1936: La Fiesta de Santa Barbara, de Lewis Lewyn; 1936: Blue Blazes, de Raymond Kane; 1936: The Chemist, de AI Christie; 1936: Mixed Magic, de Raymond Kane; 1937: Ditto, de C. Lamont; 1937: Love Nest on Wheels, de C. Lamont (para Metro e Fox); 1938: Life in Sometown USA, de Buster Keaton; 1938: Hollywood Handicap, de Buster Keaton; 1938: Streamlined Swing, de Buster Keaton; 1938: Too Hot to Handle, de Jack Conway; 1939: The Jones Family in Hollywood, de Malcolm St. Clair; 1939: The Family in Quick Millions, de Malcolm St.
8º Período: Columbia (1939-1941): 1939: Pest From Thewest, de Dei Lord; Mooching Through, de Jules White; Hollywood Cavalgade (Assim Nasce o Cinema), de lrwing Cummings; Nothing But Pleasure; de Jules White; 1940: Pardon My Birth Marks, de Jules White; The Taming of the Snood, de Jules White; The Spook Speak, de Jules White; The Villan Stili Pursued Her, de Edward F. Cline; Lil'Abner, de Albert S. Rogell; 1941: So You Won't Squawk, de Del Lord; General Nuisance (General Comodista), de Jules White; She's Oil Mine, de Jules White.


9º Período: Colaborações Avulsas: 1942: Tales of Manhattan (Seis Destinos) de Julien Duvivier; 1943: Forever and a Day (Para Sempre e Mais Um Dia), de René Clair; 1944: Bathing Beauty (Escola de Sereias), de George Sidney; San Diego, I Love You (Quando Elas Querem), de Reginald Le Borg; 1945: That Night Whith You (Aquela Noite Contigo), de William A. Seiter; That' the Spirit (O Céu Também dá Férias), de Charles Lamont; 1946: God's Country, de Robert E. Tansey; EI Moderno Barba Azul ou Boom in the Moon (Pamplinas na Lua), de Jaime  Salvador (no México); 1948: A Southern Yankee (O Vira Casaca), de Edward Sedgwick; 1949: Neptune's Daughter (A Rainha das Sereias), de Edward Buzzeli; The Loveable Cheat, de Richard Oswald; ln the Good Old Summertime, de Robert Z. Leonard; You're My Everything, de Wait Lang; 1950: Un Duel A Mort, de Pierre Blondy (rodado em França); Sunset Boulevard (O Crepúsculo dos Deuses), de Billy Wilder; 1951: Limelight (Luzes da Ribalta), de Charles Chaplin (em Inglaterra); 1952: L'Incantevole Nemica, de Claudio Gora; Paradise for Buster (inédito); 1956: Around the World in Elghty Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias), de Michael Anderson; 1957: The Buster Keaton Story, de Sidney Sheldon; 1960: The Adventures of Huckleberry Finn (As Aventuras de Huckleberry Finn), de Michael Curtis; 1962: The Triumph of Lester Snapwell, de James Calhoun; Ten Girls Ago (inédito, rodado no Canadá); lt's a Mad, Mad, Mad, Mad World (O Mundo Maluco), de Stanley Kramer; 1964: Pijama Party, de Don Weis; 1965: Beach Blanket Bingo (Ai que Garotas!), de William Asher; How to Stuff a Wild Bikini (Biquini Selvagem), de William Asher; Sargent Deadhead, the Astronaut (Um Sargento Trapalhão), de Norman Taurog; The Big Chase (inédito); The Railrodder, de Julian Biggs (no Canadá); Buster Keaton Rides Again, de Julian Biggs (no Canadá); The Scribe, de John Sebert (no Canadá); Due Marines e Uno Generale, de Luigi Scattini (em Itália); 1966: A Funny Thing Happened on the Way to the Forum (Em Roma era Assim), de Richard Lester (em Espanha).