O HOMEM DAS CALÇAS PARDAS (1950)
“Ruggles of
Red Gap”, como já se falou aquando da nossa conversa sobre a versão de 1935,
dirigida por Leo McCarey com o fabuloso Charles Laughton, parte de um romance
de Harry Leon Wilson, que conheceu grande sucesso por ocasião do seu
lançamento, em 1915. No mesmo ano, subiu a cena numa adaptação teatral, em
musical, com escrita da responsabilidade de Harrison Rhoades, poemas de Harold
Atteridge e música de Sigmund Romberg. Estreada no Fulton Theater, precisamente
no dia 25 de Dezembro, data festiva que se conciliava bem com o tom geral da
obra. Conheceu 33 representações. Digamos que cumpriu a época de Natal e Ano
Novo.
Também em
cinema surgiram versões anteriores a essa, assinada por Leo McCarey, e uma
posterior, ainda de boa qualidade, interpretada pelo popular Bob Hope, rodada
em 1950, com o título “O Homem das Calças Pardas” (Fancy Pants), com direcção
de George Marshall, contando igualmente no elenco com Lucille Ball e Bruce
Cabot.
A versão de
Bob Hope é muito diferente da de Charles Laughton. São actores de escolas
diferentes, com características muito diversas. Bob Hope era um actor que se
especializara num tipo de humor que tinha muito a ver com o entertainer. Muita
da sua actividade passou-se entre shows de teatro, hotéis, rádio, televisão,
vaudeville e obviamente no cinema. Foi o apresentador de maior longevidade a
apresentar a cerimónia dos Oscars (creio que durante dezoito edições, o que é
obra!).
Leslie
Townes Hope nasceu em Eltham, Reino Unido, a 29 de Maio de 1903, e viria a
falecer, com 100 anos de idade, em Toluca Lake, Califórnia, a 27 de Julho de
2003. Filho de um canteiro de Weston-super-Mare e de uma cantora de
opereta, Bob Hope tinha seis irmãos, viveu em Weston-super-Mare, em Whitehall e
em St. George em Bristol, antes de a família se mudar para Cleveland, no Ohio,
EUA, em 1907. Hope assumiu a cidadania norte-americana quando completou 17
anos. Foi boxeur, imagine-se!, com o nome de Packy Easte e parece que não teve grande sucesso.
Participou em concursos a imitar Charles Chaplin, sendo notado por um
comediante da época, Fatty Arbuckle, que o empregou a partir de 1925. Forma
depois um grupo a que chamou "The Dancemedians", juntamente com as
irmãs Hilton. Trabalha alguns anos no vaudeville e regressa a Nova Iorque e à
Broadway, em musicais onde a crítica destaca o seu trabalho. Em meados da
década de 30, vamos encontrá-lo em Hollywood, ingressa na Warner Brothers,
primeiro em pequenos papéis, depois ganhando cada vez maior destaque.
Em
1938, em "The Big Broadcast of 1938", aparece a cantar "Thanks
for the Memory", que se transforma num hit e que se torna um símbolo para
Bob Hope. O actor e cantor assemelha-se progressivamente a uma lenda viva da
América, incorporando alguns dos seus valores. Filmes como “Road to Singapore”,
“Road to Zanzibar”, “Nothing But the Truth”, “My Favorite Blonde”, Road to
Morocco”, “Star spangled rhythm”, “The Princess and the Pirate”, “Road to
Utopia”, “My Favorite Brunette”, “Variety Girl”, “Road to Rio”, “The Paleface”
ou “The Great Lover” ocuparam os anos 40, transformando-o num herói nacional
que frequentou a Casa Branca durante a presidência de vários ocupantes
(especialmente republicanos).
A sua popularidade prosseguiu até aos anos
70, com outras comédias de sucesso: “Fancy Pants”, “My Favorite Spy”, “The Greatest Show on Earth”, “Son of
Paleface”, “Road to Bali”, “Scared Stiff”, “Casanova's Big Night”, “Beau
James”, “The Five Pennies”, “Bachelor in Paradise” ou “The Road to Hong Kong”. A série “Road to…” foi das mais célebres do cinema norte-americano por
essas décadas. Trabalhou muito com Bing Crosby, e actrizes como Dorothy Lamour,
Lucille Ball, Jane Russell, Joan Collins ou Katharine Hepburn. Depois, foi a
televisão que o ocupou durante décadas. “Porque não abandonou o trabalhou e se
dedicou à pesca?”, perguntaram-lhe um dia, quando ele já merecia uma reforma
dourada. Ele respondeu “Porque os peixes não costumam rir”.
Nunca ganhou
um Oscar relativo a um filme (o que justificou várias piadas suas durante as
cerimónias de entrega das estatuetas), mas a Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas de Hollywood honrou-o com diversos prémios, desde 1941 até
1966. A sua contribuição para o esforço da guerra, durante o período de
1941-1954, levou-o a vários espectáculos de apoio aos militares na frente do
conflito.
“Fancy Pants”
é um dos títulos representativos do seu período áureo no cinema. Na versão da
peça e no filme de Norma McLeod, o mordomo era um lídimo mordomo inglês que era
enviado a contragosto para o Oeste norte-americano. Na versão de Bob Hope o
mordomo é um actor que interpreta o papel de mordomo numa peça e que é
convencido a ir para o Oeste desempenhar o mesmo papel mas não no teatro, na
vida real. Obviamente que os equívocos e as trapalhadas não se fazem esperar,
mas, como quase sempre nestes casos, o aldrabão do comediante é um aprendiz ao
lado de outros vigaristas que ele acabará por ajudar a destapar a careca. O
filme foi concebido à medida do talento e das qualidades de Bob Hope, desenrola
uma sucessão curiosa de sequências bem imaginadas que desencadeiam vagas de um
humor inventivo e bem coordenado. Há algumas cenas de perseguições,
nomeadamente numa caçada, que resistem bem à passagem do tempo e mostram como
se mantém actual este tipo de comédia de situações, com o seu quê de crítica
social.
O HOMEM DAS CALÇAS PARDAS
Título original: Fancy Pants
Realização: George Marshall (EUA,
1950); Argumento: Edmund L. Hartmann, Robert O'Brien, com contributos de
Richard L. Breen, Monte Brice, Frank Butler, Barney Dean, Irving Elinson,
Richard English, Richard Flournoy, Segundo história de Harry Leon; Produção:
Robert L. Welch; Música: Van Cleave; Fotografia (cor): Charles Lang; Montagem:
Archie Marshek; Direcção artística: Hans Dreier, A. Earl Hedrick; Decoração:
Sam Comer, Emile Kuri; Guarda-roupa: Mary Kay Dodson, Gile Steele; Maquilhagem: Wally Westmore; Direcção de
Produção: C. Kenneth Deland; Assistentes de realização: Oscar Rudolph, Herbert
Coleman, Michael D. Moore, James A. Rosenberger; Departamento de arte: Robert
Goodstein, Joe Portillo; Som: Don Johnson, Gene Merritt; Efeitos visuais:
Farciot Edouart, Gordon Jennings; Companhias de produção: Production Companies,
Paramount Pictures; Intérpretes: Bob
Hope (Humphrey), Lucille Ball (Agatha Floud), Bruce Cabot (Cart Belknap), Jack
Kirkwood (Mike Floud), Lea Penman (Effie Floud), Hugh French (George Van
Basingwell), Eric Blore (Sir Wimbley), Joseph Vitale (Wampum), John Alexander
(Teddy Roosevelt), Norma Varden (Lady Maude), Virginia Keiley, Colin
Keith-Johnston, Joe Wong, etc. Duração: 92 minutos; Distribuição em Portugal: Feel Films
Espanha; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 15 de
Junho de 1951.
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