sexta-feira, 23 de setembro de 2016

SESSÃO 48 - 27 DE SETEMBRO DE 2016

O SENTIDO DA VIDA (1983)

Qual o sentido da vida? Eis um bom tema filosófico, possivelmente a questão mais importante e essencial que o homem pode colocar a si próprio e ao universo. Claro que se colocada pelo grupo inglês Monty Python ela só poderá ser respondida com humor, e um humor corrosivo. O que acontece nesta obra de 1983, onde o irrequieto e iconoclasta conjunto de humoristas britânicos destrói por completo qualquer optimismo que possa existir nos seus espectadores. O filme é de um desesperante pessimismo, muito embora no final surjam aquelas frases “politicamente correctas” a apontar caminhos de uma bem-aventurança irrealista e nada condizentes com tudo o que para trás fica registado.
Como sempre nos Monty Python, o projecto não tem nada de uma narrativa tradicional, no sentido de clássico. “O Sentido da Vida” não será uma obra-prima, muito embora tenha alguns dos melhores momentos criados pelos Monty Python. Existem algumas irregularidades ao longo de todo filme e um certo desacerto na duração excessiva de uma ou outra sequência, em particular no caso do pantagruélico frequentador do restaurante, que come desalmadamente e vomita de forma correspondente.
O filme começa com um prólogo opcional. Os espectadores do DVD têm essa vantagem. Podem optar por ver ou não o prólogo. Depois, a loucura do grupo instala-se com uma curta-metragem a anteceder o filme principal, mas que está anexada a este. São 17 minutos que ostentam uma designação própria, “The Crimson Permanent Assurance”. Toda esta parábola sobre o mundo financeiro, agrupando banqueiros e bolsistas, é uma realização de Terry Gilliam. Um grupo de funcionários de uma companhia seguradora resolve revoltar-se, o edifício de The Crimson Permanent Assurance transforma-se num navio de piratas de velas desfraldadas e resolve investir contra os grandes edifícios do centro financeiro local. Os velhos funcionários tomam conta do barco em sentido realista e figurado. Piratas justiceiros contra piratas pela calada, eis a súmula deste primeiro episódio de “O Sentido da Vida”, que irá progredir ao longo de pequenas histórias “morais” sobre os diferentes momentos da vida de um ser, desde o nascimento até à morte, procurando em cada um deles encontrar o sentido da vida.
Esta curta-metragem teve o condão de catapultar Terry Gilliam para o estrelato, dada a qualidade técnica da mesma e a sua prodigiosa invenção. Ele, que já tinha realizado anteriormente “Monty Python e o Cálice Sagrado” e “Os Ladrões do Tempo”, depois disso abalança-se a obras como “Brasil, o outro Lado do Sonho”, “O Rei Pescador” ou “12 Macacos”, entre outras. Muito interessado em animação, “A Seguradora Permanente Crimson” permite-lhe também curiosas incursões neste terreno. Algo que inicialmente estava previsto para andar pelos cinco minutos de duração e que os ultrapassou largamente. Felizmente. Esta é, pois, a contribuição de Terry Gilliam para este filme, enquanto realizador, já que o restante trabalho foi assegurado por Terry Jones, que anteriormente já tinha dirigido “A Vida de Brian”.
O início da vida permite a Terry Jones um momento brilhante que passa dos ambientes de Charles Dickens ao musical com uma ligeireza e harmonia totais. "Every Sperm Is Sacred", que condenada a proibição do uso da pílula pelo Vaticano e que permite enxurradas de filhos em bairros pobres, é uma paródia demolidora admiravelmente conduzida com mão de mestre, ambientada nos bairros industriais de Yorkshire. Para lá de alguns gags magníficos, cria situações de musical dignas de figurar numa antologia do género, ao lado do “Oliver”, de Carol Reed. As vantagens de ser protestante que se lhe seguem permanecem ao mesmo nível, ainda que num registo completamente diferente. Duas cópulas, dois filhos.
As sequências sucedem-se, numa lógica de cronologia de uma vida, como a aula de sexualidade, com o professor a desdobrar da parede uma cama onde vai exemplificar com a própria alguns aspectos da sua temática escolar, ou o volumétrico e obeso Creosante que relembra “os vampiros” de Zeca Afonso, comendo tudo, até rebentar no interior requintado de um luxuoso restaurante. A delirante sequência dos peixes no aquário ou a proximidade da morte, numa clara alusão ao belíssimo “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, são outros tantos episódios a reter e a não esquecer. Mas não se deverá passar em claro o excelente trabalho interpretativo dos vários elementos do grupo, os britânicos Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin, os cinco iniciais, e o norte-americano Terry Gilliam, que se lhes juntou. Todos compõem figuras inesquecíveis e alguns travestis espantosos.


O SENTIDO DA VIDA
Título original: The Meaning of Life
Realização: Terry Jones, Terry Gilliam (Inglaterra, 1983);  Argumento: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin; Produção: John Goldstone; Música: John Du Prez; Fotografia (cor): Peter Hannan e Roger Pratt (episódio "The Crimson Permanent Assurance"); Montagem: Julian Doyle; Casting: Michelle Guish, Debbie McWilliams; Design de produção: Harry Lange; Direcção artística: Richard Dawking e John Beard (episódio "The Crimson Permanent Assurance"); Decoração: Sharon Cartwright, Simon Wakefield; Guarda-roupa: James Acheson; Maquilhagem: Maggie Weston, Mary Hillman, Christopher Tucker (Mr. Creosote), e ainda Elaine Carew, Sallie Evans e Maureen Stephenson (episódio "The Crimson Permanent Assurance"); Direcção de Produção: David Wimbury; Assistentes de realização: Jonathan Benson, Matthew Binns, Ray Corbett, Derek Harrington, Callum McDougall, Kieron Phipps, Paul Taylor, Gary White, Bob Wright; Som: Philip Chubb, Bob Doyle, Debbie Kaplan; Efeitos especiais:  George Gibbs; Efeitos visuais: Michael Beard, Valerie Charlton, Carol De Jong; Animação: Terry Gilliam, Jill Brooks, Kate Hepburn, Richard Ollive, Tim Ollive, Mike Stuart;  Companhias de produção: Celandine Films, The Monty Python Partnership, Universal Pictures; Intérpretes: Graham Chapman (Chairman / Fish #1 / Doctor / Harry Blackitt / Wymer / Hordern / General / Coles / Narrator #2 / Dr. Livingstone / Transvestite / Eric / Guest #1 / Arthur Jarrett / Geoffrey / Tony Bennett); John Cleese (Fish #2 / Dr. Spencer / Humphrey Williams / Sturridge / Ainsworth / Waiter / Eric's Assistant / Maître D' / Grim Reaper); Terry Gilliam (Window Washer / Fish #4 / Walters / Middle of the Film Announcer / M'Lady Joeline / Mr. Brown / Howard Katzenberg); Eric Idle (Gunther / Fish #3 / 'Meaning of Life' Singer / Mr. Moore / Mrs. Blackitt / Watson / Blackitt / Atkinson / Perkins / Victim #3 / Front End / Mrs. Hendy / Man in Pink / Noël Coward / Gaston / Angela), Terry Jones (Bert / Fish #6 / Mum / Priest / Biggs / Sergeant / Man with Bendy Arms / Mrs. Brown / Mr. Creosote / Maria / Leaf Father / Fiona Portland-Smythe); Michael Palin (Window Washer / Harry / Fish #5 / Mr. Pycroft / Dad / Narrator #1 / Chaplain / Carter / Spadger / Regimental Sergeant Major / Pakenham-Walsh / Rear End / Female TV Presenter / Mr. Marvin Hendy / Governor / Leaf Son / Debbie Katzenberg); Carol Cleveland (Beefeater  (Chadwick / Jeremy Portland-Smythe); Patricia Quinn (Mrs. Williams); Judy Loe, Andrew MacLachlan, Mark Holmes, Valerie Whittington, Jennifer Franks, Imogen Bickford- Smith, Angela Mann, Peter Lovstrom, George Silver, Chris Grant, Sydney Arnold, Guy Bertrand, Andrew Bicknell, Ross Davidson, Myrtle Devenish,  Tim Douglas, Eric Francis, Matt Frewer,  Billy John, Russell Kilmister, Peter Mantle, Len Marten, Peter Merrill, Cameron Miller, Gareth Milne, Larry Noble, Paddy Ryan, Leslie Sarony, John Scott Martin, Eric Stovell, Wally Thomas, Jack Armstrong, Robert Carrick, Douglas Cooper, George Daly, Chick Fowles, Terry Grant, Robin Hewlett, Tommy Isley, Juba Kennerley, Anthony Lang, John Murphy, Terry Rendell, Ronald Shilling, etc. Duração: 107 minutos; Distribuição em Portugal: Universal; Classificação etária: M/ 18 anos; Data de estreia em Portugal: 24 de Maio de 1984.


MONTY PYTHON 
“Monty Python” foi um grupo de humoristas britânicos que surgiu mesmo no final da década de 60, inicialmente na televisão, através de uma série que ficaria lendária, “Monty Python's Flying Circus” (o programa de estreia foi para o ar na BBC a 5 de Outubro de 1969 e agrupou 45 episódios divididos em 4 temporadas). O sucesso foi fulminante e o grupo diversificou a sua actividade pelo teatro, o cinema, a rádio, a imprensa, a literatura, os jogos de computador, etc. Eram seis os seus elementos, Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin, os cinco iniciais, todos ingleses, a que se juntou Terry Gilliam, americano, vindo da revista “Mad”. Todos escreviam e interpretavam as obras em que intervinham. O seu estilo de humor não passou despercebido, e tornou-se uma fonte de inspiração para humoristas de todo o mundo, desde os EUA até Portugal. Eram anárquicos e caóticos, entre o surrealismo e o non sense.
O grupo esteve unido durante bastantes anos (fecharam a porta em 1983), depois cada um deles seguiu a sua carreira isolada, mantendo, no entanto, muitas das características que definiram o grupo. Todos, excepto Graham Chapman que morreu em 1989, com 48 anos. Em Julho de 2014, anunciou-se o regresso do grupo para um espectáculo no “O2 Arena” de Londres, Quando foi anunciado o evento, os bilhetes esgotaram em 43 segundos!
Nos Estados Unidos, vários programas lhe devem influência, como “Late Night with Conan O'Brien” ou “Saturday Night Live”, “South Park”, “Adult Swim”, entre muitos outros que assumem o surrealismo e o absurdo. Em Portugal, Herman José ou os Gato Fedorento contam-se entre os admiradores dos Monty Python.
Num documentário, “Live at Aspen” (1998), o grupo revelou como escolheu o nome: Monty surgiu como tributo a Lord Montgomery, um lendário general britânico da II Guerra Mundial, e Python apareceu como palavra que soasse evasiva e divertida. Em 2005, num inquérito do Channel 4 para escolher “O Comediante dos Comediantes”, três dos seis actores dos Monty Python foram incluídos entre os 50 maiores humoristas. Michael Palin ficou em trigésimo, Eric Idle em vigésimo-primeiro e John Cleese em segundo lugar, sendo superado apenas por Peter Cook.
A actividade do grupo ficou registada em diversos domínios:

TELEVISÃO: Monty Python's Flying Circus (1969–1974); Monty Python's Fliegender Zirkus (1972); Monty Python's Personal Best (2006)
CINEMA: And Now for Something Completely Different (E Agora Para Algo Completamente Diferente) (1971); Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado) (1975); Monty Python Meets Beyond the Fringe (1976); Monty Python, The Life of Brian (A Vida de Brian) (1979); Monty Python Live at the Hollywood Bowl (Monty Python Ao Vivo no Hollywood Bowl) (1982); Monty Python, The Meaning of Life (O Sentido da Vida) (1983); Não são do grupo, embora sejam atribuídos, e participem do espírito:
Jabberwocky (1977); Erik, the Viking (Erik, O Viking) (1989)
ÁLBUNS: Monty Python's Flying Circus (1970); Another Monty Python Record (1971); Monty Python's Previous Record (1972); The Monty Python Matching Tie and Handkerchief (1973); Monty Python Live at Drury Lane (1974); The Album of the Soundtrack of the Trailer of the Film of Monty Python and the Holy Grail (1975); Monty Python Live at City Center (1976); The Monty Python Instant Record Collection (1977); Monty Python's Life of Brian (1979); Monty Python's Contractual Obligation Album (1980); Monty Python's Meaning of Life (1983); Monty Python's The Final Rip Off (1988); Monty Python Sings (1989); The Ultimate Monty Python Rip Off (1994); The Instant Monty Python CD Collection (1994); Monty Python's Spamalot (Músicas da versão da Broadway do filme “Monty Python - Em Busca do Cálice Sagrado” com Tim Curry a interpretar Rei Arthur) (2005); The Hastily Cobbled Together Album (nunca lançado, ao que consta)
TEATRO: Monty Python's Spamalot - Musical inspirado no filme Monty Python - Em Busca do Cálice Sagrado.
Monty Python's Flying Circus - A primeira e única versão autorizada do programa de TV, apesar de ser apresentada em francês; Monty Python Alive – o regresso em Julho de 2014.

MONTY PYTHON: os membros do grupo:
Graham Chapman (1941-1989)
Nasceu a 8 de Janeiro de 1941, em Melton Mowbray, Leicester, Inglaterra. Estudou medicina em Cambridge. Ficou célebre, sobretudo, como argumentista, e como actor por duas das suas criações em cinema, o Rei Artur, em “Monty Python e o Cálice Sagrado”, e Brian Cohen, em “A Vida de Brian”. Gay e dependente do álcool, morre vítima de cancro na garganta, a 4 de Outubro 1989. No elogio fúnebre, Michel Palin disse: “Graham Chapman está entre nós neste momento. Se não estiver neste momento, estará dentro de vinte e cinco minutos”. 
Principais filmes como actor: 1969: The Magic Christian (Um Beatle no Paraíso), de Joseph McGrath; 1970: The Rise and Rise of Michael Rimmer, de Kevin Billington; 1971: The Statue (A Estátua), de Rod Amateau ; 1972: And Now for Something Completely Different (Os Gloriosos Malucos à Solta), de Ian MacNaughton; 1975: Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), de Terry Gilliam e Terry Jones; 1978: The Odd Job, de Peter Medak; 1979: Life of Brian (A Vida de Brian), de Terry Jones; 1983: Monty Python Live at the Hollywood Bowl, de Terry Hughes e Ian MacNaughton; Monty Python's the Meaning of Life), de Terry Gilliam e Terry Jones; Yellowbeard (As Loucas Aventuras de Barba Amarela, o Pirata), de Mel Damski; 1989: Stage Fright, de Brad Mays.
John Cleese (1939 -)
Nasceu a 27 de Outubro de 1939, em Weston-super-Mare, North Somerset, Inglaterra. O nome de família era Cheese, mas o pai mudou-o para Cleese quando esteve na tropa. Cleese estudou no colégio de Clifton, em Bristol, onde apareceu nalguns espectáculos. Passou pela universidade de Cambridge para estudar Direito, onde encontrou Graham Chapman. Eram os autores de grande parte dos argumentos do grupo. Fora dos Monty Python ficou célebre pela criação de Basil Fawlty, em “Fawlty Towers”.
John Cleese participou em dezenas de filmes. Ficam aqui apenas alguns títulos: 1968: The Bliss of Mrs. Blossom (A Felicidade da Senhora Blossom), de Joseph McGrath; 1969: The Best House in London de Philip Saville; 1969: The Magic Christian (Um Beatle no Paraíso), de Joseph McGrath; 1975: Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), de Terry Jones e Terry Gilliam; 1977: The Strange Case of the End of Civilization as We Know It, de Joseph McGrathes; 1979: Monty Python, The Life of Brian (Monty Python, A Vida de Brian), de Terry Jones; 1981: Time Bandits (Os Ladrões do Tempo), de Terry Gilliam; 1983: Monty Python: The Meaning of Life (Monty Python, O Sentido da Vida), de Terry Jones e Terry Gilliam; 1985: Silverado (Silverado), de Lawrence Kasdan; 1986: Clockwise (Pontualmente Atrasado), de Christopher Morahan; 1988: A Fish Called Wanda (Um Peixe Chamado Wanda), de Charles Crichton; 1989: Erik The Viking, de Terry Jones; 1994: Frankenstein (Frankenstein de Mary Shelley), de Kenneth Branagh; 1996: Fierce Creatures (Creaturas Ferozes), de Fred Schepisi e Robert Young; 1996: The Wind in the Willows; 1999: The World Is Not Enough (007 - O Mundo Não Chega), de Michael Apted; 2001: Rat Race (Está Tudo Louco!), de Jerry Zucker; 2001: Harry Potter and the Sorcerer's Stone (Harry Potter e a Pedra Filosofal), de Chris Columbus; 2002: Harry Potter and the Chamber of Secrets (Harry Potter e a Câmara dos Segredos), de Chris Columbus; 2002: Die Another Day (007 - Morre Noutro Dia), de Lee Tamahori; 2004: Shrek 2 (Shrek 2),  de Andrew Adamson, Kelly Asbury (voz); 2004: Around the World in 80 Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias), de Frank Coraci; 2007: Shrek, the Third (Shrek, 3) de Chris Miller e Raman Hui (voz); 2008: The Day the Earth Stood Still (O Dia em que a Tera Parou), de Scott Derrickson; 2009: The Pink Panther 2 (A Pantera Cor-de-Rosa, 2), de Harald Zwart; 2010: Shrek Forever After (Shrek para Sempre), de Mike Mitchell (voz); 2010: Spud 2: The Madness Continues, de Donovan Marsh; 2013: Spud 2: The Madness Continues, de Donovan Marsh.
Terry Gilliam (1940 -)
Nasceu em Minneapolis, Minnesota, EUA, a 22 de Novembro de 1940. Foi o único Monty Python não inglês (naturalizou-se depois). Trabalha sob a orientação de Harvey Kurtzman na revista "Mad" como cartoonista, depois na "Help". Viaja até França e instala-se na revista "Pilote". Passa a Inglaterra, colabora como gráfico em “Do Not Adjust Your Set” e depois no “The Flying Circus”, associando-se aos Monty Python. 
Principais filmes como realizador: 1975: Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), com Terry Jones; 1977: Jabberwocky (Aventuras em Terras do Rei Bruno, o Discutível); 1981: Time Bandits (Os Ladrões do Tempo); 1983: Monty Python: The Meanig of Life (O Sentido da Vida); 1985: Brazil (Brazil: O Outro Lado do Sonho); 1988: The Adventures of Baron Munchausen (A Fantástica Aventura do Barão); 1991: The Fisher King (O Rei Pescador); 1995: Twelve Monkeys (12 Macacos); 1998: Fear and Loathing in Las Vegas (Delírio em Las Vegas); 2005: The Brothers Grimm (Os Irmãos Grimm); 2006: Tideland (Tideland - O Mundo ao Contrário); 2009: The Imaginarium of Doctor Parnassus (Parnassus - O Homem Que Queria Enganar o Diabo); 2013: The Zero Theorem (O Teorema Zero); 2014: The Man Who Killed Don Quixote (em pós-produção).
Filmografia (parcial) como actor: 1975: Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), de Terry Gilliam e Terry Jones; 1977: Jabberwocky (Aventuras em Terras do Rei Bruno, o Discutível); 1981: Time Bandits (Os Ladrões do Tempo); 1983: Monty Python: The Meanig of Life (O Sentido da Vida), de Terry Jones; 1985: Brazil (Brasil: O Outro Lado do Sonho); 1988: The Adventures of Baron Munchausen (A Fantástica Aventura do Barão); 1985: Cinématon no 601, de Gérard Courant; 1985: Spies Like Us (Espiões Como Nós), de John Landis; 1988: The Adventures of Baron Munchausen (A Fantástica Aventura do Barão); 2002: Lost in la Mancha, de Keith Fulton e Louis Pepe, documentário; 2006: Enfermés Dehors, de Albert Dupontel; 2012: A Liar's Autobiography: The Untrue Story of Monty Python's Graham Chapman; 2013: Neuf Mois Ferme (Gravidez de... Alto Risco), de Albert Dupontel; 2015: Jupiter Ascending (A Ascenção de Jupiter), de Lana e Andy Wachowski
Eric Idle (1943)
Nasceu a 29 de Março de 1943, em South Shields, Tyne and Wear, Inglaterra. Desde o seu aparecimento, os Monty Python formaram duplas de escrita, Cleese e Chapman, Jones e Palin, e dois isolados, Gilliam, que se ocupava mais da animação e da realização, e Idle, que ficou satisfeito por trabalhar a solo, sobretudo em gags de estrutura linguística. Colega mais novo de Cleese e Chapman na universidade de Cambridge, após o fim dos Python arrancou para uma carreira a solo, em séries como “Rutland Weekend Television” ou “The Rutles”, com aparições curtas em diversos filmes (“South Park”, 102 Dalmatians), ou séries como “The Simpson”. Em 2005 conta com um grande sucesso, “Spamalot”, paródia sobre o Santo Graal, e falou-se numa adaptação a musical de “A Vida de Brian”. Como actor aparece obviamente em todos os filmes dos Monthy Pithon.
Terry Jones (1942 - )
Nasceu a 1 de Fevereiro de 1942, em Colwyn Bay, no norte do país de Gales. Um dos mais entusiásticos e influentes elementos do grupo, sobretudo para manter a sua coesão. Argumentista, actor e realizador, Terry Jones apresentou na BBC uma série de documentários históricos, “Terry Jones' Medieval Lives” (2005), a que se seguiu “Barbarians” (2006). Escreveu no “The Guardian” uma crónica semanal demolidora para a política de Tony Blair. Depois virou-se para o teatro musical e, no início de 2008, em colaboração com Luís Tinoco, estreou em Portugal, “Evil Machines”, uma espécie de ópera baseada no seu livro com o mesmo nome.
Filmografia como realizador: 1975: Monty Python and the Holy Grail, com Terry Gilliam; 1979: Monty Python's Life of Brian; 1983: Monty Python's The Meaning of Life; 1987: Personal Services; 1989: Erik the Viking; 1996: The Wind in the Willows.
Michael Palin (1943 - )

Nasceu a 5 de Maio de 1943, em Sheffield, South Yorkshire, Inglaterra. Estudou em Oxford, onde encontra Jones, com quem passa a fazer parelha na escrita. Depois da sua colaboração com os Monty Python, Palin tornou-se conhecido através de inúmeros documentários de viagens realizados para a BBC, nomeadamente a série “Pole to Pole” e “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, seguindo a rota de Phileas Fogg no romance de Júlio Verne.

domingo, 11 de setembro de 2016

SESSÃO 49 - 13 DE SETEMBRO DE 2016



OITO VIDAS POR UM TÍTULO (1949)


No final da década de 40 e inícios da de 50 do século XX, um dos estúdios ingleses mais célebres, o Ealing Studio, produziu um conjunto de comédias verdadeiramente invulgar, pela qualidade do seu humor, pelas características absolutamente britânicas desse humor, pela excelência da representação (onde sobressaiu Alec Guiness, entre outros). Títulos como “Whisky Galore!” (1949), “Passport to Pimlico” (1949), “Kind Hearts and Coronets” (1949), “The Lavender Hill Mob” (1951), “The Man in the White Suit” (1951), ou “The Ladykillers” (1955) são hoje em dia considerados clássicos indiscutíveis do chamado humor inglês. “Oito Vidas por um Título”, “O Homem do Fato Claro” e “O Quinteto era de Cordas”, sobretudo estes três títulos, são indiscutíveis referências desta época do cinema britânico e, igualmente, do trabalho excepcional de um actor que muitos consideram dos melhores de sempre em todo o mundo, Alec Guiness.
“Oito Vidas por um Título” tem como título original “Kind Hearts and Coronets”, que é uma citação ligeiramente alterada de um poema de um dos mais prestigiados escritores ingleses, Alfred Lord Tennyson. O poema, “Lady Clara Vere de Vere”, surgiu integrado no livro de 1842, “The Lady of Shalott and Other Poems”, e podia ler-se assim: “Trust me, Clara Vere de Vere, / From yon blue heavens above us bent / The gardener Adam and his wife / Smile at the claims of long descent. / Howe’er it be, it seems to me, / ’Tis only noble to be good. / Kind hearts are more than coronets, / And simple faith than Norman blood.” O título da obra de Robert Hamer filia-se, portanto, neste poema de meados do século XIX, uma época vitoriana, onde os contrastes sociais eram imensos, a hipocrisia e a violência constantes.
O filme de Robert Hammer parte de um argumento escrito pelo próprio Robert Hamer, de colaboração com John Dighto, segundo romance de Roy Horniman, “Israel Rank: The Autobiography of a Criminal” (1907), que relatava a vida e as façanhas criminosas de um judeu de ascendência italiana que confessara a autoria de vários crimes cometidos ao longo da vida numa sistemática vingança. O romance conheceu grande sucesso na época, pelo tom cínico e irónico com que relatava as proezas amorais de um herói pouco provável.
O que nos dá o filme: em 1868, na cela de uma prisão londrina, na véspera da sua execução, Louis Mazzani (Dennis Price), duque de Ascoyne, escreve as memórias, remontando a tempos passados quando a mãe se viu privada dos seus direitos de nobreza, como represália familiar por ter casado com um “simples” cantor italiano. Por causa disso, Louis Mazzani jura vingança e procura recuperar o posto nobilitário perdido, para o que precisa de “anular” oito membros da família Ascoyne. A narrativa é sóbria e delicada, contrastando em tudo com o narrado: um a um os vários possíveis pretendentes à sucessão vão sendo afastados do caminho, através de um pouco de veneno, um tiro de caçadeira, um pequeno naufrágio, uma morte natural, um balão atravessado por uma seta, uma explosão, uma colisão marítima, ou mesmo um apetitoso caviar… Há de tudo, um banqueiro, um padre, um capitão da marinha, um militar, uma senhora sufragista, um fotógrafo amador, e o mais espantoso é que os oito representantes da dinastia Ascoyne são todos interpretados brilhantemente por um único actor, Alec Guiness. De início, ele ia apenas interpretar quatro papéis, mas à medida que foi interiorizando a família, acabou por a dominar por completo, com uma mestria invulgar. Guiness era já um actor célebre, mas este filme encarregou-se de projectar o seu talento, colocando-o entre os melhores actores do mundo. Diga-se que o filme conta ainda com duas outras representações dignas de referência, Dennis Price, no cínico e eficaz serial killer dos Ascoynes, e a belíssima Joan Greenwood, na figura da jovem Sibella, uma notável presença, senhora de uma voz absolutamente inesquecível. 


Situando-se num período vitoriano, com a burguesia em ascensão, que se estabelecia como "middle class", limitada a norte pela "upper class", constituída por uma aristocracia em decadência, mas ainda vigorosa e a ocupar lentamente os lugares da alta finança e da governação, esta comédia de humor negro, mas de delicado e elegante humor (o que o torna ainda mais negro), é um retrato curioso dessa época. A família Ascoyne é um bom exemplo dessa aristocracia que domina, mas que se autodestrói pela ganância e pelos jogos de influência e de poder. Tudo com uma fleuma e uma discrição próprias da reserva britânica, ou não fosse o “humor negro” uma das características mais constantes da cultura inglesa.
Todos estes pormenores são descritos por Louis Mazzani que os fixa numas “memórias” que pretende deixar para a posteridade. Espera-o a forca, na manhã seguinte, depois de ter sido acusado e sentenciado (injustamente, neste caso) pelo assassinato de alguém que ele efectivamente não tinha morto. Quando o seu final de aproxima, ocorre o imprevisto, e quando este o coloca à porta da cadeia, uma nova reviravolta se anuncia. A ironia nunca se afasta desta obra que se torna de tal forma incómoda que nos EUA foi censurada, tendo-lhe sido amputados cerca de seis minutos e alterado o final (a ambiguidade do final inglês foi reduzida a um final mais politicamente correcto).
Claro que este filme, e seguramente a obra de Roy Horniman que lhe está na base, devem muito a “O Assassinato Considerado como uma das Belas-Artes”, de Thomas de Quincey, aparecido em livro em 1854, depois de ter surgido no “Blackwood's Magazine” em 1827, depois em 1839, acompanhado de uma continuação, e finalmente em volume, com um importante desenvolvimento dedicado aos crimes de John Williams. Essa visão do assassinato como uma “arte”, mais precisamente uma das “Belas-Artes”, reflecte esse humor muito próprio dos ingleses, e que este filme tão bem exemplifica (tal como outras obras de autores tão diversos de Hitchcock aos Monty Python). Diga-se, concluindo, que o título francês, “Noblesse Oblige”, se sente muito mais apropriado do que o português “Oito Vidas por um Título”, demasiado prosaico e pragmático para traduzir correctamente o espírito desta comédia brilhante.
Não só no plano do assassinato o filme se mostra um tanto ou quanto iconoclasta. Na verdade, em 1949, o adultério não era actividade muito vista no cinema, e nunca antes o fora mostrado numa das inúmeras películas produzidas pelos Ealing Studio, então dirigidos por Michael Balcon. Foi, pois, com alvoroço que o produtor viu o filme depois de rodado, descobrindo que Louis Mazzani, além de assassino, era igualmente um obstinado adúltero que mantinha com Sibella uma relação carnal (apenas sugerida no filme, mas sugerida de forma muito persuasiva e intensa) para lá do casamento desta com um amigo. Balcon ainda tentou remediar as coisas, mas Hamer era um realizador difícil de dobrar e manteve o filme intocável nesse aspecto.
A belíssima fotografia a preto e branco de Douglas Slocombe, a direcção artística de William Kellner, e a área “Il mio Tesoro”, da ópera “Don Giovanni”, de Mozart, são outros tantos motivos que levaram os inqueridos do British Film Institute, em 1999, a colocar “Kind Hearts and Coronets” em sexto lugar, entre os melhores filmes de sempre da cinematografia inglesa.


OITO VIDAS POR UM TÍTULO
Título original: Kind Hearts and Coronets
Realização: Robert Hamer (Inglaterra, 1949); Argumento: Robert Hamer, John Dighto, segundo romance de Roy Horniman; Produção: Michael Balcon, Michael Relph; Música: Ernest Irving; Fotografia (p/b): Douglas Slocombe; Montagem: Peter Tanner; Direcção artística: William Kellner; Guarda-roupa: Anthony Mendleson; Maquilhagem: Barbara Barnard, Harry Frampton, Pearl Orton, Ernest Taylor; Direcção de produção: Leigh Aman, Hal Mason; Assistente de realização: Norman Priggen, John Hewlett, David W. Orton; Departamento de arte: Grace Bryan-Brown, Norman Dorme, Roger Hopkin, Jack Shampan, V. Shaw, R. Thurgarland; Som: Stephen Dalby, John W. Mitchell, Norman King; Efeitos especiais: Geoffrey Dickinson, Sydney Pearson; Companhia de produção: Ealing Studios (An Ealing Studios Production); Intérpretes: Dennis Price (Louis), Valerie Hobson (Edith), Joan Greenwood (Sibella), Alec Guinness (a familia D'Ascoyne: o duque / o banqueiro / o padre / o general / o almiranto carrasco), Clive Morton (Governador da prisão), John Penrose (Lionel), Cecil Ramage, Hugh Griffith (Lord High Steward), John Salew (Mr. Perkins), Eric Messiter (Burgoyne), Lyn Evans, Barbara Leake, Peggy Ann Clifford, Anne Valery, Arthur Lowe, Stanley Beard, Maxwell Foster, Peter Gawthorne, Molly Hamley-Clifford, Leslie Handford, Nicholas Hill, Fletcher Lightfoot, Cavan Malone, Laurence Naismith, Gordon Phillott, Jeremy Spenser, Ivan Staff, Richard Wattis, Carol White, Harold Young, etc. Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/12 anos; Data de estreia em Portugal: 29 de Junho de 1950.

EALING STUDIOS
“Ealing Studios” é uma produtora de filmes para cinema e de entretenimento diverso para televisão. Tem uma longa história, sendo presentemente, o mais antigo estúdio de cinema a operar no mundo. Nasceu em 1902, no local chamado Ealing Green, em Londres Oeste. Will Barker fundou aí uma produtora chamada “White Lodge”. Em 1931, o produtor teatral Basil Dean, já no sonoro, funda nesse espaço a Associated Talking Pictures, que se mantém em funcionamento até 1938, quando entra em declínio. Michael Balcon, vindo da MGM, passa então a controlar os destinos da produtora, insufla-lhe uma nova vida, com outros colaboradores e actores, refrescando o ambiente, tornando-a numa casa produtora lendária, sobretudo através das suas comédias, as “Ealing comedies”, que se instituíram rapidamente clássicos, a partir do fim da II Guerra Mundial: “Kind Hearts and Coronets” (1949), “Passport to Pimlico” (1949), “The Lavender Hill Mob” (1951), e “The Ladykillers” (1955). Os filmes da companhia passam então a ser distribuídos sob a sigla da “Rank Organisation”.
Durante este tempo, mas sobretudo nos anos 30 e 40, os Ealing Studios não só criam os seus actores de comédia típicos, como Gracie Fields, George Formby, Stanley Holloway ou Will Hay, mais tarde Alec Guiness, como se notalibilizam ainda por outro tipo de filmes, como os documentários realistas durante a II Guerra Mundial, com títulos que se recordam “Went the Day Well?” (1942), “The Foreman Went to France” (1942), “Undercover” (1943), “San Demetrio London” (1943), entre outros. Ainda em 1945, produz um thriller em episódios que deixou marca: “Dead of Night”.
Depois, durante quarenta anos, a BBC, entre 1955 e 1995, alugou o espaço e rodou ainda grande parte do seu material televisivo, telefilmes, séries, programas diversos. Chegou a possuir nesse espaço mais de 50 salas de montagem. A partir de 2000, a Ealing Studios passou sobretudo a casa distribuidora, mas algumas obras foram ainda rodadas nesses estúdios, como “The Importance of Being Earnest” (2002) ou “Shaun Of The Dead” (2004). Uma escola de cinema também se serve destes estúdios, a The Met Film School London.  A morada é: 31, Grange Road, Ealing, Londres.

Os principais filmes dos Ealing Studios: “Hue and Cry” (1947), “Whisky Galore!” (1949), “Passport to Pimlico” (1949), “Kind Hearts and Coronets” (1949), “The Lavender Hill Mob” (1951), “The Man in the White Suit” (1951), “The Titfield Thunderbolt” (1953), “The Cruel Sea” (1953), “The Ladykillers” (1955), “Barnacle Bill” (1956). 

sábado, 3 de setembro de 2016

SESSÃO 48 - 6 DE SETEMBRO DE 2016

O QUINTETO ERA DE CORDAS (1955)

São algumas as excelentes comédias produzidas pelos Ealing Studio em Inglaterra, em finais da década de 40 e inícios da de 50 do século passado. Algumas excelentíssimas, mas a comédia genial desse período é, decididamente, “O Quinteto era de Cordas”, uma indiscutível obra-prima que combina na perfeição o típico humor inglês com o humor negro, neste caso também muito tipicamente britânico.
Algumas décadas depois, os magníficos irmãos Cohen tentaram recuperar o clássico, numa nova versão encabeçada por Tom Hanks, mas esse terá sido um dos poucos falhanços desta dupla de irmãos. Na verdade, o remake não tem metade da graça do original.
Tudo parece perfeito neste filme dirigido com subtileza por um inspiradíssimo Alexander Mackendrick, com base num belíssimo argumento escrito por William Rose (que ganharia o Oscar de Melhor Argumento do Ano), e com uma interpretação absolutamente fabulosa de Alec Guinness, que aqui comanda um gang de que fazem parte Peter Sellers, Cecil Parker, Danny Green e Herbert Lom, que se instalam em casa de Mrs. Louisa Wilberforce, uma velhinha saborosamente interpretada por Katie Johnson. A fotografia é mágica (Otto Heller), a partitura musical é soberba (Tristram Cary), muito bem acolitada pela sonoplastia que, só por si, é um achado de humor.
“The Ladykillers” tem um arranque sem mácula, acompanhando as deambulações de uma velha senhora que, de sombrinha na mão, passeia pelas ruas londrinas do seu bairro e visita a esquadra de polícia da área, onde fala com o chefe e lhe coloca os seus problemas. Percebe-se que é acontecimento recorrente, pela forma como os agentes a olham e lhe respondem. Até o esquecimento do guarda-chuva é habitual. Mas, neste universo banal, repetitivo e aparentemente despreocupado, uma sombra paira, insinuando o perigo, a ameaça. A música sublinha devidamente o facto, levando a pensar numa influência de “Matou”, de Fritz Lang, mas agora numa versão satírica. Acompanhamos a velhinha no seu regresso a casa e seguimos igualmente a sombra que a persegue. Quando ela fecha a porta, a sombra toca à campainha. Vem responder a um anúncio que oferece o aluguer de quartos. O Professor Marcus acha o lugar encantador, é mesmo isso que ele precisa, ele que é professor de música e quer ensaiar com os seus amigos, um quinteto de cordas, amador, sem a perturbação de vizinhos. A velhinha adora música, clássica de preferência, acolhe o hóspede com a maior gentileza e, no dia seguinte, vê chegar o quinteto, com os seus instrumentos, subir escada acima onde se começa a ouvir uma delicada melodia (que roda num gira-discos), enquanto o gang prepara um assalto a uma carrinha que transporta muito dinheiro.
Não vale a pena continuar com a enumeração, o que retiraria suspense à obra. Os intérpretes são notáveis, a estrutura narrativa é brilhantemente conduzida, o sublinhar sonoro, musical e de ruídos, é deliciosamente tenebroso, o ambiente criado em redor da velhinha e do seu acolhedor lar, muito british, é inesquecível, o guarda-roupa merece referência especial, pelo seu requinte e invenção (o traje de Alec Guiness com o seu descomunal cachecol ficará para a História), e, repetimos, “O Quinteto era de Cordas” é uma obra-prima.
Nestes casos, mais vale comentar pouco e saborear cada minuto da projecção.  


O QUINTETO ERA DE CORDAS
Título original: The Ladykillers
Realização: Alexander Mackendrick (Inglaterra, 1955); Argumento: William Rose, Jimmy O'Connor; Produção:  Seth Holt, Michael Balcon; Música:  Tristram Cary; Fotografia (cor):  Otto Heller;  Montagem:  Jack Harris; Direcção artística:  Jim Morahan; Guarda-roupa:  Anthony Mendleson; Maquilhagem:  Alex Garfath, Daphne Martin; Direcção de Produção:  Hal Mason, David Peers;  Assistentes de realização:  Tom Pevsner, Michael Birkett, John Meadows;  Departamento de arte: W. Simpson Robinson; Som:  Stephen Dalby; Efeitos especiais:  Sydney Pearson, Companhias de produção: The Rank Organisation, An Ealing Studios Michael Balcon; Intérpretes: Alec Guinness (Professor Marcus), Cecil Parker (Claude ou Major Courtney), Herbert Lom (Louis ou Mr. Harvey), Peter Sellers (Harry ou Mr. Robinson), Danny Green (One-Round ou Mr. Lawson), Jack Warner (o superintendente), Katie Johnson (a velha senhora), Philip Stainton (o sargento), Frankie Howerd, Madge Brindley, Hélène Burls, Kenneth Connor, Michael Corcoran, Harold Goodwin, Fred Griffiths, Lucy Griffiths, Phoebe Hodgson, Vincent Holman, Anthony John, Stratford Johns, Evelyn Kerry, Sam Kydd, Edie Martin, Jack Melford, Robert Moore, Arthur Mullard, Ewan Roberts, George Roderick, John Rudling, Leonard Sharp, Peter Williams, Neil Wilson, etc. Duração: 91 minutos; Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 22 de Novembro de 1956.

ALEC GUINNESS (1914–2000)
Alec Guinness de Cuffe nasceu a 2 de Abril de 1914 , em Marylebone, Londres, Inglaterra,  e faleceu a 5 de Agosto de 2000 , em Midhurst, Sussex, Inglaterra,  vítima de cancro.
Começou a sua carreira a trabalhar em publicidade. Estudou arte dramática no Fay Compton Studio of Dramatic Art e estreou-se como actor em 1936, no teatro Old Vic, em Londres. Em 1941, alistou-se na Marinha. Sempre preferiu o teatro ao cinema ou à televisão, mas foi no cinema que atingiu a sua glória internacional. Em 1946, roda, sob a direcção de David Lean, As Grandes Esperanças e, pouco depois, Oliver Twist. David Lean e Ronald Neame foram dois realizadores com quem trabalhou diversas vezes. Foi, e continua a ser, considerado um dos melhores actores ingleses de sempre, tendo estado sempre entre os três primeiros lugares, e várias vezes no primeiro.
Casado com Merula Salaman (1938-2000). Recebeu o título de Sir em reconhecimento pela sua contribuição para a arte do cinema e teatro. Em 1957, ganhou o Oscar de Melhor Actor, pelo seu trabalho em “A Ponte do Rio Kwai”. Foi nomeado por mais três vezes, como actor, e uma como argumentista, "The Horse's Mouth", uma adaptação do romance de Joyce Cary. Um dos actores mais premiados de sempre, com troféus nos BAFTAs, nos Globos de Ouro, no Festival de Berlim e no Festival de Veneza, entre diversos outros. Tem uma estrela no “Passeio da Fama”, em Hollywood Boulevard, no nº 1551 Vine Street.
Escreveu três volumes de memórias: 1985: “Blessings in Disguise”, 1997: “My Name Escapes Me: The Diary of a Retiring Actor” e 1999: “A Positively Final Appearance: A Journal 1996-98”.

Filmografia:
Como actor

1934: Evensong (Canção de Sempre), de Victor Saville (não creditado); 1946: Great Expectations (Grandes Esperanças), de David Lean; 1948: Oliver Twist (As  Aventuras de Oliver Twist), de David Lean; 1949: Kind Hearts and Coronets (Oito Vidas por um Título), de Robert Hamer; A Run for Your Money, de Charles Frend; 1950: Last Holiday, de Henry Cass; The Mudlark (A Rainha e o Vagabundo), de Jean Negulesco; 1951: The Lavender Hill Mob (Roubei Um Milhão), de Charles Crichton; The Man in the White Suit (O Homem do Fato Claro), de Alexander Mackendrick; 1952: The Card (Um Homem de Talento), de Arnold Bennett; 1953: The Square Mile (curta-metragem) (narrador); Malta Story (A Ilha Heróica), de Brian Desmond Hurst; The Captain's Paradise (O Paraíso do Capitão), de Anthony Kimmins; 1954: The Stratford Adventure), de Morten Parker; Father Brown (O Padre Brown Detective), de Robert Hamer; 1955: Baker's Dozen (TV); 1955: To Paris with Love (Amor à Inglesa... em Paris), de Robert Hamer; Rowlandson's England, de John Hawksworth (narrador); The Prisoner (O Prisioneiro), de Peter Glenville; The Ladykillers (O Quinteto Era de Cordas), de Alexander Mackendrick; 1956: The Swan (O Cisne), de Charles Vidor; 1957: The Bridge on the River Kwai (A Ponte do Rio Kwai), de David Lean; Barnacle Bill, de Charles Frend; 1958: The Horse's Mouth, de Ronald Neame; 1959: The Scapegoat, de Robert Hamer; Startime (TV) episódio The Wicked Scheme of Jebal Deeks; 1960: Tunes of Glory (Uma Vez, Um Herói), de Ronald Neame; Our Man in Havana, de Carol Reed; 1961: A Majority of One, de Mervyn LeRoy; 1962: Lawrence of Arabia (Lawrence da Arábia), de David Lean; H.M.S. Defiant (Revolta no Defiant), de Lewis Gilbert; 1964: The Fall of the Roman Empire (A Queda do Império Romano), de Anthony Mann; 1965: Situation Hopeless... but not Serious (Situação Desesperada... mas não Grave), de Gottfried Reinhardt; 1965: Pasternak (curta-metragem); Doctor Zhivago (Doutor Jivago), de David Lean; 1966: The Quiller Memorandum (O Processo Quiller), de Michael Anderson; Hotel Paradiso (Hotel Paraíso), de Peter Glenville; 1967: The Comedians (Os Comediantes), de Peter Glenville; The Comedians in Africa(curta-metragem); 1969: Cromwell (Cromwell), de Ken Hughes; ITV Saturday Night Theatre (TV) episódio Twelfth Night; 1970: Scrooge (Muito obrigado, Sr, Scrooge),  de Ronald Neame; 1973: Fratello Sole, Sorella Luna ou Brother Sun, Sister Moon (S. Francisco de Assis), de Franco Zeffirelli; Hitler: the Last Ten Days (Hitler: Os Últimos Dez Dias), de Ennio De Concini; 1974: The Gift of Friendship (TV); 1976: Murder by Death (Um Cadáver de Sobremesa), de Robert Moore; Caesar and Cleopatra, de James Cellan Jones (TV); 1977: To See Such Fun, de Jon Scoffield (documentário); Star Wars Episode IV: A New Hope (Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança), de George Lucas; 1979: Tinker, Tailor, Soldier, Spy (TV Mini-série) sete episódios; 1980: Raise the Titanic (A Guerra dos Abismos), de Jerry Jameson; Star Wars Episode V: The Empire Strikes Back (Star Wars: O Império Contra-Ataca), de Irvin Kershner; The Morecambe & Wise Show (TV) episódio Christmas Show; 1981: Little Lord Fontleroy (O Pequeno Lord), de Jack Gold (TV); 1982: Smiley's People (TV Mini-série) seis episódios; 1983: Star Wars Episode VI: Return of the Jedi (Star Wars: O Regresso de Jedi), de Richard Marquand; Lovesick, de Marshall Brickman; 1984: A Passage to India (Passagem Para a Índia), de David Lean; Edwin (TV); 1985: Great Performances (TV Série) episódio Monsignor Quixote; 1987: A Handful of Dust (Uma Mão Cheia de Pó), de Charles Sturridge; 1988: Little Dorrit, de Christine Edzar; 1991: Kafka (Kafka), de Steven Soderbergh; 1992: Performance (TV Série) episódio Tales from Hollywood; 1993: Screen One (TV Série) episódio A Foreign Field, de Charles Sturridge; 1994: Mute Witness (Não Falarás!), de Anthony Waller; 1996: Eskimo Day (TV).