O AEROPLANO (1980)
Esta
é, justificadamente, uma das comédias norte-americanas de maior sucesso de
sempre. Com um orçamento na ordem dos 3.500.000 dólares, fez receitas que
ultrapassaram os 130.000.000, o que é um indicador, mas não diz tudo, ou dirá
muito pouco da qualidade do filme. Mas, como principiei por dizer, esta é uma
obra que merece bem o êxito que conheceu, e continua a granjear um pouco por
toda a parte. Trata-se de um filme que começa por parodiar alguns outros que
lhe são obviamente anteriores e que se centravam em voos acidentados que davam
por vezes excitantes (outras vezes nem tanto) filmes-catástrofe. Sobretudo a
série “Aeroporto” é obviamente visada, com as suas três versões, “Aeroporto
75”, de Jack Smight (1974), “Aeroporto 77”, de Jerry Jameson (1977) e “Aeroporto
80”, de David Lowell Rich (1979), sendo, no entanto, a mais citada uma outra
película de 1957, “A Hora Zero”, de Hall Bartlett, com Dana Andrews, Linda
Darnell e Sterling Hayden, e que baseava o suspense da sua intriga num voo
durante o qual se declarava uma generalizada intoxicação a bordo, com
passageiros e tripulantes envenenados por algo que comeram. Em 1980,
“Aeroplano” retoma esta estrutura, mas em vez de explorarem o clima dramático,
parodiam-no, criando uma sátira a este tipo de filme-catástrofe extremamente
bem conseguida, com um argumento inventivo e deliciosamente gozado.
Mas
não são só os filmes-catástrofe que são visados. As primeiras imagens de “O
Aeroplano” parodiam desde logo “Tubarão”, com a cauda de um avião a atravessar
as nuvens, suportado por uma partitura musical que relembra directamente o
clássico de Steven Spielberg. Este tipo de referência mantém-se ao longo de
todo o voo, ora citando “Febre de Sábado à Noite” (1977), ora “Música no
Coração” (1965), ora outros títulos de alusão mais ou menos óbvia. Mas parodiar
outros filmes não é, por si só, algo que mereça ser olhado com especial
relevância. Neste caso, o que valoriza esse elemento é o aproposito das
citações, a forma como elas se integram no conjunto, e o tipo de humor que
provocam.
É
o voo 209 com partida de Los Angeles e destino a Chicago que está no centro
desta obra. Ted Shiker, um taxista, traumatizado com a anterior experiência
como piloto de guerra, resolve deixar à porta do aeroporto um cliente à sua
espera, enquanto procura demover a sua namorada Elaine, uma hospedeira de
bordo, de cortar com a relação. Os seus esforços são extremos, vão ao ponto de
comprar um bilhete e fazer a viagem para tentar falar com a namorada e
dissuadi-la da ruptura. Elaine, porém. Está inamovível. Mas o pior está para
acontecer: os passageiros do voo vão, um a um, sendo vítimas de uma intoxicação
alimentar e a viagem tornar-se-ia numa verdadeira tragédia, sobretudo quando
todo o pessoal do cockpit cai para o lado, e deixa o avião entregue a um piloto
automático que também acabará por se desligar, se não estivessemos perante uma
comédia absolutamente delirante, onde os gags se sucedem a um ritmo
vertiginoso, com excelentes actores a sustentarem personagens inesquecíveis.
Jim Abrahams e os irmãos Jerry Zucker e David Zucker assinam a realização e o
argumento desta produção de Jon Davison e Howard W. Koch, onde surge um elenco
notável, onde sobressaem os nomes de Robert Hays, Julie Hagerty, o
ex-basquetebolista Kareem Abdul-Jabbar, Lloyd Bridges, Leslie Nielsen, Peter
Graves, Robert Stack, entre outros. Tanto a partitura musical de Elmer
Bernstein como a fotografia de Joseph F. Biroc contribuem para o sucesso final,
que foi responsável por uma continuação, “Aeroplano II: A Loucura Continua” (Airplane
II: The Sequel, 1982), com um elenco semelhante, mas um novo realizador, Ken
Finkleman, e por um conjunto de outras comédias que reuniram o grupo, “Ultra
Secreto”, “Ases pelos Ares”, 1 e 2, ou a série televisiva “Aonde é que Pára a Polícia”.
“O
Aeroplano” afirma-se assim como um sólido clássico no domínio da comédia. Na
listagem das melhores comédias de sempre, organizada pelo American Film
Institute, encontra-se situada em décimo lugar, enquanto numa sondagem
organizada pelo britânico Channel 4, foi considerada a segunda melhor comédia
de todos os tempos. Vários foram os prémios recolhidos em certames e festivais.
Mas o melhor de tudo é a recepção do público, cada vez que o filme é exibido em
salas de cinema ou em canais de TV.
O AEROPLANO
Título original:
Airplane!
Realização: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker (EUA, 1980); Argumento: Jim
Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker e ainda (não creditados), Arthur Hailey,
John C. Champion, Hall Bartlett, Arthur Hailey; Produção: Jim Abrahams, Jon
Davison, Howard W. Koch, Hunt Lowry, David Zucker, Jerry Zucker; Música: Elmer
Bernstein; Fotografia (cor): Joseph F. Biroc; Montagem: Patrick Kennedy;
Casting: Joel Thurm; Design de produção: Ward Preston; Decoração: Anne D.
McCulley; Guarda-roupa: Rosanna Norton; Maquilhagem: Edwin Butterworth, Joan
Phillips, Rob Bottin; Direcção de Produção: Maurice Vaccarino, Lindsley Parsons
Jr.; Assistentes de realização: Daniel Attias, Kenneth D. Collins, Arne
Schmidt; Departamento de arte: Jeff Clark, Wally Graham, Mike Higelmire, Joseph
E. Hubbard, Steven M. Levine; Som: David E. Campbell, Bill Henderson, David J.
Hudson, Dennis Jones, Tom Overton, John T. Reitz, James Troutman; Efeitos
especiais: John Frazier, Chris Walas; Efeitos visuais: Max W. Anderson, Robert Blalack,
Chris Casady, Donald Hansard Sr., Bill Hedge, Richard O. Helmer, Peter Kuran,
Bruce Logan, Jamie Shourt; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Robert Hays (Ted Striker),
Julie Hagerty (Elaine Dickinson), Leslie Nielsen (Dr. Barry Rumack), Peter
Graves (Capitão Clarence Oveur), Lloyd Bridges (Steve McCroskey), Robert Stack
(Capitão Rex Kramer), Lorna Patterson (Randy, a aeromoça loira), Stephen
Stucker (Johnny Henshaw-Jacobs), Frank Ashmore (Victor Basta), Jonathan Banks
(Gunderson), Berenson (Paul Carey), Barbara Billingsley (Jive Lady), Lee Bryant
(Mrs. Hammen), Nicholas Pryor (Sr. Jim Hammen), Joyce Bulifant (Sra. Davis),
Craig Marcy Goldman (Sra. Geline), Barbara Stuart (Sra. Kramer), Ross Harris
(Joey Hammen), Jim Abrahams (religioso zelota), James Hong, Norman Alexander
Gibbs, Kareem Abdul-Jabbar, Roger Murdock, Al White, David Leisure, Jill
Whelan, Ethel Merman, Lee Terri, Howard Jarvis, Otto, etc. Duração: 88 minutos;
Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais / Paramount; Classificação
etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 19 de Dezembro de 1980.