domingo, 19 de junho de 2016

SESSÃO 26 - 22 DE JUNHO DE 2016 (1)


DOIS MALUCOS À SOLTA (1942)

Foi Hall Roach, em 1926, quem teve a ideia de reunir em parelha cómica Bucha (Hardy) e Estica (Laurel), transformando-a rapidamente na mais importante da história do cinema. Inicialmente, apareceram em dezenas e dezenas de curtas-metragens (filmes de uma, duas ou três bobines, como então eram designados, e que duravam entre 7, 15 ou 20 minutos). Depois, e sempre em dupla, protagonizaram várias longas-metragens, sobretudo a partir de 1931, já durante o cinema sonoro, o que lhes terá trazido uma maior celebridade por um lado, mas que terá limitado por outro a sua verve visual, muito na base do “slapstick”, o burlesco de situação, com o tradicional “pastelão”, as correrias e as perseguições, as cenas de confusões e travessuras, um humor muito físico, muito fácil de apreender pelas plateias do então cinema mudo. Charles Chaplin terá sido o seu maior cultor a título individual, “Bucha e Estica”, a nível de parelha, impuseram-se e “Os Três Estarolas”, em gang, motivaram ainda algum interesse. Claro que os Irmãos Marx jogavam num outro campeonato, tendo o sonoro como referência indispensável para os seus trocadilhos verbais. Com o advento do sonoro, o “slapstick” transferiu-se fundamentalmente para o desenho animado, do Tom e Jerry aos heróis dos Looney Tunes, com o Bugs Bunny à cabeça.
Entre as longas-metragens de Bucha e Estica mais memoráveis contam-se Laurel e Hardy a Ferros, Quem Vai à Guerra, Fra Diavolo, Os Filhos do Deserto, Era Uma Vez… Dois Valentões, Apurados para o Serviço, Um Par de Ciganos, A Caminho do Oeste, A Mania do Cinema, Os Dois Tiroleses, Campeões de Oxford, Marinheiros à Força, Em Frente, Marche, Dois Malucos à Solta, Salve-se Quem Puder, Bucha e Estica, Músicos de Jazz, Bucha e Estica, Mestres de Dança, Bucha e Estica Detectives ou Bucha e Estica Toureiros.
“Dois Malucos à Solta”, uma realização de 1942, é um pouco o exemplo deste tipo de comédias em que o argumento não era pensado para ser muito importante, mas apenas para permitir à dupla desenvolver um conjunto de gags que pusessem à prova a sua invenção e talento. São comédias de enganos, como muitas outras deste tempo. Os nossos amigos Stan e Ollie aparecem como dois vagabundos numa pequena cidade norte-americana e são avisados pela polícia que têm de deixar a terra. Dispostos a acatar as ordens da autoridade, acabam por aceitar transportar consigo um caixão contendo um corpo que eles julgam de um morto, mas afinal é de um gangster em fuga. Troca de caixões no comboio e o gangster vai parar ao tecto de uma sala de variedades onde o célebre Dante, ilusionista, multiplica as suas facetas mágicas. O resto calcula-se. O mais importante é recordar a complementaridade da dupla, o “bucha”, sentencioso, e o “estica”, ingénuo e desastrado, bem assim como alguns “gags” bem conseguidos. Mas muito do humor joga-se, e bem, no desajustado do comportamento dos dois protagonistas. Por vezes delicioso.

DOIS MALUCOS À SOLTA
Título original: A-Haunting We Will Go
Realização: Alfred L. Werker (EUA, 1942); Argumento: Lou Breslow, Lou Breslow, Stanley Rauh; Produção: Sol M. Wurtzel; Música: David Buttolph, Cyril J. Mockridge; Fotografia (p/b): Glen MacWilliams; Montagem: Alfred Day; Direcção artística: Lewis H. Creber, Richard Day; Decoração: Thomas Little; Guarda-roupa: Herschel McCoy, Sam Benson; Assistentes de realização: Paul Wurtzel; Som: Harry M. Leonard, Arthur von Kirbach; Companhias de produção:Laurel and Hardy Feature Productions, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Stan Laurel (Stan), Oliver Hardy (Ollie), Dante (Dante the Magician), Sheila Ryan (Margo), John Shelton (Tommy White), Don Costello (Doc Lake), Elisha Cook Jr. (Frank Lucas), Edward Gargan, Addison Richards, George Lynn, James Bush, Lou Lubin, Robert Emmett Keane, Richard Lane, Willie Best, Harry Blackstone, Roland Carpenter, Paul Kruger, Wilbur Mack, Terry Moore, etc. Duração: 64 minutos; Distribuição em Portugal: Twentieth Century Fox; Classificação etária: M/ 6 anos; Data de estreia em Portugal: 25 de Junho de 1943.


BUCHA E ESTICA
OLIVER HARDY (1892-1957)
Oliver Norvelle Hardy nasceu em Harlém, Geórgia, EUA, a 18 de Janeiro de 1892 e faleceu em Burbank (Califórnia), a 7 de Agosto de 1957. Actor norte-americano. De família inglesa, os pais dirigem um hotel em Madison (Geórgia), estuda no Conservatório de Atlanta e chega a ser um excelente cantor, embora nunca se tenha dedicado profissionalmente à canção. Segue cursos de Direito na Georgia University e abre, em 1919, a primeira sala de cinema de Milledgeville (Geórgia), actividade que o incita a fazer-se actor em 1913, contratado pela Lubin Studios (Florida), sem ter experiência alguma como tal e sem ter passado pelo palco ou pelo music-hall. Até 1915, interpreta numerosos segundos papéis em burlescos da Lubin e da Vim Comedies (absorvida pela Lubim em 1915). De 1916 a 1918 é a vedeta da série Plump and Runt (Billy Rupge no papel de Runt), no fim da qual se instala definitivamente em Hollywood: intervém noutras séries cómicas e em vários westerns da Fox, geralmente em composições de vilão. De 1920 a 1925 alterna estes papéis com outros, junto a Larry Sernon, para a Vitagraph (chega mesmo a dirigir alguns deles), até ser contratado em 1926 por Hall Roach, que descobre as suas possibilidades cómicas como par de Stan Laurel. Assim nasce a parelha cómica Bucha (Hardy) e Estica (Laurel), a mais importante da história do cinema, cuja colaboração com Roach se prolongará até 1940, graças ao extraordinário êxito comercial das curtas-metragens e, a partir de 1936, das longas-metragens. Hardy encarna Ollie, o sempre mal-humorado companheiro de aventuras e trabalhos de Stan, pedante e arrogante, dotado de recursos expressivos menos ricos e matizados que os de Stan (o verdadeiro criador de todas as situações cómicas), complemento perfeito de uma fórmula (a da parelha cómica) muitas vezes repetida, mas nunca conseguida com os extraordinários resultados de todo o tipo obtidos neste caso. A partir de 1945, retira-se do cinema e regressa unicamente para ser o protagonista, em 1952, de um filme francês de pouco interesse. Durante este tempo, realizam digressões pela Europa e em 1945 produz-se um certo ressurgimento nos E.U.A., ao passar pela TV a maior parte da sua obra, não podendo levar-se a cabo uma série para o pequeno écran, produzida pelo filho de Hal Roach, por ter Ollie falecido em consequência de uma hemorragia cerebral.

STAN LAUREL (1890-1965)
Arthur Stanley Jefferson nasceu em Ulverston (Lancashire-Inglaterra) a 16 de Junho de 1890 e faleceu em Santa Mónica (Califórnia) a 23 de Fevereiro de 1965. Actor norte-americano. Filho de uma actriz e de um actor de vaudeville, autor e encenador, estuda na King James Grammar School (Bishop Auckland), inicia-se no mundo do espectáculo no Pickard's Muscum (Glasgow, 1906) e ingressa (1907) na troupe de Fred Karno como imitador (de Chaplin) para as digressões de circo e nos music-halls de Inglaterra e E.U.A., onde chega em 1912, tal como Chaplin. Quando este foi contratado por Sennett (1913), Stan monta um número de grande êxito, The Keystone Trio, no qual parodia Chaplin. Em 1917, a Universal oferece-lhe o seu primeiro contrato cinematográfico, adopta o apelido de Laurel e roda uma série de curtas-metragens, criando o personagem de Hickory Hiram. A partir de 1918, passa por diversas companhias e, em 1922, Hal Roach contrata-o para ser o protagonista de vinte curtas-metragens. 1924-1925: a série The Stan Laurel Comedies situa-o entre os primeiros cómicos de época. Em 1926 inicia-se, sempre sob a égide de Roach (Pathé), a frutuosa colaboração com Oliver Hardy. Ao falecer Hardy, recusa continuar no activo e retira-se do cinema. Oscar especial em 1960 pela «sua criação pioneira no campo da comédia cinematográfica». Casamentos: Lois Neilson (divorciado em 1934), Virgina Ruth (1934-1936 e 1938-1939, quando voltou a casar com ela) e Ida Kitaeva (1946).

BUCHA E ESTICA

Filmografia / Como actores: Bucha (Hardy) e Estica (Laurel) apareceram em dezenas e dezenas de curtas-metragens (filmes de uma, duas ou três bobines como então eram designados). Depois, e sempre em parelha, protagonizaram várias longas-metragens: 1931: Pardon Us (Laurel e Hardy a Ferros), de James Parrott; 1932: Pack up your Troubles (Quem Vai à Guerra), de Georges Marshall; 1933: Fra Diavolo ou The Devil’s Brother (Fra Diavolo), de Hal Roach e Charles Rogers; Sons of the Desert (Os Filhos do Deserto), de William A. Seiter; Babes In Toyland (Era Uma Vez… Dois Valentões), de Gus Meins e Charles Rogers; 1935: Bonnie Scotland (Apurados para o Serviço), de Jemes Horne; 1936: Our Relations (Irmãos Gemeos), de Harry Machman; The Bohemian Girl (Um Par de Ciganos), de James Horne e Charles Rogers; 1937: Way Out West (A Caminho do Oeste), de James Horne; Pick a Star (A Mania do Cinema), de Edward Sedgwick; 1938: Swiss Miss (Os Dois Tiroleses), de John G. Blystone; 1939: Block-Heads (O Cabeçudo das Trincheiras), de John G. Blystone; The Flying Deuces (Homens sem Asas), de Edward Sutherland; 1940: A Chump at Oxford (Campeões de Oxford), de Alfred Goulding; Saps at Sea (Marinheiros à Força), de Gordon Douglas; 1941: Great Guns (Em Frente, Marche), de Monty Banks;  1942: A-Haunting We Will Go (Dois Malucos à Solta), de Alfred Werker; 1943: Air Raid Wardens (Salve-se Quem Puder), de Edward Sedgwick; Jitterbugs (Bucha e Estica, Músicos de Jazz), de Malcolm St. Clair; The Dancing Masters (Bucha e Estica, Mestres de Dança), de Malcolm St. Clair; 1944: The Big Noice (Bucha e Estica Detectives), de Malcolm St. Clair; Nothing but Trouble (Cozinheiros do Rei), de Sam Taylor; 1945: The Bullfighters (Bucha e Estica Toureiros), de Malcolm St. Clair; 1952: Atoll K., de John Berry e Leo Joannon. Hardy e Laurel apareceram ainda em várias obras a solo, e o seu trabalho foi reunido em diversas antologias. 

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