segunda-feira, 21 de março de 2016

SESSÃO 12 - 19 DE ABRIL DE 2016


DOM CAMILO (1952)

“Le Petit Monde de Don Camillo”, de Giovanni Guareschi, é o romance de onde parte este filme de Julien Duvivier, que iria afirmar-se como um enorme sucesso de bilheteira e de popularidade, em França e Itália, países produtores, mas igualmente um pouco por todo o mundo, dando origem a uma série de continuações, protagonizadas pelos dois principais intérpretes, Fernandel (Don Camillo) e Gino Cervi (Peppone). “Don Camilo”, de 1952, é o título de arranque, a que se seguem “Le Retour de Don Camillo” (O Regresso de Dom Camilo), de novo assinado por Julien Duvivier (1953), “La Grande Bagarre de Don Camillo” ou “Don Camillo e l'on. Peppone” (Dom Camilo e as Eleições), de Carmine Gallone (1955), “Don Camillo Monseigneur” ou "Don Camillo monsignore... ma non troppo" (Dom Camilo, Monsenhor), outra vez de Carmine Gallone (1961) e “Don Camillo en Russie” ou "Il compagno Don Camillo" (Dom Camilo na Rússia), de Luigi Comencini (1966). Outro título se anunciava com a mesma dupla, “Don Camillo e i giovani d'oggi” ou “Don Camillo et les Contestataires” (1972), com realização de Christian-Jacque, mas por doença, e posterior morte, de Fernandel, os protagonistas foram substituídos. Este filme acabaria por ser dirigido por Mario Camerini, tendo como principais intérpretes Gastone Moschin e Lionel Stander, respectivamente os novos rostos de Don Camilo e Peppone. Sem o mesmo sucesso da dupla inicial. Mais infeliz ainda foi a recuperação ensaiada em 1984, com um “Don Camillo”, dirigido e interpretado por Terence Hill, que tinha como Peppone Colin Blakely. Em televisão, também houve algumas tentativas, em série, uma brasileira, de 1957, “Pequeno Mundo de D. Camilo”, com Dionísio Azevedo, Heitor de Andrade e Chico de Assis, outra inglesa, de 1981, “The Little World of Don Camillo”, interpretada por Mario Adorf e Brian Blessed.
Falando de Giovanni Guareschi (1908-1968) teremos de salientar o facto de este jornalista e romancista italiano se ter tornado mundialmente célebre com a sua série de obras de ficção baseada nas personagens de Don Camillo e Peppone. O primeiro romance surgiu em 1948 e rapidamente se transformou num bestseller internacional, o que foi ampliado pela sua adaptação ao cinema. Seguiram-se algumas sequelas: “Don Camillo retorno” (1951), “Don Camillo e il suo gregge” (1953), ou “Il compagno Don Camillo” (1963), e ainda, publicadas já a título póstumo, “Don Camillo e i giovani d'oggi” (1969), “Gente così (it)” (1983) e “Lo spumarino pallido” (1984). Guareschi publicou ainda outros romances humorísticos. Sendo um dos escritores mais populares em todo o mundo neste período, não se furtou a uma polémica que lhe denegriu a imagem: foi acusado de ter assinado um manifesto de apoio público às leis racistas do governo fascista de Mussolini. Mas nunca se provou que tivesse sido ele próprio a assinar o manifesto. A controvérsia manteve-se, apesar de ter pertencido à Resistência.    
 
Nascido na região da Emília-Romanha situada no norte de Itália, em Fontanelle, Roccabianca, na província de Parma, foi nessa zona que localizou a acção dos seus romances dedicados a Don Camilo. “Numa pequena localidade entre o rio Pó e os Apeninos”. O escritor declarou: “por detrás de “Don Camillo”, está a minha casa, Parma, a planície ao longo do rio Pó, ou a paixão política exasperada, onde o povo se mantinha todavia sedutor, generoso, hospitaleiro e cheio de humor”.
“Don Camilo” vive do conflito permanente que se estabelece entre Don Camilo, um pároco de aldeia a quem Jesus diz que “as mãos foram concebidas para orar, não para lutar” e a que ele responde em surdina, “mas os pés não”, e Peppone, o presidente da Câmara, comunista, triunfador das eleições de 1946. Se Peppone organiza um comício na praça central, Don Camilo vai tocar os sinos da sua igreja para que os discursos não se ouçam. Se um organiza um armazém de armas e pólvora, o outro faz as munições irem pelo ar. Se um quer inaugurar um Jardim Infantil, o outro quer erguer uma “Casa do Povo”. E não falta mesmo um Romeu e Juieta divididos por famílias que se detestam, uma comunista ferrenha e pobre, a outra beata e rica. Mas tudo acaba em harmonia, pois Don Camilo e Peppone são faces de uma mesma moeda, o povo italiano, e ambos querem o melhor para os seus rebanhos, tanto mais que ambos se conhecem desde criança. O filme reflete o ambiente vivido em Itália (mas também em França) depois do fim da II Guerra Mundial, quando o Partido Comunista ganhou uma notória influência que a Resistência lhe trouxe, mas olhado sempre com desconfiança, mesmo algo mais, por grande parte da população. A direita religiosa e a alta finança temiam o poder desta esquerda que lhe iria retirar privilégios, enquanto alguns outros quadrantes da sociedade, mais esclarecidos, não desculpavam alguns crimes cometidos pelos bolcheviques, sobretudo na época de Estaline.
O filme é bem construído e desenvolvido, com algumas sequências muito divertidas, magnificamente interpretado por Fernandel e Gino Cervi. Ambos erguem duas personagens inesquecíveis. Fernandel, no auge da sua popularidade e no domínio perfeito de um talento invulgar, compõe uma figura de pároco truculento, muito senhor do seu nariz, que “fala” com o seu Cristo no interior da igreja e questiona Peppone a toda a hora.
Julien Duvivier (1896-1967), o realizador, foi um daqueles cineastas que a “nouvelle vague” anatematizou, com a designação de “cineasta de papa”, o que nalguns casos se revelou uma injustiça. Julien Duvivier é um desses casos. “Golem”, “La Belle Équipe”, “Pépé le Moko”, “Un carnet de bal”, “La Fin du jour”, “Panique”, “Voici le temps des assassins”, “Sous le ciel de Paris” ou este “Le Petit Monde de Don Camillo” são obras dignas de apreço, cotando entre o que de melhor o cinema francês produziu nas décadas de 30-50.


DOM CAMILO
Título original: Don Camillo
Realização: Julien Duvivier (França, Itália, 1952); Argumento: Julien Duvivier, René Barjavel, Oreste, segundo romance de Giovanni Guareschi; Produção: Giuseppe Amato, Robert Chabert, Angelo Rizzoli, Marcel Roux; Música: Alessandro Cicognini; Fotografia (p/b): Nicolas Hayer; Montagem: Maria Rosada; Direcção artística: Virgilio Marchi; Decoração: Ferdinando Ruffo; Maquilhagem: Leandro Marini; Direcção de Produção: Piero Cocco, Roberto Cocco, Romano Dandi; Assistentes de realização: Alberto Cardone, Serge Vallin; Departamento de arte: Italo Tomass; Som: Bruno Brunacci, Jacques Carrère, Maurice Laroche; Companhias de produção: Produzione Film Giuseppe Amato (Rizzoli - Amato), Rizzoli Editore (Rizzoli - Amato), Francinex; Intérpretes: Fernandel (Don Camillo), Gino Cervi (Giuseppe 'Peppone' Bottazzi), Vera Talchi (Gina Filotti), Franco Interlenghi (Mariolino della Bruciata), Sylvie (Signora Cristina), Charles Vissières, Clara Auteri Pepe, Italo Clerici, Peppino De Martino, Carlo Duse, Manuel Gary, Leda Gloria, Luciano Manara, Armando Migliari, Giovanni Onorato, Franco Pesce, Mario Siletti, Olga Solbelli, Marco Tulli, Gualtiero Tumiati, Saro Urzì, Giorgio Albertazzi, Emilio Cigoli, Barbara Florian, Dina Romano, Ruggero Ruggeri, etc. Duração: 107 minutos; Distribuição em Portugal: Tribanda / Estevez Seven Lda; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 27 de Abril de 1953.


FERNANDEL (1903-1971)
Fernand-Joseph-Désiré Contandin, mais conhecido simplesmente por Fernandel, nasceu em Marselha, a 8 de Maio de 1903 e morreu em Paris a 26 de Fevereiro de 1971. Filho de Denis Contandin, cantor e actor amador, e de Désirée Bédouin, também actriz amadora, cedo se tornou notado pelos seus dotes para o espectáculo. Ganhou na sua terra natal um concurso para jovens cantores no teatro Châtelet. Passa por diversos empregos sem, todavia, se estabelecer nalgum. O seu interesse era a canção, o music-hall, o teatro. Em Outubro de 1926, Fernandel começa a cantar nos inícios das sessões de cinema no Odéon de Marseille. Em 1928, chega a Paris, ao Bobino, e o sucesso dá-lhe um contrato de 19 semanas no circuito de cinemas Pathé de Paris. A carreira ascendente não pára mais. Passa pelo Élysée-Palace de Vichy e depois pelo Casino de Paris e pelo teatro Mogador. Canta e interpreta números cómicos e é aí que será descoberto pelo realizador Marc Allégret, que lhe oferece um papel no filme de Sacha Guitry “Le Blanc et le Noir”, que assinala assim a sua estreia no cinema, em 1930. Jean Renoir contrata-o para o colocar ao lado de Michel Simon, em “On purge bébé”, segundo peça de Georges Feydeau. Contracena com Jean Gabin em “Cœur de lilas”. Em 1932, é protagonista de “Le Rosier de madame Husson”, de Dominique Bernard-Deschamps. Os sucessos começam a suceder-se: “Un de la légion et François Ier”, de Christian-Jacque (1936), ou “Angèle” (1934), “Regain” (1937), “Le Schpountz” (1938), “La Fille du puisatier” (1940), e “Topaze” (1951), todos de Marcel Pagnol. Com a II Guerra Mundial, é mobilizado, e canta canções como “Francine” (1939), denunciando a propaganda alemã. Após o fim do conflito, e durante a década de 50, surgem novos filmes inesquecíveis: “L'Auberge rouge” (1951), de Claude Autant-Lara, “Ali Baba et les Quarante voleurs” (1954), de Jacques Becker, e “La Vache et le Prisonnier” (1959), de Henri Verneuil. Mas é sobretudo com a série “Don Camillo”, adaptada de obras de Giovannino Guareschi, que se torna a vedeta nº 1 do cinema francês, com um índice de popularidade invulgar: “Le Petit Monde de don Camillo” (1951) e “Le Retour de don Camillo” (1953) de Julien Duvivier, “La Grande Bagarre de don Camillo” (1955), “Don Camillo Monseigneur” (1961), “Don Camillo en Russie” (1965) e “Don Camillo et les Contestataires”, que começa a rodar em 1970, mas que abandona por doença. Morre de cancro no ano seguinte. Fernandel, ao lado de Louis de Funès, Bourvil e Jean Gabin, foi dos actores que levou mais espectadores às salas francesas. Mais de 202 milhões entre 1945 e 1970. Em 18 de janeiro de 1953, quando se encontrava em Roma, o Papa Pio XII convida-o a ir ao Vaticano, para ele conhecer o “padre mais falado da cristandade, depois do Papa”. Realizou 3 filmes, “Simplet” (1942), “Adrien” (1943) e “Adhémar ou le Jouet de la fatalité” (1951). Em 1963 funda com Jean Gabin a sociedade produtora “Gafer15”, cujo primeiro filme foi “L'Âge ingrat”, de Gilles Grangier. O general Charles de Gaulle disse um dia que Fernandel era o único francês tão conhecido como ele em todo o mundo. O escritor Marcel Pagnol declarou que “ele era um dos maiores e dos mais célebres actores do seu tempo, só comparável a Charlie Chaplin”.


Filmografia essencial / Como actor (de um conjunto de 156 títulos): 1931: Branco e Negro (Le blanc et le noir), de Marc Allégret, Robert Florey; On purge bébé, de Jean Renoir; 1932: Le Rosier de Madame Husson, de Dominique Bernard-Deschamps; 1937: François Premier (Sonho de Grandeza), de Christian-Jaque; Un carnet de bal (Um Carnet de Baile), de Julien Duvivier; 1938: Le Schpountz (Schpountz, o anjinho), de Marcel Pagnol; 1940: La Fille du puisatier, de Marcel Pagnol; 1944: Un chapeau de paille d’Italie (Chapéus há Muitos), de Maurice Cammage; 1951: Topaze (Topázio), de Marcel Pagnol; 1951: Tu m’as sauvé la vie, de Sacha Guitry; L’Auberge Rouge (Estalagem Sangrenta), de Claude Autant-Lara; 1952: Don Camillo (Dom Camilo), de Julien Duvivier; 1953: Le Boulanger de Valorgue (O Padeiro de Valorgue), de Henri Verneuil; Le retour de Don Camillo (O Regresso de D. Camilo), de Julien Duvivier; 1954: Ali Baba et les quarante voleurs (Ali Baba e os 40 Ladrões), de Jacques Becker; 1955: Don Camillo e l'on. Peppone (D. Camilo e as Eleições), de Carmine Gallone; 1956: Don Juan (D. Juan), de John Berry; Around the World in Eighty Days (A Volta ao Mundo em Oitenta Dias), de Michael Anderson; Era di venerdì 17 (Quatro Passos nas Nuvens), de Mario Soldati; 1957: L’Homme à imperméable (O Homem Impermeável), de Bernard Blier; Le Chômeur de Clochemerle (O Mandrião de Clochemerle), de Jean Boyer; 1958: La legge è legge (Totó, Fernandel e a Lei), de Christian-Jacque; 1959: Le Grand chef (O Grande Chefe), de Henri Verneuil; Confident de ces dames (Confidente de Senhoras), de Jean Boyer; La Vache et le prisonnier (A Vaca e o Prisioneiro), de Henri Verneuil; 1960: Crésus (O Nababo), de Jean Giono; Le Caïd (Gangsters à Força), de Bernard Borderie; 1961: Il giudizio universale (O Último Julgament), de Vittorio De Sica; Don Camillo monsignore... ma non troppo (Dom Camilo Monsenhor), de Carmine Gallone; 1962: Le Diable et les Dix commandements (O Diabo e os Dez Mandamentos), de Julien Duvivier; 1963: Le Bon roi Dagobert, de Pierre Chevalier; La Cuisine au beurre (Grelhados com manteiga), de Gilles Grangier; 1964: L’Âge ingrat (A Idade Ingrata), de Gilles Grangier; 1965: Il compagno Don Camillo (Dom Camilo na Rússia), de Luigi Comencini; 1966: La Bourse et la vie, de Jean-Pierre Mocky; Le Voyage du perè (A Viagem), de Denys de La Patellière; 1970: Heureux qui comme Ulysse), de Henri Colpi; Don Camillo e i giovani d'oggi" (D. Camilo e os jovens de hoje), de Christian- Jacque (curta-metragem). 

SESSÃO 11 - 12 DE ABRIL DE 2016



BEM-VINDO AO NORTE (2008)

1.    A COMÉDIA NO CINEMA FRANCÊS
O cinema francês tem uma larga tradição na comédia, desde os tempos do mudo, onde Max Linder chegou a rivalizar com alguns dos maiores cómicos norte-americanos. Depois, sempre existiram bons cómicos e boas comédias ao logo dos tempos, com alguns génios a sobressair. O caso do genial Jacques Tati, entre os anos 40 e 60, é exemplar. Mas há outros grandes nomes a reter, desde Fernandel a Louis de Funès, passando por Pierre Etaix, Darry Cowl, Bourvil, Michel Serrault, Coluche, Philippe Noiret, Michel Galabru, Jean Lefebvre, Pierre Richards, Josiane Balasko, Michel Blanc, Jean Rochefort, Jean Dujardin, e tantos outros. Existe ainda uma ilustre lista de realizadores que deram o seu melhor à comédia, desde os clássicos Sacha Guitry ou Marcel Pagnol, até nomes e personalidades tão distintas como Alain Jessua, Philippe de Broca, George Lautner, Edouard Molinaro, Robert Dhéry, Gérard Oury, Francis Veber, Claude Zidi, entre outros. Nenhum génio, é certo, mas realizadores competentes e eficazes, que funcionaram muito na base de bons argumentos e bons intérpretes. Para lá destes realizadores retintamente de comédia, há que referir certas incursões de grandes cineastas como Luis Buñuel, Alain Resnais, Éric Rohmer, François Truffaut ou François Ozon, no mesmo campo, com excelentes resultados.
De resto, e sem querer ser exaustivo, nos últimos anos existiram algumas boas comédias no cinema francês e muitas delas com relevante sucesso público. Apenas alguns títulos a terem conta, sem qualquer ordem entre si, apenas respeitando a memória: “O Fabuloso Destino de Amélie” (2001) de Jean-Pierre Jeunet; “A Família Bélier” (2014), de Eric Lartigau; “8 Mulheres” (2002) ou “Dentro de Casa” (2012), ambos de François Ozon, “Coisas Secretas” (2002), de Jean-Claude Brisseau; “Um Monstro em Paris” (2011), de Bibo Bergeron; “Pequenas Mentiras Entre Amigos” (2010), de Guillaume Canet; “A Residência Espanhola” (2002) ou “As Bonecas Russas” (2005), ambos de Cédric Klapisch; “O Menino Nicolau” (2009), de Laurent Tirard; “A Datilógrafa” (2012), de Régis Roinsard; “O Jantar de Palermas” (1998), de Francis Veber; “Professor Lazhar” (2011), de Philippe Falardeau; “Não Incomodar” (2014), de Patrice Leconte; “Palácio das Necessidades” (2013), de Bertrand Tavernier; “T4xi” (2007), de Gérard Krawczyk ou “Amigos Improváveis” (2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano. Falamos apenas de filmes estreados depois de 2000, com uma excepção.
Há mesmo um filme franco português nesta lista de grandes sucessos: “A Gaiola Dourada” (2013), de Ruben Alves. E, obviamente, “Bem-vindo ao Norte” (2008), de Dany Boon, o maior sucesso de público em França (e nalgumas partes do mundo), depois de “A Grande Paródia”. 



2.    BEM-VINDO AO NORTE
Falando de números: “Bienvenue chez les Ch'tis” custou cerca de 11 milhões e arrecadou mais de 162 milhões de euros. Um excelente negócio. Em França, e em estreia, fez 20 489 303 entradas, e, fora de França, cresceu mais 4 222 202 espectadores só no ano de 2008. Muitas vezes o sucesso de bilheteira pouco tem a ver com a qualidade da obra. Neste caso, sem se assumir como uma obra-prima, “Bem-vindo ao Norte” é um trabalho cuidado, divertido, partindo de uma boa ideia bem desenvolvida, servida por bons actores, e com alguns momentos de humor saboroso. A ideia é interessante, mas nada original. Há já muitos filmes a partir de situações semelhantes: o desajuste entre culturas, o preconceito quanto ao diferente, as ideias feitas que se revelam nada consistentes. Philippe Abrams (Kad Merad) é director de uma estação de correios em Salon-de-Provence. Casado com Julie, uma mulher com alguns problemas, depressiva e desconfiada, tenta encontrar uma solução para permanecer no Sul e se possível ser enviado para a Côte d’Azur. Para o conseguir, Philippe faz batota, declara-se inválido, para ter preferência, mas é descoberto e, em vez de ir para o Sul, como castigo é destacado para Bergues, uma pequena cidade do Norte.
Irá partir sozinho, bem agasalhado como se fosse para o Ártico, prevendo terríveis encontros com trogloditas imundos e bárbaros, que falam uma linguagem que ninguém entende, o “cheutimi”. Para sua grande surpresa, o frio não é incomodativo, a região bonita, os habitantes simpáticos, até há gajos porreiros e raparigas bonitas, com os mesmos problemas de qualquer parisiense ou cidadão da Riviera. Faz amigos como Antoine (Dany Boon), o carteiro, mas vai mantendo com a mulher e a restante família as aparências de habitar uma tormenta. Até que um dia Julie comove-se com a solidão do sacrificado Philippe e resolve ir visitá-lo. Pois, o resto são as peripécias do costume, desenvolvidas com graça e alguma crítica oportuna.
Dany Boon, tal como o companheiro de aventura Kad Merad, é um comediante e humorista que vai trabalhando no teatro com base em sketches que escreve para o palco, mas que alguns são aproveitados para o cinema. Não se estranha assim que o filme seja uma sucessão de episódios, pequenas anedotas que uma ténue linha de ficção vai interligando.
“Bienvenue chez les Ch’tis” é o seu segundo filme de fundo (o primeiro fora “La Maison du Bonheur”, já também um sucesso considerável de bilheteira) e, sem extasiar o espectador mais exigente, não deixa de constituir uma agradável surpresa, num domínio onde nem sempre as novidades são de molde a justificar grandes entusiasmos.



BEM-VINDO AO NORTE
Título original: Bienvenue chez les Ch'tis

Realização: Dany Boon (França, 2008); Argumento: Dany Boon, Alexandre Charlot, Franck Magnier; Produção: Claude Berri, Eric Hubert, Jérôme Seydoux; Música: Philippe Rombi; Fotografia (cor): Pierre Aïm; Montagem: Luc Barnier, Julie Delord; Casting: Elise Leire, Gérard Moulévrier; Design de produção: Alain Veyssier; Direcção artística: Elise Leire; Decoração: Sébastien Monteux-Halleur, Florence Sadaune; Maquilhagem: Lucie Deblayé, Juliette Martin; Direcção de Produção: Virginia Anderson, Gwenael Camuzard, Bruno Morin, Philippe Morlier; Assistentes de realização: Mélanie Dieter, Nicolas Guy, Sébastien Marziniak, Ana Morales, Guillaume Morand, Maryam Muradian, Louis-Julien Petit, Elodie Roy, Remi Veron; Departamento de arte: Daniel Cadet, Benoit Godde, Thierry Gratien, Antonio Nogueira, Guillaume Watrinet; Som: Lucien Balibar, Franck Desmoulins, Roman Dymny, Carl Goetgheluck, François Groult, Gréggory Poncelet, Stéphane Vizet; Efeitos especiais: Noel Chainbaux, Yves Domenjoud; Efeitos visuais: Ludivine Ducrocq, Audrey Kleinclaus, Marc Latil, Frederic Moreau, Sarah Moreau, Fred Roz; Companhias de produção: Pathé Renn Productions, Hirsch, Les Productions du Chicon, TF1 Films Production, Canal+, Centre National de la Cinématographie (CNC), Centre Régional des Ressources Audiovisuelles (CRRAV) (CRRAV du Nord-Pas-de-Calais), CinéCinéma, Région Nord-Pas-de-Calais; Intérpretes: Kad Merad (Philippe Abrams), Dany Boon (Antoine Bailleul), Zoé Félix (Julie Abrams), Lorenzo Ausilia-Foret (Raphaël Abrams), Anne Marivin (Annabelle Deconninck), Philippe Duquesne (Fabrice Canoli), Guy Lecluyse (Yann Vandernoout), Line Renaud (a mãe de Antoine), Michel Galabru, Stéphane Freiss, Patrick Bosso, Jérôme Commandeur, Alexandre Carrière, Fred Personne, Franck Andrieux, Jean-Christophe Herbeth, Jean-François Picotin, Jenny Clève, Claude Talpaert, Sylviane Goudal, Yaël Boon, Christophe Rossignon, Zinedine Soualem, Maryline Delbarre, Guillaume Morand, Yann Königsberg, Nadège Beausson-Diagne, Jean-François Elberg, Eric Bleuzé, Bruno Tuchszer, Mickaël Angele, Patrick Cohen, Louisette Douchin, Jean-Marc Vauthier, Cédric Magyari, Théo Behague, Mathieu Sophys, Laëtitia Maisonhaute, Suzie Pilloux, e ainda a Harmonie-Batterie Municipale de Bergues; Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de estreia em Portugal: 18 de Setembro de 2008.

SESSÃO 10 - 5 DE ABRIL DE 2016


A GRANDE PARÓDIA (1966)

Gérard Oury (1919-2006) é um curioso realizador francês que começou a sua carreira como actor, depois passou a realizador de filmes sobretudo policiais e de aventura, até se centrar na comédia, em meados dos anos 60 do século XX, com excelentes resultados de bilheteira e mesmo de crítica. “O Oportunista” (1965), “A Grande Paródia” (1966), “O Cérebro” (1969), “A Mania das Grandezas” (1971) ou “As Aventuras do Rabi Jacob” (1973) marcam o seu melhor período com “La Grande Vadrouille” a assumir destacado lugar nas preferências do público francês: ainda hoje os 17 milhões de espectadores na estreia, só foram ultrapassados por um outro título “Titanic”. “Bienvenue chez les Ch'tis” (Bem Vindo ao Norte) bateu-o em receitas, mas não em número de espectadores.
Casado com a belíssima actriz Michèle Morgan (1960 - 2006), Gérard Oury teve uma formação clássica, foi actor na Comédie-Française, mas foi a sua amizade e colaboração com actores como Bourvil, Louis de Funès ou Jean-Paul Belmondo, com quem trabalhou particularmente que lhe trouxeram os louros de que ainda hoje se pode orgulhar, dado que permanece um dos mais vistos realizadores franceses de sempre. Quando “A Grande Paródia” passa num qualquer canal de televisão francesa o sucesso é garantido.
Gérard Oury, que escreveu o argumento desta comédia, em colaboração com Danièle Thompson, Marcel Jullian, Georges Tabet e André Tabet, conheceu bem a época da Ocupação nazi em França, dadas as suas origens judaicas, que o obrigou a fugir do país durante a primeira metade da década de 40. É nesse período que se passa “La Grande Vadrouille”.

Durante um raide da britânica Royal Air Force em céus franceses, três pilotos são obrigados a lançarem-se de paraquedas, depois do avião onde seguiam ter sido atingido. Cada um vai para seu lado e precisam desesperadamente do auxílio de franceses para escaparem aos nazis que patrulham as avenidas e estradas. Um deles vai cair junto de um operário que pinta a fachada de um prédio, Augustin Bouvet (Bourvil), o outro refugia-se junto do maestro Stanislas Lefort (Louis de Funès), que ensaia um concerto na Ópera. Claro que ambos os franceses, apesar de muito diferentes em muitos aspectos, resolvem ajudar os ingleses e tentar colocá-los a salvo, fora das fronteiras gaulesas ocupadas. A história de base é esta e será este esquema que permitirá um conjunto de peripécias que irão despoletar uma torrente de gargalhadas e sorrisos, sobretudo porque a direcção de Gérard Oury é fluente e elegante e as interpretações de Louis de Funès, Bourvil e Terry-Thomas são excepcionais, muito bem acompanhadas por todo o restante elenco.
Mas a reunião de actores como Louis de Funès e Bourvil, quase sempre a intervirem em conjunto, mesmo numa determinada sequência, um às cavalitas do outro, colocou alguns problemas ao realizador, dada as características diversas dos dois intérpretes. Ao que consta Bourvil era um adepto de vários ensaios antes de começar a rodar, e Louis de Funès, pelo contrário, não ensaiava antes de filmar e ia aprimorando a representação à medida que as takes que iam multiplicando. Um melhorava de cada vez que se repetia a filmagem do plano, outro ia perdendo espontaneidade e justeza.
Como em quase todos os filmes, falando apenas de cinema, onde aparecem duplas, a contradição é essencial. O gordo e o magro, o alto e o baixo, aqui o modesto operário pachorrento e o artista histérico e caprichoso. A definição das personagens funcionou brilhantemente, e esta diferença de comportamentos é uma das razões do sucesso do filme, logo do humor que lhe está subjacente.


Há sequências magníficas, desde o encontro nuns banhos turcos, onde os ingleses ficaram de se reunir, até uma outra passada numa pensão de província, onde os quartos dos franceses e dos alemães se confundem por uma ocasional troca de números. Uma perseguição numa carroça conduzida por uma jovem freira é outro momento hilariante, numa comédia onde estes se sucedem num ritmo muito bem estudado e programado. 
Louis de Funès foi um cómico dos mais populares em todo o mundo, apesar de não ser unânime a apreciação do seu estilo de humor. Para alguns é um dos génios da comédia, para outros os seus métodos são relativamente fáceis e repetitivos. Mas “La Grande Vadrouille” é indiscutivelmente um dos seus melhores trabalhos, onde mais controla o frenesim da sua representação e alguns tiques que multiplica invariavelmente. De resto, a presença do sólido Bourvil a seu lado muito contribui para o êxito desse filme. Nalguns aspectos, aliás, relembra um outro, interpretado por ambos, e por Jean Gabin, em 1956, “Ao Longo de Paris” (La Traversée de Paris), de Claude Autant-Lara, onde Louis de Funès tinha ainda um papel secundário.
Rodado quase todo em cenários naturais, exteriores e interiores (foi graças a André Malraux, Ministro da Cultura de então, que se pode filmar no interior da Opéra Garnier), o filme conta ainda com uma voluptuosa fotografia assinada por um mestre, Claude Renoir, filho do actor Pierre Renoir, sobrinho do realizador Jean Renoir e neto do pintor Pierre-Auguste Renoir.

A GRANDE PARÓDIA
Título original: La Grande Vadrouille
Realização: Gérard Oury (França, Inglaterra, 1966); Argumento: Gérard Oury, Danièle Thompson, Marcel Jullian, Georges Tabet, André Tabet; Produção: Robert Dorfmann; Música: Georges Auric; Fotografia (cor): André Domage, Claude Renoir; Montagem: Albert Jurgenson; Design de produção: Jean André, Théobald Meurisse; Guarda-roupa: Tanine Autré, Léon Zay; Maquilhagem: Odette Berroyer, Pierre Berroyer; Direcção de Produção: Pierre Saint-Blancat, Georges Vallon; Assistentes de realização: Claude Clément, Lucile Costa, Gérard Guérin; Departamento de arte: Robert André, Gabriel Béchir, Robert Christidès; Som: Antoine Bonfanti, Urbain Loiseau; Efeitos especiais: Daniel Braunschwe, Claude Carliez, Gil Delamare, Michel Durin, Pierre Durin, Jean Fouchet; Companhias de produção: Les Films Corona, The Rank Organisation; Intérpretes: Bourvil (Augustin Bouvet), Louis de Funès (Stanislas Lefort), Marie Dubois (Juliette), Terry-Thomas (Sir Reginald), Claudio Brook (Peter Cunningham), Andréa Parisy (Irmã Marie-Odile), Colette Brosset (Germaine), Mike Marshall (Alan MacIntosh), Mary Marquet (Madre Superiora), Pierre Berti, Benno Sterzenbach, Sieghardt Rupp, Reinhard Kolldehoff, Helmuth Schneider, Paul Préboist, Hans Meyer, Guy Grosso, Michel Modo, Peter Jacob, Rudy Lenoir, Noël Darzal, Pierre Roussel, Pierre Bastien, Jacques Sablon, Mag-Avril, Jacques Bodoin, Gabriel Gobin, Paul Mercey, Henri Génès, etc. Duração: 132 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 12 anos.


LOUIS DE FUNÈS (1914-1983)
Louis Germain de Funès de Galarza nasceu a 31 de Julho de 1914, em Courbevoie, Hauts-de-Seine, França, e viria a falecer a 27 de Janeiro de 1983, em Nantes, Loire-Atlantique, França, vítima de um ataque de coração. O pai, Carlos Luis de Funès de Galarza, era advogado em Sevilha, e a mãe, Leonor Soto Reguera, tinha origem galega e ascendência portuguesa. Começou a aprender piano aos 5 anos. Estudou no Lycée Condorcet, em Paris, e, depois de passar por diversas profissões, trabalhou num bar como pianista. Olhos azuis, careca e de estatura baixa, nervoso e inquieto, de verbo fácil e trapalhão, de mimica esfusiante, nada indicaria tornar-se numa coqueluche de popularidade, alcançando o primeiro lugar nas preferências do público francês por diversas vezes. Estuda teatro com Simon. Começou a carreira no cinema em 1945, em “La Tentation de Barbizon”, de Jean Stelli, continuando a entrar no elenco de dezenas de filmes de todos os géneros, até se impor como protagonista e tornar-se mundialmente conhecido, a partir de 1964, ao interpretar pela primeira vez o seu personagem mais famoso, um mal-humorado gendarme. Mas os seus maiores êxitos estariam por vir, como “A Grande Paródia” ou “As Loucas Aventuras do Rabbi Jacob”. Entre 1964 e 1979, esteve sempre em lugar destacado no box-office de França, atingindo os 17,27 mihões de espectadores com “A Grande Paródia”. Nos anos 50 foi ganhando popularidade, com obras como “Ah ! les belles bacchantes” (1954), “La Traversée de Paris” (1956), “Comme un cheveu sur la soupe” (1957) ou “Ni vu, ni connu” (1958), continuando depois uma vasta filmografia donde se destacam inúmeros sucessos de público: “Pouic-Pouic” (1963), “Le Gendarme de Saint-Tropez” (1964) e continuações, a trilogia “Fantômas” (1964), “Le Corniaud” (1965), “La Grande Vadrouille” (1966), “Le Grand Restaurant” (1966), “Oscar” (1967), “Les Grandes Vacances” (1967), “Le Petit Baigneur” (1967), “Hibernatus” (1969), “Jo” (1971), “La Folie des Grandeurs” (1971), “Les Aventures de Rabbi Jacob” (1973), “L'Aile ou la Cuisse” (1976), “La Zizanie” (1977) e “La Soupe aux choux (1981). Escreveu vários argumentos e co-realizou com Jean Girault, “L'Avare”, segundo Moliere, em 1980.
A 21 de Março de 1975, enquanto representava no teatro “La Valse des Toréadors”, sente-se mal, e é-lhe diagnosticado um enfarte de miocárdio. No hospital, pouco depois, recai com novo enfarte. Permanece dois meses no hospital Necker, recupera, mas condiciona a partir daí toda a sua actividade. Herda parte e compra a restante do castelo de Clermont, onde passa a descansar nos intervalos de filmagens. Casado com Germaine Louise Elodie Carroyer (1936 - 1942) e Jeanne De Funès (1943 - 1983), esta última sobrinha de Guy de Maupassant.

Filmografia essencial (de um total de 157 títulos) / como actor: 1945: La Tentation de Barbizon, de Jean Stelli; 1947: Antoine et Antoinette (O Tonio e a Toninhas), de Jacques Becker; 1951: La poison, de Sacha Guitry; 1952: Ils étaient cinq, de Jack Pinoteau; Les Dents longue, de Daniel Gélin; 1953: La Vie d'un honnête homme, de Sacha Guitry; 1954: Les Intrigantes, de Henri Decoin; 1955: Napoléon (Napoleão), de Sacha Guitry; Si Paris nous était conté (Se Paris falasse...), de Sacha Guitry; 1956: La Traversée de Paris (Ao Longo de Paris), de Claude Autant-Lara; 1960: Le Capitaine Fracasse (O Capitão Sem Medo), de Pierre Gaspard-Huit; Candide ou l'optimisme au XXe siècle, de Norbert Carbonnaux; 1961: La Belle Américaine (A Bela Americana), de Robert Dhéry; 1964: Le gendarme de Saint-Tropez (O Gendarme de Saint Tropez), de Jean Girault; Fantômas (Fantomas), de André Hunebelle; 1965: Le Corniaud (O Oportunista), de Gérard Oury; Le gendarme à New York (O Gendarme em Nova Iorque), de Jean Girault; Fantômas se déchaîne (Fantomas Passa ao Ataque), de André Hunebelle; 1966: Le Grand Restaurant (O Grande Restaurante), de Jacques Besnard; La Grande Vadrouille (A Grande Paródia), de Gérard Oury; Fantômas contre Scotland Yard (Fantomas Contra a Scotland Yard), de André Hunebelle; 1967: Les grandes vacances (As Férias Grandes), de Jean Girault; Oscar (Onde está o Oscar?), de Édouard Molinaro; 1968: Le Petit Baigneur (O Pequeno Banhista), de Robert Dhéry; Le tatoué (Com a Fortuna às Costas), de Denys de La Patellière; Le gendarme se marie (O Gendarme Casa-se), de Jean Girault; 1969: Hibernatus (O Avozinho Congelado), de Édouard Molinaro; 1970: L'homme orchestre (O Homem Orquestra), de Serge Korber; Le gendarme en balade (O Gendarme em Férias, de Jean Girault; 1971: Sur un arbre perche (Numa Árvore Empoleirado), de Serge Korber; Jo (Um Buraco no Coreto), de Jean Girault; La folie des grandeurs (A Mania das Grandezas), de Gérard Oury; 1973: Les aventures de Rabbi Jacob (As Aventuras do Rabi Jacob), de Gérard Oury; 1976: L'aile ou la cuisse (O Peito ou a Perna), de Claude Zidi; 1978: La Zizanie (O Incorrigível Teimoso), de Daubray-Lacaze;1979: Le gendarme et les extra-terrestres (O Gendarme e os Extraterrestres), de Jean Girault; 1980: L'avare (O Avarento), de Louis de Funès e Jean Girault; 1981: La Soupe aux choux, de Jean Girault; 1982: Le gendarme et les gendarmettes (O Gendarme e as Gendarmetas), de Ludovic Cruchot.

Como realizador: 1980 O Avarento (juntamente com Jean Girault). 

SESSÃO 9 - 29 DE MARÇO DE 2016


O APAIXONADO (1962)

Não se poderá dizer que Pierre Étaix tenha sido um actor-realizador que tenha arregimentado uma legião de adeptos, mesmo no tempo em que foi mais celebrado, durante a década de 60 do século XX. Mas foi um nome considerado, respeitado e terá congregado um grupo de fiéis que viram nele um continuador inspirado e personalizado da obra de muitos outros cineastas que fizeram do humor o seu campo de batalha. Deve dizer-se desde logo que Pierre Étaix deve muito e prolonga o humor de Jacques Tati, com quem trabalhou em “O Meu Tio”. A mesma discrição, a mesma delicadeza, o mesmo olhar enternecedor sobre as pessoas. Mas haverá ainda algo de Chaplin, é óbvio (qual o cómico que o recusa?), muito de Buster Keaton, desde a quase ausência de expressão facial até uma certa tristeza interior que o habita, também um pouco de Harry Langdon, talvez até uma pitada da ingenuidade de Jerry Lewis, e alguma tradição francesa, seguramente via Max Linder. Quem escolhe como referência alguns dos melhores, não pode passar despercebido. Mas para ser grande é preciso ter uma personalidade própria, passar por todas essas influências mas criar uma obra pessoal, única. Pierre Étaix conseguiu-o e se, hoje em dia, não é mais conhecido isso deve-se seguramente a problemas vários que impediram os seus filmes de serem mostrados ao público durante décadas, em virtude de questões legais inultrapassáveis até há pouco. Só muito recentemente, para grande alegria dos seus fãs incondicionais, surgiu no mercado francês uma caixa com toda a sua obra cinematográfica, editada em DVD. São cinco longas-metragens e várias curtas que voltam a recordar um dos cineastas mais interessantes do cinema francês no domínio da comédia. Já agora, acrescente-se que a edição é muito cuidada, fazendo-se acompanhar de um livro de design esmerado que, infelizmente, pouca literatura informativa traz sobre o autor. Prevalece a fotografia sobre o texto, o que não satisfaz a necessidade de quem quer saber mais sobre a vida e a obra de Pierre Étaix. Mas o relançamento da obra deste cineasta e actor magnífico parece justificar finalmente um interesse mundial. A reposição das suas obras nos EUA, no Canadá e em França, para só citar alguns locais, tem sido calorosa. Razão de satisfação dupla para quem nunca o esqueceu desde os tempos em que viu pela vez primeira as suas obras no cinema.


“Le Soupirant”, de 1962, é a sua primeira longa-metragem e foi com espanto que foi recebida. É óbvia desde início a homenagem ao cinema mudo, na construção do gag, sobretudo visual, e pela quase ausência de diálogos. Mas não de sons, dado que o tratamento da banda sonora é complexo e extremamente curioso para a definição do humor. O início do filme é imediatamente desconcertante. Uma imagem que tudo indica ser um foguetão a descolar de alguma base de lançamentos, mas que se descobre depois que se trata do local de trabalho de um fanático por astrologia. Numa casa apalaçada, no interior de uma família nitidamente abonada, Pierre vive envolto no fumo dos seus cigarros e encerrado no seu quarto transformado num bunker de um apaixonado pela conquista do espaço. A mãe pinta, o pai bebe às escondidas, e uma sueca suspira por uma atenção de Pierre, que só tem olhos para o telescópio. Até que um dia os pais se revoltam e chamam a atenção do filho para a necessidade de ele se casar e iniciar uma vida normal. O mais rápido será perguntar à inquilina sueca que passa uns tempos em sua casa se quer casar com ele, mas a bela nórdica não domina a língua e não percebe as intenções do tímido e distraído lunático. Sai assim para a noite parisiense, em busca de uma mulher que queira casar com ele, e as peripécias são muitas, divertidas, oscilando entre o equívoco e o mal-entendido. Mas o humor é sempre de uma elegância e delicadeza invulgares, os gags construídos com uma sobriedade e rigor admiráveis, a economia de meios é absoluta e os resultados magníficos. “Le Soupirant” é definitivamente um filme admirável, onde a candura do protagonista se mescla a uma crítica social de fina observação, atenta ao pormenor, sibilina no remoque, mas nunca descuidando uma certa ternura para com as figuras visadas. A crítica expressa ao mundo do espectáculo e à forma como se aproveita a vedeta com fins comerciais é de uma evidente clareza e justeza. 


O rigor da escrita de Piere Étaix é raro numa primeira obra. A forma como compõe a figura de Pierre, sobre a qual assenta todo o filme, é notável, criando uma personagem lunática, cortada da realidade que, por imposição familiar, se vê obrigada a sair do seu casulo espacial, para se embrenhar na realidade, à procura do amor. Mas o amor não se procura, encontra-se e por vezes está ali mesmo ao virar da esquina ou mesmo paredes meias, ou frente aos olhos que, habituados a perscrutar o infinito, ignoram a realidade imediata.
Tendo começado a sua carreira como artista plástico, depois palhaço de circo, Etaix era um artista completo, dominando várias técnicas e exigindo de si sempre a perfeição. Um guião de um filme seu, a que chamava a “bíblia” durante a rodagem, agrupava a planificação técnica, o storyboard, com os desenhos de todos os planos do filme, retratos de personagens, descrições, etc.

O APAIXONADO
Título original: Le Soupirant
Realização: Pierre Étaix (França, 1962); Argumento: Pierre Étaix & Jean-Claude Carrière; Produção: Paul Claudon; Música: Jean Paillaud; Fotografia (p/b): Pierre Levent; Montagem: Pierre Gillette; Design de produção: Raymond Tournon; Maquilhagem: Anatole Paris; Direcção de Produção: Tonio Suné; Assistentes de realização: André Bureau, Claude Pierre-Bloch; Departamento de arte: Jean-Claude Carrière; Som: Jean Bertrand, Jean Nény; Companhias de produção: C.A.P.A.C., Cocinor, Copra Films; Intérpretes: Pierre Étaix (Pierre), France Arnel (Stella), Laurence Lignières (Laurence), Claude Massot (pai de Pierre), Denise Péronne (mãe de Pierre), Karin VeselyIlka), Robert Blome, Pierre Maguelon, Dominique Clément, Dora Diana, Bernard Dumaine, Armelle Engel, Édouard Francomme, Jeannette François, Lucien Frégis, Brigitte Juslin, Patrice Laffont, Kim Lokay, Georges Loriot, Jean-Pierre Moutier, Sally Pearce, Guy Piérauld, Gilles Rosset, Robert Sabatier, Roger Trapp, Anna Abigaël, Béatrice Arnac, Charles Bayard, Pierre Vernet, etc. Duração: 83 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 14 de Janeiro de 1964.


PIERRE ÉTAIX (1928 -)
Pierre Etaix nasceu em Roanne, França, no dia 23 de Novembro de 1928. Como muitos outros artistas que se dedicaram ao humor, é um homem de sete ofícios: actor, realizador, argumentista, dramaturgo, clown, desenhador e muito mais. Começou a carreira como desenhador de vitrais, no atelier de Théodore-Gérard Hanssen. Passa a viver em Paris, inicialmente do seu talento de ilustrador, e também já do humor, em cabarets e music-halls, como “Le Cheval d'Or”, “Les Trois Baudets”, “A.B.C”, “Alhambra”, “Bobino” e “Olympia”, ou como palhaço de circo, de seu nome Nino. Em 1954, trabalha com Jacques Tati em “O Meu Tio” e ganha o gosto pelo cinema. “Rupture” é a curta-metragem de estreia, que ergue com a colaboração de Jean-Claude Carrière. Ganha o Oscar de Melhor Curta-Metragem de 1963, ano em que se abalança na longa-metragem com “Le Soupirant”, a que se seguem “Yoyo”, uma homenagem ao circo, “Tant qu'on a la santé” (1965), “Le Grand Amour” (1968) e “Pays de cocagne” (1969). Segue-se uma longa travessia do deserto, apenas quebrada por algumas aparições como actor em filmes de outros cineastas. Funda a “École Nationale de Cirque” (1973), com Annie Fratellini, com quem casara em 1969. Em 1985, escreve uma peça de teatro, “L'âge de monsieur est avancée”, espécie de homenagem a Sacha Guitry e à arte do teatro, que mais tarde irá interpretar no teatro e realizar e interpretar para a TV. O seu último trabalho como realizador (1989) é um espectáculo utilizando o omnimax, uma encomenda da La Géode em la Villette para celebrar o bicentenário da Revolução.
Entretanto, a vida de Pierre Étaix não era fácil. Um litígio judicial com a empresa produtora dos seus filmes impediu-os de circularem, quer em salas ou em dvd. A Fondation Groupama Gan pour le Cinéma restaura em 2007 “Yoyo”, apresenta-o em Cannes, mas o boicote renasce até 2011, quando os tribunais dão razão ao cineasta e as obras são recolocadas em distribuição. 
Segue-se a consagração universal: em 2009 uma retrospectiva, no Grand Lyon, “Vive Pierre Étaix!”; em 2010, um novo espectáculo de music-hall “Miousik Papillon”, em tournée por várias cidades e na TV; em 16 de Novembro de 2011, a Academy Of Motion Picture Arts And Sciences, de Hollywood, homenageia-o em Los Angeles, com uma cerimónia, "Pierre Étaix: The Laughter Returns"; em 2012, no  Slapstick Festival, recebe o prémio “Aardman/Slapstick” e,  no mesmo ano, o prémio Jean Mitry no Festival de Pordenone (Itália). Os seus filmes voltam às salas nos EUA e Canadá, com grande sucesso e sai uma caixa com a sua obra integral em DVD. Ainda em 2012, volta à pista e é-lhe conferido o grau de Comandante da “Ordre des Arts et Lettres”. No ano seguinte, recebe o Grande Prémio da SACD (Société des Auteurs et Compositeurs Dramatiques) pelo conjunto da sua obra e em Março de 2015 é-lhe atribuído o prémio de carreira durante a cerimónia do 10º aniversário do Prémio Henri Langlois & Rencontres Internationales du Cinéma de Patrimoine.

Filmografia
Como realizador: 1961: Rupture (c-m); 1962: Heureux Anniversaire (C-m); Le Soupirant (O Apaixonado); 1965: Yoyo (Yoyo); 1966: Tant qu'on a la santé (Entretanto Haja Saúde); En pleine forme (c-m; inédita até 2010); 1969: Le Grand Amour (O Grande Amor); 1971: Pays de cocagne; 1987: L'Âge de monsieur est avancé (TV); 1987: Souris noire - episódio “Le Rapt” (TV); 1988: Le Cauchemar de Méliès (TV); 1989: J'écris dans l'espace.
Como actor / Principais filmes: 1956: Mon oncle (O Meu Tio), de Jacques Tati; 1959: Pickpocket (O Carteirista), de Robert Bresson; 1960: Tire-au-flanc 62, de Claude de Givray; 1961: Rupture, de Pierre Étaix; 1962: Une grosse tête (Chega-lhe que ainda mexe!), de Claude de Givray; Le Pèlerinage, de Jean L'Hôte; Heureux anniversaire, de Pierre Étaix; 1963: Le Soupirant (O Apaixonado), de Pierre Étaix; 1964: Yoyo (Yoyo), de Pierre Étaix; 1966: Tant qu'on a la santé (Entretanto Haja Saúde), de Pierre Étaix; 1966 Le Voleur (O Ladrão de Paris), de Louis Malle; 1968: Le Grand Amour (O Grande Amor), de Pierre Étaix; 1971: Les Clowns, de Federico Fellini; 1972: The Day the Clown Cried, de Jerry Lewis; 1973: Bel Ordure, de Jean Marbœuf ; 1974: Sérieux comme le plaisi,r de Robert Benayoun; 1985: Max mon amour (Max, Meu Amor), de Nagisa Oshima; 1987: L'âge de monsieur est avancé, de Pierre Étaix; 1989: Henry & June (Henry e June), de Philip Kaufman; 2006: Jardins en automne (Jardins no Outono), de Otar Iosseliani; 2009: Micmacs à tire-larigot (Micmacs - Uma Brilhante Confusão), de Jean-Pierre Jeunet; 2010: Chantrapas, de Otar Iosseliani; 2011: Le Havre, de Aki Kaurismäki; 2015: Chant d'hiver, de Otar Iosseliani
Na televisão: 1980: Lundi, téléfilm - la voyante; 1983: L'Étrange château du docteur Lerne; 1983: La Métamorphose, de Jean-Daniel Verhaeghe; 1984: L'Aide-mémoire, de Pierre Boutron; 1987: Les Idiots, de Jean-Daniel Verhaeghe; 1989: Bouvard et Pécuchet de Jean-Daniel Verhaeghe; 2010: Groland magzine (TV);

Teatro: 1972: À quoi on joue?, de Pierre Étaix, Théâtre Hébertot; 1983: L'Âge de Monsieur est avancé, de Pierre Étaix, Comédie des Champs Élysées; 2010: Miousik Papillon, de Pierre Étaix, Théâtre de Vidy

segunda-feira, 14 de março de 2016

SESSÃO 8 - 22 DE MARÇO DE 2016


O MEU TIO (1958)

A genialidade de Jacques Tati fica bem documentada em qualquer uma das suas longas-metragens, mas creio que “O Meu Tio” é talvez o seu trabalho mais reconhecido e mais elogiado. Terceira longa-metragem, segunda protagonizada pelo Senhor Hulot, “Mon Oncle” é uma admirável comédia sobre a (falsa) modernidade, a ostentação do novo-riquismo, algo muito flagrante em todas as idades, mas muito sentido na década de 50 do século passado, dado que foi um período de ouro da implantação generalizada do uso do carro e da generalização do uso dos eletrodomésticos. Mais ainda, uma época onde um design agressivo de mobiliário de interiores e exteriores, que hoje em dia é visto com certa nostalgia vintage, mas que não altura era por muitos apenas visto como de um mau gosto e de um desconforto invulgares. Neste, e em muito outros aspectos, “Mon Oncle” relembra o brilhante “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin, havendo em ambos um desadaptado que não se consegue integrar num mundo onde as últimas invenções, em lugar de facilitarem a vida do homem comum, a dificultam. Charlot e Hulot têm, por isso, muitos pontos de contacto.
O filme oscila entre dois universos inconciliáveis: por um lado um director de uma fábrica de mangueiras de plástico, homem com uma família “muito moderna”, os Arpel, certamente por influência da sua mulher que não perde uma ocasião para mostrar a excelência do seu jardim, da sua cozinha, do interior da casa, com “as divisões todas abertas umas para as outras”, e que faz gala de nunca deixar entrar uma visita no seu jardim sem ligar o repuxo do peixe que lança água para o espaço, dando as boas vindas ao intruso. Obviamente que o repuxo é vedeta de alguns gags magníficos, porque às vezes é ligado para um desinteressante operário que vem entregar uma encomenda ou para alguém da casa que já não o merece. Ou então é desligado, porque não queremos tapetes persas e, afinal, trata-se da vizinha com estranha indumentária não reconhecível de imediato. O repuxo é o símbolo da saloiice daquela estranha família, onde só o filho adolescente parece ser alguém normal, sobretudo quando sai com o tio, o tal Senhor Hulot, que vive num bairro modesto, popular, habita uma casa onde para chegar às suas águas furtadas tem de percorrer um labirinto de corredores e escadas que acompanhamos do exterior, tal como o fotógrafo de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, acompanha as traseiras do seu andar (uma obra de 1954 que pode bem ter sugerido este Tati, de 1958). 


Hulot é o indivíduo bem avontadado, imune a cerimónias e salamaleques, que gosta de viver e não se preocupa com a indumentária e ainda menos com o que os outros possam pensar dele. Faz a sua vida, é simpático para todos, não se dá nada bem com as modernices inúteis, nem com a jactância dos novos-ricos, e causa grandes problemas, sem o pretender, sempre que o procuram encaixar numa estrutura social estável, como por exemplo numa fábrica de mangueiras de plástico que a partir dai se assemelha mais a uma fábrica de salsichas. O sobrinho Gerard adora sair com ele porque sabe que vai estar em liberdade, longe do rigor maníaco dos pais, perto de saborear um bom jogo de futebol na lama, boas guloseimas populares, e de pregar partidas como a fabulosa invenção do assobio junto a um candeeiro de iluminação pública que vai provocar normalmente alguma consternação nos passantes. Mais um gag delicioso, num filme que os inventa consecutivamente, mantendo todavia uma toada de comédia delicada e doce, por onde perpassa a voluptuosa nostalgia dos velhos tempos onde a harmonia do homem com a natureza era mais saudável.
A senhora Arpel mostra a sua casa aos convidados para um lanche no jardim, dizendo “E essa é minha sala de estar”, e uma das visitantes nota: “Um pouco vazia, não?”. Ao que a senhora Arpel responde: “Mas é moderna!”. Minimalista diríamos hoje. A moda acima de tudo, o último grito do design a impor-se. Não é eficaz, não serve para nada, mas é moderno!


A construção do humor em Tati é de um rigor invulgar. Os gags são na sua maioria visuais, é certo, mas na verdade, se atentarmos bem, o papel do som, quer da música, quer dos efeitos sonoros, dos ruídos, é absolutamente invulgar de bem trabalhado e explorado. Os ruídos das máquinas, dos gadgets, dos movimentos humanos, das corridas dos cães, tudo é obsessivamente construído na minucia. Exemplar e brilhante. 
O contraponto entre o moderno inútil e hostil e o mais tradicional, modesto, quente e afectuoso (recorde-se o bairro onde vive Hulot, com a sua taberna e os frequentadores habituais, os cães, o varredor de rua que não sai do mesmo sítio, agarrado a conversas infindáveis…) diz bem de que lado que encontram as simpatias de Hulot. Tati explicou-o: “Não acredito que as linhas geométricas tornem as pessoas amáveis”.
A crítica a esta sociedade falsa e hipócrita é inquestionável, mas Tati nunca grita, nunca se irrita demasiado, acredita que o simples olhar de frente a realidade é suficiente para o espectador formar o seu juízo. E sorrir. “O Meu Tio” é uma comédia, mas onde o riso vigoroso nunca aflora, deixando permanecer nos lábios da assistência um sorriso cúmplice, saboroso, divertido, terno, humano. “O Meu Tio” é, por isso tudo, uma das melhores comédias de sempre. E Tati um “must” em qualquer lista das 10 melhores de todos os tempos.

O MEU TIO
Título original: Mon oncle
Realização: Jacques Tati (França, Itália, 1958); Argumento: Jacques Lagrange, Jean L'Hôte, Jacques Tati; Produção: Louis Dolivet, Jacques Tati, Alain Térouanne, Fred Orain; Música: Franck Barcellini, Alain Romans, Norbert Glanzberg; Fotografia (cor): Jean Bourgoin; Montagem: Suzanne Baron; Design de produção: Henri Schmitt; Decoração: Henri Schmitt; Guarda-roupa: Jacques Cottin; Maquilhagem: Boris Karabanoff; Direcção de Produção: Bernard Maurice; Assistentes de realização: Henri Marquet, Pierre Étaix; Departamento de arte: Eugène Roman; Som: Jacques Carrère; Efeitos visuais: Bertrand Levallois, Ugo Bimar; Companhias de produção: Gaumont Distribution, Specta Films, Gray-Film, Alter Films; Intérpretes: Jacques Tati (Monsieur Hulot) (não creditado), Jean-Pierre Zola (Charles Arpel, Adrienne (Betty), Jean-François (Walter), Dominique Marie (vizinha), Yvonne (Gerard Arpel), Régis Fontenay,Claude Badolle, Max Martel, Nicolas Bataille, Daki, Dominique Derly, André Dino, Suzanne Franck, Édouard Francomme, Michel Goyot, René Lord, Elsa Mancini, Jean Meyet, Denise Péronne, Nicole Regnault, Claire Rocca, Jean-Claude Rémoleux,etc. Duração: 117 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 6anos; Data de estreia em Portugal: 21 de Fevereiro de 1975.


JACQUES TATI (1907-1982)
Com três filmes apenas, ele foi desde logo considerado um dos maiores criadores cómicos do cinema de todos os tempos e de todos os lugares. Apenas com “Há Festa na Aldeia”, “As Férias do Sr. Hulot” e “O Meu Tio”, ele conseguiu impor-se com uma obra de uma consistência e coerência total, de uma exigência e modernidade absoluta e, todavia, de adesão imediata por parte de todos os públicos. Conseguiu tornar-se recordado para sempre. Quando, numa roda de amigos, se fala num desses títulos, ou vem à baila o nome de Jacques Tati, seu autor, ou de M. Hulot, sua fabulosa criação, é certo e sabido que a enumeração de uns quantos “gags” e de algumas situações inesquecíveis, irão processar-se por entre lágrimas de puro deleite e de um prazer irreprimíveis.
Curiosamente (infelizmente também), a carreira de Tati teve uma fase ascendente, de reconhecimento internacional, que culminaria em 1958 com a atribuição do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro a "Mon Oncle”, iniciando-se depois disso uma fase de progressivo apagamento, que o deixaria sem trabalhar durante longos anos. Na verdade, depois de “O Meu Tio”, apenas em 1967 voltaria aos ecrãs com uma nova obra, rodada em 70 milímetros, “Play Time”, que traria o autor a Lisboa, para apresentar o filme na saudosa sala do Monumental. O resultado comercial não foi brilhante, as dúvidas dos produtores recaíram sobre ele e, em 1971, “Trafic” não conheceria melhor sorte. Apenas em 1974, em condições bastante precárias, voltaria a rodar “Parade”, que ficaria como o seu testamento cinematográfico.
Foi esse homem, que deu um novo rumo ao humor francês, que morreu em Paris, com 75 anos, vítima de uma embolia pulmonar, no dia 4 de Novembro de 1982. De ascendência russa, nascera a 9 de Outubro de 1907, na região de Pecq, departamento de Seine-en-Oise, em França, filho de um encadernador de profissão, de nome Tatischeff. Tati nasceu, aliás, com o nome de Jacques Tatischeff, abreviando-o depois para Jacques Tati, quando adoptou um nome artístico para as suas primeiras actuações em “music-hall”.
Desde muito novo que se entregara intensamente a práticas desportivas, tendo sido jogador de râguebi no Racing Clube de Paris, além de tentar ainda o boxe e o ténis. Quando, aos 23 anos, se estreia no “music-hall” é um excelente mimo, capaz mesmo de transformar a velha arte de pantomina em algo de inesperadamente novo e espectacular, como se pode deduzir das palavras de Colette, depois de assistir ao seu “show” no ABC: "Em Jacques Tati, cavalo e cavaleiro, toda o Paris verá, estuante de vida, a criatura fabulosa, o Centauro”. Este mesmo "número” seria mais tarde recriado em “Parade”.
O cinema começou por registar, em numerosas curtas-metragens, as pantominas de Jacques Tati, como nessa excelente “Cuida da Tua Esquerda” ou Cuida do Teu Gancho Esquerdo, paródia ao boxe, realizada em 1936 por outro jovem, René Clement, e que correria em telas portuguesas só muito mais tarde. Em 1946, porém, dá-se o grande encontro da arte do actor Jacques Tati com as suas possibilidades de realizador que passou a ser. “A Escola de Carteiros” (L'École des Factuers), filme de duas bobines, ganha o prémio Max Linder, e chama a atenção de todos para a novidade de estilo e de intenções do cineasta. E assim o produtor Fred Orain resolve confiar-lhe a rodagem de um filme de fundo, que tem como base a linha cómica de “A Escola de Carteiros”, e se chamará “Há Festa na Aldeia” (Jour de Fete). Foram tais os métodos utilizados, tão novo o estilo de humor, tão diferentes os processos de realização e interpretação que os distribuidores se negaram a projectar o filme e, para pagar certos trabalhos em atraso, o produtor teve de vender a sua casa de campo. Finalmente estreado, “Há Festa na Aldeia” venceu em toda a linha e terá rendido ao produtor uma recompensa estimulante para o sacrifício feito. Quer como produtor de arte das imagens, quer como espectáculo de bilheteira. “Jour de Fete” foi um sucesso estrondoso que ainda hoje faz as delícias de quantos o vêem e o saboreiam. É uma obra livre, singela, tocada por um humor visual extraordinário, em cujas imagens passa a imperturbável e insólita figura de um carteiro alto e desengonçado, de farto bigode, anunciando já, na sua mímica quase silenciosa, herdeira de Max Linder e Buster Keaton, a personagem admirável do Senhor Hulot.  
Apresentado no festival de Cannes de 1953, “As Férias do Senhor Hulot” não só confirmaram as promessas do filme anterior, como inventaram uma nova figura do cómico mundial, capaz de, numa só peripécia, descobrir uma nova linguagem e estruturar toda uma teoria do humor.
A terna alegria do senhor Hulot e a sátira gentil, mas acutilante, de Jacques Tati aos convencionalismos, hipocrisia e mentiras do nosso mundo moderno, estão por inteiro contidas em “O Meu Tio” (Mon Oncle), rodado já a cores, em 1958, que foi então um fabuloso êxito internacional. Aí se satiriza fundamentalmente a escravidão técnica e os costumes do nosso tempo, enquanto se define, com maior precisão, a personagem do senhor Hulot. É Tati quem profere estas palavras que podem resumir com clareza os seus primeiros trabalhos e toda a sua filosofia: “É para descobrir os segredos da vida quotidiana que o cinema existe, não para repetir cenas e gestos estereotipados”. 

Depois é o grande silêncio durante dez anos, o que não deixa de ser estranho, dado que nesse momento Tati é um triunfador que os produtores disputam. Mas ele nega-se à produção em série e espera até 1967 para estrear “Play Time” (Vida Moderna). O filme, que teve um orçamento grande e uma receita não totalmente recompensadora, coloca o autor numa situação diferente. Agora terá que esperar por nova oportunidade; que só irá surgir em 1971. Com “Trafic” (Sim, Sr. Hulot), uma obra que denuncia já um certo cansaço criativo e alguma morosidade na invenção do “gag” e no seu desenvolvimento. Em 1974, irá voltar a Cannes com “Parade”, rodado para a televisão, e que acabaria por ser estreado em salas de cinema, apesar de gravado em “vídeo”. Esta viagem nostálgica pelo mundo do circo, assume-se como nova e arrojada aventura de um criador com sede de inovação. Muitos anos antes de “O Mistério de 0berward”, de Antonioni, “Parade” é já um filme inicialmente trabalhado em vídeo e depois passado a cinema, abrindo assim novas perspectivas a uma colaboração que, hoje-em dia, se sabe extremamente frutuosa. Para além disso, “Parade” é Tati do melhor, reconduzindo à pureza e à sinceridade originais onde a candura do olhar se mistura com única crítica agreste à moderna civilização e aos seus traumas.

SESSÃO 7 - 15 DE MARÇO DE 2016

AS FÉRIAS DO SR. HULOT (1953)

Depois de alguma curtas-metragens e da estreia no filme de fundo, em 1949, com “Jour de Fête” (Há Festa na Aldeia), Jacques Tati lança a fabulosa personagem do Senhor Hulot, em “Les Vacances de Monsieur Hulot” em 1953. Indiscutivelmente uma das grandes figuras de ficção, cómica ou não, criadas no cinema, o Sr. Hulot voltaria a surgir em mais três títulos, todos eles admiráveis, ainda que o êxito público tenha variado: “O Meu Tio” (1958), “Play Time – Vida Moderna” (1967) e “Sim, Sr. Hulot” (Trafic, 1971).
O filme organiza-se de uma forma muito simples (aparentemente simples, mas de uma complexidade de mestre de relojoaria), estilo crónica do dia a dia de uma estância balnear francesa, durante o seu período de Verão. O que unifica toda a acção é a pequena comunidade que se reúne na praia de Saint-Marc-sur-Mer, localidade perto de Saint-Nazaire, que nunca é nomeada enquanto tal, excepto no selo do postal final, mas que hoje ostenta uma estátua da criação de Tati, e regida pelo escultor francês Emmanuel Debarre, dominando o oceano e muito perto do “Hôtel de la Plage” que serviu de cenário central ao filme.
Estamos nos anos 50 do século passado, as férias de Verão são uma “obrigação” anualmente desejada por uma certa pequena e média burguesia que se desloca para os seus locais preferidos, carregada de malas e apetrechos afins, a fim de cumprir religiosamente um ritual. Instalam-se sornamente na pensãozinha do sítio, ou alugam uma vivenda ou andar, e disfrutam mansamente dos prazeres dos banhos de mar, dos pequenos passeios, das partidas de ténis, dos gelados e das guloseimas da estação, regressando todos a toque de sineta para as refeições do dia, jogando a sua bisca à noite, ouvindo rádio, ou namoriscando mais ou menos às escondidas. Isto é o normal. Mas depois há o elemento estranho que vem alterar toda a ordem instituída: o Senhor Hulot. Quem pensa ter umas férias descansadas e pacatas esquece-se do carro do Senhor Hulot, das técnicas de ténis do Senhor Hulot, da boa vontade sempre desajeitada do Senhor Hulot, do desastroso passeio de caiaque do Senhor Hulot, das suas incursões pela praia, do seu gosto por jazz em altos berros, da imprudência na barraca de fogo de artifício, das pegadas de lama, da pele de tigre que se enrosca nas esporas, dos piqueniques organizados em ordem militarizada, das cadeiras trocadas nas partidas de cartas, dos bailes mascarados, e do seu generoso amor pelas crianças, pela bela ocupante da mansarda, e pelos mais desfavorecidos.


O efeito desestabilizador do humor volta a encontrar aqui toda a sua justificação. O funeral que decorre no cemitério local seria um funeral mais, até que chega o Senhor Hulot e o seu carro avariado. A câmara do pneu que é colocada inocentemente no chão, vai provocar a desregularização da cerimónia, quando é tomada por mais uma coroa de flores, que depois vai esvaziar-se. O Senhor Hulot é integrado a contra gosto na família do finado e tudo acaba em discretas gargalhadas. Mas a realidade preexiste frágil. O casal de velhotes que passeia lentamente pelas amuradas da praia, sempre em passo desencontrado, ela à frente, ele logo a seguir, de braços cruzados atrás das costas, é, por si só, sem lhe acrescentar qualquer gag, já um motivo de humor. Digamos que nalguns casos basta olhar a realidade, para ela se desarticular e mostrar o ridículo que está subjacente. O que demonstra por parte do autor um extraordinário espírito de observação, que lhe permite reproduzir um conjunto de personagens absolutamente inesquecíveis, desde o dono e o criado do “Hôtel de la Plage” (o criado poderá ter estado na base do Manuel da série “Fawlty Towers”) até qualquer um dos veraneantes.
Logo nos planos iniciais, passados numa estação de caminhos-de-ferro (precisamente a gare de Argentan), o cómico instala-se pela simples observação e reprodução. Numa plataforma de embarque está uma pequena multidão à espera do comboio quando se ouve através de um roufenho altifalante um qualquer informação que leva toda a gente a descer e subir escadas para chegar a outra plataforma, quando o comboio vai chegar numa via diferente. O caos aqui é a realidade que o provoca. O humor limita-se a registar o facto. Este é o tipo de humor de Jacques Tati, obviamente crítico em relação a alguns aspectos da vida em sociedade, mas quase sempre terno e doce nas suas observações. Haverá um ou outro olhar mais intenso, para o capitalista que passa as ferias agarrado ao telefone, a controlar os valores da bolsa ou a produção nas fábricas, mas o que move Tati é sobretudo valorizar o humano em detrimento do desumano. A vida no interior da pensão seria muito mais agradável se as refeições não fossem servidas a toque de sineta e se todos não se fossem deitar mal acaba a emissão de rádio. É a massificação dos gestos que Tati aqui critica, o que irá prosseguir na sua obra futura. De forma muito mais radical em  “O Meu Tio”, “Play Time” ou “Trafic”, onde essa observação crítica se torna muito mais contundente, tendo em conta sobretudo o aspecto de massificação da vida quotidiana nas grandes metrópoles.
Uma das características principais do cinema de Jacques Tati prende-se com o facto de o seu humor ser quase sempre físico, utilizando muito pouco as palavras, mas não descurando de forma alguma o som. A banda sonora de “As Férias do Sr. Hulot” é particularmente cuidada e meticulosa. Mas, por outro lado, o filme tem muito do cinema mudo, vive de uma respiração gestual. Curiosidade a reter: para Tati um filme não está acabado quando se estreia comercialmente. Parece que a versão que se estreou em 1953 era a terceira dada por terminada e depois retocada. Em 1978, Tati volta a pegar no filme, filma uma nova sequência (em homenagem a “Tubarão”, de Spielberg) e introdu-la na nova versão (a sequência de Hulot no caiaque que se dobra e se assemelha a um tubarão). Introduz igualmente variações na banda sonora, música e sons, e na duração do filme, transformando este numa “obra em progressão”, o que seria um conceito “avant la lettre”.


Segundo depoimento de Nicolas Hulot, uma conhecida vedeta do jornalismo televisivo francês, terá sido o seu avô, um arquitecto que projectara o edifício onde habitava Tati, que terá servido de inspiração para o nome da personagem. Tati teria mesmo pedido autorização para utilizar este nome ao arquitecto que, além do nome (muito parecido sonoramente com Charlot), teria uma silhueta física que terá aproximado Tati igualmente da figura criada. Assim terá nascido esta incontornável personagem, alta, desengonçada, vestindo uma gabardine (quando não está em férias de Verão), chapéu e cachimbo. Quase não usando a palavra para estabelecer contacto com os próximos, mostrando-se um autentico desadaptado em relação ao mundo que o rodeia. O que se vai agravando a cada nova obra de Tati.  
O filme teve um orçamento reduzido, muitos apoios de amigos do realizador, e muitas contrariedades durantes as filmagens, nomeadamente com mau tempo, acidentes e questões técnicas. Mas o resultado perdura durante as décadas e ainda hoje é considerado uma das obras-primas de um cineasta genial. “Les Vacances de Monsieur Hulot” foi prémio da crítica no Festival de Cannes, em 1953, Prémio Louis-Delluc, Paris e Prix Femina, Bruxelas, ainda no mesmo ano, Golden Laurel, em Edimburgo, 1955, e considerado o melhor filme visto em Cuba em 1956. Está inscrito na lista das 50 obras que os jovens com menos de 14 anos devem ver, organizada pelo BFI (British Film Institut, 2005).



AS FÉRIAS DO SR. HULOT
Título original: Les Vacances de Monsieur Hulot
Realização: Jacques Tati (França, 1953); Argumento: Pierre Aubert, Jacques Lagrange, Henri Marquet, Jacques Tati; Produção: Fred Orain, Jacques Tati; Música: Alain Romans; Fotografia (p/b): Jacques Mercanton, Jean Mousselle; Montagem: Suzanne Baron, Charles Bretoneiche, Jacques Grassi; Design de produção: Roger Briaucourt, Henri Schmitt; Decoração: Henri Schmitt; Direcção de Produção: Fred Orain; Assistentes de realização: Pierre Aubert; Departamento de arte: Pierre Clauzel, André Pierdel; Som: Jacques Carrère, Roger Cosson, Guy Michel-Ange; Efeitos visuais: Trey Freeman; Companhias de produção: Discina Film, Cady Films, Specta Films; Intérpretes: Jacques Tati (Monsieur Hulot), Louis (Fred), André Dubois (Comandante), Lucien Frégis (dono de Hotel), Raymond Carl (criado), Nathalie Pascaud (Martine), Micheline Rolla (Tia), Valentine Camax (senhora inglesa), Suzy Willy (mulher do comandante), René Lacourt, Marguerite Gérard, Georges Adlin, Michèle Brabo, Édouard Francomme, etc. Duração: 114 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de estreia em Portugal: 22 de Fevereiro de 1954 (Tivoli).


JACQUES TATI
Filmografia:
Como actor e realizador: 1932: Oscar, Champion de Tennis, de Jack Forrester (curta-metragem), com Jacques Tati; 1934: On Demande une Brute (Procura-se Brutamontes), de Charles Barrois (curta-metragem), com Jacques Tati; 1935: Gai Dimanche (Domingo Animado), de Jacques Berr (curta-matragem), com Jacques Tati; 1936: Soigne Ton Gauche (Cuida do Teu Gancho Esquerdo ou Cuida da Tua Esquerda), de René Clément (curta-metragem), com Jacques Tati; 1938: Retour à la Terre (curta-metragem), com Jacques Tati (Tati escreve o argumento, mas desconhece-se o realizador); 1945: Sylvie et le Fântome (Sílvia e o Fantasma), de Claude Antant-Lara (Jacques Tati interpreta o papel de um soldado celebrando o armistício num bar); 1947: L'École des Facteurs (A Escola de Carteiros), de Jacques Tati (curta-metragem), com Jacques Tati; 1949: Jour de Fête (Há Festa na Aldeia), de Jacques Tati; primeira longa-metragem escrita, realizada e interpretada por Jacques Tati; 1953: Les Vacances de M. Hulot, (As Férias do Sr. Hulot); realização, argumento e interpretação de Jacques Tati; 1958: Mon Oncle (O Meu Tio); realização, argumento e interpretação de Jacques Tati; 1967: Play Time (Vida Moderna); realização, argumento e interpretação de Jacques Tati; Cours du soir (Aulas Nocturnas), de Nicolas Ribowski, (curta-metragem), com Jacques Tati; 1971: Trafic (Sim. Sr. Hulot); realização, argumento e interpretação de Jacques Tati; 1972: Obraz uz obraz, talk show na televisão jugoslava, onde Jacques Tati parece num episódio emitido a 22 de Abril de 1972; 1974: Parade (Parade); realização, argumento e interpretação de Jacques Tati.
Como argumentista, surge ainda associado a outras obras: 1975: Mein Onkel Theodor oder Wie man viel Geld im Schlaf verdient, de Gustav Ehmck; 2002: Forza Bastia (Força, Bastia), de Jacques Tati, Sophie Tatischeff; e 2010: L'illusionniste (O Mágico), de Sylvain Chomet (filme de animação).


(sobre obra e vida de Jacques Tati ver nota na folha de “O Meu Tio”).