segunda-feira, 21 de março de 2016

SESSÃO 11 - 12 DE ABRIL DE 2016



BEM-VINDO AO NORTE (2008)

1.    A COMÉDIA NO CINEMA FRANCÊS
O cinema francês tem uma larga tradição na comédia, desde os tempos do mudo, onde Max Linder chegou a rivalizar com alguns dos maiores cómicos norte-americanos. Depois, sempre existiram bons cómicos e boas comédias ao logo dos tempos, com alguns génios a sobressair. O caso do genial Jacques Tati, entre os anos 40 e 60, é exemplar. Mas há outros grandes nomes a reter, desde Fernandel a Louis de Funès, passando por Pierre Etaix, Darry Cowl, Bourvil, Michel Serrault, Coluche, Philippe Noiret, Michel Galabru, Jean Lefebvre, Pierre Richards, Josiane Balasko, Michel Blanc, Jean Rochefort, Jean Dujardin, e tantos outros. Existe ainda uma ilustre lista de realizadores que deram o seu melhor à comédia, desde os clássicos Sacha Guitry ou Marcel Pagnol, até nomes e personalidades tão distintas como Alain Jessua, Philippe de Broca, George Lautner, Edouard Molinaro, Robert Dhéry, Gérard Oury, Francis Veber, Claude Zidi, entre outros. Nenhum génio, é certo, mas realizadores competentes e eficazes, que funcionaram muito na base de bons argumentos e bons intérpretes. Para lá destes realizadores retintamente de comédia, há que referir certas incursões de grandes cineastas como Luis Buñuel, Alain Resnais, Éric Rohmer, François Truffaut ou François Ozon, no mesmo campo, com excelentes resultados.
De resto, e sem querer ser exaustivo, nos últimos anos existiram algumas boas comédias no cinema francês e muitas delas com relevante sucesso público. Apenas alguns títulos a terem conta, sem qualquer ordem entre si, apenas respeitando a memória: “O Fabuloso Destino de Amélie” (2001) de Jean-Pierre Jeunet; “A Família Bélier” (2014), de Eric Lartigau; “8 Mulheres” (2002) ou “Dentro de Casa” (2012), ambos de François Ozon, “Coisas Secretas” (2002), de Jean-Claude Brisseau; “Um Monstro em Paris” (2011), de Bibo Bergeron; “Pequenas Mentiras Entre Amigos” (2010), de Guillaume Canet; “A Residência Espanhola” (2002) ou “As Bonecas Russas” (2005), ambos de Cédric Klapisch; “O Menino Nicolau” (2009), de Laurent Tirard; “A Datilógrafa” (2012), de Régis Roinsard; “O Jantar de Palermas” (1998), de Francis Veber; “Professor Lazhar” (2011), de Philippe Falardeau; “Não Incomodar” (2014), de Patrice Leconte; “Palácio das Necessidades” (2013), de Bertrand Tavernier; “T4xi” (2007), de Gérard Krawczyk ou “Amigos Improváveis” (2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano. Falamos apenas de filmes estreados depois de 2000, com uma excepção.
Há mesmo um filme franco português nesta lista de grandes sucessos: “A Gaiola Dourada” (2013), de Ruben Alves. E, obviamente, “Bem-vindo ao Norte” (2008), de Dany Boon, o maior sucesso de público em França (e nalgumas partes do mundo), depois de “A Grande Paródia”. 



2.    BEM-VINDO AO NORTE
Falando de números: “Bienvenue chez les Ch'tis” custou cerca de 11 milhões e arrecadou mais de 162 milhões de euros. Um excelente negócio. Em França, e em estreia, fez 20 489 303 entradas, e, fora de França, cresceu mais 4 222 202 espectadores só no ano de 2008. Muitas vezes o sucesso de bilheteira pouco tem a ver com a qualidade da obra. Neste caso, sem se assumir como uma obra-prima, “Bem-vindo ao Norte” é um trabalho cuidado, divertido, partindo de uma boa ideia bem desenvolvida, servida por bons actores, e com alguns momentos de humor saboroso. A ideia é interessante, mas nada original. Há já muitos filmes a partir de situações semelhantes: o desajuste entre culturas, o preconceito quanto ao diferente, as ideias feitas que se revelam nada consistentes. Philippe Abrams (Kad Merad) é director de uma estação de correios em Salon-de-Provence. Casado com Julie, uma mulher com alguns problemas, depressiva e desconfiada, tenta encontrar uma solução para permanecer no Sul e se possível ser enviado para a Côte d’Azur. Para o conseguir, Philippe faz batota, declara-se inválido, para ter preferência, mas é descoberto e, em vez de ir para o Sul, como castigo é destacado para Bergues, uma pequena cidade do Norte.
Irá partir sozinho, bem agasalhado como se fosse para o Ártico, prevendo terríveis encontros com trogloditas imundos e bárbaros, que falam uma linguagem que ninguém entende, o “cheutimi”. Para sua grande surpresa, o frio não é incomodativo, a região bonita, os habitantes simpáticos, até há gajos porreiros e raparigas bonitas, com os mesmos problemas de qualquer parisiense ou cidadão da Riviera. Faz amigos como Antoine (Dany Boon), o carteiro, mas vai mantendo com a mulher e a restante família as aparências de habitar uma tormenta. Até que um dia Julie comove-se com a solidão do sacrificado Philippe e resolve ir visitá-lo. Pois, o resto são as peripécias do costume, desenvolvidas com graça e alguma crítica oportuna.
Dany Boon, tal como o companheiro de aventura Kad Merad, é um comediante e humorista que vai trabalhando no teatro com base em sketches que escreve para o palco, mas que alguns são aproveitados para o cinema. Não se estranha assim que o filme seja uma sucessão de episódios, pequenas anedotas que uma ténue linha de ficção vai interligando.
“Bienvenue chez les Ch’tis” é o seu segundo filme de fundo (o primeiro fora “La Maison du Bonheur”, já também um sucesso considerável de bilheteira) e, sem extasiar o espectador mais exigente, não deixa de constituir uma agradável surpresa, num domínio onde nem sempre as novidades são de molde a justificar grandes entusiasmos.



BEM-VINDO AO NORTE
Título original: Bienvenue chez les Ch'tis

Realização: Dany Boon (França, 2008); Argumento: Dany Boon, Alexandre Charlot, Franck Magnier; Produção: Claude Berri, Eric Hubert, Jérôme Seydoux; Música: Philippe Rombi; Fotografia (cor): Pierre Aïm; Montagem: Luc Barnier, Julie Delord; Casting: Elise Leire, Gérard Moulévrier; Design de produção: Alain Veyssier; Direcção artística: Elise Leire; Decoração: Sébastien Monteux-Halleur, Florence Sadaune; Maquilhagem: Lucie Deblayé, Juliette Martin; Direcção de Produção: Virginia Anderson, Gwenael Camuzard, Bruno Morin, Philippe Morlier; Assistentes de realização: Mélanie Dieter, Nicolas Guy, Sébastien Marziniak, Ana Morales, Guillaume Morand, Maryam Muradian, Louis-Julien Petit, Elodie Roy, Remi Veron; Departamento de arte: Daniel Cadet, Benoit Godde, Thierry Gratien, Antonio Nogueira, Guillaume Watrinet; Som: Lucien Balibar, Franck Desmoulins, Roman Dymny, Carl Goetgheluck, François Groult, Gréggory Poncelet, Stéphane Vizet; Efeitos especiais: Noel Chainbaux, Yves Domenjoud; Efeitos visuais: Ludivine Ducrocq, Audrey Kleinclaus, Marc Latil, Frederic Moreau, Sarah Moreau, Fred Roz; Companhias de produção: Pathé Renn Productions, Hirsch, Les Productions du Chicon, TF1 Films Production, Canal+, Centre National de la Cinématographie (CNC), Centre Régional des Ressources Audiovisuelles (CRRAV) (CRRAV du Nord-Pas-de-Calais), CinéCinéma, Région Nord-Pas-de-Calais; Intérpretes: Kad Merad (Philippe Abrams), Dany Boon (Antoine Bailleul), Zoé Félix (Julie Abrams), Lorenzo Ausilia-Foret (Raphaël Abrams), Anne Marivin (Annabelle Deconninck), Philippe Duquesne (Fabrice Canoli), Guy Lecluyse (Yann Vandernoout), Line Renaud (a mãe de Antoine), Michel Galabru, Stéphane Freiss, Patrick Bosso, Jérôme Commandeur, Alexandre Carrière, Fred Personne, Franck Andrieux, Jean-Christophe Herbeth, Jean-François Picotin, Jenny Clève, Claude Talpaert, Sylviane Goudal, Yaël Boon, Christophe Rossignon, Zinedine Soualem, Maryline Delbarre, Guillaume Morand, Yann Königsberg, Nadège Beausson-Diagne, Jean-François Elberg, Eric Bleuzé, Bruno Tuchszer, Mickaël Angele, Patrick Cohen, Louisette Douchin, Jean-Marc Vauthier, Cédric Magyari, Théo Behague, Mathieu Sophys, Laëtitia Maisonhaute, Suzie Pilloux, e ainda a Harmonie-Batterie Municipale de Bergues; Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimédia; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de estreia em Portugal: 18 de Setembro de 2008.

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