O CLUBE (1985)
Os filmes de
adolescentes, quer sejam em tom de paródia, quer em drama, ou mesmo nos
terrenos do terror, são cada vez em maior número, tanto mais que cada vez mais
são os adolescentes a assegurar as receitas nas salas de cinema. É verdade que
os títulos que lhes prendem mais facilmente a atenção são os blockbusters em
alta velocidade ou com heróis da Marvel, ou equivalentes, o que tem afastado
compreensivelmente o público mais exigente das salas e a reservar a estas
audiências de maior idade e rigor as salas de estar, frente aos écrans de
televisão, onde se sucedem séries e teledramáticos muito mais interessantes.
É sobretudo desde os
anos 70 que as comédias sobre teenagers e estudantes em férias ou algo parecido
têm invariavelmente descaído de qualidade e de interesse na discussão dos
problemas dessa faixa etária. Filmes como “Gelado de Limão”, “Porky’s”,
“American Pie”, e sucedâneos levaram seguramente a que em 2001 surgisse um
título curioso, mas que não infletia as propostas: “Oh, não, Outro Filme de Adolescentes”
(Not Another Teen Movie). E nem obras com alguma originalidade, como “Doidos
por Mary” (There is Something About Mary, 1998) conseguiam furtar-se a cenas de
um evidente mau gosto, de uma escatologia vergonhosa ou de um voyeurismo sexual desajustado. Tudo
vale para vender gato por lebre a essas plateias deseducadas, estética e
culturalmente. O que interessa é facturar nas bilheiteiras, sem olhar a meios.
O resultado deste fenómeno que se estende do cinema à televisão (e que que
maneiras!) e às redes sociais está à vista de todos. Os jovens estão a ser
sacrificados no altar do lucro fácil, sem que ninguém faça nada por o impedir.
Claro que há
excepções e é isso mesmo que aqui nos traz. Por exemplo “Conta Comigo” (Stand
by Me), de Rob Reiner (1986) é um excelente exemplo de filme de adolescentes,
como também o é “Verão de 42” (Summer of ‘42), de Robert Mulligan (1971). Ou
quase toda a filmografia de John Hughes que, desde finais da década de 70 até
2009 (ano da sua morte precoce), nos deu argumentos e realizações quase sempre
empenhadas numa aproximação séria e apaixonada do mundo da adolescência, dos
seus problemas e ambições, das frustrações e angústias, das alegrias e
promessas.
“O Clube”, de 1985, é
talvez o melhor exemplo (como escritor e realizador), mas toda a sua
filmografia merece destaque pela seriedade como constroi a comédia. A sua série
de comédias sobre adolescentes inicia-se em 1984, com “16 Primaveras” (Sixteen
Candles), a que se seguem “O Clube” (The Breakfast Club), e ainda “Que Loucura
de Mulher” (Weird Science, 1985) e “O Rei dos Gazeteiros” (Ferris Bueller's Day
Off. 1986). Depois a sua carreira continua com comédias de um outro tipo, mas
sempre com méritos acima da média: “Antes Só que Mal Acompanhado” (Planes,
Trains and Automobiles. 1987), “A Vida não Pode Esperar” (She's Having a Baby,
1987), “O Meu Tio Solteiro” (Uncle Buck. 1988) e “A Pequena Endiabrada” (Curly
Sue,1991). Falamos da carreira de Hughes como realizador mas, enquanto
argumentista (assinou todos os argumentos das obras que dirigiu), escreveu
muitas histórias para outros autores, nomeadamente “Sozinho em Casa”.
“O Clube” é um filme
que trata os adolescentes de forma adulta, sem se referir a eles como idiotas
apenas preocupados com sexo e drogas, violência e rebeldia. Estes adolescentes
não são os grosseirões e mentecaptos do costume. Curiosamente todos estes temas
estão presentes neste título, mas não da forma especulativa que a grande
maioria dos filmes sobre o mesmo assunto o fazem. Aqui os temas são tratados
com dignidade e complexidade, sem que, apesar disso, deixe de existir um tom de
comédia, ainda que seja de admitir que se trata mais do tom de uma comédia
dramática.
Cinco adolescentes
são reunidos numa escola durante um fim-de-semana. Por uma razão ou por outra
“portaram-se mal” durante a semana anterior e a escola, o equivalente a uma
escola de ensino segundário em Portugal, reune-os para os obrigar a reflectir
sobre o seu comportamento. Os pais vão conduzi-los à escola na manhã de sábado
e irão recolhê-los no final do tempo de reclusão. Nesse intervalo, eles vão ser
conduzidos a uma sala de aulas, onde ficarão sob vigilância de um professor,
mas entregues a si próprios. Obviamente que de início de revoltam, cada um traz
os estigmas da sua educação, a relação com os pais está longe de ser a melhor,
mostram-se de início resistentes e hostis, lentamente vão amolecendo, falando,
abrindo-se uns aos outros até atingirem um outro grau de sociabilidade.
Problemas resolvidos? Nada disso. Apenas enfrentadas algumas situações e
entrevsitas algumas soluções.
O filme vive de um
argumento inteligente e sensível, impõe personagens verídicas na sua
humanidade, afastando-se das caricaturas tradicionais e dos estereótipos
abusivos, nas suas angústias e esperanças (que são poucas, diga-se) e apresenta
uma galeria de tipos dificilmente esquecíveis, tal a força da sua presença, o
que muito se deve ao grupo de actores reunido. Todos eles se tornaram
profissionais, uns com maior destaque do que outros, mas cremos que “O Clube”
continuará a ser para quase todos o momento supremo das suas carreiras. Um belo
filme, uma comédia discreta e intimista que merece ser recordada e que perdura
na memória de quem a viu.
O CLUBE
Título original: The Breakfast Club
Realização: John Hughes (EUA, 1985), Argumento: John Hughes; Produção: Gil Friesen,
John Hughes, Michelle Manning, Andrew Meyer, Ned Tanen; Música: Keith Forsey;
Fotografia (cor): Thomas Del Ruth; Montagem: Dede Allen; Casting. Jackie Burch;
Design de produção: John W. Corso; Decoração: Jennifer Polito; Guarda-roupa:
Marilyn Vance; maquilhagem: Ron Walters, Linle White; Direcção de Produção:
John C. Chulay, Adam Fields, Richard Hashimoto; Assistentes de realização:
Robert P. Cohen, James Giovannetti Jr.; Departamento de arte: Jack M. Marino,
Paul Stanwyck, Ted Wilson; Som: James R.
Alexander, Charles L. Campbell, Larry Carow, Richard C. Franklin, Robert L.
Hoyt, Nicholas Vincent Korda, Daniel J. Leahy, Jerry Stanford, John J.
Stephens; Efeitos especiais: William H.
Schirmer; Companhias de produção: A&M Films, Channel Productions, Universal
Pictures; Intérpretes: Emilio
Estevez (Andrew Clark), Paul Gleason (Richard Vernon), Anthony Michael Hall
(Brian Johnson), John Kapelos (Carl), Judd Nelson (John Bender), Molly Ringwald
(Claire Standish), Ally Sheedy (Allison Reynolds), Perry Crawford (pai de
Allison), Mary Christian (irmã de Brian), Ron Dean (pai de Andy), Tim Gamble
(pai de Claire), Fran Gargano(mae de Allison, Mercedes Hall (mae de Brian),
John Hughes (pai de Brian), etc. Duração: 97 minutos; Distribuição em Portugal: Universal; Classificação
etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 5 de Setembro de 1985.