domingo, 23 de outubro de 2016

SESSÃO 52 -25 DE OUTUBRO DE 2016



O HOMEM DAS CALÇAS PARDAS (1950)

“Ruggles of Red Gap”, como já se falou aquando da nossa conversa sobre a versão de 1935, dirigida por Leo McCarey com o fabuloso Charles Laughton, parte de um romance de Harry Leon Wilson, que conheceu grande sucesso por ocasião do seu lançamento, em 1915. No mesmo ano, subiu a cena numa adaptação teatral, em musical, com escrita da responsabilidade de Harrison Rhoades, poemas de Harold Atteridge e música de Sigmund Romberg. Estreada no Fulton Theater, precisamente no dia 25 de Dezembro, data festiva que se conciliava bem com o tom geral da obra. Conheceu 33 representações. Digamos que cumpriu a época de Natal e Ano Novo.
Também em cinema surgiram versões anteriores a essa, assinada por Leo McCarey, e uma posterior, ainda de boa qualidade, interpretada pelo popular Bob Hope, rodada em 1950, com o título “O Homem das Calças Pardas” (Fancy Pants), com direcção de George Marshall, contando igualmente no elenco com Lucille Ball e Bruce Cabot.
A versão de Bob Hope é muito diferente da de Charles Laughton. São actores de escolas diferentes, com características muito diversas. Bob Hope era um actor que se especializara num tipo de humor que tinha muito a ver com o entertainer. Muita da sua actividade passou-se entre shows de teatro, hotéis, rádio, televisão, vaudeville e obviamente no cinema. Foi o apresentador de maior longevidade a apresentar a cerimónia dos Oscars (creio que durante dezoito edições, o que é obra!).   
Leslie Townes Hope nasceu em Eltham, Reino Unido, a 29 de Maio de 1903, e viria a falecer, com 100 anos de idade, em Toluca Lake, Califórnia, a 27 de Julho de 2003. Filho de um canteiro de Weston-super-Mare e de uma cantora de opereta, Bob Hope tinha seis irmãos, viveu em Weston-super-Mare, em Whitehall e em St. George em Bristol, antes de a família se mudar para Cleveland, no Ohio, EUA, em 1907. Hope assumiu a cidadania norte-americana quando completou 17 anos. Foi boxeur, imagine-se!, com o nome de Packy Easte e parece que não teve grande sucesso. Participou em concursos a imitar Charles Chaplin, sendo notado por um comediante da época, Fatty Arbuckle, que o empregou a partir de 1925. Forma depois um grupo a que chamou "The Dancemedians", juntamente com as irmãs Hilton. Trabalha alguns anos no vaudeville e regressa a Nova Iorque e à Broadway, em musicais onde a crítica destaca o seu trabalho. Em meados da década de 30, vamos encontrá-lo em Hollywood, ingressa na Warner Brothers, primeiro em pequenos papéis, depois ganhando cada vez maior destaque.


Em 1938, em "The Big Broadcast of 1938", aparece a cantar "Thanks for the Memory", que se transforma num hit e que se torna um símbolo para Bob Hope. O actor e cantor assemelha-se progressivamente a uma lenda viva da América, incorporando alguns dos seus valores. Filmes como “Road to Singapore”, “Road to Zanzibar”, “Nothing But the Truth”, “My Favorite Blonde”, Road to Morocco”, “Star spangled rhythm”, “The Princess and the Pirate”, “Road to Utopia”, “My Favorite Brunette”, “Variety Girl”, “Road to Rio”, “The Paleface” ou “The Great Lover” ocuparam os anos 40, transformando-o num herói nacional que frequentou a Casa Branca durante a presidência de vários ocupantes (especialmente republicanos).
A sua popularidade prosseguiu até aos anos 70, com outras comédias de sucesso: “Fancy Pants”, “My Favorite Spy”,  “The Greatest Show on Earth”, “Son of Paleface”, “Road to Bali”, “Scared Stiff”, “Casanova's Big Night”, “Beau James”, “The Five Pennies”, “Bachelor in Paradise” ou “The Road to Hong Kong”. A série “Road to…” foi das mais célebres do cinema norte-americano por essas décadas. Trabalhou muito com Bing Crosby, e actrizes como Dorothy Lamour, Lucille Ball, Jane Russell, Joan Collins ou Katharine Hepburn. Depois, foi a televisão que o ocupou durante décadas. “Porque não abandonou o trabalhou e se dedicou à pesca?”, perguntaram-lhe um dia, quando ele já merecia uma reforma dourada. Ele respondeu “Porque os peixes não costumam rir”.


Nunca ganhou um Oscar relativo a um filme (o que justificou várias piadas suas durante as cerimónias de entrega das estatuetas), mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood honrou-o com diversos prémios, desde 1941 até 1966. A sua contribuição para o esforço da guerra, durante o período de 1941-1954, levou-o a vários espectáculos de apoio aos militares na frente do conflito.
“Fancy Pants” é um dos títulos representativos do seu período áureo no cinema. Na versão da peça e no filme de Norma McLeod, o mordomo era um lídimo mordomo inglês que era enviado a contragosto para o Oeste norte-americano. Na versão de Bob Hope o mordomo é um actor que interpreta o papel de mordomo numa peça e que é convencido a ir para o Oeste desempenhar o mesmo papel mas não no teatro, na vida real. Obviamente que os equívocos e as trapalhadas não se fazem esperar, mas, como quase sempre nestes casos, o aldrabão do comediante é um aprendiz ao lado de outros vigaristas que ele acabará por ajudar a destapar a careca. O filme foi concebido à medida do talento e das qualidades de Bob Hope, desenrola uma sucessão curiosa de sequências bem imaginadas que desencadeiam vagas de um humor inventivo e bem coordenado. Há algumas cenas de perseguições, nomeadamente numa caçada, que resistem bem à passagem do tempo e mostram como se mantém actual este tipo de comédia de situações, com o seu quê de crítica social.


O HOMEM DAS CALÇAS PARDAS
Título original: Fancy Pants

Realização: George Marshall (EUA, 1950); Argumento: Edmund L. Hartmann, Robert O'Brien, com contributos de Richard L. Breen, Monte Brice, Frank Butler, Barney Dean, Irving Elinson, Richard English, Richard Flournoy, Segundo história de Harry Leon; Produção: Robert L. Welch; Música: Van Cleave; Fotografia (cor): Charles Lang; Montagem: Archie Marshek; Direcção artística: Hans Dreier, A. Earl Hedrick; Decoração: Sam Comer, Emile Kuri; Guarda-roupa: Mary Kay Dodson, Gile Steele;  Maquilhagem: Wally Westmore; Direcção de Produção: C. Kenneth Deland; Assistentes de realização: Oscar Rudolph, Herbert Coleman, Michael D. Moore, James A. Rosenberger; Departamento de arte: Robert Goodstein, Joe Portillo; Som: Don Johnson, Gene Merritt; Efeitos visuais: Farciot Edouart, Gordon Jennings; Companhias de produção: Production Companies, Paramount Pictures; Intérpretes: Bob Hope (Humphrey), Lucille Ball (Agatha Floud), Bruce Cabot (Cart Belknap), Jack Kirkwood (Mike Floud), Lea Penman (Effie Floud), Hugh French (George Van Basingwell), Eric Blore (Sir Wimbley), Joseph Vitale (Wampum), John Alexander (Teddy Roosevelt), Norma Varden (Lady Maude), Virginia Keiley, Colin Keith-Johnston, Joe Wong, etc. Duração: 92 minutos; Distribuição em Portugal: Feel Films Espanha; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 15 de Junho de 1951.

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