domingo, 2 de outubro de 2016

SESSÃO 49 - 4 DE OUTUBRO DE 2016


UM PEIXE CHAMADO WANDA (1988)

Interpretado, escrito e realizado por John Cleese, um dos principais membros do inspirado e irreverente grupo “Monty Python”, “Um Peixe Chamado Wanda” conta ainda no argumento e na realização com a colaboração de um veterano do cinema inglês, Charles Crichton, autor, entre outros, de “Roubei Um Milhão” (The Lavender Hill Mob, 1951), um dos grandes clássicos da comédia da época dos Ealing Studios.
Com estes pergaminhos atrás “Um Peixe Chamado Wanda” afirma-se como uma das mais bem conseguidas comédias de finais do século XX saídas dos estúdios do Reino Unido. Em termos económicos conseguiu um feito memorável, recolhendo de receitas mais de 200 milhões de dólares na sua viagem pelos écrans mundiais. Para um filme que custou 7,5 milhões não se pode dizer que tenha sido um mau negócio. Mas, para lá destes resultados, a verdade é que o filme não só foi de inteiro agrado das grandes plateias como ainda por cima justificou os maiores encómios da parte da crítica especializada. Esta paródia ao filme de acção de mistura com a comédia de bulevard com um toque sentimental e uns pozinhos de erotismo qb acaba por satisfez ao mais exigentes em matéria de comédia, numa altura em que, infelizmente, eram mais os exemplos de perfeitas nulidades repletas de ordinarices primárias do que obras com apelos directos à inteligência, à sensibilidade, ao sentido crítico e à criatividade do próprio espectador.
George Thomason (Tom Georgeson), juntamente com três cúmplices, ensaia um grande roubo de joias. Os acólitos são o seu braço direito, também inglês, Ken Pile (Michael Palin), um grande amigo dos animais e possuidor de um aquário que é a menina dos seus olhos, onde nada um peixe chamado wanda, e dois americanos, a sensual e traiçoeira Wanda Gershwitz (Jamie Lee Curtis) e um antigo agente da CIA, Otto West (Kevin Kline), um idiota convencido que é intelectual porque leu Nietzsche, mas que detesta que lhe chamem estupido. O que acontece com frequência. Até lhe dizerem que é tão estúpido que julga que “The London Underground é um movimento político”.

Todos idealizam um roubo perfeito, não fora uma velhinha que passava ter identificado George, e os companheiros de assalto o terem denunciado à policia que o prende. Depois é cada um por si, a queres ficar com o produto do roubo sem que os outros o percebam. Pelo meio a chave que abre o cofre onde se encontram as joias vai para ao aquário e Otto num momento de tortura psicológica único, vai comento os peixes de Ken Pile até este lhe indicar o local onde se esconde a chave. Até aqui não apareceu John Cleese, mas não nos esquecemos do protagonista. Ele é o emproado e convencido advogado Archibald Leach, que Wanda Gershwitz seduz para conseguir alguns segredos. Posto isto tudo continuaria a rolar desde que Otto, que não é estupido, e também não é irmão de Wanda como faz supor, mas sim seu amante, se deixasse de ciumeiras estupidas quando descobre a sua escaldante amada nos braços do advogado procurando extrair informações de uma forma muito ousada.
A ganância é desde sempre um dos temas mais constantes da comédia. Em todas as formas de narrativa. No romance e no teatro (não esquecer Molière!). Aqui volta a funcionar em pleno. É a cobiça e a total falta de cumplicidade ou solidariedade que tramam este grupo de assaltantes. O filme consegue um excelente ritmo de situações divertidas que se sucedem (de tal forma que, durante uma projecção na Dinamarca, um espectador sucumbiu de tanto rir) sendo de sublinhar o trabalho dos actores, todos eles magníficos, com especial incidência no caso de Kevin Kline que ganhou o Oscar de Melhor Ator Secundário (O filme conquistou ainda mais duas nomeações, para a realização e o argumento). Para lá de John Cleese, também Michael Palin faz parte do grupo Monty Python. Como curiosidades fiansi, diga-se que a personagem interpretada por John Cleese se chama Archie Leach para homenagear o actor americano Cary Grant, cujo nome de baptismo era esse, e que a filha de Archie Leach, Portia, é interpretada pela verdadeira filha de John Cleese, Cynthia Cleese, que aparece creditada como Cynthia Caylor.


UM PEIXE CHAMADO WANDA
Título original: A Fish Called Wanda

Realização: Charles Crichton, John Cleese (este não creditado) (Inglaterra, EUA,1988); Argumento: John Cleese, Charles Crichton; Produção: Steve Abbott, John Cleese, John Comfort, Michael Shamberg; Música: John Du Prez; Fotografia (cor): Alan Hume; Montagem: John Jympson; Casting: Priscilla John; Design de produção: Roger Murray-Leach; Direcção artística: John Wood; Decoração: Stephenie McMillan; Guarda-roupa: Hazel Pethig; Maquilhagem: Lynda Armstrong, Paul Engelen, Barry Richardson; Assistentes de realização: Jonathan Benson, Melvin Lind, David Skynner; Departamento de arte: Leon Apsey, Bruce Bigg, Roy Evans, Brian Read, Alfie Smith; Som: Jonathan Bates, Gerry Humphreys, Chris Munro, Andrew Sissons, Colin Wood; Efeitos especiais: George Gibbs; Efeitos visuais: Alan Church, Simon Margetts; Companhias de produção: Metro-Goldwyn-Mayer, Prominent Features, Star Partners Limited;  Intérpretes: John Cleese (Archie Leach), Jamie Lee Curtis (Wanda Gershwitz), Kevin Kline (Otto), Michael Palin (Ken Pile), Maria Aitken (Wendy), Tom Georgeson (Georges Thomason), Patricia  (Mrs. Coady), Geoffrey Palmer (Juiz), Cynthia Cleese (Portia), Mark Elwes, Neville Phillips, Peter Jonfield, Ken Campbell, Al Ashton, Roger Hume, Roger Brierley, Llewellyn Rees, Michael Percival, Kate Lansbury, Robert Ian Mackenzie, Andrew MacLachlan, Roland MacLeod, Jeremy Child, Pamela Miles, Tom Pigott Smith, Katherine John, Sophie Johnstone, Kim Barclay, Sharon Twomey, Patrick Newman, David Simeon, Imogen Bickford-Smith, Tia Lee, Stephen Fry, etc. Duração: 108 minutos; Distribuição em Portugal: MGM; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 3 de Fevereiro de 1989. 

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