segunda-feira, 14 de novembro de 2016

SESSÃO 55 - 15 DE NOVEMBRO DE 2016



UM AMOR INEVITÁVEL (1989)


Num grupo de amigos, alguém terá dito: “há 1500 comédias românticas e depois há “When Harry Met Sally...”, um pouco como quem diz “há 1500 filmes de guerra românticos e depois há “Casablanca”, o que não deixa de ser curioso, pois “Casablanca” é muito citado em “When Harry Met Sally...”. Claro que há algo de muito subjectivo nesta apreciação. O mesmo se poderia dizer de algumas outras comédias românticas, como por exemplo “há 1500 comédias românticas e depois há “Breakfast at Tiffany's”, mas a frase não deixa de referir um facto curioso em relação a esta obra de Rob Reiner, segundo argumento de Nora Ephron, aqui realizador e argumentista são dois elementos que terão de ser devidamente valorizados. Ao sublinhar deste modo a importância deste filme que fica na recordação de todos quanto o viram, e que justifica sucessivas revisões, proporcionando o mesmo prazer de sempre, o que se está a confirmar é o momento de eleição que este título representa no interior do género das comédias românticas. Que outra coisa é “When Harry Met Sally...” senão mais uma variação ou derivação do tema “boy meet girl”, apaixonam-se e afirmam viver “felizes para sempre?”. Bom, não é assim tão simples. Realmente Harry Burns (Billy Crystal) pede boleia a Sally Albright (Meg Ryan) para irem juntos para Nva Iorque, ma daí não resulta nenhum “coup de foudre”, nenhuma paixão repentina. Muito pelo contrário, pelo caminho ele alicia-a para passarem a noite num motel, e ela acho-o atrevido em demasia. Poderão ser amigos. Ele acha que não. “A amizade entre homens e mulheres não pode existir. A atração sexual impede-o”, esta é a sua teoria. Dir-se-ia que estamos na presença de um conjunto de lugares comuns ligados à vida do casal. Mas os lugares se são comuns é porque existem para muita gente. Que mal terá abordar os lugares comuns? Nenhum se na forem tratados de forma demasiado primária. “Um Amor Inevitável” tem essa característica invulgar: analisa as questões com sensibilidade, humor, delicadeza, sem, todavia, entrar na pieguice, no rodriguinho. O tom é o certo.
Alias o filme inicia-se e desenvolve-se com um verdadeiro achado narrativo. Alguns casais idosos, em tom documental, apresentam-se frente ao ecrã, informando da forma como se conheceram e o seu amor se manteve ao longo dos anos. São figuras que nada têm a ver com a história central, a não ser… quanto ao amor.


Portanto a relação entre Harry Burns e Sally Albright vai conhecendo avanços e recuos, encontros e desencontros, a vida vai-se desenvolvendo noutros aspectos, novos parceiros se conhecem e se desconhecem, o cabelo de Meg Ryan vai conhecendo diferentes etapas, mostrando como os anos a vão transformando, há quem case e se divorcie, e se lamente num estádio repleto, e acompanhe a onda mexicana se
m nenhum interesse especial, apenas como um reflexo condicionado, há quem insista que as mulheres fingem orgasmos com enorme facilidade e o exemplifique à mesa de um restaurante bem lotado de espectadores-auditores  (há mesmo uma senhora de certa idade, numa mesa ao lado, que pergunta ao empregado do restaurante: “O que é que aquela rapariga comeu? Quero o mesmo!”.
Há filmes que têm tudo para dar certo e não dão. Outros acertam na mouche à primeira. “Um Amor Inevitável” é um desses. Um casal simpático, Nova Iorque, um final em grande que vai do Natal ao Ano Novo, diálogos muito bons, inscritos num argumento inteligente e adulto, tratando de uma questão que diz respeito a toda a gente, o amor e as suas derivações, situações muito bem exploradas e desenvolvidas, cenários magníficos, excelentemente selecccionados, uma banda sonora a preceito (com temas magníficos como “Our Love Is Here To Stay”, “Don’t Get Around Much Anymore” e “But Not For Me”, todos interpretadas por Harry Connick Jr., e clássicos como “Let’s Call The Whole Thing Off” - Louis Armstrong e Ella Fitzgerald -, “Have Yourself A Merry Little Christmas” - Bing Crosby - ou “It Had To Be You” - Frank Sinatra), uma direcção de actores discreta e impecável de sobriedade e rigor, com um casal que parece que foi feito um para o outro (sem que o saibam de início, mas a maturidade se encarregará de o confirmar), e tudo o que se possa dizer mais.  
O amor é uma conquista, um combate. Uma conquista e um combate a dois. Inevitável.


UM AMOR INEVITÁVEL
Título original: When Harry Met Sally...

Realização: Rob Reiner (EUA, 1989); Argumento: Nora Ephron; Produção: Nora Ephron, Steve Nicolaides, Rob Reiner, Andrew Scheinman, Jeffrey Stott; Música: Harry Connick Jr., Marc Shaiman, Scott Stambler; Fotografia (cor): Barry Sonnenfeld; Montagem: Robert Leighton; Casting: Janet Hirshenson, Jane Jenkins; Design de produção: Jane Musky; Decoração: George R. Nelson, Sabrina Wright; Guarda-roupa: Gloria Gresham; Maquilhagem: Stephen Abrums, Joseph A. Campayno, Ken Chase, William A. Farley, Barbara Lorenz, Peter Montagna; Direcção de Produção: Mark A. Baker, Steve Nicolaides; Assistentes de realização: Aaron Barsky, Forrest L. Futrell, Lucille OuYang, Michael Waxman; Departamento de arte: Harold Thrasher, Frank Viviano; Som: George Baetz, Charles L. Campbell, Paul Timothy Carden, Larry Carow, Louis L. Edemann, Richard C. Franklin, John Fundus, Chuck Neely, Larry Singer; Companhias de produção: Castle Rock Entertainment, Nelson Entertainment; Intérpretes: Billy Crystal (Harry Burns), Meg Ryan (Sally Albright), Carrie Fisher (Marie), Bruno Kirby (Jess), Steven Ford (Joe), Lisa Jane Persky (Alice), Michelle Nicastro (Amanda), Gretchen Palmer, Robert Alan Beuth, David Burdick, Joe Viviani, Harley Jane Kozak, Joseph Hunt, Kevin Rooney, Franc Luz, Tracy Reiner, Kyle T. Heffner, Kimberley LaMarque, Stacey Katzin, Estelle Reiner, John Arceri, Peter Day, Kuno Sponholz, Connie Sawyer, Charles Dugan, Katherine Squire, Al Christy, Frances Chaney, Bernie Hern, Rose Wright, Aldo Rossi, Dona Hardy, Peter Pan, Jane Chung, Bob Ader, David Giardina, Nicholas Glaeser, Randy James, Johnny Raimondo, Marilyn Spanier, Billy Marshall Thompson, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal: LNK; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 30 de Março de 1990.

Sem comentários:

Enviar um comentário