1941: ANO LOUCO EM
HOLLYWOOD (1979)
Com
cerca de 30 anos, Steven Spielberg continua o menino-prodígio de Hollywood,
versão anos 70. Que dizer, aliás, de um jovem que com 20 e poucos anos roda Um
Assassino pelas Costas (Duel), para continuar a carreira com obras como Asfalto
Quente, Tubarão e Encontros Imediatos do Terceiro Grau, antes de se estrear
também na comédia, com 1941 - Ano Louco em Hollywood? Deverá chamar-se «genial» a um autor que toca
tantos campos (o filme de violência, o fantástico, a ficção científica, o
terror, a comédia…) e que o faz com tamanho sentido do espectáculo, e uma tal
demonstração de inteligência, lucidez e sensibilidade?
“1941”
é uma comédia que procura renovar o burlesco, na linha de algumas tentativas
como “O Mundo Maluco”, “A Grandes Corrida à Volta do Mundo”, “Os Alegres
Malucos das Máquinas Voadoras”, entre outros títulos possíveis de citar. A história tem algo a ver com um filme de
Jewison, “Vêm aí os Russos!”, com algumas alterações de data e de inimigo.
Desta feita quem ameaça a paz dos EUA e desencadeia histeria são os nipónicos
comandados por Toshiro Mifune e o seu colaborador nazi, Christopher Lee.
Estamos em Los Angeles-Hollywood; corria, obviamente, o ano 1941. Alguns dias
antes dera-se o massacre de Pearl Harbour. O povo dos Estados Unidos está
particularmente sensível ao avanço dos «amarelos», o que não quer dizer que
Hollywood não continue a produzir e a exibir o «Dumbo» de Walt Disney (que
enternece até às lágrimas o general americano) e a promover grandes concursos
de dança (que por vezes terminam em violentos arraiais de pancadaria, como no
caso vertente Spielberg testemunha com um gosto por um humor destrutivo de uma
agressividade e ritmo nunca vistos em cinema). Mas, no alto da grande roda do
luna-parque dois vigias aí colocados espreitam as possíveis manobras do
inimigo, enquanto o exército coloca tanques e peças anti-aéreas nas quintas dos
arredores («não quero a guerra no meu quintal», grita a dona do terreno
invadido), particularmente bem colocados no caso de um ataque costeiro. Por todo o lado se vê a ameaça «boche», mas
particularmente suspeito é o riso amarelo. Um submarino que se movimenta nas
águas territoriais americanas (e que surge nas imagens iniciais de 1941
parodiando o Tubarão do próprio Spielberg) é seguido com interesse redobrado.
Mas se a histeria é total no campo americano, não é menos autêntica no
submergido mundo nipónico, onde se interroga Hollis Wood (o impagável Slim
Pickens), com base num qui pro quo sonoro.
O
delírio atinge o paroxismo passadas as cenas iniciais que situam a acção e
definem personagens. A loucura progride e a invenção do humor de John Millius
(argumentista) e Spielberg parte à desfilada com o freio nos dentes. Nada
deterá o piloto que manda encher depósitos de aviões nas estações de gasolina
da estrada, nem os condutores de um tanque de guerra ou os sensuais comandantes
(?) de outro avião que evolui nos céus de Hollywood, ao sabor dos espasmos
amorosos dos seus distraídos tripulantes.
O
antimilitarismo agressivo de 1941 é mais do que evidente, sendo extensivo não
só aos frenéticos generais norte-americanos (onde alguns se chamam Mad e «mad»
são), mas também aos japoneses e alemães, todos eles irmanados numa fúria
destrutiva que parece converter em brincadeira sem significado de maior o
futuro dos seus povos e da humanidade. Mas se este sentimento antimilitarista é
evidente, a verdade é que 1941 não procura carregar demasiado as cores da
«mensagem», para se situar no campo da diversão pura, ainda que sempre
inteligente e excelentemente trabalhada, não só no plano narrativo e rítmico,
como no domínio (aqui impressionante) dos cenários, das massas humanas e do seu
exuberante entrecruzar. O que terá custado à Columbia e à Universal a bonita
quantia de 34 milhões de dólares, gastos a erguer um décor monumental (quase
todo o filme é rodado em cenários e estúdio) para o fazer explodir
seguidamente, à força de rajadas de metralhadora e demais fogo-de-artifício. E
não se diga que é fácil dominar os meios postos à disposição de Spielberg, nem
comandar com o rigor de um ballet os milhares de figurantes que perseguem o
inimigo e exorcizam terror à força de desvairados rasgos de histérica loucura.
1941 (ANO LOUCO EM
HOLLYWOOD)
Título original: 1941
Realização: Steven Spielberg
(EUA, 1979); Argumento: Robert Zemeckis, Bob Gale e John Milius; Música: John
Williams; Fotografia (cor): William A. Fraker; Produção: Buzz Feitshans, John
Milius, Michael Kahn e Janet Healy; Montagem: Michael Kahn; Design de produção:
Dean Edward Mitzner; Direcção artística: William F. O´ Brien; Decoração: John Austin e Jim Hasinger;
Guarda-roupa: Deborah Nadoolman; Maquilhagem: Bob Westemoreland; Direcção de
Produção: Chuck Myers e Herb Willis; Assistentes de
realização: Jerry Ziesmer, Steve Perry e Chris Soldo; Som: Gene Cantamesa, Buzz Knudson, Robert
Glass, Don MacDougall e Chris Jenkins; Coreografia: Paul de Rolf e Judy van
Wormer; Efeitos especiais: A.D. Flowers; Efeitos visuais: L.B. Abbott, Larry
Albright, Larry Robinson; Companhias de produção: A-Team Productions para a
Universal e Columbia Pictures; Intérpretes:
Dan Aykroyd (sargento Tree), Ned Beatty (Ward Douglas), John Belushi (Wild Bill
Kelso), Lorraine Gary (Joan Douglas), Murray Hamilton (Claude), Christopher Lee
(capitão con Kleinschmidt), Tim Matheson (capitão Loomis Birkhead), Toshiro
Mifune (comandante Miramura), Warren Oates (coronel Maddox), Robert Stack
(general Joseph W. Stilwell), Treat Williams (Sitarski), Nancy Allen (Donn
Stratton), Lucille Bensen («Gas Mama»), Jordan Brian (Macey), John Candy
(Foley), Elisha Cook (o patrão), Eddie Deezen (Herb), Bobby DiCicco (Wally),
Dianne Kay (betty Douglas), Perry Lang (Dennis), Patti PuPone (Lydia Hedberg),
J. Patrick McNamara (sargento Willard Dubois), Frank McRae (Quincy Jones),
Penny Marshall (Miss Fitzroy), Stephen Mond (Gus Douglas), Slim Pickens (Hollis
Wood), Wendie Jo Sperber (Maxine), Lionel Stander (Angelo Scioli), Dub Taylor
(Sr. Malcomb), Ignatius Wolfington (Meyer Mishkin), Christian Zika (Stevie
Douglas), Sam Fuller (o comandante), Mickey Rourke (Reese), John Landis
(Mizerany), Michael McKean (Willy). Duração: 118 minutos;
Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12
anos; Data de estreia em Portugal: 28 de Março de 1980.
Sem comentários:
Enviar um comentário