sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

SESSÃO 3 - 16 DE FEVEREIRO DE 2016



A FESTA (1968)


Há muitas formas de construir as comédias, mas, de um modo geral, a estrutura é muito semelhante. O mundo, a sociedade, organiza-se de uma certa maneira, parece que a normalidade é a harmonia, até que, normalmente pela inclusão de um intruso, tudo se desorganiza. Dessa desorganização brota invariavelmente uma crítica ao que anteriormente parecia tão organizado e afinal não estava. Era só fachada. Vejam-se três filmes de Blake Edwards, como exemplo. Em “A Grande Corrida à Volta do Mundo” tudo seria perfeito se não aparecesse a figura do Professor Fate que desencadeia a loucura com as suas (falhadas) malfeitorias; em “A Pantera Cor-de-Rosa” e continuações, o mundo giraria correctamente, não fora surgir o inspector Clouseau para instaurar o caos; em “A Festa”, será o desastrado Hrundi V. Bakshi a fazer implodir a “party” organizada pelo produtor de Hollywood, ao mesmo tempo que põe a descoberto algumas mediocridades reinantes.
A comédia é por isso um dos mais contundentes meios de analisar e criticar os usos e costumes (normalmente os maus usos e maus costumes) da sociedade (ou das sociedades, que há para todos os gostos). O que Blake Edwards aproveita bem, sobretudo para chamuscar o universo de Hollywood, neste “A Festa”, de forma um pouco marginal, em “S.O.B.”, por exemplo, de maneira bem contundente.
Hrundi V. Bakshi (Peter Sellers) é um anónimo figurante de cinema que vamos encontrar a tocar cornetim tem a India como cenário, mas efectivamente é filmada em terrenos de Los Angeles. Se é figurante, não perde, porém, uma oportunidade para se fazer notar. Apesar de receber rajadas de tiros, levanta-se sempre e continua a tocar, até arruinar por completo as filmagens ao fazer explodir antes de tempo um forte. Expulso do cenário e reportado o caso ao produtor do filme, este anota o nome do proscrito numa folha de papel que por acaso é a lista de convidados para uma festa em casa do produtor. É assim que o desastrado, mas bem-intencionado, Hrundi V. Bakshi se descobre no interior de uma majestosa mansão repleta de convidados do mundo do espectáculo. Claro que se tudo aponta para dar para o torto, tudo dá mesmo para o torto, mas em grande. 


Deve dizer-se que a mansão lembra em muito o universo de Jacques Tati, sobretudo nesse fabuloso “O Meu Tio”. A estrutura arquitectónica da sumptuosa casa do magnata de Hollywood é realmente de gosto muito discutível, com diversos adereços “modernos” e gadgets para todos os pretextos. Obviamente que o desajeitado Hrundi V. Bakshi irá passar por todos os momentos de apuros extremos, numa sucessão de gags irresistíveis, brilhantemente vividos por um Peter Sellers em excelente forma, muito bem acompanhado por Steve Franken que interpreta a figura de um empregado de mesa muito dado à bebida e que vai aproveitando em proveito próprio cada taça, copo ou flute recusados por um convidado. Mas todos os gags são desenvolvidos com a precisão de um relojoeiro. Na verdade, este é um caos organizado ao milímetro. Tudo falha, tudo se precipita, mas tudo parece planificado para que falhe e se desmorone. Hrundi V. Bakshi saltita de pedra em pedra com o riacho a correr por baixo, mas o gag não é o que se espera, mas outro. O humor é subtil e quase sempre inesperado, apesar de tudo ser esperado.
Os temas preferidos de Blake Edwards estão todos presentes, desde Hollywood como cenário e tema dominante de crítica, até ao slapstick do cinema mudo e ao esquema do desenho animado. A época são os anos 60 e o flower power, o que fica bem documentado na entrada extravagante dos jovens hippies que trazem consigo um pequeno elefante psicadélico. De resto, o liberal mundo de Hollywood está bem representado pela vedeta masculina, que exibe a sua virilidade, o produtor, o realizador, as estrelas em ascensão e o figurante intrometido (sem culpa própria, diga-se).
Uma belíssima comédia, das melhores que o cinema norte-americano nos deu nas décadas finais do século XX.

A FESTA
Título original: The Party
Realização: Blake Edwards (EUA, 1968); Argumento: Blake Edwards, Tom Waldman, Frank Waldman; Produção: Blake Edwards, Ken Wales, Walter Mirisch; Música: Henry Mancini; Fotografia (cor): Lucien Ballard; Montagem: Ralph E. Winters; Design de produção: Fernando Carrere; Decoração: Reg Allen, Jack Stevens; Guarda-roupa: Jack Bear; Maquilhagem: Alice Monte, Allan Snyder, Lynn F. Reynolds, Pat Whiffing; Direcção de Produção: Patrick J. Palmer, Allen K. Wood; Assistentes de realização: Montgomery Banta, Malcolm R. Harding, Mickey McCardle; Departamento de arte: Arthur Friedrich, William Maldonado; Som: Robert Martin, Clem Portman, Ben Smith; Efeitos especiais: Norman Breedlove; Companhias de produção: The Mirisch Corporation, A Blake Edwards production; Intérpretes: Peter Sellers (Hrundi V. Bakshi), Claudine Longet (Michele Monet), Natalia Borisova (Ballerina), Jean Carson (Nanny), Marge Champion (Rosalind Dunphy), Al Checco (Bernard Stein), Corinne Cole (Janice Kane), Dick Crockett (Wells), Danielle De Metz (Stella D'Angelo), Herbert Ellis (realizador), Paul (Ronnie Smith), Steve Franken (Levinson), Kathe Green (Molly Clutterbuck), Frances Davis, Allen Jung, Sharron Kimberly, James Lanphier, Buddy Lester, Stephen Liss, Gavin MacLeod, Jerry Martin, Fay McKenzie, J. Edward McKinley, Denny Miller, Elianne Nadeau, Tom Quine, Timothy Scott, Ken Wales, Carol Wayne, Donald R. Frost, Helen Kleeb, George Winters, Linda Gaye Scott, John McKee, Vin Scully, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): MGM; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 5 de Abril de 1969.

PETER SELLERS (1925-1980)
Nascido em Southsea, Hampshire, Inglaterra, a 8 de Setembro de 1925, Peter Sellers (cujo nome de baptismo era Richard Henry Sellers) foi actor, realizador, cantor, entertainer, escritor. Morreu, de ataque de coração, a 24 de Julho de 1980, em Londres, Inglaterra. Filho de um casal de actores que actuavam numa companhia dirigida pela avó, estudou no St. Aloysius College e estreou-se em 1945, em espectáculos teatrais, como imitador. Serve na R.A.F. e, no fim da II Guerra Mundial, consegue evidenciar-se na rádio e na TV (“The Goon Show”, BBC, 1949-1956, ao lado de Spike Milligan, Michael Bentine e Harry Secombe), iniciando-se no cinema em 1951, ainda que anteriormente tivesse intervindo em algumas curtas-metragens e documentários, o que prossegue posteriormente, nomeadamente em “Humor Abstrato” (The Running, Jumping, Standing Still Film), uma das melhores curtas-metragens de humor dessa década, assinada por Richard Lester (Inglaterra, 1959). A partir de 1955, confirma-se como um dos mais inteligentes, criativos e finos intérpretes ingleses, num tipo de humor iniciado por Alec Guinness, com quem trabalhou no primeiro grande sucesso da sua carreira, “O Quinteto era de Cordas”. Prosseguiu uma actividade regular na ITV e lançou alguns discos como cançonetista. Foi prémio de interpretação no Festival de San Sebastian de 1962 por “A Valsa do Galanteador”. É na década de 60 que se impõe como um actor notável e de grande sucesso de crítica e de público, em filmes como “What's New, Pussycat” (1965), ao lado de um promissor Woody Allen que se estreava, na série “A Pantera Cor-de-Rosa”, ou em obras de Stanley Kubrick, como “Lolita” ou “Dr. Estranho Amor”. A sua única experiência como realizador assumida integralmente é “Topaze”, mas teve uma outra tentativa, “The Fiendish Plot of Dr. Fu Manchu”, iniciada por si, mas não terminada por, entretanto, ter falecido. A sua grande aposta nos derradeiros anos de vida foi “Being There”. Peter Sellers leu o livro em 1972, achou que seria um papel à sua medida e lutou por ele durante sete anos. Em 1979, nomeado para o Oscar de melhor actor, perderia a estatueta para Dustin Hoffman, em “Kramer vs. Kramer”. Um falhanço que deixaria o actor profundamente angustiado. No ano seguinte, morreria, vítima de um ataque cardíaco. Na revista Empire, numa consulta aos leitores, Peter Sellers ficou em 84º lugar entre os 100 maiores actores de todos os tempos.

Filmografia

Principais filmes como actor: 1951: Penny Points to Paradise, de Tony Young; 1952: Down Among the Z Men, de Maclean Rogers;; 1955: The Ladykillers (O Quinteto era de Cordas), de Alexander Mackendrick; Case of the Mukkinese Battle Horn, de Joseph Sterling; 1957: The Smallest Show on Earth (Luzes sem Ribalta), de Basil Dearden; The Naked Truth (A Verdade Nua), de Mario Zampi; l; 1959 The Mouse That Roared (O Rato que Ruge), de Jack Arnold; I'm All Right, Jack (Simpático Idiota), de John Boulting; The Running, Jumping, Standing Still Film (Humor Abstrato), de Richard Lester (curta-metragem); 1960: The Battle of the Sexes (Uma Mulher Tranquila), de Charles Crichton; Two Way Stretch (Arma de Dois Gumes), de Robert Day; 1961: The Millionairess (A Milionária), de Anthony Asquith; Mr Topaze (Topaze), de Peter Sellers; The Road to Hong Kong (A Caminho de Hong-Kong), de Norman Panamá; 1962: Only Two Can Play (A Segunda Mulher), de Sidney Gilliat; Lolita (Lolita), de Stanley Kubrick; Waltz of the Toreadors (A Valsa do Galanteador), de John Guillermin; 1963: Heavens Above (Na Terra Como No Céu), de John Boulting, Roy Boulting; The Wrong Arm of the Law (O Braço Esquerdo da Lei), de Cliff Owen; The Pink Panther (A Pantera Cor-de-Rosa), de Blake Edwards; Dr. Strangelove (Dr. Estranho Amor), de Stanley Kubrick; The World of Henry Orient (O Mundo de Henry Orient), de George Roy Hill; 1964: A Shot in the Dark (Um Tiro às Escuras), de Blake Edwards; 1965: What's New Pussycat (O Que Há de Novo, Gatinha?), de Clive Donner; The Wrong Box (A Fabulosa Troca de Caixões), de Bryan Forbes; 1966: After The Fox ou Caccia Alla Volpe (A Raposa Dourada), de Vittorio de Sica; 1967: Casino Royale (Casino Royal), de John Huston, Ken Hughes, Val Guest, Robert Parrish, Joe McGrath, Richard Talmadge; The Bobo (O Bobo), de Robert Parrish; Woman Times Seven (Sete Vezes Mulher), de Vittorio de Sica; 1968: The Party (A Festa), de Blake Edwards; I Love You Alice B. Toklas (A Borboleta Vermelha), de Hy Averback; Candy (Candy), de Christian Marquand; 1969: The Magic Christian (Um Beatle no Paraíso), de Joseph Mc Grath; 1970: Hoffman (Hoffman), de Alvin Rakoff; There's A Girl In My Soup (Está uma Rapariga na Minha Sopa), de Roy Boulting; 1972: Alice's Adventures in Wonderland (As Aventuras de Alice), de William Sterling; 1973: The Blockhouse (O Fortim), de Clive Rees; Soft Beds, Hard Battles (Batalhas Duras em Camas Moles), de Roy Boulting1974: The Great Mcgonagall, de Joseph McGrath; The Return of the Pink Panther (A Volta da Pantera Cor-de-Rosa), de Blake Edwards; 1976: Murder By Death, de Robert Moore; The Pink Panther Strikes Again (A Pantera Cor-de-Rosa Volta a Atacar), de Blake Edwards; 1978: Revenge of the Pink Panther (A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa), de Blake Edwards; 1979: The Prisoner of Zenda (O Prisioneiro de Zenda), de Richard Quine; 1980: Being There (Bem-Vindo, Mr. Chance), de Hal Ashby; The Fiendish Plot of Dr. Fu Manchu, de Piers Haggard.

SESSÃO 2 - 9 DE FEVEREIRO DE 2016


A PANTERA COR-DE-ROSA (1963)

A série “A Pantera Cor-de-Rosa” resulta de um conjunto de circunstâncias e de uma reunião de personalidades e de talentos invulgares, que transformaram uma normal comédia sem grandes motivos para perdurar na memória dos espectadores num acontecimento cinematográfico a obrigar a contínuas sequelas. Desde 1964, data da estreia da primeira “Pantera”, até ao presente, vários foram os títulos que tiveram “The Pink Panther” e o inspector Closeau como referências, os primeiros cinco interpretados pelo seu genial criador, Peter Sellers, um aproveitando restos de filmagens e repetindo excertos de filmes anteriores, prolongando de forma anómala a presença de Peter Sellers, mesmo depois da sua morte em 1980, alguns ainda tentado recriar a personagem por outros actores (Alan Arkin, Roger Moore, Roberto Begnino ou Steve Martin, por exemplo), com resultados quase sempre decepcionantes. A verdade é que a “Pantera Cor-de-Rosa” foi um fenómeno de público a que não se pode ficar indiferente, mas que será interessante estudar e tentar perceber sob vários prismas.
Blake Edwards é um dos grandes autores de comédia do cinema norte-americano das décadas de 60 a 80 (muito embora a sua actividade se tenha iniciado nos anos 50 e prolongado até à década de 90). Pode dizer-se que o seu primeiro grande sucesso é uma comédia romântica que presentemente funciona como ícone de uma época, “Breakfast at Tiffany's” (Boneca de Luxo, 1961), a que se segue toda a série de “The Pink Panther” (A Pantera Cor de Rosa, 1963), iniciada com esse título, continuada por “A Shot in the Dark” (Um Tiro às Escuras, 1964), “The Return of the Pink Panther” (O Regresso da Pantera Cor de Rosa, 1975), “The Pink Panther Strikes Again” (A Pantera Cor de Rosa Volta a Atacar, 1976), “Revenge of the Pink Panther” (A Vingança da Pantera Cor de Rosa, 1978), “Trail of the Pink Panther” (Na Pista da Pantera Cor-de-Rosa, 1982), “Curse of the Pink Panther” (A Maldição da Pantera Cor-de-Rosa, 1983), todos com Peter Sellers. Entretanto, entremeadas com estas obras, Blake Edwards foi dirigindo outras grandes comédias, nas quais foi mantendo vivo o tom do “slapstick” e do burlesco que tanto sucesso conheceram durante o período do cinema mudo, com títulos como “The Great Race” (A Grande Corrida à Volta do Mundo, 1965), “What Did You Do in the War, Daddy?” (O Que Fizeste na Guerra, Paizinho?, 1966), “The Party” (A Festa, 1968) ou “S.O.B.” (Tudo Boa Gente!, 1981), ao lado de outras comédias mais sofisticadas, alternado entre a comédia romântica e a comédia musical: 1970 – “Darling Lili” (Darling Lili); 1974 – “The Tamarind Seed” (A Semente de Tamarindo); 1979 – “10” (10 – Uma Mulher de Sonho); 1982 – “Victor/Victoria” (Victor/Victória), 1983 – “The Man Who Loved Women” (O Homem que Gostava de Mulheres) ou1987 – “Blind Date” (Encontro Inesquecível). Mas foi autor igualmente de belíssimos dramas e inclusive de um thriller de boa memória.
Em inícios da década de 60, Blake Edwards escreveu o argumento de “The Pink Panther” e procurou actores para darem corpo às personagens então esboçadas. Peter Ustinov foi inicialmente pensado para criar a personagem do inspector Jacques Cousteau, e teria a seu lado Ava Gardner. Peter Ustinov fora entretanto convidado para interpretar uma outra personagem célebre do mundo do crime, o detective Hercule Poirot, uma criação de Agatha Christie, e viu-se obrigado a declinar o convite para Clouseau. Seria Peter Sellers a aceitar o repto, de uma forma que ficou famosa nos bastidores da sétima arte: “Imagina, confidenciou a um amigo de longa data, Graham Stark, que vou filmar em Itália, com um realizador desconhecido, chamado Blake Edwards, e me vão pagar 90 mil libras.” O salário era bom na época para um actor inglês, Mas o realizador não era desconhecido. O encontro de Balke Edwards e Peter Sellers iria marcar uma data para ambos e para a História do Cinema. Daí nasceria a série “A Pantera Cor-de-Rosa” e alguns outros trabalhos, como o fabuloso “The Party”, seguramente uma das melhores comédias dos últimos anos.
Mas “A Pantera Cor-de-Rosa” seria uma obra que iria explodir em todas as direcções, de forma algo perturbante, dado que nem sequer é o melhor filme da série, nem sequer encerra algumas das suas características básicas. Marca, porém, o encontro de várias personalidades e marca igualmente o nascimento de figuras e situações que posteriormente se irão desenvolver de forma autónoma. Não só o encontro de Blake Edwards e Peter Sellers é decisivo. É-o também a reunião do compositor Henry Mancini e do director de animação Friz Freleng.
Edwards escreve uma paródia ao filme de detective que se destinava essencialmente a ser interpretada por um “ladrão de casaca” muito britânico que iria roubar um diamante célebre que era conhecido por “Pantera Cor-de-Rosa”. O ladrão seria interpretado por um actor então muito na berra, David Niven, que poucos anos antes ganhara o Óscar de melhor actor por um memorável papel em “Separate Tables” (1958), e depois disso aparecera num conjunto importantes de filmes, onde se podem destacar “Bonjour Tristesse” (1958), “Ask Any Girl” (1959), “Please Don't Eat the Daisies” (1960), “The Guns of Navarone” (1961), “The Road to Hong Kong” (1962), “The Best of Enemies” (1962), “55 Days at Peking” (1963), Bedtime Story (1964) ou “Lady L” (1965). David Niven é, neste primeiro episódio da série, o protagonista, e Peter Sellers deveria ser um mero actor secundário, um inspector francês que andava do encalço do habilidoso ladrão.
Sem apresentar alguns dos contornos que o irão tornar uma figura tão popular junto das plateias de todo o mundo, neste primeiro filme da série o inspector Jacques Clouseau é casado com a bela e pérfida Capucine, que o atraiçoa de todas as formas e feitios, não possui ainda a invulgar pronúncia que o irá futuramente notabilizar, não tem como empregado Cato, o japonês com quem trava poderosos duelos de artes marciais, não tem como chefe o enlouquecido Dreyfuss, nem sequer se serve das muitas máscaras e disfarces que em obras seguintes se tornaram frequentes e uma das razões para alguns dos mais célebres gags e momentos de humor.
Curiosamente, “A Pantera Cor-de-Rosa” é um filme paradoxal: não sendo o melhor filme da série, é o que põe em funcionamento a engrenagem que irá desencadear toda a série; feito a pensar em David Niven, lança Peter Seller; sem ser um filme de desenhos animados, tendo apenas um genérico assim concebido, como centenas de outras obras o têm tido ao longo da história do cinema, serve de veículo propulsor de uma série de animação autónoma que irá ter um sucesso monumental durante décadas. Digamos que a reunião de Blake Edwards, Peter Sellers, Henry Mancini e Friz Freleng neste filme desencadeou um conjunto de acções simultâneas, desenvolvidas em direcções diversas, mas tendo todas elas como denominador comum as figuras de Jacques Clouseau e da pantera cor-de-rosa. São, portanto, duas criações brilhantes, que se vão aprofundando à medida que a série vai evoluindo.
Em “The Pink Panther” a acção parte de várias cidades e tende a confluir num mesmo cenário em virtude das personagens se irem aproximando, vindas de diferentes partes do mundo. De Roma, de Hollywood, de Paris, da Cortina d’ Ampezzo. Quem não recorda “O Ladrão de Casaca”, de mestre Hitchcock? A princesa Dala possui um diamante belíssimo que o pai lhe ofereceu ainda em criança. Por outro lado, o inspector Clouseau, da Sureté parisiense procura um misterioso ladrão de joias que é conhecido pela alcunha de “Fantasma”, dado que ninguém o consegue apanhar. O ladrão é Sir Charles que se torna íntimo da princesa com fins inconfessáveis, depois de já ser íntimo da Senhora Clouseau, que não passa sem os seus favores sexuais. No meio disto tudo surge a figura do inspector, digno polícia de uma irreprimível conduta moral, lídimo representante da Ordem e da Lei, que, apesar de atravessar as mais desencontradas situações, se mostra sempre imperturbável, procurando fazer reverter a seu favor até as desgraças que protagoniza. Quando se apoia num globo terrestre, é mais que certo que será projectado para o chão e, ao longa da sua caminhada por este filme insólito, irá tropeçar em bancos, enrolar-se em tapetes, não conseguir abrir portas abertas ou outras donde se soltam os puxadores, quando levanta um dedo inquisitorial, acaba por o enfiar no nariz de algum dos presentes, prende mãos em baldes de gelo, passa por cima de um Stradivarius, que destrói, e quando se apanha na cama, debaixo de lençóis, com a sua traiçoeira mulher, não deixa mesmo de se banhar no champanhe de uma garrafa que se abre no momento menos propicio.
Clouseau é a imagem do infortúnio, da tragédia ambulante, mas, em vez de se sentir infeliz com esta situação que se repete de minuto a minuto, o inspector parece passar por cima delas e ultrapassa-las com uma dignidade e bonomia perfeitas. Quem foi que disse que a pouca sorte persegue Clouseau? Nada disso. Quando no final, em lugar de prender o ladrão, acaba sendo levado para o calabouço, Clouseau tem uma resposta de mestre, que personifica bem a sua personalidade. Quando um polícia lhe pergunta, mas afinal como roubou tudo aquilo, Clouseau em lugar de negar, assume, mas sublinha o facto: “Acredite que não foi nada fácil.” Ladrão sim, mesmo injustamente condenado, mas ladrão em grande estilo.

A PANTERA COR-DE-ROSA
Título original: The Pink Panther
Realização: Blake Edwards (EUA, Inglaterra,1963); Argumento: Maurice Richlin, Blake Edwards; Produção: Dick Crockett, Martin Jurow; Música: Henry Mancini; Fotografia (cor): Philip H. Lathrop; Montagem: Ralph E. Winters; Direcção artistica: Fernando Carrere; Decoração: Reginald Allen, Arrigo Breschi, Jack Stevens; Guarda-roupa: Yves Saint-Laurent; Maquilhagem: Giancarlo De Leonardis, Amalia Paoletti, Euclide Santoli, Michele Trimarchi; Direcção de produção: Guy Luongo, Jack McEdward; Assistentes de realização: Ottavio Oppo; Som: Richard Carruth, Alexander Fisher, Gilbert D. Marchant; Efeitos especiais: Lee Zavitz; Companhia de Produção: Mirisch G-E Productions; Intérpretes: David Niven (Sir Charles Lytton), Peter Sellers (Inspector Jacques Clouseau), Robert Wagner (George Lytton), Capucine (Simone Clouseau), Claudia Cardinale (Princesa Dala), Brenda De Banzie (Angela Dunning), Colin Gordon (Tucker), John Le Mesurier, James Lanphier, Guy Thomajan, Michael Trubshawe, Riccardo Billi, Meri Welles, Martin Miller, Fran Jeffries, etc. Duração: 113 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): MGM / LNK /DVD; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 17 de Dezembro de 1964.

BLAKE EDWARDS (1922- 2010)
Blake Edwards, o realizador da série “A Pantera Cor-de-Rosa”, recebeu um Oscar honorário na cerimónia de entrega dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana, a 29 de Fevereiro de 2004. Com esta distinção, a Academia pretendeu reconhecer o trabalho de Edwards como argumentista, realizador e produtor cinematográfico. “Há mais de 50 anos que Blake Edwards tem vindo a mostrar uma carreira extraordinária, escrevendo, realizando e produzindo o seu próprio trabalho”, explicou Frank Pierson, presidente da Academia. Acrescentou ainda que o trabalho de Blake Edwards o coloca “num grupo pequeno e muito seleccionado de realizadores excepcionais”. Tal como outras personalidades do mundo do cinema que receberam a estatueta em anos anteriores, por idênticas razões: Louis B. Mayer, Gene Kelly, Harold Lloyd, Greta Garbo, Jerome Robbins, Satyajit Ray e Chuck Jones.
William Blake McEdwards, nome de baptismo de Blake Edwards, nasceu a 26 de Julho de 1922, em Tulsa, Oklahoma, EUA. O avô, J. Gordon Edwards, foi um conhecido realizador da época do cinema mudo, tendo dirigido a mítica Theda Bara. O pai, Jack McEdwards, foi director de cena e director de produção, respectivamente no teatro e no cinema.
Blake Edwards começa a sua carreira como actor, surgindo como figurante e actor secundário em numerosas obras, tais como "Ten Gentlemen from West Point" (1942), ou “In the Meantime, Darling” (1944), de Otto Preminger, onde aparecia a dançar com Jeanne Crain, escrevendo outras, como "Panhandle" (1948), onde foi pela primeira e última vez protagonista, ou seis para o realizador Richard Quine, de quem se tornou um colaborador regular, em musicais como “Rainbow 'Round My Shoulder”, “Sound Off” (ambos de 1952) ou “All Ashore” (1953), ou em comédias deliciosas, como “The Notorious Landlady” (A Notável Senhoria).
Criou e escreveu o show radiofónico “Richard Diamond: Private Detective" para Dick Powell, que conheceu imenso sucesso. Para a TV concebe uma “sitcom” escrita especialmente para Mickey Rooney, "Hey Mulligan" (também conhecida por "The Mickey Rooney Show," 1954-55). Criou igualmente algumas séries de televisão muito populares, como "Peter Gunn" (1958-60), "Mr. Lucky" (1959- 60), e "Dante" (1960-1).
Especializando-se na comédia, experimenta quase todos os géneros, com bons resultados: "Operation Petticoat", um filme sobre submarinos; "Breakfast at Tiffany's", uma comédia romântica baseada em Truman Capote, que hoje em dia é um “cult movie”; "Experiment in Terror", um inquietante filme de terror psicológico; "Days of Wine and Roses", um drama sobre um casal de alcoólicos, Jack Lemmon e Lee Remick, em trabalhos notáveis; “The Wild Rovers”, um western crepuscular; "The Pink Panther" e "A Shot in the Dark", comédias loucas que recuperam o burlesco, e cujo tom se prolonga noutras obras como “The Great Race” (1965, dedicado a "Mr. Laurel e Mr. Hardy"), “What Did You Do in the War, Daddy?” (1966) ou a revisitação da técnica do “slapstick” nesse delirante “The Party” (1968, com Peter Sellers). A partir de certa altura Blake Edwards entrou em conflito aberto com os produtores de Hollywood. Passou a filmar em Inglaterra alguns episódios da série “A Pantera Cor-de-Rosa” e voltou à América para assinar dois grandes sucessos "10", com Dudley Moore e Bo Derek (1979) e "Victor/Victoria" (1982), com uma espantosa Julie Andrews, ao mesmo tempo que cobrava dívidas antigas ao rodar “S.O.B.” (Son Of Bitch), uma comédia corrosiva sobre Hollywood e os seus métodos.
Depois disso, Edwards não deixou de rodar obras particularmente interessantes, algumas delas experiências pessoais curiosíssimas, como “Micki + Maude” (1984), “Skin Deep” (1989), uma adaptação de Truffaut, “The Man Who Loved Women” (1983), ou o autobiográfico “That's Life!” (1986), interpretado por Jack Lemmon e totalmente rodado no interior da casa de Blake Edwards em Malibu, escrito por este de colaboração como o seu psicanalista, Dr. Milton Wexler. Sucederam-lhe obras mais convencionais, como “A Fine Mess” (1986), “Blind Date” (1987), e “Switch” (1991). Não deixou de perseguir o sucesso da série “A Pantera Cor-de-Rosa”, mas depois da morte de Peter Seller nenhuma das sequelas teve o mesmo sucesso, nem “Trail of the Pink Panther” (1982), nem “Curse of the Pink Panther” (1983), nem “Son of the Pink Panther” (1993), com o actor italiano Roberto Benigni. Mais recentemente produziram-se novas tentativas de reabilitar o Inspector Clouseau, desta feita sob a aparência de Steve Martin, numa realização de Shawn Levy (EUA, 2005), com argumento de Len Blum e Steve Martin, inspirado em personagens criadas por Blake Edwards. Obviamente que o cineasta se sente traído quanto a esta nova versão, para onde não foi pedida nem a sua colaboração de argumentista nem de realizador.
Blake Edwards era casado desde 1969 com a actriz Julie Andrews, com quem trabalhou em diversos filmes e de quem tem dois filhos, tendo anteriormente sido casado com Patricia Walker (1953 - 1967), de quem de divorciou, e de quem tem igualmente dois filhos. Blake Edwards faleceu em Santa Monica, California, a 15 de Dezembro de 2010, com 88 anos. Sofria de CFS (Chronic Fatigue Syndrome – Síndroma de Fadiga Crónica).

Principais filmes:

1961 - Breakfast at Tiffany's (Boneca de Luxo); 1962 - Days of Wine and Roses (Escravos do Vício); 1962 - Experiment in Terror ou The Grip of Fear (Uma Voz na Escuridão); 1963 - The Pink Panther (A Pantera Cor de Rosa); 1964 - A Shot in the Dark (Um Tiro às Escuras); 1965 - The Great Race (A Grande Corrida à Volta do Mundo); 1966 - What Did You Do in the War, Daddy? (O Que Fizeste na Guerra, Paizinho?); 1967 - Peter Gunn (Peter Gunn, Detective Privado); 1968 - The Party (A Festa); 1970 - Darling Lili (Darling Lili); 1971 - Wild Rovers (Vagabundos Selvagens); 1972 - The Carey Treatment (Um Caso de Urgência); 1974 - The Tamarind Seed (A Semente de Tamarindo); 1975 - The Return of the Pink Panther (O Regresso da Pantera Cor de Rosa); 1976 - The Pink Panther Strikes Again (A Pantera Cor de Rosa Volta a Atacar); 1978 - Revenge of the Pink Panther (A Vingança da Pantera Cor de Rosa); 1979 - 10 (10 – Uma Mulher de Sonho); 1981 - S.O.B. (Tudo Boa Gente!); 1982 - Trail of the Pink Panther (Na Pista da Pantera Cor-de-Rosa); 1982 - Victor/Victoria (Victor/Victória); 1983 - The Man Who Loved Women (O Homem que Gostava de Mulheres); 1983 - Curse of the Pink Panther (A Maldição da Pantera Cor-de-Rosa); 1984 - Micki + Maude (Micki e Maude); 1986 - A Fine Mess (Uma Tremenda Confusão); 1986 - That's Life! (A Vida é Assim!); 1987 - Blind Date (Encontro Inesquecível); 1988 - Sunset (Hollywood 1929); 1989 - Skin Deep (O Amor é uma Grande Aventura); 1991 - Switch (Na Pele de Uma Loira); 1993 - Son of the Pink Panther ou Il Figlio della Pantera Rosa (O Filho da Pantera Cor de Rosa). 

SESSÃO 1 - 2 DE FEVEREIRO DE 2016



A GRANDE CORRIDA À VOLTA DO MUNDO
(1965)

Houve um tempo, em meados da década de 60 do século passado, que a comédia sonhou com a super-produção e que chegou mesmo a ser designada por alguns como “epic comedy” por comparação com alguns outros épicos desse período. Tudo terá começado em 1963 com a mega comédia de Stanley Kramer “It's a Mad, Mad, Mad, Mad World”, onde ao longo de três horas de perseguições e gags consecutivos, uma legião de grandes actores cómicos transformaram o título que custara 3 milhões de dólares num triunfo de bilheteira inimaginável. Dois anos depois, Blake Edwards convence a Mirisch Productions e a Warner Brothers a entrarem num projecto semelhante, inspirado numa corrida de carro que aconteceu realmente em 1908, de Nova Iorque a Paris. (Curiosamente, no mesmo ano, em Inglaterra, Ken Annakin, rodava outra mega comédia de um estilo muito semelhante, “Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in 25 hours 11 minutes”).
Blake Edwards vinha de grandes sucessos, “The Pink Panther” e “A Shot in the Dark”, por isso se compreende que os estúdios tenham reunido 12 milhões de dólares para o realizador satisfazer a sua ambição de homenagear as grandes comédias clássicas mudas e o espirito dos cartoons. “The Great Race”, escrita pessoalmente por Blake Edwards com a colaboração de Arthur Ross, acaba por defraudar as espectativas na época da sua estreia, sendo um fracasso de bilheteira e um relativo falhanço crítico. Mas os anos passam e o filme torna-se num clássico da comédia, muito requisitado em versões DVD e Blu-Ray. Não sendo o que se possa chamar uma obra-prima, a verdade é que esta super comédia acaba por cumprir as promessas.


A ideia é acompanhar uma corrida de automóveis que saem de Nova Iorque e terão de chegar a Paris com vitória proclamada ao que primeiro cortar a meta e que receberá um chorudo prémio. São vários os concorrentes, mas o filme irá acompanhar sobretudo duas viaturas: numa, corre The Great Leslie, o cavaleiro branco, imperturbável na sua indumentária imaculada e a sua intrépida companheira jornalista Maggie Dubois (Tony Curtis e Natalie Wood), noutro, seguem o malvado Professor Fate e o seu ajudante nas mais maquiavélicas situações, Maximilian Meen (precisamente Jack Lemmon e Peter Falk). As perseguições relembram obviamente o “slapstick”, o cinema mudo de Hal Roach, Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd ou Laurel e Hardy (a quem, aliás, o filme de Blake Edwards é dedicado). Por outro lado, as engenhosas e maléficas patifarias, do Professor Fate são inspiradas nos cartoons da série “Looney Tunes”, de “o diabo da Tasmânia” a “Speedy Gonzalez”. Se globalmente o espírito é esse, há momentos onde a citação é óbvia: a fabulosa sequência de “tarte na cara” que surge no reino do Príncipe Frederick Hoepnick (uma outra magnífica composição de Jack Lemmon) é uma reconstituição milimétrica das grandes cenas clássicas do chamado “pastelão na cara” e de outras de humor eminentemente físico que caracterizaram o “slapstick”.
O ritmo é vertiginoso (empastela um bocadinho para o fim, mas mesmo assim segue-se sempre com prazer), as situações hilariantes, as mudanças geográficas permitem paródias muito saborosas a vários géneros cinematográficos, desde o filme de aventuras ao western, passando pelas “Sombras Brancas”, de Nicholas Ray, pelo filme histórico, entre outros Os actores são excelentes, desde os protagonistas aos secundários. Desde Tony Curtis, no herói de dentes refulgentes e indumentária de uma brancura de publicidade a detergente, até à azougada Natalie Wood, uma arrojada fotojornalista, passando por Peter Falk, Keenan Wynn, Arthur O'Connell, Vivian Vance, Dorothy Provine, entre outros, tudo gira sobre rodas. Mas o “malvado” Jack Lemmon (e as suas maquiavélicas invenções) é insuperável, criando uma daquelas personagens de eleição que não mais se esquecem.

A GRANDE CORRIDA À VOLTA DO MUNDO
Título original: The Great Race
Realização: Blake Edwards (EUA, 1965); Argumento: Arthur A. Ross, Blake Edwards; Produção: Dick Crockett, Martin Jurow; Música: Henry Mancini; Fotografia (cor): Russell Harlan; Montagem: Ralph E. Winters; Design de produção: Fernando Carrere; Direcção artística: Fernando Carrer; Decoração: George James; Guarda-roupa: Donfeld, Edith Head; Maquilhagem: Gordon Bau, Sydney Guilaroff, Jean Burt Reilly; Coreografia: Hermes Pan; Direcção de Produção: Clem Beauchamp, Chuck Hansen, Jack McEdward; Assistentes de realização: Jack Cunningham, Richard Landry, Mickey McCardle; Departamento de arte: Reg Allen, Jack Stevens, Mentor Huebner; Som: M.A. Merrick, Treg Brown; Efeitos especiais: Johnny Borgese, George Lee; Efeitos visuais: Linwood G. Dunn, James B. Gordon, Albert Simpson; Companhias de Produção: Warner Bros., Patricia, Jalem Productions, Reynard; Intérpretes: Jack Lemmon (Professor Fate / Principe Frederick Hoepnick), Tony Curtis (The Great Leslie), Natalie Wood (Maggie Dubois), Peter Falk (Maximilian Meen), Keenan Wynn (Hezekiah Sturdy), Arthur O'Connell (Henry Goodbody), Vivian Vance (Hester Goodbody), Dorothy Provine (Lily Olay), Larry Storch (Texas Jack), Ross Martin (Barão Rolfe Von Stuppe), George Macready (General Kuhster), Marvin Kaplan, Hal Smith, Denver Pyle, William Bryant, Ken Wales,etc. Duração: 160 minutos; Distribuição em Portugal: inexistente; Internacional: Fell Films (Blu Ray); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 7 de Dezembro de 1965.

JACK LEMMON (1925 - 2001)
Jack Lemmon foi um actor de registos múltiplos, mas particularmente dotado para a comédia, sendo um dos actores preferidos de cineastas como Billy Wilder, Blake Edwards ou Richard Quine, especialistas no humor. Algumas das suas criações permanecerão para sempre como marcos no campo da comédia, como em “Quanto Mais Quente, Melhor”, “A Grande Corrida à Volta do Mundo”, “O Apartamento”, “Irma la Douce”, “A Notável Senhoria” ou “A Primeira Página”.
John Uhler Lemmon III, de seu nome próprio, Jack Lemmon como nome artístico, nasceu a 8 de Fevereiro de 1925, em Newton, Massachusetts, EUA, e viria a falecer a 27 de Junho de 2001, em Los Angeles, Califórnia, EUA, vítima de cancro. Filho de uma família abastada, Jack Lemmon estudou em colégios particulares nos EUA e teve um primeiro contacto com o teatro ainda na escola, ao substituir um colega com poucas deixas. Mesmo assim, conseguiu transformar a substituição num tremendo fracasso, esquecia-se de tudo o que tinha a dizer e recolhia envergonhado aos bastidores, perante as gargalhadas do público. O insucesso não o inibiu e, pelo contrário, fê-lo apaixonar-se pela arte dramática. Continuou a representar, enquanto concluía um curso de Ciências Políticas em Harvard. Depois de servir na II Guerra Mundial, seguiu a carreira de actor, iniciando-se numa série televisiva “That Wonderful Guy” (1949-1950). No cinema, a sua primeira aparição, data de 1954, “It Should Happen to You”, de George Cukor. Dois anos depois, ganha o seu primeiro Oscar (ainda como actor secundário), em “Mister Roberts”, de John Ford e Mervin Le Roy. Depois, foi uma carreira de enorme sucesso, na televisão, no teatro, mas sobretudo no cinema. Com Blake Edwards estreou-se como actor dramático, em “Days of Wines and Roses”. Brilhante. Morreu em 2001, com 76 anos de idade, e foi sepultado no Westwood Memorial Park, Los Angeles, Califórnia. Possui obviamente uma Estrela no Walk of Fame de Hollywood.
Dois Oscars: como Melhor Actor Secundário: 1956: “Mister Roberts”, e como Melhor Actor, em 1974: “Save the Tiger”; mais seis nomeações para Melhor Actor: “Some Like it Hot”, “Irma la Douce”, “Days of Wine and Roses”, “Tribute”, “The China Syndrome” e “Missing”. Globos de Ouro para Melhor Actor em 1960: “Some Like it Hot”; 1961: “Irma la Douce”; 1973: “Avanti!”; 2000: “Inherit the Wind”; Prémio Cecil B. DeMille em 1991 pelo conjunto da obra. BAFTAS (Inglaterra): Melhor Actor: 1959: “Some Like it Hot”; 1960: “The Apartement”; 1980: “Irma la Douce”; Festival de Cannes: 1979: Melhor Actor: “Irma la Douce”; 1982: “Missing”; Festival de Veneza: 1992: Coupe Volpi de Melhor Actor: “Glengarry”; Festival de Berlin: 1981: Urso de Prata para Melhor Actor “Tribute”.

PRINCIPAIS FILMES:

1954: It Should Happen to You (Uma Rapariga Sem Nome), de George Cukor; 1955: Mister Roberts (Mister Roberts), de John Ford e Mervin Le Roy; 1955: My Sister Eileen (O Prazer é Todo Meu), de Richard Quine; 1955: Three for the Show (Há Falta de Homens), de H.C. Potter; 1957: Operation Mad Ball (Nem Guerra, Nem Paz), de Richard Quine; 1958: Bell, Book and Candle (Sortilégio de Amor), de Richard Quine; 1958: Cowboy (Cowboy, Como Nasce Um Bravo), de Delmer Daves; 1959: It Happened to Jane (A Viuvinha Indomável), de Richard Quine; 1959: Some Like It Hot (Quanto Mais Quente, Melhor), de Billy Wilder; 1960: Pepe (Pepe), de George Sidney (cameo); 1960: The Apartment (O Apartamento), de Billy Wilder; 1962: Days of Wine and Roses (Escravos do Vício), de Blake Edwards; 1962: The Notorious Landlady (A Notável Senhoria), de Richard Quine; 1963: Irma La Douce (Irma La Douce), de Billy Wilder; 1965: How to Murder Your Wife (Como Matar a Sua Mulher), de Richard Quine; 1965: The Great Race (A Grande Corrida à Volta do Mundo), de Blake Edwards; 1966: The Fortune Cookie (Como Ganhar Um Milhão), de Billy Wilder; 1967: Luv (Livra-me Desta Mulher), de Clive Donner; 1968: The Odd Couple (Mal por Mal antes com Elas), de Gene Saks; 1969: The April Fools (Os Loucos do Amor), de Stuart Rosenberg; 1970: The Out-of-Towners (A Sorte Viajou de Barco), de Arthur Hiller; 1971: Kotch (Antes Que Chegue o Inverno), de Jack Lemmon (não creditado); 1972: Avanti! (Avanti! Amor à Italiana), de Billy Wilder; 1972: The War Between Men and Women (A Guerra Entre Homens e Mulheres), Melville Shavelson; 1973: Save the Tiger (Sonhos do Passado), de John Avildsen; 1974: The Front Page (A Primeira Página), de Billy Wilder; 1975: The Prisoner of Second Avenue (O Prisioneiro da Segunda Avenida), de Melvin Frank; 1979: The China Syndrome (A Síndroma da China), de James Bridges; 1979: 1980: Tribute (A Homenagem), de Bob Clark; 1981: Buddy Buddy (Os Amigos da Onça), de Billy Wilder; 1982: Missing (Missing - Desaparecido), de Costa-Gavras; 1986: That’s Life! (A Vida é Assim), de Blake Edwards; 1986: Macaroni, de Ettore Scola; 1991: JFK (JFK), de Oliver Stone; 1992: Glengarry Glen Ross (Sucesso a Qualquer Preço), de James Foley; 1992: The Player (O Jogador), de Robert Altman; 1993: Short Cuts (Short Cuts — Os Americanos), de Robert Altman; 1993: 1995: Grumpier Old Men (Dois Novos Rabugentos), de Howard Deutch; 1995: 1996: Hamlet (Hamlet), de Kenneth Branagh; 1997: Out to Sea (Mais Olhos Que Barriga), de Martha Coolidge; with Morrie, de de Mick Jackson (telefilme) 1999: Chicken Soup for the Soul (série de TV). Como realizador: 1971: Kotch (Antes Que Chegue o Inverno).