A REPÚBLICA DOS CUCOS
(1978)
A
“National Lampoon” foi uma revista satírica, com desenhos, fotografias,
cartoons, banda desenhada e textos, que se colocava numa área muito próxima da
popular “Mad”. Foi criada por um grupo de universitários da “Harvard University”,
em 1969, tendo saído o primeiro número em Abril de 1970. Os fundadores foram
Doug Kenney, Henry Beard e Robert Hoffman. Terminou a sua publicação em
Novembro de 1998, depois de publicar 249 edições. Foi uma espécie de versão
contracultura, não diremos underground, da “Harvard Lampoon”. O seu sucesso
tanto de crítica como de público foi de tal forma notório durante a década de
70 que o grupo expandiu a sua actividade para os mais diversos campos, tendo
uma efectiva influência no campo de humor e da comédia na sociedade
norte-americana. O que se reflectiu igualmente na sua acção junto dos poderes
estabelecidos sociedade, do comportamento social e mesmo na esfera política.
Rapidamente o “Nacional Lampoon” se estendeu à radio, ao teatro, ao disco, aos
livros e, obviamente, ao cinema e à televisão. O grupo foi incorporando muitas
contribuições diversas que criaram um clã e um estilo próprio. O melhor período
da revista foi o inicial, entre 1970 e 1975. Depois, durante a década de 80, o
tom desagregou-se e a revista foi vendida e a marca “National Lampoon” foi
utilizada indiscriminadamente, perdendo completamente a qualidade e a
importância que tinham feito dela uma referência.
No cinema foram
vários os títulos: “National Lampoon's Animal House” (1978), “National
Lampoon's Class Reunion” (1982), “National Lampoon's Movie Madness” (1983),
“National Lampoon's Vacation” (1983), “National Lampoon's Joy of Sex” (1984),
“National Lampoon's European Vacation” (1985) e “National Lampoon's Christmas
Vacation” (1989). A
partir deste título, os seguintes pertencem já à editora “J2 Communications”
que nada tem a ver com o espírito inicial e, de certa forma, descaracterizaram
por completo as intenções dos criadores (1).
Realmente
a primeira época do “National Lamppon” foi brilhante na forma como criticava
inteligentemente a sociedade norte-americana, usando processos por vezes
politicamente incorrectos. Um dos seus fundadores explicou da seguinte forma, tempos
mais tarde, a conduta do grupo: “Há uma porta com um dístico, “Não passar”, nós
passávamos”. Houve seguramente, aqui e ali, excessos, mas, de um modo geral, o
tom surrealizante, o absurdo das situações, o humor inventivo, e a irreverência
das propostas acabaram por vingar e tornar o grupo uma lenda. Uma lenda que,
infelizmente, se transformou numa marca registada que qualquer um podia
comprar, a partir de certa altura, para utilizar mediante uma importância
estabelecida.
Em
meados dos anos 70, o grupo começa a desmembrar-se. Responsáveis e colaboradores como P.J. O'Rourke, Gerry Sussman, Ellis
Weiner, Tony Hendra, Ted Mann, Peter Kleinman, Chris Cleuss, Stu Kreisman, John
Weidman, Jeff Greenfield, Bruce McCall, Rick Meyerowitz, Michael O'Donoghue,
Anne Beatts e outros como John Hughes, John Belushi, Gilda Radner, Harold
Ramis, Chris Miller começaram a
dispersar as suas colaborações por outros programas de televisão, “Saturday
Night Live”, “The David Letterman Show”, “SCTV”, “The Simpsons”, “Married...
with Children”, “Night Court”, "Not Ready for Primetime Players" ou
por filmes não directamente ligados ao
National Lampoon, como “Caddyshack” ou “Ghostbusters”.
“National
Lampoon's Animal House”, de 1978, é, pois, a primeira incursão no cinema do
grupo e o filme que marcou uma época. De tal forma que, em 2001, a United
States Library of Congress considerou o filme "culturally
significant", e o incluiu na prestigiada lista do “National Film Registry”
(obras que pelo seu significado cultural importa resguardar para o futuro).
“A
República dos Cucos” é, na verdade, um filme de adolescentes, em particular de
jovens universitários. Estamos nos anos 60, precisamente 1962, na Universidade
Faber, numa dita fraternidade Delta (em Portugal, e em Coimbra, seria
seguramente uma “República), onde vamos assistir a algumas peripécias durante
um ano académico. Os caloiros andam “duplamente vigiados” (algo muito parecido
com as muito portuguesas praxes, talvez menos humilhantes e, sobretudo, menos
violentas), e o momento de êxtase colectivo é a “Festa da Toga”, onde os
excessos ultrapassam as marcas.
O
que tem este filme que muitos outros títulos ditos de adolescentes não
ostentam? Porque será este um filme “culturalmente significante” e “Porky’s” ou
“American Pie” não o são? A verdade é que o humor pode parecer assemelhar-se,
mas é radicalmente diferente. “National Lampoon's Animal House” é um filme
contra um determinado estado de coisas muitas das quais até se julgaria fazerem
parte harmoniosa do contexto do filme. Mas o machismo exacerbado, um certo
resquício de racismo, as orgias, com sexo e drogas à mistura, alguma misoginia,
o enfrentar da autoridade, a ruptura com algumas tradições, tudo isto pode ser
visto por um lado como gags, mas por outro como crítica certeira a um
comportamento inquinado. Todo o humor tem um sentido, aponta a uma crítica e
não explora apenas os instintos mais baixos e primitivos das plateias, como
acontece em muitos outros exemplos.
Depois,
há um magnifico grupo de actores, muitos dos quais se tonaram vedetas de
primeiro plano (casos óbvios de Tom Hulce, John Belushi, Kevin Bacon, Karen
Allen, entre outros). Também o realizador, John Landis, se tornou
posteriormente um nome de referência no campo da comédia, com obras como “O
Dueto da Corda” (1980), “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), “Os Ricos e
os Pobres” (1983), “Pela Noite Dentro” (1985), “Espiões Como Nós” (1985), “Três
Amigos” (1986) ou “Um
Príncipe em Nova Iorque” (1988).
(1) Eis a listagem dos restantes títulos com a chancela
“National Lampoon”: National Lampoon's Loaded Weapon 1 (1993), National
Lampoon's Senior Trip (1995), Vegas Vacation (1997), National Lampoon's Golf
Punks (1998), National Lampoon's Van Wilder (2002), Repli-Kate (2002),
Blackball (2003), National Lampoon Presents: Jake's Booty Call (2003), National
Lampoon, Inc., National Lampoon's Gold Diggers (2003), National Lampoon
Presents Dorm Daze (2003), National Lampoon's Barely Legal (2003), Going the
Distance (2004), The Almost Guys (2004), National Lampoon's Adam & Eve
(2005), National Lampoon Presents: Cattle Call (2006), Electric Apricot: Quest
for Festeroo (2006), National Lampoon's Pucked (2006), National Lampoon's Van
Wilder: The Rise of Taj (2006), The Beach Party at the Threshold of Hell
(2006), National Lampoon's Stoned Age (2007), National Lampoon's Totally Baked:
A Potumentary (2007), National Lampoon's Bag Boy (2007), National Lampoon
Presents: One, Two, Many (2008), National Lampoon Presents: RoboDoc (2009),
Transylmania (2009), National Lampoon Presents: Endless Bummer
(2009),Cheerleaders Must Die! (2010), National Lampoon's Dirty Movie (2010),
Ratko: The Dictator's Son (2010), Frat Chance (2011), The Legend of Awesomest
Maximus (2011), National Lampoon's Snatched (2011), National Lampoon Presents
Surf Party (2013), e Drunk Stoned Brilliant Dead: The Story of the National
Lampoon (2015),tudo isto pondo de parte um considerável número de telefimes e
séries de tv que foram sendo produzidos ao longo dos tempos. Recordando os
produtores: National Lampoon magazine (1970–1998) J2 Communications (1991–2002)
e National Lampoon, Incorporated (2002–até ao presente).
A REPÚBLICA DOS CUCOS
Título original: Animal House
Realização: John Landis
(EUA, 1978); Argumento: Harold Ramis, Douglas Kenney, Chris Miller; Produção:
Ivan Reitman, Matty Simmons; Música: Elmer Bernstein; Fotografia (cor): Charles
Correll; Montagem : George Folsey Jr.; Casting: Michael Chinich, Don Phillips;
Direcção artística: John J. Lloyd; Decoração: Hal Gausman; Guarda-roupa:
Deborah Nadoolman; Maquilhagem: Lynne Brooks, Marilyn Patricia Phillips, Gerald
Soucie, Joy Zapata; Direcção de Produção: Peter Macgregor-Scott; Assistentes de
realização: Clifford C. Coleman, Gary McLarty, Ed Milkovich; Departamento de
arte: Michael Milgrom; Som: William B. Kaplan; Efeitos especiais: Henry Millar;
Companhias de produção: Universal Pictures, Oregon Film Factory, Stage III
Productions; Intérpretes: Tom Hulce
(Larry Kroger), Stephen Furst (Kent Dorfman), Mark Metcalf (Doug Neidermeyer),
Mary Louise Weller (Mandy Pepperidge), Martha Smith (Babs Jansen), James
Daughton (Greg Marmalard), Kevin Bacon (Chip Diller), John Belushi (John
Blutarsky), Karen Allen (Katy), Donald Sutherland (Dave Jennings), James
Widdoes (Robert Hoover), Tim Matheson (Eric Stratton), Peter Riegert (Donald
Schoenstein), Bruce McGill (Daniel Simpson Day), Cesare Danova (Mayor Carmine
DePasto), Joshua Daniel, Douglas Kenney, Chris Miller, Bruce Bonnheim, John
Vernon, Sunny Johnson, Verna Bloom, Sarah Holcomb, Stacy Grooman, Stephen
Bishop, Otis Day, Eliza Roberts, Lisa Baur, Aseneth Jurgenson, Katherine
Denning, Raymone Robinson, Robert Elliott, Reginald Farmer, Jebidiah R. Dumas,
Priscilla Lauris, Rick Eby, John Freeman, Sean McCartin, Helen Vick, Rick
Greenough, etc. Duração: 109 minutos;
Distribuição em Portugal: Universal; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de
estreia em Portugal: 24 de Outubro de 1980.
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