BEM-VINDO
AO NORTE (2008)
1.
A COMÉDIA NO
CINEMA FRANCÊS
O cinema francês tem uma larga tradição
na comédia, desde os tempos do mudo, onde Max Linder chegou a rivalizar com
alguns dos maiores cómicos norte-americanos. Depois, sempre existiram bons
cómicos e boas comédias ao logo dos tempos, com alguns génios a sobressair. O
caso do genial Jacques Tati, entre os anos 40 e 60, é exemplar. Mas há outros grandes
nomes a reter, desde Fernandel a Louis de Funès, passando por Pierre Etaix,
Darry Cowl, Bourvil, Michel Serrault, Coluche, Philippe Noiret, Michel Galabru,
Jean Lefebvre, Pierre Richards, Josiane Balasko, Michel Blanc, Jean Rochefort,
Jean Dujardin, e tantos outros. Existe ainda uma ilustre lista de realizadores
que deram o seu melhor à comédia, desde os clássicos Sacha Guitry ou Marcel
Pagnol, até nomes e personalidades tão distintas como Alain Jessua, Philippe de
Broca, George Lautner, Edouard Molinaro, Robert Dhéry, Gérard Oury, Francis
Veber, Claude Zidi, entre outros. Nenhum génio, é certo, mas realizadores
competentes e eficazes, que funcionaram muito na base de bons argumentos e bons
intérpretes. Para lá destes realizadores retintamente de comédia, há que
referir certas incursões de grandes cineastas como Luis Buñuel, Alain Resnais,
Éric Rohmer, François Truffaut ou François Ozon, no mesmo campo, com excelentes
resultados.
De resto, e sem querer ser exaustivo,
nos últimos anos existiram algumas boas comédias no cinema francês e muitas
delas com relevante sucesso público. Apenas alguns títulos a terem conta, sem
qualquer ordem entre si, apenas respeitando a memória: “O Fabuloso Destino de
Amélie” (2001) de Jean-Pierre Jeunet; “A Família Bélier” (2014), de Eric
Lartigau; “8 Mulheres” (2002) ou “Dentro de Casa” (2012), ambos de François
Ozon, “Coisas Secretas” (2002), de Jean-Claude Brisseau; “Um Monstro em Paris”
(2011), de Bibo Bergeron; “Pequenas Mentiras Entre Amigos” (2010), de Guillaume
Canet; “A Residência Espanhola” (2002) ou “As Bonecas Russas” (2005), ambos de
Cédric Klapisch; “O Menino Nicolau” (2009), de Laurent Tirard; “A Datilógrafa”
(2012), de Régis Roinsard; “O Jantar de Palermas” (1998), de Francis Veber;
“Professor Lazhar” (2011), de Philippe Falardeau; “Não Incomodar” (2014), de
Patrice Leconte; “Palácio das Necessidades” (2013), de Bertrand Tavernier;
“T4xi” (2007), de Gérard Krawczyk ou “Amigos Improváveis” (2011), de Olivier
Nakache e Eric Toledano. Falamos apenas de filmes estreados depois de 2000, com
uma excepção.
Há mesmo um filme franco português nesta
lista de grandes sucessos: “A Gaiola Dourada” (2013), de Ruben Alves. E,
obviamente, “Bem-vindo ao Norte” (2008), de Dany Boon, o maior sucesso de
público em França (e nalgumas partes do mundo), depois de “A Grande
Paródia”.
2.
BEM-VINDO AO
NORTE
Falando de números: “Bienvenue chez les
Ch'tis” custou cerca de 11 milhões e arrecadou mais de 162 milhões de euros. Um
excelente negócio. Em França, e em estreia, fez 20 489 303 entradas, e, fora de
França, cresceu mais 4 222 202 espectadores só no ano de 2008. Muitas vezes o
sucesso de bilheteira pouco tem a ver com a qualidade da obra. Neste caso, sem
se assumir como uma obra-prima, “Bem-vindo ao Norte” é um trabalho cuidado,
divertido, partindo de uma boa ideia bem desenvolvida, servida por bons
actores, e com alguns momentos de humor saboroso. A ideia é interessante, mas
nada original. Há já muitos filmes a partir de situações semelhantes: o
desajuste entre culturas, o preconceito quanto ao diferente, as ideias feitas
que se revelam nada consistentes. Philippe Abrams (Kad Merad) é director de uma
estação de correios em Salon-de-Provence. Casado com Julie, uma mulher com
alguns problemas, depressiva e desconfiada, tenta encontrar uma solução para
permanecer no Sul e se possível ser enviado para a Côte d’Azur. Para o
conseguir, Philippe faz batota, declara-se inválido, para ter preferência, mas
é descoberto e, em vez de ir para o Sul, como castigo é destacado para Bergues,
uma pequena cidade do Norte.
Irá partir sozinho, bem agasalhado como
se fosse para o Ártico, prevendo terríveis encontros com trogloditas imundos e
bárbaros, que falam uma linguagem que ninguém entende, o “cheutimi”. Para sua
grande surpresa, o frio não é incomodativo, a região bonita, os habitantes
simpáticos, até há gajos porreiros e raparigas bonitas, com os mesmos problemas
de qualquer parisiense ou cidadão da Riviera. Faz amigos como Antoine (Dany
Boon), o carteiro, mas vai mantendo com a mulher e a restante família as
aparências de habitar uma tormenta. Até que um dia Julie comove-se com a
solidão do sacrificado Philippe e resolve ir visitá-lo. Pois, o resto são as
peripécias do costume, desenvolvidas com graça e alguma crítica oportuna.
Dany Boon, tal como o companheiro de
aventura Kad Merad, é um comediante e humorista que vai trabalhando no teatro
com base em sketches que escreve para o palco, mas que alguns são aproveitados para
o cinema. Não se estranha assim que o filme seja uma sucessão de episódios,
pequenas anedotas que uma ténue linha de ficção vai interligando.
“Bienvenue chez les Ch’tis” é o seu
segundo filme de fundo (o primeiro fora “La Maison du Bonheur”, já também um
sucesso considerável de bilheteira) e, sem extasiar o espectador mais exigente,
não deixa de constituir uma agradável surpresa, num domínio onde nem sempre as
novidades são de molde a justificar grandes entusiasmos.
BEM-VINDO
AO NORTE
Título
original: Bienvenue chez les Ch'tis
Realização: Dany Boon
(França, 2008); Argumento: Dany Boon, Alexandre Charlot, Franck Magnier;
Produção: Claude Berri, Eric Hubert, Jérôme Seydoux; Música: Philippe Rombi;
Fotografia (cor): Pierre Aïm; Montagem: Luc Barnier, Julie Delord; Casting:
Elise Leire, Gérard Moulévrier; Design de produção: Alain Veyssier; Direcção
artística: Elise Leire; Decoração: Sébastien Monteux-Halleur, Florence Sadaune;
Maquilhagem: Lucie Deblayé, Juliette Martin; Direcção de Produção: Virginia
Anderson, Gwenael Camuzard, Bruno Morin, Philippe Morlier; Assistentes de
realização: Mélanie Dieter, Nicolas Guy, Sébastien Marziniak, Ana Morales,
Guillaume Morand, Maryam Muradian, Louis-Julien Petit, Elodie Roy, Remi Veron;
Departamento de arte: Daniel Cadet, Benoit Godde, Thierry Gratien, Antonio
Nogueira, Guillaume Watrinet; Som: Lucien Balibar, Franck Desmoulins, Roman
Dymny, Carl Goetgheluck, François Groult, Gréggory Poncelet, Stéphane Vizet;
Efeitos especiais: Noel Chainbaux, Yves Domenjoud; Efeitos visuais: Ludivine
Ducrocq, Audrey Kleinclaus, Marc Latil, Frederic Moreau, Sarah Moreau, Fred
Roz; Companhias de produção: Pathé Renn Productions, Hirsch, Les Productions du
Chicon, TF1 Films Production, Canal+, Centre National de la Cinématographie
(CNC), Centre Régional des Ressources Audiovisuelles (CRRAV) (CRRAV du
Nord-Pas-de-Calais), CinéCinéma, Région Nord-Pas-de-Calais; Intérpretes: Kad Merad (Philippe
Abrams), Dany Boon (Antoine Bailleul), Zoé Félix (Julie Abrams), Lorenzo
Ausilia-Foret (Raphaël Abrams), Anne Marivin (Annabelle Deconninck), Philippe
Duquesne (Fabrice Canoli), Guy Lecluyse (Yann Vandernoout), Line Renaud (a mãe
de Antoine), Michel Galabru, Stéphane Freiss, Patrick Bosso, Jérôme Commandeur,
Alexandre Carrière, Fred Personne, Franck Andrieux, Jean-Christophe Herbeth,
Jean-François Picotin, Jenny Clève, Claude Talpaert, Sylviane Goudal, Yaël
Boon, Christophe Rossignon, Zinedine Soualem, Maryline Delbarre, Guillaume
Morand, Yann Königsberg, Nadège Beausson-Diagne, Jean-François Elberg, Eric
Bleuzé, Bruno Tuchszer, Mickaël Angele, Patrick Cohen, Louisette Douchin, Jean-Marc
Vauthier, Cédric Magyari, Théo Behague, Mathieu Sophys, Laëtitia Maisonhaute,
Suzie Pilloux, e ainda a Harmonie-Batterie Municipale de Bergues; Duração: 106 minutos; Distribuição em
Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de
estreia em Portugal: 18 de Setembro de 2008.
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