domingo, 30 de outubro de 2016

SESSÃO 53 - 1 DE NOVEMBRO DE 2016


O CLUBE (1985)

Os filmes de adolescentes, quer sejam em tom de paródia, quer em drama, ou mesmo nos terrenos do terror, são cada vez em maior número, tanto mais que cada vez mais são os adolescentes a assegurar as receitas nas salas de cinema. É verdade que os títulos que lhes prendem mais facilmente a atenção são os blockbusters em alta velocidade ou com heróis da Marvel, ou equivalentes, o que tem afastado compreensivelmente o público mais exigente das salas e a reservar a estas audiências de maior idade e rigor as salas de estar, frente aos écrans de televisão, onde se sucedem séries e teledramáticos muito mais interessantes.
É sobretudo desde os anos 70 que as comédias sobre teenagers e estudantes em férias ou algo parecido têm invariavelmente descaído de qualidade e de interesse na discussão dos problemas dessa faixa etária. Filmes como “Gelado de Limão”, “Porky’s”, “American Pie”, e sucedâneos levaram seguramente a que em 2001 surgisse um título curioso, mas que não infletia as propostas: “Oh, não, Outro Filme de Adolescentes” (Not Another Teen Movie). E nem obras com alguma originalidade, como “Doidos por Mary” (There is Something About Mary, 1998) conseguiam furtar-se a cenas de um evidente mau gosto, de uma escatologia vergonhosa ou de um voyeurismo sexual desajustado. Tudo vale para vender gato por lebre a essas plateias deseducadas, estética e culturalmente. O que interessa é facturar nas bilheiteiras, sem olhar a meios. O resultado deste fenómeno que se estende do cinema à televisão (e que que maneiras!) e às redes sociais está à vista de todos. Os jovens estão a ser sacrificados no altar do lucro fácil, sem que ninguém faça nada por o impedir.
Claro que há excepções e é isso mesmo que aqui nos traz. Por exemplo “Conta Comigo” (Stand by Me), de Rob Reiner (1986) é um excelente exemplo de filme de adolescentes, como também o é “Verão de 42” (Summer of ‘42), de Robert Mulligan (1971). Ou quase toda a filmografia de John Hughes que, desde finais da década de 70 até 2009 (ano da sua morte precoce), nos deu argumentos e realizações quase sempre empenhadas numa aproximação séria e apaixonada do mundo da adolescência, dos seus problemas e ambições, das frustrações e angústias, das alegrias e promessas.
“O Clube”, de 1985, é talvez o melhor exemplo (como escritor e realizador), mas toda a sua filmografia merece destaque pela seriedade como constroi a comédia. A sua série de comédias sobre adolescentes inicia-se em 1984, com “16 Primaveras” (Sixteen Candles), a que se seguem “O Clube” (The Breakfast Club), e ainda “Que Loucura de Mulher” (Weird Science, 1985) e “O Rei dos Gazeteiros” (Ferris Bueller's Day Off. 1986). Depois a sua carreira continua com comédias de um outro tipo, mas sempre com méritos acima da média: “Antes Só que Mal Acompanhado” (Planes, Trains and Automobiles. 1987), “A Vida não Pode Esperar” (She's Having a Baby, 1987), “O Meu Tio Solteiro” (Uncle Buck. 1988) e “A Pequena Endiabrada” (Curly Sue,1991). Falamos da carreira de Hughes como realizador mas, enquanto argumentista (assinou todos os argumentos das obras que dirigiu), escreveu muitas histórias para outros autores, nomeadamente “Sozinho em Casa”.


“O Clube” é um filme que trata os adolescentes de forma adulta, sem se referir a eles como idiotas apenas preocupados com sexo e drogas, violência e rebeldia. Estes adolescentes não são os grosseirões e mentecaptos do costume. Curiosamente todos estes temas estão presentes neste título, mas não da forma especulativa que a grande maioria dos filmes sobre o mesmo assunto o fazem. Aqui os temas são tratados com dignidade e complexidade, sem que, apesar disso, deixe de existir um tom de comédia, ainda que seja de admitir que se trata mais do tom de uma comédia dramática.
Cinco adolescentes são reunidos numa escola durante um fim-de-semana. Por uma razão ou por outra “portaram-se mal” durante a semana anterior e a escola, o equivalente a uma escola de ensino segundário em Portugal, reune-os para os obrigar a reflectir sobre o seu comportamento. Os pais vão conduzi-los à escola na manhã de sábado e irão recolhê-los no final do tempo de reclusão. Nesse intervalo, eles vão ser conduzidos a uma sala de aulas, onde ficarão sob vigilância de um professor, mas entregues a si próprios. Obviamente que de início de revoltam, cada um traz os estigmas da sua educação, a relação com os pais está longe de ser a melhor, mostram-se de início resistentes e hostis, lentamente vão amolecendo, falando, abrindo-se uns aos outros até atingirem um outro grau de sociabilidade. Problemas resolvidos? Nada disso. Apenas enfrentadas algumas situações e entrevsitas algumas soluções.
O filme vive de um argumento inteligente e sensível, impõe personagens verídicas na sua humanidade, afastando-se das caricaturas tradicionais e dos estereótipos abusivos, nas suas angústias e esperanças (que são poucas, diga-se) e apresenta uma galeria de tipos dificilmente esquecíveis, tal a força da sua presença, o que muito se deve ao grupo de actores reunido. Todos eles se tornaram profissionais, uns com maior destaque do que outros, mas cremos que “O Clube” continuará a ser para quase todos o momento supremo das suas carreiras. Um belo filme, uma comédia discreta e intimista que merece ser recordada e que perdura na memória de quem a viu.


O CLUBE
Título original: The Breakfast Club

Realização: John Hughes (EUA, 1985), Argumento: John Hughes; Produção: Gil Friesen, John Hughes, Michelle Manning, Andrew Meyer, Ned Tanen; Música: Keith Forsey; Fotografia (cor): Thomas Del Ruth; Montagem: Dede Allen; Casting. Jackie Burch; Design de produção: John W. Corso; Decoração: Jennifer Polito; Guarda-roupa: Marilyn Vance; maquilhagem: Ron Walters, Linle White; Direcção de Produção: John C. Chulay, Adam Fields, Richard Hashimoto; Assistentes de realização: Robert P. Cohen, James Giovannetti Jr.; Departamento de arte: Jack M. Marino, Paul Stanwyck, Ted Wilson;  Som: James R. Alexander, Charles L. Campbell, Larry Carow, Richard C. Franklin, Robert L. Hoyt, Nicholas Vincent Korda, Daniel J. Leahy, Jerry Stanford, John J. Stephens;  Efeitos especiais: William H. Schirmer; Companhias de produção: A&M Films, Channel Productions, Universal Pictures; Intérpretes: Emilio Estevez (Andrew Clark), Paul Gleason (Richard Vernon), Anthony Michael Hall (Brian Johnson), John Kapelos (Carl), Judd Nelson (John Bender), Molly Ringwald (Claire Standish), Ally Sheedy (Allison Reynolds), Perry Crawford (pai de Allison), Mary Christian (irmã de Brian), Ron Dean (pai de Andy), Tim Gamble (pai de Claire), Fran Gargano(mae de Allison, Mercedes Hall (mae de Brian), John Hughes (pai de Brian), etc. Duração: 97 minutos; Distribuição em Portugal: Universal; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 5 de Setembro de 1985.

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