domingo, 17 de julho de 2016

SESSÃO 35 - 20 DE JULHO DE 2016


O AEROPLANO (1980)

Esta é, justificadamente, uma das comédias norte-americanas de maior sucesso de sempre. Com um orçamento na ordem dos 3.500.000 dólares, fez receitas que ultrapassaram os 130.000.000, o que é um indicador, mas não diz tudo, ou dirá muito pouco da qualidade do filme. Mas, como principiei por dizer, esta é uma obra que merece bem o êxito que conheceu, e continua a granjear um pouco por toda a parte. Trata-se de um filme que começa por parodiar alguns outros que lhe são obviamente anteriores e que se centravam em voos acidentados que davam por vezes excitantes (outras vezes nem tanto) filmes-catástrofe. Sobretudo a série “Aeroporto” é obviamente visada, com as suas três versões, “Aeroporto 75”, de Jack Smight (1974), “Aeroporto 77”, de Jerry Jameson (1977) e “Aeroporto 80”, de David Lowell Rich (1979), sendo, no entanto, a mais citada uma outra película de 1957, “A Hora Zero”, de Hall Bartlett, com Dana Andrews, Linda Darnell e Sterling Hayden, e que baseava o suspense da sua intriga num voo durante o qual se declarava uma generalizada intoxicação a bordo, com passageiros e tripulantes envenenados por algo que comeram. Em 1980, “Aeroplano” retoma esta estrutura, mas em vez de explorarem o clima dramático, parodiam-no, criando uma sátira a este tipo de filme-catástrofe extremamente bem conseguida, com um argumento inventivo e deliciosamente gozado.
Mas não são só os filmes-catástrofe que são visados. As primeiras imagens de “O Aeroplano” parodiam desde logo “Tubarão”, com a cauda de um avião a atravessar as nuvens, suportado por uma partitura musical que relembra directamente o clássico de Steven Spielberg. Este tipo de referência mantém-se ao longo de todo o voo, ora citando “Febre de Sábado à Noite” (1977), ora “Música no Coração” (1965), ora outros títulos de alusão mais ou menos óbvia. Mas parodiar outros filmes não é, por si só, algo que mereça ser olhado com especial relevância. Neste caso, o que valoriza esse elemento é o aproposito das citações, a forma como elas se integram no conjunto, e o tipo de humor que provocam.


É o voo 209 com partida de Los Angeles e destino a Chicago que está no centro desta obra. Ted Shiker, um taxista, traumatizado com a anterior experiência como piloto de guerra, resolve deixar à porta do aeroporto um cliente à sua espera, enquanto procura demover a sua namorada Elaine, uma hospedeira de bordo, de cortar com a relação. Os seus esforços são extremos, vão ao ponto de comprar um bilhete e fazer a viagem para tentar falar com a namorada e dissuadi-la da ruptura. Elaine, porém. Está inamovível. Mas o pior está para acontecer: os passageiros do voo vão, um a um, sendo vítimas de uma intoxicação alimentar e a viagem tornar-se-ia numa verdadeira tragédia, sobretudo quando todo o pessoal do cockpit cai para o lado, e deixa o avião entregue a um piloto automático que também acabará por se desligar, se não estivessemos perante uma comédia absolutamente delirante, onde os gags se sucedem a um ritmo vertiginoso, com excelentes actores a sustentarem personagens inesquecíveis. Jim Abrahams e os irmãos Jerry Zucker e David Zucker assinam a realização e o argumento desta produção de Jon Davison e Howard W. Koch, onde surge um elenco notável, onde sobressaem os nomes de Robert Hays, Julie Hagerty, o ex-basquetebolista Kareem Abdul-Jabbar, Lloyd Bridges, Leslie Nielsen, Peter Graves, Robert Stack, entre outros. Tanto a partitura musical de Elmer Bernstein como a fotografia de Joseph F. Biroc contribuem para o sucesso final, que foi responsável por uma continuação, “Aeroplano II: A Loucura Continua” (Airplane II: The Sequel, 1982), com um elenco semelhante, mas um novo realizador, Ken Finkleman, e por um conjunto de outras comédias que reuniram o grupo, “Ultra Secreto”, “Ases pelos Ares”, 1 e 2, ou a série televisiva “Aonde é que Pára a Polícia”.  
“O Aeroplano” afirma-se assim como um sólido clássico no domínio da comédia. Na listagem das melhores comédias de sempre, organizada pelo American Film Institute, encontra-se situada em décimo lugar, enquanto numa sondagem organizada pelo britânico Channel 4, foi considerada a segunda melhor comédia de todos os tempos. Vários foram os prémios recolhidos em certames e festivais. Mas o melhor de tudo é a recepção do público, cada vez que o filme é exibido em salas de cinema ou em canais de TV.


O AEROPLANO
Título original: Airplane!

Realização: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker (EUA, 1980); Argumento: Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker e ainda (não creditados), Arthur Hailey, John C. Champion, Hall Bartlett, Arthur Hailey; Produção: Jim Abrahams, Jon Davison, Howard W. Koch, Hunt Lowry, David Zucker, Jerry Zucker; Música: Elmer Bernstein; Fotografia (cor): Joseph F. Biroc; Montagem: Patrick Kennedy; Casting: Joel Thurm; Design de produção: Ward Preston; Decoração: Anne D. McCulley; Guarda-roupa: Rosanna Norton; Maquilhagem: Edwin Butterworth, Joan Phillips, Rob Bottin; Direcção de Produção: Maurice Vaccarino, Lindsley Parsons Jr.; Assistentes de realização: Daniel Attias, Kenneth D. Collins, Arne Schmidt; Departamento de arte: Jeff Clark, Wally Graham, Mike Higelmire, Joseph E. Hubbard, Steven M. Levine; Som: David E. Campbell, Bill Henderson, David J. Hudson, Dennis Jones, Tom Overton, John T. Reitz, James Troutman; Efeitos especiais: John Frazier, Chris Walas; Efeitos visuais: Max W. Anderson, Robert Blalack, Chris Casady, Donald Hansard Sr., Bill Hedge, Richard O. Helmer, Peter Kuran, Bruce Logan, Jamie Shourt; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Robert Hays (Ted Striker), Julie Hagerty (Elaine Dickinson), Leslie Nielsen (Dr. Barry Rumack), Peter Graves (Capitão Clarence Oveur), Lloyd Bridges (Steve McCroskey), Robert Stack (Capitão Rex Kramer), Lorna Patterson (Randy, a aeromoça loira), Stephen Stucker (Johnny Henshaw-Jacobs), Frank Ashmore (Victor Basta), Jonathan Banks (Gunderson), Berenson (Paul Carey), Barbara Billingsley (Jive Lady), Lee Bryant (Mrs. Hammen), Nicholas Pryor (Sr. Jim Hammen), Joyce Bulifant (Sra. Davis), Craig Marcy Goldman (Sra. Geline), Barbara Stuart (Sra. Kramer), Ross Harris (Joey Hammen), Jim Abrahams (religioso zelota), James Hong, Norman Alexander Gibbs, Kareem Abdul-Jabbar, Roger Murdock, Al White, David Leisure, Jill Whelan, Ethel Merman, Lee Terri, Howard Jarvis, Otto, etc.  Duração: 88 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais / Paramount; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 19 de Dezembro de 1980.

SESSÃO 34 - 19 DE JULHO DE 2016


ANNIE HALL (1977)

O lado aparentemente confessional de “Annie Hall” (mas suficientemente equívoco, nos limites entre o “confessado” e o “imaginado”, para se furtar a qualquer interpretação mais abusiva) é algo que se vem repercutindo de filme para filme de Woody Allen, desde “O Inimigo Público”. As alusões à infância, aos pais, à vida em família, à desadaptação, aos traumas e às obsessões (a morte e o sexo, em grande plano), tudo isso se identifica com um discurso que se vem reproduzindo invariavelmente desde o início da carreira, ainda que obedecendo a uma certa maturação progressiva.
“Annie Hall” é a história de um casamento que se desagrega e cujo passado se interroga. A impossibilidade das relações humanas, para lá do amor que continuamente se confessa (“Annie Hall” é, por detrás do filme que se representa, uma declaração de amor de Woody Allen a sua ex-mulher, Diane Keaton). Sintoma de uma esquizofrenia domesticada e latente, que emerge de “uma maneira americana de viver”, as personagens interpretadas por Woody Allen e Diane Keaton oferecem-nos o retrato da sua instabilidade, do nervosismo galopante que tudo invade e corrói, e dos subterfúgios inventados para desviar a atenção do essencial, da aspirina à droga, da psicanálise à televisão. Com um olhar de grande agressividade crítica na solidão dos seus gestos e no desespero do seu olhar, Woody Allen investe contra a mentira da vida e a hipocrisia do espectáculo, tendo por pano de fundo o “Face to Face”, de Bergman e “Chantons sous l’Occupation”, de Ophuls. De Bergman, o confronto do casal que analisa as ruínas; de Ophuls o drama do judeu que Allen não renega e constantemente relembra.
Viagem pelos grandes mitos da sociedade e da civilização norte-americanas, “Annie Hall” é um filme de um humor cerebral, inferiorizado, discreto, que explode por vezes, como nas sequências consagradas a Hollywood, Beverly Hills, Los Angeles, o cinema das “majors” e a televisão (esta última tratada com a raiva que provoca o vómito e o estertor).


Nesta sua obra, Woody Allen não será tão freneticamente cómico como nalgumas outras anteriores. Mas a qualidade do olhar amadurece com a experiência, enquanto o estilo se torna mais fluente e a modernidade da narrativa brota sem artifícios nem rebuscamentos. “Annie Hall” é um filme que se sente rodado na primeira pessoa do singular. Um autor que se confessa, mesmo quando mente ou julga mentir, quando inventa ou julga inventar. É Woody Allen quem nos surge sempre, de olhos nos olhos, desafiando o espectador. Coloquial, como quando “saca” Marshall McLuhan de detrás de um cartaz para contrapor a essência da sua teoria às “explicações” levianas de um emproado “prof.”.
Se a obra de Woody Allen nos aparecia até aqui particularmente rica e promissora, a verdade é que muito se poderia continuar a esperar do talento e do universo caótico desta humorista-moralista que, fotograma a fotograma, nos vai dando o seu retrato da vida e da América. Acompanhado de cartas de amor, voluptuoso e arrebatado. E como é belo o cinema que se escreve com amor, de Sternbeng a Godard!


ANNIE HALL
Título original: Annie Hall
Realização: Woody Allen (EUA, 1977); Argumento: Woody Allen, Marshall Brickman; Fotografia (cor):Gordon Willis; Montagem: Wendy Greene Bricmont, Ralph Rosenblum; Casting: Juliet Taylor; Direcção artística: Mel Bourne; Decoração: Robert Drumheller, Justin Scoppa Jr.; Guarda Roupa: Ralph Lauren,Ruth Morley; Maquilhagem: Fern Buchner, Romaine Greene, John Inzerella, Vivienne Walker; Direcção de produção: Robert Greenhut; Assistentes de realização: Frederic B. Blankfein, C. Tad Devlin, Fred T. Gallo; Departamento de Arte: Joseph Badalucco Jr., Barbara Krieger, Pat O'Connor, Thomas Saccio, Cosmo Sorice, Joe Williams Sr.; Som: Jack Higgins, James Pilcher, James Sabat, Dan Sable, William S. Scharf; Produção: Fred T. Gallo, Robert Greenhut, Charles H. Joffe, Jack Rollins; Intérpretes: Woody Allen (Alvy Singer), Diane Keaton (Annie Hall), Tony Roberts (Rob), Carol Kane (Allison), Paul Simon (Tony Lacey), Shelley Duvall (Pam), Janet Margolin (Robin), Colleen Dewhurst (Mama Hall), Christopher Walken (Duane Hall), Donald Symington (Papa Hall), Helen Ludlam, Mordecai Lawner. Joan Neuman, Jonathan Munk, Ruth Volner, Martin Rosenblatt, Hy Anzell, Rashel Novikoff, Russell Horton, Marshall McLuhan, Christine Jones,Mary Boylan, Wendy Girard, John Doumanian, Bob Maroff, Rick Petrucelli, Lee Callahan, Chris Gampel, Dick Cavett, Mark Lenard, Dan Ruskin, John Glover, Bernie Styles, Johnny Haymer, Ved Bandhu, John Dennis Johnston, Laurie Bird, Jim McKrell, Jeff Goldblum, William Callaway, Roger Newman, Alan Landers, Tracey Walter, David Wier, Keith Dentice, Susan Mellinger, Hamit Perezie, James Balter, Eric Gould, Amy Levitan, Gary Allen, Frank Vohs, Sybil Bowan, Margaretta Warwick, Lucy Lee Flippin, Gary Mule Deer, Sigourney Weaver, Walter Bernstein, Truman Capote, etc. ; Duração: 93 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): LNK; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 30 de Março de 1978.


WOODY ALLEN

Filmografia / como realizador: 1967: What's Up, Tiger Lilly? (Que Há de Novo Gatinha?) (filme japonês de acção, assinado por Senkichi Taniguchi, recriado por W. A. Na sua versão norte-americana); 1969: Take the Money and Run (O Inimigo Público); 1971: Bananas (Bananas); 1972: Everything You Always to Know About Sex, But Were Afraid To Ask (O ABC do Amor); 1973: Sleeper (O Herói do Ano 2000); 1975: Love and Death (Nem Guerra, Nem Paz); 1977: Annie Hall (Annie Hall); 1978: Interiors (Intimidade); 1979: Manhattan (Manhattan); 1980: Stardust Memories (Recordações); 1982: A Midsummer Night's Sex Comedy (Uma Comédia Sexual numa Noite de Verão); 1983: Zelig (Zelig); 1984: Broadway Danny Rose (O Agente da Broadway); 1985: The Purple Rose of Cairo (A Rosa Púrpura do Cairo); 1986: Hannah and her Sisters (Ana e as Suas Irmãs); 1987: Radio Days (Os Dias da Rádio); 1987: September (Setembro); 1988: Another Woman (Uma Outra Mulher); 1989: New York Stories (Histórias de Nova Iorque) (episódio "Oedipus Wrecks"); 1989: Crimes and Misdemeanors (Crimes e Escapadelas); 1990: Alice (Alice); 1991: Shadows and Fog (Sombras e Nevoeiro); 1992: Husbands and Wives (Maridos e Mulheres); 1993: Manhattan Murder Mystery (O Misterioso Assassínio em Manhattan); 1994: Bullets Over Broadway (Balas Sobre a Broadway); 1995: Mighty Aphrodite (Poderosa Afrodite); 1996: Everyone Says I Love You (Toda a Gente Diz Que Te Amo); 1997: Deconstructing Harry (As Faces de Harry); 1998: Celebrity (Celebridades); 1999: Sweet and Lowdown (Através da Noite); 2000: Small Time Crooks (Vigaristas de Bairro); 2001: The Curse of Jade Scorpion (A Maldição do Escorpião de Jade); The Concert for New York City (TV documentário) (episódio "Sounds from the Town); Sounds from a Town I Love (TV curta metragem); 2002: Hollywood Ending (Hollywood Ending); 2002: Anything Else (Anything Else - A Vida e Tudo o Mais); 2004: Melinda and Melinda (Melinda e Melinda); 2005: Match Point (Match Point); 2006: Scoop (Scoop); 2006: Home; 2007: Cassandra's Dream (O Sonho de Cassandra); 2008: Vicky Cristina Barcelona (Vicky Cristina Barcelona); 2009: Whatever Works (Tudo Pode Dar Certo); 2010: You Will Meet a Tall Dark Stranger (Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos); 2011: Midnight in Paris (Meia-Noite em Paris); 2012: To Rome with Love (Para Roma com Amor); 2013: Blue Jasmine (Blue Jasmine); 2014: Magic in the Moonlight (Magia ao Luar); 2015: Irrational Man (Homem Irracional); 2016: Café Society; Projecto sem título de Woody Allen Project, série  de tv em 6 episódios.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

SESSÃO 33 - 13 DE JULHO DE 2016



WOODY ALLEN E “O INIMIGO PÚBLICO”

Autor de mais de cinco dezenas de obras (que realiza à media de uma por ano), Woody Allen é, indiscutivelmente, um dos maiores cineastas vivos e um dos mais importantes retratistas da nossa sociedade. Não se trata de um autor que procure grandes orçamentos e temas grandiloquentes. A sua arte é quase a do miniaturista que gosta de analisar pequenas células familiares e os reduzidos orçamentos permitem-lhe a total liberdade de acção que de outra forma não conseguiria. O prestígio de que goza junto dos actores leva-o a poder escolher quem quer para ser por si dirigido (os elencos das suas obras são quase um dicionário de actores americanos contemporâneos, e não só!) e as equipas técnicas mantêm-se de filme para filme, com raras excepções, o que indicia também uma “família” técnica a rodear o cineasta. Na verdade vários dos mais reputados técnicos colaborarem com ele (na direcção de fotografia, por exemplo, Gordon Willis, Carlo Di Palma, Sven Nikvist, Zhao Fei sucedem-se ao longo de quase cinquenta anos, alguns com bastante insistência).
Nascido em Nova Iorque, a 1 de Dezembro de 1935 (signo Sagitário, a quem pertencem, entre outros, Jean Genet, William Blake, Edith Piaf, Heine Rilke, Toulouse Lautrec, Florbela Espanca...), de origem judaica, o seu nome de baptismo é Allen Stewart Konisberg. O pai, Martin Konisberg, trabalhou durante grande parte da sua vida no negócio de diamantes e foi empregado do Sammys Bougery Follies. Informações que não são, todavia, concordantes com a descrição do próprio Woody Allen, que, deste período da sua vida, disse, certamente em tom de “blague”: “Nasci numa família “burguesa”: o meu pai era motorista de táxi e a minha mãe vendia flores. Como não arranjaram vaga na escola para mim, colocaram-me num colégio para atrasados mentais”.


E continuou: “Aos 12 anos ainda fazia bolinhas nos cadernos. Aos 15, sonhava ser agente secreto: estudava impressões digitais, lia tudo sobre crimes e só esperava pelo momento de ser contratado pelo FBI. Mais tarde, ao saber que os agentes secretos tinham de engolir os microfilmes, e, como o meu médico me tinha proibido de comer gelatina, comecei a estudar artes mágicas. Cansei-me logo de tantos coelhos, lenços e caixas secretas e, como não tenho boa memória, acabaria certamente por enforcar os coelhos nos lenços. Assim, decidi escrever... anedotas. De dia trabalhava em relações públicas, e à noite escrevia piadas. Escrevia coisas de uma idiotice total”.
Começa realmente a escrever, aos 17 anos, “gags” para alguns dos mais famosos cómicos e “entertainers” da televisão norte-americana desses anos, como Síd Caeser, Ed Sullivan, Garry Moore ou Sid Corney. Torna-se um nome muito solicitado para os “shows” televisivos, mas a TV deixa-lhe más recordações e cedo se afasta: “Naquele tempo, a televisão precisava de gente e qualquer pessoa, mesmo um cretino, arranjava um “lugarzinho”. A televisão melhorou muito o meu senso crítico. Tanto que hoje já não a vejo”.
No teatro, é autor de várias peças, duas das quais já adaptadas ao cinema (“Play It Again, Sam”, dirigida por Herbert Ross, com o próprio Woody Allen no protagonista, “O Grande Conquistador” em português; e ainda “Don’t Drink The Water” - “Não Metas Água” -, com realização de Howard Morris, medíocre aproveitamento de uma situação com o seu quê de estafada - uma família de New Jersey, composta por “americanos típicos”, é desviada para a Bulgária, onde é tomada por espiões).
Começa a aparecer igualmente com bastante regularidade em jornais e revistas: “Fundei uma espécie de agência com um só funcionário - eu próprio. Escrevia e despejava artigos da minha autoria como quem vende salsichas, “Esquire”, “Life”, “New Yorker”, “Playboy”, teatro, televisão, “boites”, tudo foi invadido por Woody Allen. Na América, se alguém quisesse ignorar-me era impossível: eu estava lá e, como o custo de vida, subia vertiginosamente...” Algumas recolhas de textos seus conhecem um sucesso invulgar em todo o mundo onde são editados, inclusive em Portugal.


Por 25 dólares por semana, ao que consta, Allen passava o tempo que lhe restava dos estudos na Universidade de Nova Iorque escrevendo piadas que um dia o produtor Charles Feldman encontrou “cinematográficas”. Assim surgiu a sua estreia no cinema, como um dos autores de “What’s New, Pussicat?” (Que há de novo, Gatinha?, filme de Clive Donner, comédia absurda com uma base de “vaudeville’, onde Woody Allen surgia igualmente como actor, em meia dúzia de cenas que eram ainda o que de melhor o filme oferecia.)
Sobre “Pussicat” disse Woody AlIen: “Aprendi alguma coisa de como fazer filmes. Quando se está a rodar um grande filme de 4 000 000 de dólares, temos sempre à nossa volta uma quantidade de gente que diz estar a “proteger os investimentos”. Eles queriam um filme rapariga-rapariga-sexo-sexo para fazer uma fortuna. Eu tinha mais qualquer coisa na cabeça. Conseguiram um filme rapariga-rapariga-sexo-sexo que fez uma fortuna.”
Woody Allen surge depois numa aventura burlesca e louca em 007 - “Casino Royal”. Não aparece entre os autores do argumento. Mas, para lá da sua participação como actor, descobrem-se muitas ideias e diálogos obviamente da sua autoria. Antes de iniciar a carreira como realizador (e autor integral de filmes), Allen ainda adaptou um filme de espionagem japonês a comédia americana. De 1969 é o primeiro filme de Woody Allen, aquele que o revelaria nos EUA e na Europa - “Take lhe Money and Run” (O Inimigo Público).


O INIMIGO PÚBLICO (1969)

Na linha do melhor burlesco americano, Woody Allen conta com antepassados ilustres como Buster Keaton (de quem herda uma certa qualidade nostálgica de olhar), Chaplin (que lhe trespassa o ar abandonado de pobre diabo), Bucha e Estica ou os irmãos Marx (e o seu universo caótico e profundamente absurdo). Mas Woody Allen não se fica pelos antepassados remotos e vai beber a Jerry Lewis (sobretudo no início da sua carreira) as influências inequívocas (nomeadamente na convivência desastrada com os objectos, as máquinas, etc.). Acontece, porém, que depois de ter visto muito cinema, Woody Allen resolveu iniciar um caminho pessoal. Assim, as influências são manifestas, mas nunca o plágio.
Woody Allen deixou-se impregnar pelo espírito do burlesco americano, pelo seu mecanismo de riso, mas reinventa os “gags”, repensa a sua utilização redescobre o cinema. Ou seja: sabe o que quer e como quer. Não hesita. “Take lhe Money and Run”, seu primeiro filme de fundo, escrito, realizado e interpretado por si, é um atestado de maturidade e a afirmação de um talento de recursos inesgotáveis.
Intencional e cáustico na sua sátira, Woody Allen não deixa qualquer pormenor ao acaso. Todos os seus “achados” têm uma justificação. A escrita é moderna, sincopada, integrando a entrevista de TV (como sejam os casos das diversas personalidades que são chamadas a depor sobre Virgil Starkwell, incluindo os seus pais que, envergonhados com a conduta do filho, se disfarçam com elementos de Groucho Marx) ou o comentário “off” com a narrativa linear das desventuras de um “inimigo público”. Tudo isto se consegue sem uma falha de ritmo, sem uma concessão, sem perda de unidade, muito embora grande parte dos “gags” seleccionados tivessem sido já utilizados em anteriores “shows”. Allen, de uma inteligência revigorante, obriga a acção a galopar. Difícil se torna comentar os “gags” que se sucedem. Anotemos, porém, alguns como exemplares: Virgil desde criança que é apanhado sempre que tenta qualquer expediente. Como castigo, deitam-lhe os óculos fora e pisam-nos. Inclusive o juiz do tribunal. Tempos depois, quando uma evasão se logra, Virgil é o primeiro a aceitar o falhanço e ele mesmo tira os óculos e os pisa, em autopunição. Toda a sequência do assalto preparado com máquina de filmar e quatro cúmplices de má estirpe, é perfeitamente antológica - o realizador é Fritz e deverá ter algo a ver com Lang -, bem assim como a fuga dos seis condenados, ligados por uma corrente. Desconcertante e profundamente absurdo, “O Inimigo Público” ficará como uma das mais importantes estreias em comédia de finais da década de 60. Através dela renova-se um “género” por essa altura um tanto ou quanto depauperado e que Woody Allen reconduz a primeiríssimo plano, servindo-se para tanto de uma paródia inspirada no “filme negro” e na biografia de “gangsters” de uma genuína tradição americana.

O INIMIGO PÚBLICO 
Título original: Take the Money and Run

Realização: Woody Allen (EUA, 1969); Argumento: Woody Allen, Mickey Rose; Música: Marvin Hamlisch; Fotografia (cor): Lester Shorr; Montagem: Paul Jordan, Ron Kalish; Casting: Marvin Paige; Direcção artística: Fred Harpman; Decoração: Marvin March; Maquilhagem: Stanley R. Dufford; Direcção de produção: Fred T. Gallo, Jack Grossberg; Assistentes de realização: Walter Hill, Louis A. Stroller; Departamento de Arte: Ted Moehnke, Ken Phelps, Chardin W. Smith; Som:  Bud Alper, Frank Kulaga, Sanford Rackow, John Strauss, Dick Vorisek; Efeitos Especiais: A.D. Flowers; Produção: Charles H. Joffe, Sidney Glazier, Jack Grossberg, Jack Rollins, Edgar J. Scherick; Intérpretes: Woody Allen (Virgil Starkwell), Janet Margolin (Louise), Marcel Hillaire (Fritz), Jacquelyn Hyde (Miss Blair), Lonny Chapman (Jake), Jan Merlin (Al), James Anderson (Chain Gang Warden), Jackson Beck (Narrador), Howard Storm (Fred), Mark Gordon (Vince), Micil Murphy (Frank), Minnow Moskowitz (Joe Agneta), Nate Jacobson (Juiz), Grace Bauer (camponesa), Henry Leff (pai de Starkwell), Ethel Sokolow (mãe de Starkwell), Louise Lasser (Kay Lewis), Dan Frazer (psicanalista), Mike O'Dowd (Michael Sullivan), Roy Engel (guarda de prisão), etc. Duração: 85 minutos; Distribuição em Portugal: nesta altura inexistente; Edição DVD: Creative Films, Espanha; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 14 de Julho de 1971.

SESSÃO 32 - 12 DE JULHO DE 2016


DUAS FERAS (1938)

O professor David Huxley (Cary Grant), a quem chamam zoólogo, mas que nos nossos dias seria um paleontólogo, que se dedica a recuperar o monumental esqueleto de um dinossauro, no Museu de História Natural, tem o casamento marcado para o dia seguinte, mas esse facto parece não o preocupar muito. Entusiasmado está com a chegada do último osso que lhe falta para terminar a sua gigantesca empreitada. Por outro lado, o museu vive com dificuldades e há uma hipótese de mecenato, vindo de alguém, milionário, que está disposto a atribuir uma choruda quantia para a prossecução das tarefas de David. No dia seguinte, mas antes de casar, David irá encontrar-se com o intermediário que o levará até junto do desconhecido benfeitor, num campo de golfe. Pelo meio aparece a azougada Susan Vance (Katherine Hepburn), por acaso sobrinha da milionária (o que é desconhecido pelo zoólogo), que se intromete na partida e na vida do noivo.
De peripécia em peripécia, que mete um leopardo pelo meio, casacas e vestidos rasgados, casamentos anulados e a derrocada do esqueleto do dinossauro, “Duas Feras” mostra como se constrói com genialidade uma comédia a que os norte-americanos chamaram “screwball comedy”, e que se poderá definir como “comédias de situações inesperadas”, com características muito pouco definidas, mas onde surgem normalmente jogos de equívocos, situações dúbias, um clima romântico, com mulheres de invulgar desenvoltura, acção rápida e tumultuosa, muitas vezes rodado em redor do casamento ou de parelhas que se fazem e desfazem em velhos e novos envolvimentos emocionais. Um importante crítico de cinema, Andrew Sarris, classificou este tipo de comédia como "sexual sem o sexo". Diríamos nós que se trata de comédias apimentadas, carregadas de subterfúgios para não abordar directamente o sexo (facto proibido pelo austero código de censura Hays), mas profundamente eróticas nas sugestões de diálogos e de situações. Quando o sofisticado vestido de noite de Susan Vance se rasga atrás, deixando a descoberto o que não o devia estar, David Huxley cola-se a ela para impedir que os frequentadores do luxuoso restaurante usufruam de algo mais do que é oferecido nas ementas. Mas obviamente que a situação desperta sorrisos e deixa adivinhar outras suposições, o que aflige Susan, mas não a afasta dos seus propósitos, ela que se apaixonou pelo paleontólogo e havia jurado a si própria que o haveria de caçar, declarando mesmo: "Este é o homem com quem vou casar. Ele ainda não sabe, mas eu vou casar com ele".
Curiosidade. Esta sequência do vestido rasgado inspira-se num caso real acontecido a Cary Grant, que ele contou ao realizador e este aproveitou para o filme. Grant contara que, uma noite, durante uma sessão especial no Roxy Theater, ao levantar-se da cadeira, o seu sapato prendeu-se no vestido de uma senhora que seguia à sua frente, obrigando-o a acompanhá-la atrás dela, para não rasgar o tecido.


Mulheres decididas é o que abunda na “screwball comedy”. Basta recordar alguns títulos dos exemplos mais famosos deste género: “The Philadelphia Story”, “Holiday” e “Sylvya Scarlet”, todos de George Cukor, “His Girl Friday” e “I Was a Male War Bride”, ambos de Howard Hawks, “It Happened One Night”, de Frank Capra, “My Man Godfrey”, de Gregory LaCava, “The Lady Eve”, de Preston Sturges, entre muitos outros passíveis de serem citados, sobretudo entre as décadas de 30 e 40. Mas há exemplos mais recentes, como “What’s up Doc?”, de Peter Bogdanovich, que de certa forma retoma o tema de “Bringing Up Baby”, ou ainda o fabuloso “Some Like It Hot”, de Billy Wilder, não esquecendo “Man's Favorite Sport?”, de novo de Howard Hawks.
Normalmente os homens não dominam os cordelinhos da acção que as mulheres controlam, e nalguns casos têm mesmo de passar por momentos de algum embaraço, quando aparecem travestidos. Em “Duas Feras”, Cary Grant surge trajando um vaporoso robe de senhora, e é deste modo que se confronta com a tia milionária de Susan. As mulheres detêm o dinheiro (a tia) e manipulam os cordelinhos emocionais (a sobrinha). Os homens vivem a sonhar com ossos do passado ou jogam golfe distraidamente, julgando que elas são o seu “desporto favorito”. Há ainda que reconhecer um outro efeito neste tipo de comédias que terá possivelmente a ver com a fase que os atravessavam (ou acabavam de atravessar), a Grande Depressão, cujas responsabilidades o público mais popular não podia deixar de atribuir às classes sociais mais abastadas. Nestas comédias de embustes e atrapalhações sucessivas, o espectador divertia-se com as dificuldades vividas pelos ricos, funcionando o facto num duplo registo: a diversão afastava-o da aspereza do dia-a-dia e, simultaneamente, vingava-se dos poderosos que conheciam situações incómodas, no mínimo.


Howard Hawks foi um dos grandes cineastas do cinema clássico americano, tendo assinado alguns dos grandes filmes da sua História, a começar desde logo por “Scarface” que, em 1932, inaugurava um género novo, o filme de gangsters, passando pelo “filme negro”, de “To Have and Have Not” a “The Big Sleep”, pelo western “The Big Sky”, “Red River”, “Rio Bravo” ou “El Dorado”, pelo filme de aventuras, “Hatari”, o filme de guerra, “Sargeant York”, o filme de aviação, “The Dawn Patrol”, “Ceiling Zero”, “Air Force” (entre outros, Hawks era um apaixonado pela aviação), o filme histórico, “Land of the Pharaohs” (que ele considerava o seu pior filme, mas que mantinha muitos aspectos interessantes), o musical, “Gentlemen Prefer Blondes”, e tantos outros. Não era o que se pode chamar um especialista num determinado tipo de filmes, era antes um autor que tornava seus todos os argumentos (ou quase todos) em que tocava. Tinha uma forma muito especial de olhar a vida, as mulheres, a amizade entre os homens, criando um ritmo trepidante, nervoso, vibrante, mas sempre elegante e subtil, um criador de atmosfera que se preocupava menos com a “história” e mais com a densidade das personagens e das situações. O que, em “Duas Feras”, é valorizado sobremaneira pela presença de Katherine Hepburn e Cary Grant, ambos magníficos nas suas composições. É curioso referir que, por esta época, Katherine Hepburn era considerada “veneno nas bilheteiras”, por ter somado alguns fracassos sucessivos, e “Bringing up Baby” não seguiu o habitual: foi um enorme sucesso na altura da sua estreia, tornando-se mais tarde uma das comédias mais valorizadas da história do cinema. A revista “Entertainment Weekly” considerou-a a 24ª entre as melhores obras da História do cinema, o “American Film Intitute” colocou-a em 88º lugar numa listagem idêntica, a revista “Première” inclui-a entre as 50 melhores comédias de sempre. De resto, em qualquer lista que se consulte sobre as “melhores comédias de sempre” aparece “Duas Feras”.
Para o sucesso deste filme, porém, há que sublinhar a inteligência e a sensibilidade demonstrada pela dupla de argumentistas, Dudley Nichols e Hagar Wilde, que partiram de uma história de Hagar Wilde e construíram uma magnífica base de trabalho para o cineasta e os seus intérpretes. Mas não só isso: durante a rodagem, Dudley Nichols e Hagar Wilde apaixonaram-se, enquanto escreviam a obra. Deve ter ajudado…
Sobre o leopardo, uma última palavra: não só se mostra um actor ao nível dos seus comparsas, como era uma boa companhia para Katherine Hepburn, que confraternizava facilmente com ele. O mesmo não se pode dizer de Cary Grant, que vivia aterrado com o bicho e pediu mesmo um duplo para as cenas em que estavam mais próximos. Também aqui o actor se mostrava um homem mais intelectualizado do que um elemento de acção (Howard Hawks dera-lhe como exemplo Harold Lloyd, até ao ponto de lhe colocar uns óculos mais ou menos idênticos aos do famoso cómico do mudo). Na cena inicial do filme, vamos encontrá-lo no alto de um escadote, de olhar perdido, e alguém diz: “Cuidado, silêncio, o dr. Huxley está a pensar”. Tornava-se assim o “desporto favorito da mulher”.


DUAS FERAS
Título original: Bringing Up Baby

Realização: Howard Hawks (EUA, 1938); Argumento: Dudley Nichols, Hagar Wilde, segundo história de Hagar Wilde; Produção: Cliff Reid, Howard Hawks; Música: Roy Webb; Fotografia (cor): Russell Metty; Montagem: George Hively; Direcção artística: Van Nest Polglase; Guarda-roupa: Howard Greer; Maquilhagem: Mel Berns; Direcção de Produção: J.R. Crone, George Rogell; Assistentes de realização: Edward Donahue; Departamento de arte: Perry Ferguson, Darrell Silvera; Som: John L. Cass; Efeitos especiais: Vernon L. Walker; Companhias de produção: PrRKO Radio Pictures (Howard Hawks' Production); Intérpretes: Katharine Hepburn (Susan), Cary Grant (David), Charles Ruggles (Major Applegate), Walter Catlett (Slocum), Barry Fitzgerald (Mr. Gogarty), May Robson (Tia Elizabeth), Fritz Feld (Dr. Lehman), Leona Roberts (Mrs. Gogarty), George Irving (Mr. Peabody), Tala Birell (Mrs. Lehman), Virginia Walker (Alice Swallow), John Kelly (Elmer), Ruth Adler, Adeline Ashbury, Asta, William 'Billy' Benedict, Billy Bevan, Stanley Blystone, Ward Bond, Ralph Brooks, Harry Campbell, Jack Carson, D'Arcy Corrigan, Evelyne Eager, Judith Ford, Billy Franey, Jack Gardner, Edward Gargan, Frances Gifford, Geraldine Hall, George Humbert, Karl 'Karchy' Kosiczky, Richard Lane, Buck Mack, Frank Marlowe, Jeanne Martel, Pat O'Malley, Eleanor Peterson, Buster Slaven, Larry Steers, Pat West, Cynthia Westlake, etc. Duração: 102 minutos; Distribuição em Portugal: Radio Filmes (1938); Distribuição em Portugal (DVD): Costa do Castelo; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 28 de Março de 1938.

Katharina Hepburn e Howard Hawks

SESSÃO 31 - 6 DE JULHO DE 2016


SER OU NÃO SER (1942)

Ernst Lubitsch nasceu na Alemanha (Berlim, 1892) e inclui-se na longa lista de cineastas (e outras personalidades ligadas ao cinema) que emigraram da Europa para os EUA durante o período de gestação do nacional-socialismo no norte do Velho Continente. Em ondas sucessivas chegaram à América personalidades tão diversas quanto Fritz Lang, Conrad Veidt, William Wyler, Michael Curtiz, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Billy Wilder, Fred Zinnemann, Otto Preminger, Joe May, Edgar G. Ulmer, Hedy Lamarr, Max Steiner, Peter Lorre, Richard Boleslavsky, William Dieterle, Rouben Mamoulian, Friedrich Murnau, Douglas Sirk, Charles Vidor, Josef von Sternberg, Erich von Stroheim, James Whale, entre tantas outras, provenientes do Norte e do Centro da Europa. Houve muitos outros, vindos das mais diversas origens europeias que também demandaram terras ianques para prosseguirem carreiras de relevo, o italiano Frank Capra, o inglês Alfred Hitchcock, o francês Jean Renoir, o grego Elia Kazan, o espanhol Luis Buñuel, para só citar alguns casos.
Ernst Lubitsch teve uma educação virada para o teatro, no Sophien Gymnasium, e dividia os seus dias entre a oficina de alfaiate do pai e as suas representações noctunas em cabarets e music-halls. Em 1911, reúne-se ao Deutsches Theater de célebre encenador e produtor Max Reinhardt, o que teve particular relevância na sua formação estética. Trabalhou ainda nos estúdios de cinema, Berlin's Bioscope, primeiro como actor de comédias, depois como realizador. Assina alguns sucessos ainda na Alemanha, como “Os Olhos da Múmia” (1918) ("The Eyes of the Mummy"), com Pola Negri, “Carmen” (1918), “Madame DuBarry” (1919) ou “A Princesa das Ostras” (1919) ("The Oyster Princess"). Aqui começa a lenda da sua particular propensão para um certo tipo de comédia sofisticada, com um humor muito especial, que se tornou conhecido sob a designação de "Lubitsch Touch". O que o leva a ser convidado para os estúdios norte-americanos, onde a combinação do seu talento e cultura, com o pragmatismo do sistema de Hollywood produziram pérolas inesquecíveis que o transformaram num dos mais lendários autores de comédias.


O primeiro filme em Hollywood foi interpretado por Mary Pickford, “Rosita, Cantora das Ruas” (1923), a que se seguiu “Os Perigos do Flirt” (1924). Depois é a vez de uma sucessão de grandes êxitos de bilheteira e de crítica, com títulos como “O Leque de Lady Margarida” (1925), “A Loucura do Charleston” (1926), “O Príncipe Estudante” (1927), “Parada do Amor” (1929), “Monte Carlo” (130), “O Tenente Sedutor” (1931), “O Homem Que Eu Matei” (1932), “Uma Hora Contigo” (1932), “Ladrão de Alcova” (1932), “Uma Mulher para Dois” (1933), “A Viúva Alegre” (1934), “O Anjo” (1937), “A Oitava Mulher do Barba Azul” (1938), “Ninotchka” (1939), “A Loja da Esquina” (1940), “No Que Pensam as Mulheres” (1941), “Ser ou Não Ser” (1942), “O Céu Pode Esperar” (1943), “O Pecado de Cluny Brown” (1946) ou “A Dama de Arminho” (1948), este o seu derradeiro filme, assinado de colaboração com Otto Perminger, que terá terminado as filmagens, por morte de Lubitsch. Este, que sofrera um forte ataque de coração em 1943, viria a falecer a 30 de Novembro de 1947, em Hollywood. Dois amigos, camaradas de profissão, emigrantes como ele, proferiram rápidos, mas incisivos, elogios fúnebres. Billy Wilder fez notar "No more Lubitsch" (“Perdemos Lubitsch”). William Wyler acrescentou "Worse than that - no more Lubitsch films" (“Pior do que isso – não haverá mais filmes de Lubitsch”). Não haverá mais filmes de Lubitsch, mas os que existem chegam e sobram para manter a reputação e matar saudades deste tipo de humor sofisticado e elegante, de uma ironia mordaz, que o digam as suas duas obras mais citadas, “Ninotchka” e “Ser ou não Ser”.
“To Be or Not To Be” é uma comédia com muito de autobiográfico. Recordações de Lubitsch enquanto elemento integrante de companhias de teatro na Alemanha, e receios e pesadelos do mesmo enquanto judeu alemão, refugiado da sinistra ditadura de Hitler. O filme foca a sua acção em Varsóvia, capital da Polónia, numa altura em que os alemães ameaçam invadir o país. Estamos em Agosto de 1939. Uma companhia teatral ensaia uma nova peça, “Gestapo”, parodiando Hitler e a sua política, mas a mesma é proibida pelo governo com receio de que “pode ofender Hitler”. A peça é suspensa, mas a Hitler ninguém faz censura e invade brutalmente a Polónia. A resistência polaca, no interior e no exterior do país, lança a oposição armada, numa altura em que um elemento colaboracionista, o professor Siletsky, ao serviço da Gestapo, tenta entregar aos alemães uma lista de resistentes polacos. Joseph Tura e a mulher, Maria Tura, primeiras figuras da companhia teatral, procuram por todos os meios fazer fracassar esses intentos, usando as suas capacidades de interpretação para se fazerem passar por nazis, entrando assim no quartel general das SS. 


Este fio de intriga permita a Lubitsch desenvolver um conjunto de situações divertidíssimas por um lado, enquanto por outro desafia o poderio nazi, tornado o filme, obviamente, um objecto proscrito em todos os territórios dominados pelas forças armadas germânicas. Em 1942, o cineasta dava-se ao luxo de produzir as suas próprias obras, através da sua produtora, a Romaine Film Corporation (An Ernst Lubitsch Production), o que faz com que tenha tido a maior liberdade para construir esta comédia que, tal como “O Grande Ditador”, de Chaplin, ousava enfrentar abertamente Hitler e o seu poder. Escrita pelo realizador, a pensar nos actores que interpretam os principais papéis, Jack Benny, um famoso comediante por esta altura, e Carole Lombard, uma das divas da cinematografia norte-americana, o filme conta ainda com alguns actores alemães, igualmente refugiados nos EUA, e que anteriormente tinham pertencido à companhia de Max Reinhardt.
O humor é inteligente e sarcástico. Quando as multidões gritam “Heil Hitler!”, surge Hitler, que levanta o braço na tradicional saudação e grita: “Heil me!”. Um dos momentos mais hilariantes do filme, passa-se durante o monólogo de “Hamlet”, quando Maria Tura recebe no seu camarim um jovem tenente seu fã incondicional, e Joseph Tura, no palco, recita o monólogo “To be or not to be”. Quando regressa aos bastidores, Joseph Tura está inconformado: “Aconteceu o que todos os actores temem: saiu um espectador durante a minha actuação!” O que vai acontecer todas as noites: o tenente sentado na segunda fila, quando ouve o início do monólogo salta da cadeira e dirige-se ao camarim da sua paixão. Mas o filme está repleto de bons momentos de cinema, de humor, de crítica vigorosa ao despotismo nazi. Num deles, um figurante da companhia que, no teatro, passa as noites a empunhar lanças, ou espadas, e durante a invasão germânica empunha uma pá para varrer a neve das ruas de Varsóvia, desforra-se e diante dos SS, guarda-costas de Hitler, recita finalmente o solilóquio de Shylock, exaltando a resistência aos ditadores.
Este filme, produzido em cima dos acontecimentos que critica, mostra bem o clima que o rodeia, a força da resposta dos que combatem a ignomínia dessa guerra devastadora. Mais tarde, em 1983, um outro judeu, Mel Brooks, interpreta com sucesso esta mesma obra, num remake dirigido por Alan Johnson, num elenco onde aparecem ainda Christopher Lloyd, José Ferrer, Charles Durning e Anne Bancroft. Muito interessante, mas longe da obra-prima de Lubitsch.


SER OU NÃO SER
Título original: To Be or Not to Be

Realização: Ernst Lubitsch (EUA, 1942); Argumento: Edwin Justus Mayer, segundo história de Melchior Lengyel e Ernst Lubitsch; Produção: Ernst Lubitsch; Música: Werner R. Heymann; Fotografia (p/b): Rudolph Maté; Montagem: Dorothy Spence; Casting: Victor Sutker; Design de produção: Vincent Korda; Decoração: Julia Heron; Maquilhagem: Gordon Bau; Direcção de Produção: Walter Mayo; Assistentes de realização: William McGarry, William Tummel; Departamento de arte: J. McMillan Johnson, Jack Caffey; Som: Frank Maher; Efeitos especiais: Lawrence W. Butler; Companhias de produção: Romaine Film Corporation (An Ernst Lubitsch Production); Intérpretes: Carole Lombard (Maria Tura), Jack Benny (Joseph Tura), Robert Stack (Tem. Stanislav Sobinski), Felix Bressart (Greenberg), Lionel Atwill (Rawitch), Stanley Ridges (Professor Siletsky), Sig Ruman (Cor. Ehrhardt), Tom Dugan (Bronski), Charles Halton (Produtor Dobosh), George Lynn (Actor), Henry Victor (Capit. Schultz), Maude Eburne (Anna), Halliwell Hobbes, Miles Mander, Rudolph Anders, Paul Barrett, Sven Hugo Borg, Peter Caldwell, Alec Craig, Helmut Dantine, Leslie Denison, James Finlayson, James Gillette, Leyland Hodgson, Shep Houghton, etc. Duração: 99 minutos; Distribuição em Portugal: Sonoro Filme (1946); Nacadah Video (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 15 de Novembro de 1946.

Lubitsch

SESSÃO 30 - 5 DE JULHO DE 2016

O EXTRAVAGANTE SENHOR RUGGLES (1935)

Foi George Bernard Shaw quem disse que “ingleses e americanos são dois povos separados pela mesma língua”. Não só, como se poderá ver pela excelente comédia de Leo McCarey, “Ruggles of Red Gap”, que parece igualmente ilustrar algumas considerações de Alexis de Tocqueville que, na sua obra dedicada à América, analisa os diferentes comportamentos das relações entre senhores e criados dos dois lados do Atlântico.
O filme baseia-se num romance de Harry Leon Wilson, que conheceu grande sucesso aquando do seu lançamento, em 1915. No mesmo ano, subiu a cena numa adaptação teatral, em musical, com escrita da responsabilidade de Harrison Rhoades, poemas de Harold Atteridge e música de Sigmund Romberg. Estreada no Fulton Theater, precisamente no dia 25 de Dezembro, data festiva que se conciliava bem com o tom geral da obra, conheceu 33 representações. Digamos que cumpriu a época de Natal e Ano Novo.
Também em cinema surgiram versões anteriores a esta assinada por Leo McCarey. Em 1918, “Ruggles of Red Gap” foi assinado por Lawrence C. Windom e tinha Taylor Holmes como protagonista. Em 1923, com idêntico título, estreou-se outra adaptação, dirigida por James Cruze, com um notável Edward Everett Horton como primeira figura. Mas o elenco da realização de 1935 é absolutamente inesquecível. Charles Laughton considerava mesmo que esta tinha sido a sua maior interpretação e este era o seu filme preferido, entre todos quantos tinha na sua vasta (e brilhante) filmografia. Há, todavia, uma outra versão, ainda de muito boa qualidade, interpretada pelo popular Bob Hope, rodada em 1950, “O Homem das Calças Pardas” (Fancy Pants), com direcção de George Marshall, e ainda no elenco Lucille Ball e Bruce Cabot. Na televisão, são diversas as versões: “The Prudential Family Playhouse” (1950), “Ruggles of Red Gap” (1951), “Producers' Showcase” (1954) ou “Ruggles of Red Gap” (1957) e as versões teatrais também abundam. Também na rádio Ruggles se tornou popular. A “Lux Radio Theater" apresentou uma versão de 60 minutos no dia 10 de Julho de 1939 com Charles Ruggles, Charles Laughton e Zasu Pitts revivendo os seus papéis do filme. Houve ainda outras passagens pela rádio norte-americana. "The Screen Guild Theater" emitiu uma em Dezembro de 1945 e "Academy Award Theater" lançou uma outra em Junho de 1946, sempre com Charles Laughton e Charles Ruggles nos principais papéis.


Leo McCarey era, entre os anos 30 e 50, um dos maiores realizadores de comédias, único rival à altura de Frank Capra. Capra resistiu melhor ao tempo, mas McCarey é, neste aspecto, um injustiçado. Era um realizador de enorme talento, com uma sensibilidade muito própria para a comédia. Nascido em Los Angeles, Califórnia, EUA, a 3 de Outubro de 1896, vindo a falecer em Santa Mónica, Califórnia, EUA, a 5 de Julho de 1969, Thomas Leo McCarey iniciou-se no cinema na década de 20, assinando um vasto conjunto de curtas-metragens, muitas delas de humor. Dirigiu obras de Bucha e Estica, W.C. Fields e dos Irmãos Marx (Duck Soup – “Os Grandes Aldrabões”, 1933), partindo depois para uma carreira de grandes sucessos. Foi um dos poucos cineastas que ganhou os três mais importantes Oscars pelo mesmo filme, Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Argumento (Going My Way – “O Bom Pastor”, 1944). Os outros cineastas que se lhe igualam são Billy Wilder, Francis Ford Coppola, James L. Brooks, Peter Jackson, Joel Coen /Ethan Coen, e Alejandro González Iñárritu. Outros títulos importantes na sua filmografia são “Com a Verdade Me Enganas” (1937), “Make Way for Tomorrow” (1937), “Os Sinos de Santa Maria” (1945) ou “O Grande Amor da Minha Vida” (1957). A sua sensibilidade para a comédia era igualada pela emoção que colocava nos seus melodramas.
Ruggles (Charles Laughton) é mordomo de um nobre inglês, George (Roland Young) quando este o perde ao jogo para um americano latifundiário, Egbert Floud (Charles Ruggles), casado com uma expansiva e desabrida Effie Floud (Mary Boland). O casal encontra-se a passar férias em Inglaterra e, quando regressa a casa, leva na bagagem o pomposo e rigoroso mordomo britânico, com toda a sua herança hierárquica e a etiqueta ostensiva de quem sabe qual é o seu lugar e faz questão de o demonstrar. O choque com a cultura norte-americana é brutal. Nos EUA os costumes são absolutamente diferentes, mesmo antagónicos, e ainda por cima Ruggles vai dar com uma família desregrada e boémia. Há ainda a acrescentar o facto de o filme ser de 1935, uma época de pleno New Deal, onde o cinema não tendia a mostrar bem a realidade, mas a indicar caminhos ideais para uma sã convivência social. Com o presidente Roosevelt a procurar levantar o país da ruína da Grande Depressão, o que importava era criar optimismo, mostrar as virtudes da democracia americana e insuflar esperança em melhores dias. Este é, pois, um filme de utopia, não uma obra realista que mostre a opressão dos grandes latifundiários, muitos deles racistas e fortemente classicistas. Em teoria, os EUA eram uma democracia onde todos eram (deveriam ser) iguais. Ruggles a principio estranha, mas depois os usos e costumes da casa entranham-se. De tal forma que acaba mesmo por recitar, quase no final, o célere discurso que Lincoln pronunciou em Gettysburg, onde exaltava de forma eloquente as virtudes da democracia e da sociedade americana. Charles Laughton, tempos depois, confessou que a declamação deste discurso foi "one of the most moving things that ever happened to me", o que o levava por vezes a repeti-lo em circunstâncias festivas (quando terminaram as filmagens de “Revolta na Bounty” (1935) ou “Nossa Senhora de Paris” (1939) voltou a emocionar os companheiros de elenco e equipas técnicas com esta notável obra de oratória, ainda por cima admiravelmente interpretada por um actor de invulgar talento).

Foi Charles Laughton quem pediu aos produtores para ser Leo McCarey a dirigir o filme, pois pretendia qua a sua estreia na comédia ficasse assinalada por um prestigiado autor que havia dirigido, pouco antes, uma comédia dos Marx Brothers que o havia impressionado imenso (Os Grandes Aldrabões, 1933). Teve razão na escolha. Leo McCarey era um cineasta de rara apetência para a comédia, um homem de sensibilidade e bom gosto, delicado e fino no humor, inteligente nas alfinetadas que distribuía, discreto e subtil nos gags, dirigindo com mestria os seus actores. Os paralelismos que estabelece entre a sobriedade britânica, a sua hierarquia estática, os valores tradicionais, a estrita divisão de classes, irão sofrer um rude golpe ao confrontarem-se com a expansiva truculência ianque, com a espontaneidade e a ingenuidade (por vezes o primarismo) dos comportamentos do Oeste dos EUA. A solenidade dos clubes ingleses dá lugar à vulgaridade e luxúria dos saloons norte-americanos. Desta justaposição de civilizações e culturas tira Leo McCarey o partido decisivo para um filme de um humor transbordante, deliciosamente crítico, mas de um humanismo generoso e optimista.
E o elenco é brilhante. Charles Laughton, em Ruggles, é absolutamente brilhante, mas Charles Ruggles, em Egbert Floud, não o é menos, e Mary Boland, Zasu Pitts ou Roland Young estão à altura. Uma comédia admirável, que seria bom ser muito mais conhecida nos nossos dias.


O EXTRAVAGANTE SENHOR RUGGLES
Título original: Ruggles of Red Gap
Realização: Leo McCarey (EUA, 1935); Argumento: Walter DeLeon, Harlan Thompson, Humphrey Pearson, segundo romance de Harry Leon Wilson ("Ruggles of Red Gap"); Produção: Arthur Hornblow Jr.; Música: John Leipold, Heinz Roemheld;Fotografia (p/b): Alfred Gilks; Montagem: Edward Dmytryk; Direcção artística: Hans Dreier, Robert Odell; Guarda-roupa: Travis Banton; Assistentes de realização: A.F. Erickson; Som: Philip Wisdom; Apresentação: Adolph Zukor; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Charles Laughton (Ruggles), Mary Boland (Effie Floud), Charles Ruggles (Egbert Floud), Zasu Pitts (Prunella Judson), Roland Young (George), Leila Hyams (Nell Kenner), Maude Eburne ('Ma' Pettingill), Lucien Littlefield, Leota Lorraine, James Burke, Dell Henderson, Clarence Wilson, etc. Duração: 91 minutos; Distribuição em Portugal: Feel Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 28 de Maio de 1936.

LEO McCAREY (1898-1969)
Filmografia / como realizador (principais filmes): 1921: Society Secrets (curta-metragem, filme de estreia); 1925: Isn't Life Terrible? (c-m); 1926: Mighty Like a Moose (c-m); 1927: Sugar Daddies (1927 short); 1928: Pass the Gravy (c-m); Should Married Men Go Home? (c-m); Habeas Corpus (c-m); We Faw Down (c-m); 1929: Liberty (c-m); Wrong Again (c-m); Big Business (c-m); 1931: Indiscreet (Indiscreto); 1932: The Kid from Spain (Toureiro à Força); 1933: Duck Soup (Os Grandes Aldrabões); 1934: Belle of the Nineties; Six of a Kind (Segunda Lua-de-Mel); 1935: Ruggles of Red Gap (O Extravagante Senhor Ruggles); 1936: The Milky Way (Via Láctea); 1937: Make Way for Tomorrow; 1937: The Awful Truth (Com a Verdade Me Enganas); 1939: Love Affair (Ele e Ela); 1942: Once Upon a Honeymoon (Lua Sem Mel); 1944: Going My Way (O Bom Pastor); 1945: The Bells of St. Mary's (Os Sinos de Santa Maria); 1948Good Sam (O Bom Samaritano; 1952: My Son John (Perseguem o Meu Filho); 1957: An Affair to Remember (O Grande Amor da Minha Vida); 1958: Rally