domingo, 17 de julho de 2016

SESSÃO 35 - 20 DE JULHO DE 2016


O AEROPLANO (1980)

Esta é, justificadamente, uma das comédias norte-americanas de maior sucesso de sempre. Com um orçamento na ordem dos 3.500.000 dólares, fez receitas que ultrapassaram os 130.000.000, o que é um indicador, mas não diz tudo, ou dirá muito pouco da qualidade do filme. Mas, como principiei por dizer, esta é uma obra que merece bem o êxito que conheceu, e continua a granjear um pouco por toda a parte. Trata-se de um filme que começa por parodiar alguns outros que lhe são obviamente anteriores e que se centravam em voos acidentados que davam por vezes excitantes (outras vezes nem tanto) filmes-catástrofe. Sobretudo a série “Aeroporto” é obviamente visada, com as suas três versões, “Aeroporto 75”, de Jack Smight (1974), “Aeroporto 77”, de Jerry Jameson (1977) e “Aeroporto 80”, de David Lowell Rich (1979), sendo, no entanto, a mais citada uma outra película de 1957, “A Hora Zero”, de Hall Bartlett, com Dana Andrews, Linda Darnell e Sterling Hayden, e que baseava o suspense da sua intriga num voo durante o qual se declarava uma generalizada intoxicação a bordo, com passageiros e tripulantes envenenados por algo que comeram. Em 1980, “Aeroplano” retoma esta estrutura, mas em vez de explorarem o clima dramático, parodiam-no, criando uma sátira a este tipo de filme-catástrofe extremamente bem conseguida, com um argumento inventivo e deliciosamente gozado.
Mas não são só os filmes-catástrofe que são visados. As primeiras imagens de “O Aeroplano” parodiam desde logo “Tubarão”, com a cauda de um avião a atravessar as nuvens, suportado por uma partitura musical que relembra directamente o clássico de Steven Spielberg. Este tipo de referência mantém-se ao longo de todo o voo, ora citando “Febre de Sábado à Noite” (1977), ora “Música no Coração” (1965), ora outros títulos de alusão mais ou menos óbvia. Mas parodiar outros filmes não é, por si só, algo que mereça ser olhado com especial relevância. Neste caso, o que valoriza esse elemento é o aproposito das citações, a forma como elas se integram no conjunto, e o tipo de humor que provocam.


É o voo 209 com partida de Los Angeles e destino a Chicago que está no centro desta obra. Ted Shiker, um taxista, traumatizado com a anterior experiência como piloto de guerra, resolve deixar à porta do aeroporto um cliente à sua espera, enquanto procura demover a sua namorada Elaine, uma hospedeira de bordo, de cortar com a relação. Os seus esforços são extremos, vão ao ponto de comprar um bilhete e fazer a viagem para tentar falar com a namorada e dissuadi-la da ruptura. Elaine, porém. Está inamovível. Mas o pior está para acontecer: os passageiros do voo vão, um a um, sendo vítimas de uma intoxicação alimentar e a viagem tornar-se-ia numa verdadeira tragédia, sobretudo quando todo o pessoal do cockpit cai para o lado, e deixa o avião entregue a um piloto automático que também acabará por se desligar, se não estivessemos perante uma comédia absolutamente delirante, onde os gags se sucedem a um ritmo vertiginoso, com excelentes actores a sustentarem personagens inesquecíveis. Jim Abrahams e os irmãos Jerry Zucker e David Zucker assinam a realização e o argumento desta produção de Jon Davison e Howard W. Koch, onde surge um elenco notável, onde sobressaem os nomes de Robert Hays, Julie Hagerty, o ex-basquetebolista Kareem Abdul-Jabbar, Lloyd Bridges, Leslie Nielsen, Peter Graves, Robert Stack, entre outros. Tanto a partitura musical de Elmer Bernstein como a fotografia de Joseph F. Biroc contribuem para o sucesso final, que foi responsável por uma continuação, “Aeroplano II: A Loucura Continua” (Airplane II: The Sequel, 1982), com um elenco semelhante, mas um novo realizador, Ken Finkleman, e por um conjunto de outras comédias que reuniram o grupo, “Ultra Secreto”, “Ases pelos Ares”, 1 e 2, ou a série televisiva “Aonde é que Pára a Polícia”.  
“O Aeroplano” afirma-se assim como um sólido clássico no domínio da comédia. Na listagem das melhores comédias de sempre, organizada pelo American Film Institute, encontra-se situada em décimo lugar, enquanto numa sondagem organizada pelo britânico Channel 4, foi considerada a segunda melhor comédia de todos os tempos. Vários foram os prémios recolhidos em certames e festivais. Mas o melhor de tudo é a recepção do público, cada vez que o filme é exibido em salas de cinema ou em canais de TV.


O AEROPLANO
Título original: Airplane!

Realização: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker (EUA, 1980); Argumento: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker e ainda (não creditados), Arthur Hailey, John C. Champion, Hall Bartlett, Arthur Hailey; Produção: Jim Abrahams, Jon Davison, Howard W. Koch, Hunt Lowry, David Zucker, Jerry Zucker; Música: Elmer Bernstein; Fotografia (cor): Joseph F. Biroc; Montagem: Patrick Kennedy; Casting: Joel Thurm; Design de produção: Ward Preston; Decoração: Anne D. McCulley; Guarda-roupa: Rosanna Norton; Maquilhagem: Edwin Butterworth, Joan Phillips, Rob Bottin; Direcção de Produção: Maurice Vaccarino, Lindsley Parsons Jr.; Assistentes de realização: Daniel Attias, Kenneth D. Collins, Arne Schmidt; Departamento de arte: Jeff Clark, Wally Graham, Mike Higelmire, Joseph E. Hubbard, Steven M. Levine; Som: David E. Campbell, Bill Henderson, David J. Hudson, Dennis Jones, Tom Overton, John T. Reitz, James Troutman; Efeitos especiais: John Frazier, Chris Walas; Efeitos visuais: Max W. Anderson, Robert Blalack, Chris Casady, Donald Hansard Sr., Bill Hedge, Richard O. Helmer, Peter Kuran, Bruce Logan, Jamie Shourt; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Robert Hays (Ted Striker), Julie Hagerty (Elaine Dickinson), Leslie Nielsen (Dr. Barry Rumack), Peter Graves (Capitão Clarence Oveur), Lloyd Bridges (Steve McCroskey), Robert Stack (Capitão Rex Kramer), Lorna Patterson (Randy, a aeromoça loira), Stephen Stucker (Johnny Henshaw-Jacobs), Frank Ashmore (Victor Basta), Jonathan Banks (Gunderson), Berenson (Paul Carey), Barbara Billingsley (Jive Lady), Lee Bryant (Mrs. Hammen), Nicholas Pryor (Sr. Jim Hammen), Joyce Bulifant (Sra. Davis), Craig Marcy Goldman (Sra. Geline), Barbara Stuart (Sra. Kramer), Ross Harris (Joey Hammen), Jim Abrahams (religioso zelota), James Hong, Norman Alexander Gibbs, Kareem Abdul-Jabbar, Roger Murdock, Al White, David Leisure, Jill Whelan, Ethel Merman, Lee Terri, Howard Jarvis, Otto, etc.  Duração: 88 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais / Paramount; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 19 de Dezembro de 1980.

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