domingo, 6 de novembro de 2016

SESSÃO 54 - 8 DE NOVEMBRO DE 2016


A REPÚBLICA DOS CUCOS (1978)

A “National Lampoon” foi uma revista satírica, com desenhos, fotografias, cartoons, banda desenhada e textos, que se colocava numa área muito próxima da popular “Mad”. Foi criada por um grupo de universitários da “Harvard University”, em 1969, tendo saído o primeiro número em Abril de 1970. Os fundadores foram Doug Kenney, Henry Beard e Robert Hoffman. Terminou a sua publicação em Novembro de 1998, depois de publicar 249 edições. Foi uma espécie de versão contracultura, não diremos underground, da “Harvard Lampoon”. O seu sucesso tanto de crítica como de público foi de tal forma notório durante a década de 70 que o grupo expandiu a sua actividade para os mais diversos campos, tendo uma efectiva influência no campo de humor e da comédia na sociedade norte-americana. O que se reflectiu igualmente na sua acção junto dos poderes estabelecidos sociedade, do comportamento social e mesmo na esfera política. Rapidamente o “Nacional Lampoon” se estendeu à radio, ao teatro, ao disco, aos livros e, obviamente, ao cinema e à televisão. O grupo foi incorporando muitas contribuições diversas que criaram um clã e um estilo próprio. O melhor período da revista foi o inicial, entre 1970 e 1975. Depois, durante a década de 80, o tom desagregou-se e a revista foi vendida e a marca “National Lampoon” foi utilizada indiscriminadamente, perdendo completamente a qualidade e a importância que tinham feito dela uma referência.
No cinema foram vários os títulos: “National Lampoon's Animal House” (1978), “National Lampoon's Class Reunion” (1982), “National Lampoon's Movie Madness” (1983), “National Lampoon's Vacation” (1983), “National Lampoon's Joy of Sex” (1984), “National Lampoon's European Vacation” (1985) e “National Lampoon's Christmas Vacation” (1989). A partir deste título, os seguintes pertencem já à editora “J2 Communications” que nada tem a ver com o espírito inicial e, de certa forma, descaracterizaram por completo as intenções dos criadores (1).

Realmente a primeira época do “National Lamppon” foi brilhante na forma como criticava inteligentemente a sociedade norte-americana, usando processos por vezes politicamente incorrectos. Um dos seus fundadores explicou da seguinte forma, tempos mais tarde, a conduta do grupo: “Há uma porta com um dístico, “Não passar”, nós passávamos”. Houve seguramente, aqui e ali, excessos, mas, de um modo geral, o tom surrealizante, o absurdo das situações, o humor inventivo, e a irreverência das propostas acabaram por vingar e tornar o grupo uma lenda. Uma lenda que, infelizmente, se transformou numa marca registada que qualquer um podia comprar, a partir de certa altura, para utilizar mediante uma importância estabelecida.
Em meados dos anos 70, o grupo começa a desmembrar-se. Responsáveis e colaboradores como P.J. O'Rourke, Gerry Sussman, Ellis Weiner, Tony Hendra, Ted Mann, Peter Kleinman, Chris Cleuss, Stu Kreisman, John Weidman, Jeff Greenfield, Bruce McCall, Rick Meyerowitz, Michael O'Donoghue, Anne Beatts e outros como John Hughes, John Belushi, Gilda Radner, Harold Ramis, Chris Miller  começaram a dispersar as suas colaborações por outros programas de televisão, “Saturday Night Live”, “The David Letterman Show”, “SCTV”, “The Simpsons”, “Married... with Children”, “Night Court”, "Not Ready for Primetime Players" ou por  filmes não directamente ligados ao National Lampoon, como “Caddyshack” ou “Ghostbusters”.
“National Lampoon's Animal House”, de 1978, é, pois, a primeira incursão no cinema do grupo e o filme que marcou uma época. De tal forma que, em 2001, a United States Library of Congress considerou o filme "culturally significant", e o incluiu na prestigiada lista do “National Film Registry” (obras que pelo seu significado cultural importa resguardar para o futuro).


“A República dos Cucos” é, na verdade, um filme de adolescentes, em particular de jovens universitários. Estamos nos anos 60, precisamente 1962, na Universidade Faber, numa dita fraternidade Delta (em Portugal, e em Coimbra, seria seguramente uma “República), onde vamos assistir a algumas peripécias durante um ano académico. Os caloiros andam “duplamente vigiados” (algo muito parecido com as muito portuguesas praxes, talvez menos humilhantes e, sobretudo, menos violentas), e o momento de êxtase colectivo é a “Festa da Toga”, onde os excessos ultrapassam as marcas.
O que tem este filme que muitos outros títulos ditos de adolescentes não ostentam? Porque será este um filme “culturalmente significante” e “Porky’s” ou “American Pie” não o são? A verdade é que o humor pode parecer assemelhar-se, mas é radicalmente diferente. “National Lampoon's Animal House” é um filme contra um determinado estado de coisas muitas das quais até se julgaria fazerem parte harmoniosa do contexto do filme. Mas o machismo exacerbado, um certo resquício de racismo, as orgias, com sexo e drogas à mistura, alguma misoginia, o enfrentar da autoridade, a ruptura com algumas tradições, tudo isto pode ser visto por um lado como gags, mas por outro como crítica certeira a um comportamento inquinado. Todo o humor tem um sentido, aponta a uma crítica e não explora apenas os instintos mais baixos e primitivos das plateias, como acontece em muitos outros exemplos.
Depois, há um magnifico grupo de actores, muitos dos quais se tonaram vedetas de primeiro plano (casos óbvios de Tom Hulce, John Belushi, Kevin Bacon, Karen Allen, entre outros). Também o realizador, John Landis, se tornou posteriormente um nome de referência no campo da comédia, com obras como “O Dueto da Corda” (1980), “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), “Os Ricos e os Pobres” (1983), “Pela Noite Dentro” (1985), “Espiões Como Nós” (1985), “Três Amigos” (1986) ou “Um Príncipe em Nova Iorque” (1988).



(1)   Eis a listagem dos restantes títulos com a chancela “National Lampoon”: National Lampoon's Loaded Weapon 1 (1993), National Lampoon's Senior Trip (1995), Vegas Vacation (1997), National Lampoon's Golf Punks (1998), National Lampoon's Van Wilder (2002), Repli-Kate (2002), Blackball (2003), National Lampoon Presents: Jake's Booty Call (2003), National Lampoon, Inc., National Lampoon's Gold Diggers (2003), National Lampoon Presents Dorm Daze (2003), National Lampoon's Barely Legal (2003), Going the Distance (2004), The Almost Guys (2004), National Lampoon's Adam & Eve (2005), National Lampoon Presents: Cattle Call (2006), Electric Apricot: Quest for Festeroo (2006), National Lampoon's Pucked (2006), National Lampoon's Van Wilder: The Rise of Taj (2006), The Beach Party at the Threshold of Hell (2006), National Lampoon's Stoned Age (2007), National Lampoon's Totally Baked: A Potumentary (2007), National Lampoon's Bag Boy (2007), National Lampoon Presents: One, Two, Many (2008), National Lampoon Presents: RoboDoc (2009), Transylmania (2009), National Lampoon Presents: Endless Bummer (2009),Cheerleaders Must Die! (2010), National Lampoon's Dirty Movie (2010), Ratko: The Dictator's Son (2010), Frat Chance (2011), The Legend of Awesomest Maximus (2011), National Lampoon's Snatched (2011), National Lampoon Presents Surf Party (2013), e Drunk Stoned Brilliant Dead: The Story of the National Lampoon (2015),tudo isto pondo de parte um considerável número de telefimes e séries de tv que foram sendo produzidos ao longo dos tempos. Recordando os produtores: National Lampoon magazine (1970–1998) J2 Communications (1991–2002) e National Lampoon, Incorporated (2002–até ao presente).


A REPÚBLICA DOS CUCOS
Título original: Animal House

Realização: John Landis (EUA, 1978); Argumento: Harold Ramis, Douglas Kenney, Chris Miller; Produção: Ivan Reitman, Matty Simmons; Música: Elmer Bernstein; Fotografia (cor): Charles Correll; Montagem : George Folsey Jr.; Casting: Michael Chinich, Don Phillips; Direcção artística: John J. Lloyd; Decoração: Hal Gausman; Guarda-roupa: Deborah Nadoolman; Maquilhagem: Lynne Brooks, Marilyn Patricia Phillips, Gerald Soucie, Joy Zapata; Direcção de Produção: Peter Macgregor-Scott; Assistentes de realização: Clifford C. Coleman, Gary McLarty, Ed Milkovich; Departamento de arte: Michael Milgrom; Som: William B. Kaplan; Efeitos especiais: Henry Millar; Companhias de produção: Universal Pictures, Oregon Film Factory, Stage III Productions; Intérpretes: Tom Hulce (Larry Kroger), Stephen Furst (Kent Dorfman), Mark Metcalf (Doug Neidermeyer), Mary Louise Weller (Mandy Pepperidge), Martha Smith (Babs Jansen), James Daughton (Greg Marmalard), Kevin Bacon (Chip Diller), John Belushi (John Blutarsky), Karen Allen (Katy), Donald Sutherland (Dave Jennings), James Widdoes (Robert Hoover), Tim Matheson (Eric Stratton), Peter Riegert (Donald Schoenstein), Bruce McGill (Daniel Simpson Day), Cesare Danova (Mayor Carmine DePasto), Joshua Daniel, Douglas Kenney, Chris Miller, Bruce Bonnheim, John Vernon, Sunny Johnson, Verna Bloom, Sarah Holcomb, Stacy Grooman, Stephen Bishop, Otis Day, Eliza Roberts, Lisa Baur, Aseneth Jurgenson, Katherine Denning, Raymone Robinson, Robert Elliott, Reginald Farmer, Jebidiah R. Dumas, Priscilla Lauris, Rick Eby, John Freeman, Sean McCartin, Helen Vick, Rick Greenough, etc. Duração: 109 minutos; Distribuição em Portugal: Universal; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 24 de Outubro de 1980.

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