segunda-feira, 21 de novembro de 2016

SESSÃO 56 - 22 DE NOVEMBRO DE 2016


UMA FAMÍLIA À BEIRA 
DE UM ATAQUE DE NERVOS (2006)

Um tipo como Richard Hoover (Greg Kinnear), por muita boa vontade que ele tenha e nós para com ele, é sempre um elemento particularmente desagradável. O formador de intrépidos vencedores, de triunfantes empreendedores, motivando toda a gente que encontra para o sucesso, só pode estar destinado ao fracasso. Ele começa por afiançar: “There are two kinds of people in this world, winners and losers”. O que ele desconhece ainda é que, por vezes, os que se julgam triunfantes acabam perdedores. A começar desde logo pela sua família, um curioso agregado com algo de disfuncional: a mulher, Sheryl Hoover (Toni Collette), que vai tentando equilibrar o caos e atenuar a loucura reinante, os dois filhos, Dwayne (Paul Dano), que admira Nietzsche, quer ser piloto, se recusa a falar e vive ensimesmado, e Olive Hoover (Abigail Breslin), uma miudinha de sete anos que sonha concorrer a “Little Miss Sunshine”, um concurso de beleza para crianças talentosas de poucos anos e famílias de pouco juízo. Mas há ainda um tio, Frank Ginsberg (Steve Carell), um grande especialista, “o maior”, em Proust, acabado de sair do hospital e de uma depressão que o levou a uma tentativa de suicido, e o avô, Edwin Hoover (Alan Arkin), expulso de um lar por falta de pudor, drogas, revistas pornográficas e linguagem desbragada, personagens obviamente um pouco exóticas que compõem o ramalhete deste “road movie” de concepção “indie”, lançado inicialmente no Festival Sundance de Cinema de 2006, com enorme sucesso.
Os seus direitos foram vendidos para a Fox Searchlight Pictures num dos contratos mais caros da história do festival, tendo de imediato feito uma excelente carreira nos EUA e em todo o mundo, arrecadando uma impressionante quantidade de prémios em todo o mundo (é incrível a listagem que o IMDB apresenta de prémios ganhos por esta comédia) entre as quatro nomeações para Oscars, vencendo em duas delas (Melhor Argumento original e Melhor Actor Secundário, Alan Arkin). Esteve ainda nomeado para Melhor Filme do Ano e Melhor Actriz Secundária, a estreante Abigail Breslin.
“Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos” foi dirigido por um casal de realizadores estreantes na longa-metragem de ficção, Jonathan Dayton e Valerie Faris, e escrito por Michael Arndt. Jonathan Dayton e Valerie Faris tinham atrás de si uma longa história em vídeos, curtas-metragens, documentarismo e episódios para televisão. Depois de “Little Miss Sunshine” conhece-se apenas uma outra comédia, igualmente bem recebida, “Ruby Sparks - Uma Mulher de Sonho” (1912) e anunciam-se dois projectos em fase de concretização, “I'm Proud of You” e “Battle of the Sexes”.


Rodado entre o Arizona e o sul da Califórnia, durante cerca de 30 dias, com um reduzido orçamente do cerca de oito milhões de dólares, o filme arrecadaria verbas astronómicas nos EUA e um pouco por todo o lado. Na semana de estreia, foi lançado nos EUA, em Junho de 2006, apenas em sete salas, e fez 370.782 dólares. O que obrigou a exploração do filme a alargar o numero de salas até atingir uma receita de 9,.626.,655, em Setembro do mesmo ano, em 1.602 ecrãs. Sem dúvida uma revelação e um fenómeno raramente verificado.
Mas a obra faz jus ao sucesso, dado tratar-se de uma comédia que parte de um argumento muito bem concebido, desenvolvido, equilibrando com argúcia a crítica social a certos aspectos da vida americana, com um tom de humor que alterna a insolência contracultura com a delicada ironia de uma família em palpos de aranha para se equilibrar. A realização é sóbria, mas explora bem as linhas de humor, sem perder o rigor da escrita e conseguindo um excelente nível de representação de um elenco magnífico, onde será injusto salientar um nome. A obra evolui á medida que a carrinha da família atravessa a América, do Arizona até à Califórnia, para que a pequena Olive Hoover possa apresentar-se a concurso nesse inimaginável “Little Miss Sunshine”, uma coisa monstruosa que nem devia ser permitida, que o filme destrói por completo, com a ajuda dessa interpretação exótica de Olive Hoover.
Mas os momentos de um delicioso humor sucedem-se nessa trepidante viagem que, por vezes, terá de ser “arrancada” com o esforço de todos a empurrarem a carripana que, aqui e ali, empena, e obriga os ocupantes a saltarem para o seu interior quando já em andamento. Andamento é o que não se perde neste filme com excelente ritmo, que vai buscar obviamente alguma influência a Frank Capra, sobretudo na pertinente crítica social a um certo “americain way of life” e á sua desmedida competitividade, mas também a Ernest Lubitsch, Preston Sturges, George Cukor, Howard Hawks e outros cineastas da melhor época do cinema norte-americano, que celebraram uma comédia de costumes elegante e sofisticada e ainda assim contundente..



UMA FAMÍLIA À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
Título original: Little Miss Sunshine
Realização: Jonathan Dayton, Valerie Faris (EUA, 2006); Argumento: Michael Arndt; Produção: Albert Berger, Michael Beugg, Jeb Brody, David T. Friendly, Bart Lipton, Peter Saraf, Marc Turtletaub, Ron Yerxa; Música: Mychael Danna, DeVotchKa; Fotografia (cor): Tim Suhrstedt; Montagem: Pamela Martin; Casting: Justine Baddeley, Kim Davis-Wagner; Design de produção: Kalina Ivanov; Direcção artística: Alan E. Muraoka; Decoração: Melissa M. Levander; Guarda-roupa: Nancy Steiner; Maquilhagem: Susan Carol Schwary, Janis Clark, Dugg Kirkpatrick, Amy Lederman, Angel Radefeld, Torsten Witte; Direcção de Produção: Michael Bergyl, Bob Dohrmann, Michael Toji; Assistentes de realização: Thomas Patrick Smith, Heather Anderson, Kate Greenberg, Joe May, Gregory J. Smith, Thomas Robinson Harper, Bart Lipton; Departamento de arte: Tony Bonaventura, Theresa Greene, Michael Klingerman; Som: Andrew DeCristofaro, Craig Dollinger, Stephen P. Robinson; Efeitos especiais: Ian Eyre; Efeitos visuais: Adam Avitabile, Joshua D. Comen, Jenny Foster; Companhias de produção: Fox Searchlight Pictures, Big Beach Films, Bona Fide Productions, Deep River Productions, Third Gear Productions; Intérpretes: Abigail Breslin (Olive Hoover), Greg Kinnear (Richard Hoover), Paul Dano (Dwayne), Alan Arkin (avô Edwin Hoover), Toni Collette (Sheryl Hoover), Steve Carell (Frank Ginsberg), Marc Turtletaub (médico), Jill Talley (Cindy), Brenda Canela, Julio Oscar Mechoso, Chuck Loring, Justin Shilton, Gordon Thomson, Steven Christopher Parker, Bryan Cranston, John Walcutt, Paula Newsome, Dean Norris, Beth Grant, Wallace Langham, Lauren Shiohama, Mary Lynn .Rajskub, Jerry Giles, Geoff Meed, Matt Winston, Joan Scheckel, Casandra Ashe, Mel Rodriguez, Alexandria Alaman, etc. Duração: 101 minutos; Distribuição em Portugal: Twenty Century Fox Home Entertainment; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 12 de Outubro de 2006.


Sem comentários:

Enviar um comentário